Bill, Vincent e Alexia chegaram à Cluj-Napoca ao pôr-do-sol. A vampira resolveu omitir que Kirian tinha lhe deixado um “presente”, provavelmente Bill ficaria bravo.


A cidade que outrora inspirara Bram Stoker a criar um dos maiores clássicos da literatura em nada lembrava o deserto aterrorizante descrito no livro. Embora historicamente Bram Stoker tenha errado feio na localização do castelo onde vivera Vlad III, o Empalador, sua inspiração para criar o Conde Drácula (já que este governou na Valáquia, não na Transilvânia), Markus fizera questão de erguer uma fortaleza em Cluj-Napoca como alusão ao romance.


Mas Bram Stoker não podia imaginar que seu personagem era mais do que um personagem. Vlad Trepes, conhecido como Drácula era sim um vampiro e mesmo com a constante marcação dos Van Helsing sobre si, deixou um herdeiro direto. Sim, era Markus.


- Eu conheci o primeiro caçador pertencente aos Van Helsing – Vince disse para seus dois acompanhantes – Abraham era inteligente, mas nem tanto quanto o filho dele... Gabriel foi o melhor guerreiro que já enfrentei... Eu realmente senti quando ele morreu.


- Quem o matou? – Bill perguntou interessado.


- Eu... – Vince respondeu simplesmente dando de ombros. – Mais tarde eu conheci a filha dele, Jéssica Van Helsing, ela foi uma grande caçadora, nem sei quantos de nós ela dizimou, certamente herdou o talento do pai. Pensei que ela tinha morrido no massacre de 1659, mas parece que eu me enganei.


- Do nível de uma grande caçadora, filha do lendário Gabriel Van Helsing, cair para alguém fútil como a Jeanne... É muita ironia. – Alexia comentou observando os prédios à sua volta.


- Não a subestime, Alexandra – Vincent a repreendeu - Ainda não sabemos se ela é mesmo só uma modelo fútil ou se isso é só fachada. Você também não parece ser uma vampira centenária.


A vampira bufou em resposta. Ele estava certo afinal, estava se precipitando. Andaram mais um pouco e logo chegaram a uma majestosa fortaleza. Alexia riu internamente. Aquele castelo era mais incrível do que o verdadeiro castelo do Drácula, localizado na Valáquia.


- Como vamos entrar? – Bill perguntou olhando para o grande portão de ferro maciço que determinava os limites do castelo.


Vince tirou uma arma de dentro do sobretudo. Aparentemente seu poder de fogo era pequena, conclusão que foi abaixo quando Vincent atirou no tranco e o explodiu juntamente com uma pequena parte do que estava em volta.


- Não precisamos passar despercebidos, a ideia é que nos vejam – disse o príncipe entregando uma arma para Bill e outra pra Alexia – Provavelmente os vampiros daqui são poucos, só alguns do círculo mais próximo de Markus. É só atirar, vocês dificilmente vão errar.


Bill olhou para a arma em suas mãos. Por ironia do destino, ele a conhecia intimamente. Era uma Bloody Rose, uma das melhores armas caça-vampiros que existiam.


Suspirou pesadamente e a engatilhou, a munição não era de balas comuns, disparava uma bala que ao entrar no corpo do indivíduo liberava uma luz ultravioleta que enfraquecia temporariamente um vampiro para dar tempo de esquartejá-lo e queimá-lo. Levantou seu olhar, e então compreendeu. Tudo ficou claro, como se uma parte apagada de sua memória tivesse voltado. Ele lembrava-se, tinha sido encontrado antes, mas era jovem demais para entender, e aquilo ficou guardado no seu inconsciente até que chegasse o dia em que ele fosse capaz de lidar com isso.




----- Flashback -----



Natal de 1994, Leipzig, Alemanha...



Os gêmeos ajudavam Simone e Jörg na preparação da ceia natalina. Bill estava muito animado, pois Elisa, sua avó paterna estaria presente, já Tom demonstrava desinteresse, mas por dentro morria de saudades da avó.


Elisa amava os netos, mas quase nunca ficava com eles por questões de segurança. Ela era uma caçadora e também descendente dos Puros, por isso era constantemente perseguida por vampiros que não mediam esforços para tentar matá-la. Ficar perto dos netos era perigoso, tinha visto em Tom a mesma marca que sua bisavó Pura tinha, Eliza era muito jovem na épica, mas se lembrava; por outro lado também percebera que o olhar de Bill era mais profundo, como se ele fosse capaz de enxergar coisas que os outros não conseguiriam. Aquilo era preocupante, os gêmeos eram a quarta geração depois da última Pura,


Apesar de seus 64 anos, Eliza não aparentava a idade que tinha. Os longos cabelos loiros sustentavam o mesmo brilho de outrora, as rugas nem eram perceptíveis e os olhos azuis permaneciam límpidos e intensos, como sempre foram. Ela era o verdadeiro protótipo de alemã.


Assim que viu pela janela que a avó saía do carro, Bill abriu um largo sorriso e saiu da cozinha deixando seus pais e seu irmão. Enquanto corria de braços abertos em direção a ela, seus pés afundavam na neve fofa e seu casaco de lã pesava no corpo franzino dificultando a corrida, mas ele não parou até conseguir abraçá-la.


Elisa envolveu seu neto com ternura e saudades, muitas saudades.


- Vem vovó, o papai quer vê-la – disse o garotinho loiro puxando-a pela mão – Sabe, o Tom está com muitas saudades da senhora, mas você sabe como ele é orgulhoso... Ele acha que a senhora não ama a gente porque nunca está aqui e não adianta eu falar pra ele que você viaja muito porque tem que trabalhar, ele é muito teimoso! Por favor, não fique com raiva dele, vovó, ele não demonstra, mas te ama muito – Bill a olhou com os olhos transbordando súplica.


- Não, Bill – ela respondeu com uma voz doce e um sorriso nos lábios. Como poderia existir uma criatura tão adorável quanto aquele anjinho que estava à sua frente? Era impossível resistir a ele – Eu nunca odiaria o Tom. Agora vamos entrar porque aqui fora está muito frio e eu não quero que você fique doente.


Bill abriu seu sorriso radiante e seguiu para dentro da casa com as mãos dadas com a avó.



----- Fim do Flashback -----



Bill deixou uma lágrima correr pelo seu belo rosto. Aquela poderia ter sido a noite mais feliz da sua vida, se não fosse por aquele homem. Aquele homem com olhos de fogo. Bill se lembrava nitidamente agora.



----- Flashback -----



A comida estava deliciosa, os gêmeos conversavam animadamente sobre uma banda que queriam formar, o nome seria algo como “Black QuestionMark”. Elisa conversava com Jörg e Simone quando, em um estrondo, a porta da sala abriu-se, fazendo as cortinas brancas esvoaçarem e um vento gelado entrar na casa.


Na visão de Bill, o homem era alto, pálido, tinha cabelos curtos e ruivos e os olhos eram de um vermelho vivo.


Algo nele incomodava o gêmeo mais novo profundamente, e não se devia ao fato de ele ter invadido sua casa, na conseguia olhar pra ele por muito tempo.


- Vovó... Tem alguma coisa ruim nele, ele tem olhos vermelhos... – sussurrou para a avó com um pouco de medo e abraçando-se a Tom.


Elisa olhou para o homem... Ele não tinha olhos vermelhos, e sim castanhos. Aquela era a confirmação. Bill era, de fato, um Puro.


Simone abraçou os filhos, temendo que aquele estranho fizesse mal a algum deles.


Jörg o encarava com um olhar glacial, ele sabia o que aquela criatura era. Sabia o tipo de trabalho que a mãe fazia.


- Simone, tire os gêmeos daqui. Não deixe que ele olhe nos olhos deles. – Elisa disse encarando o homem que permanecia imóvel na porta.


A pintora obedeceu, deixando seu marido e sua sogra com o estranho.


- Mãe, acabe com isso – Jörg exigiu – Você trouxe esse monstro para dentro da minha casa e colocou os meus filhos em risco.


Mas Elisa não dava atenção para as palavras duras de seu filho. Tinha um vampiro ali, e algo lhe dizia que não era ela quem ele queria.



Bill abraçou-se ainda mais a Tom. Os gêmeos se abraçavam com tanta força que parecia que eles queriam se fundir um no outro. Sua mãe lhes havia levado para o quarto, mas de lá dava para ouvir o que acontecia na sala. Os gritos, coisas quebrando, tiros... Tiros sequenciais.


A porta do quarto explodiu, fazendo os gêmeos gritarem e se encolherem ainda mais contra a parede. O estranho estava lá, com as vestes um pouco rasgadas e um pouco de sangue no rosto, mas não parecia estar cansado e muito menos fraco.


Elisa chegou logo depois e se colocou entre ele e os gêmeos.


- Você não vai fazer mal a eles – ela disse determinada, mas estava em péssimas condições. Suas roupas estavam completamente rasgadas e os cortes eram profundos. Ela mal conseguia andar.


- Saia da frente, velha. Tenho ordens para levar o Puro. – ele disse com a voz grossa.


- Não existem mais Puros! – ela afirmou, mas o vampiro lhe acertou um soco, fazendo-a ir contra a parede, batendo suas costas com muita força.


Bill assistia aquele espetáculo macabro com os olhos arregalados. Viu sua avó escorregar até o chão e viu o estranho pegá-la pelo pescoço, batendo a cabeça dela contra a parede várias vezes.


O Kaulitz mais novo sentiu seu pânico dar lugar a um sentimento forte de revolta. Não sabia como, mas sabia que podia pará-lo.


- PARA!!! – ele gritou, surpreendendo tanto o vampiro quanto Elisa.


O loirinho soltou-se de Tom, encontrando alguma resistência por parte do irmão e se levantou da cama. Seus olhos estavam vidrados no demônio e vice versa.


- Bill... – Tom balbuciou choroso.


- Solta a minha avó – ele ordenou – E nunca mais toque em ninguém da minha família. Esquece da nossa existência! – o garoto de cinco anos não fazia ideia do que estava falando e muito menos de onde tirara coragem para enfrentar o estranho. Só sabia que estava dando certo e segundos depois o estranho tinha sumido.


Tom levantou-se de cama e correu até a avó, ela estava toda ensanguentada, não tinha mais vida, mas e sua mão ainda segurava firmemente a arma caça vampiros.


Bill guardou a Bloody Rose sem o conhecimento dos pais e com o passar do tempo foi estudando-a. Como não entendia o que uma luz ultravioleta podia fazer contra alguém, deixou a arma de lado e pouco a pouco foi esquecendo, como se sua memória tivesse sido apagada...



----- Fim do Flashback -----



... até aquele momento.


Olhou para Vincent e este lhe sorriu, como se soubesse o que o Puro pensava.


Uma grande batalha estava para começar. Dois prisioneiros, cinco combatentes diretos, ninguém está certo, e ninguém está errado.


Bill olhou para frente e apontou a arma para o primeiro vampiro. E era ali que a batalha começava.



Continua...