"Acha que os outros vão ficar bem?" Felix perguntou preocupado a sua esposa, quando a porta se fechou atrás deles.

"Se vão sair daquela sala vivos? Tenho certeza que sim." Tamora garantiu. Bem que ela gostaria de ter parado por ali, mas ela tinha que ser sincera, mesmo que não gostasse muito da verdade. "Por quanto tempo algum de nós vai ficar bem num lugar como esse, isso eu não tenho certeza."

"Trinity disse que se nos separássemos deveríamos voltar para a entrada." Ele lembrou.

"Não sei se Clarion tem tempo para voltarmos. Além do mais, não acho que ela própria vá voltar depois que a outra garota maluca correu mais para dentro. Vamos continuar, tenho certeza que nos encontraremos no centro."

"Se sobrevivermos." Felix murmurou baixinho para si mesmo, mas acompanhou sua esposa quando ela se dirigiu à única porta do outro lado da sala.

"Só não pense no pior ou vão tentar te pegar." Tamora avisou antes de abrir a porta, mas alguma coisa já devia ter escapado, porque a porta dava para uma nova sala que certamente não era uma das salas originais do labirinto.

A sala parecia abandonada, decadente, coberta por teias de aranhas de tamanhos incomuns, o chão coberto de água, numa mistura de verde, vermelho e marrom, que chegava aos tornozelos dela. E havia aquele cheiro no ar... Cheiro de morte, ou talvez viesse das criaturas que segundo Trinity viviam ali, ou até mesmo da água. Difícil definir, mas nenhum deles gostou muito da tensão que parecia pairar no ar.

"No que estava pensando?" Ela perguntou.

Felix apenas olhou para ela, confuso. Se tudo aquilo partira dele, fora ago totalmente inconsciente.

Se bem que não deveria ser. Aquilo deveria ser feito para assustá-los, mas tirando aquele cheiro e a tensão no ar, não parecia ter nada de mais naquele lugar.

Eles continuaram mais um pouco, morcegos, ratos e aranhas pareciam ser tudo o que aquele lugar tinha.

Talvez ali não fosse afetado pela magia. Talvez fosse seguro. Mas depois de tudo o que Trinity dissera sobre tomar aquele caminho, era difícil imaginar o que encontrariam a cada curva do corredor que agora seguiam.

Então foi quando o corredor se abriu para uma nova sala, ou talvez fosse a mesma sala. Tinham feito tantas curvas e tudo ali era tão parecido...

Mas uma coisas havia de diferente, um corpo caído no chão. Uma figura impossível de não reconhecer.

Clarion estava caída no meio da sala, algo abrira um grande buraco em suas costas. Os dois correram para ela, o corpo estava gelado e coberto de sangue. Estava morta.

"É só um pesadelo." Felix tentou convencer a si mesmo, sem muito sucesso.

"Eles se transformam para te assustar, querem te pegar, é uma armadilha." Tamora murmurou, olhando em volta e começando a se afastar de vagar.

Bem na hora, pois naquele momento um Cy-Bug caiu do teto na frente deles. Tamora puxou sua arma, um pouco tarde de mais quando o inseto avançou sobre o corpo caída engoliu de uma vez. Ela atirou, mas a velocidade com que a criatura se moveu era impossível até mesmo acompanhar, como uma sombra se movendo na escuridão.

Uma névoa negra começou a forrar a sala quando a criatura começou a se transformar, assumindo a forma completa de um a grota, que se parecia muito com Clarion, mas seus cabelos eram feitos de névoa negra e cheio de estrelas, os olhos eram dourados, com um contorno vermelho, a pele era clara, quase branca e tinha um leve brilho.

Ela tinha um sorriso sombrio, ainda usava as mesmas roupas que Clarion, mas seu medalhão tinha a forma de uma lua negra.

"Quem é você?" Os dois perguntaram, de alguma forma sabiam que ela não era apenas mais um pesadelo, era algo diferente, mais poderoso, mais perigoso.

Sua "entrada" e aquele sorriso mostravam nela o tipo de pessoa que se divertia com o medo e a dor dos outros, o tipo de pessoa que criaria aquele lugar...

"O nome é Nightmare, rainha do medo. Não preciso perguntar seus nomes, sei de tudo sobre vocês, desde que pisaram em meu labirinto. Devo admitir, vocês tem coragem. Conseguiram chegar tão longe!" "Então foi você quem construiu esse lugar." Tamora comentou.

"Construir? Claro que não. Foram humanos de almas negras que construíram isso, segundo a história do jogo. Mas não tenho tempo para histórias, tenho outros assuntos a tratar."

"Por que está fazendo isso?" Felix perguntou, nervoso.

"Porque é divertido." Ela riu. "Foi por isso que tomei esse lugar. E também porque eu não tinha para onde ir. Agora vocês... Um pouco de curiosidade e vejam só onde vieram parar... Só estão vivos por dois motivos: Primeiro porque trazem as duas únicas magias que se equivalem a minha, o amor e a amizade. Tentei separá-los, mas nem isso pareceu ter adiantado. A segunda foi o pirralho Jackson, interferindo no meu labirinto. Todos vocês chegaram longe, enfrentaram seus medos, mas está na hora de virar o jogo."

"Veio aqui para nos matar?" Felix deu um passo atrás, começando a ficar assustado, principalmente com a atitude da garota.

"E que graça teria nisso?" Nightmare perguntou rindo assustadoramente. "Esse é um lugar pra jogos, vamos dizer que vocês vão passar para uma nova fase do jogo. Tiveram sorte de pegar um atalho. Serão os primeiros a passar pela prova de fogo."

"E quanto a Clar?" Felix perguntou, dessa vez preocupado.

"Regra número 1:" Nightmare respondeu "Cada equipe por si, nenhuma informação sobre outras equipes pode ser dada. E regra número 2: É uma equipe de uma pessoa só." Ela materializou uma faca na mão e atirou-a na direção do casal. A lâmina cravou-se no chão aos pés de Felix.

"Bela pontaria." Tamora zombou.

"Eu nunca erro." Nightmare sorriu.

Aquele sorriso confiante, certamente sinal de problemas, e não podia deixar de ser quando a parte do chão onde Felix estava começou literalmente a derreter, formando uma poça arenosa, como areia movediça, puxando-o para baixo.

Tamora tentou puxá-lo de volta, mas assim como em Sugar Rush, aquilo parecia uma armadilha mortal impossível de escapar.

"Tammy, solte, por favor!" Ele pediu.

"Não! Não vou perder você também!" Ela protestou.

"Não vai me perder. É um jogo, se lembra? Ela não quer nos matar, ainda. Tem que encontrar as crianças, encontro você no centro." Ele prometeu.

Não tinha realmente certeza se podia cumprir aquela promessa, mas precisava que ela fosse e logo. James estava de volta ao labirinto, e quem sabe quando a pegadinha de Nightmare poderia se tornar real? Clarion era uma boa guerreira, mas ainda era uma criança que ainda tinha muito no passado para assombrá-la.

Ela sabia que não tinha outra opção. Talvez Clarion pudesse sobreviver ali, mas se Nightmare estivesse dizendo a verdade e James tivesse voltado para o labirinto, ele precisaria dela

"Vai mesmo ficar bem?"

"Alguma vez já deixei de cumprir uma promessa?"

Não. Felix sempre fora um homem de palavra. Sob nenhuma circunstância ele se esqueceria ou deixaria de cumprir uma promessa, a menos que alguma força maior o impedisse. Mas, infelizmente eles pareciam estar lidando com uma força muito maior ali.

"Só fique em segurança." Ela murmurou antes de beijá-lo e entregar-lhe sua pistola, depois voltou-se para Nightmare, estava furiosa, mas a aparência fantasmagórica da menina não deixava dúvidas de que ela era imune a qualquer coisa com que pudesse tentar atingi-la.

"Muito bem, se eu chegar ao centro do labirinto tudo isso acaba?"

"É contra as regras eu responder. Você pode tentar ir e descobrir, ou pode tentar ir atrás dos outros pra tentar sair. Você tem atitude e eu gosto disso, então vou te dar dois avisos: O primeiro: conseguiu convencer-se de que era só um pesadelo, conseguiu esquecer, mas em algum lugar em sua mente um antigo medo sobreviveu. Se sair daqui com vida, esteja preparada, sombras do passado irão retornar e não dá pra saber quanto seu mundo irá mudar. A segunda coisa é que, se você voltar, não tem nem chance de todos vocês saírem daqui juntos e com vida. Além do mais, é mais fácil encontrar encontrar o caminho para o centro do labirinto do que pra fora dele, e essa coisinha no seu pulso não vai ajudar com isso. Vai encontrar as respostas que busca mais pra frente, se sobreviver."

E com isso ela se desfez em névoa negra com uma gargalhada sinistra.

Assim que ela desapareceu, uma porta se materializou do outro lado da sala, com uma estrela negra brilhando na frente.

Qualquer outra pessoa teria recuado, mas aquela não era era hora para ter medo ou dar ouvidos a uma garota fantasma maluca, era hora para um pouco mais de coragem e uma pequena aventura.

"Você está bem?" Trinity perguntou preocupada, procurando por qualquer outro ferimento grave que Roxane pudesse ter.

"Estou, agora que vocês chegaram. Onde estão os outros?"

"Nos separamos depois que você fugiu. E por que você correu?"

"Tinha que descobrir de onde vinham as vozes. Acabei me arrependendo. Agora só quero encontrar os outros e ir pra casa." Ela murmurou com um suspiro cansado.

"Pode deixar, nós encontramos os outros." Ralph disse. "Você tira Vanellope daqui e as duas esperam lá fora."

"Não quero ir!" Vanellope protestou. "Quero ajudar!"

"Vai ajudar muito se ficar fora de problemas." Ralph entregou-a a Roxane.

"Mas..."

"Seu amigo está certo." Trinity a interrompeu. "Foi loucura você e seus amigos terem voltado pra cá. E foi sorte terem chegado tão longe inteiros. Não se preocupe, vamos tirar todos daqui em segurança."

Vanellope não queria ir, mas também não gostava nem um pouco daquele lugar. Já tinha quase morrido a pouco tempo.

"Promete?" Ela perguntou a Ralph.

"Prometo. Agora vá, e comporte-se. Vou voltar logo com os outros."

Clarion e Link andaram por mais algumas salas, enquanto Clarion fazia seu caminho de volta ao ponto onde chegara antes de voltar para ajudar o amigo. Com ajuda da ruiva, Link conseguia manter, não só seus medos como suas memórias fora de acesso das criaturas do labirinto. Ele tinha que admitir, ela era até mesmo mais corajosa do que ele, e ele tinha sorte de ter uma amiga como ela, principalmente num lugar como aquele.

Clarion também estava feliz do amigo estar ali. Algo que a perseguira por todo o caminho fora a sensação de culpa, por ter fugido daquele jeito, e de solidão.

"Então... Conseguiu resolver?" O menino perguntou, para quebrar o silêncio.

"Não tive tempo. Não imaginava que uma simples visita ia terminar nessa confusão. E o que você está fazendo aqui à final?"

"Estava te procurando, foi quando encontrei com Vanellope e James que estavam vindo pra cá. Acabamos nos separando, aí você me encontrou."

"Bem, fico feliz que você esteja aqui." Ela sorriu.

"Então... Porque estamos entrando cada vez mais no labirinto?"

"É mais fácil entrar do que sair. Acredito que a solução para todos os nossos problemas está lá no centro de tudo."

James monitorou a situação de seus amigos, lutando ao máximo contra as forças do labirinto para evitar que algo ruim acontecesse.

Não tivera muito sucesso com Roxane, era como se uma força estranha lutasse contra ele.

Foi quando ele conheceu Nightmare. Ele não a via como a garota que ela aparecera para seus pais. Ele a via como uma jovem, entre vinte e vinte-e-dois anos, do resto ela ainda parecia a mesma, exceto que uma aura negra emanava dela. Ele não podia nem tocar aquele lugar, de tão forte que era a magia negra dela.

Ela usava um vestido negro, que tinha a mesma aparência fantasmagórica de seu cabelo e parecia deslizar ao invés de andar pela sala.

Teve medo quando ela mencionou seu nome. Tinha a impressão que não estaria seguro ali por muito tempo.

Então Nightmare desapareceu da cena, ao mesmo tempo que todos os espelhos ficaram em branco e logo foram preenchidos pelo reflexo de Nightmare.

James olhou em volta, tentando ver se, de algum modo, ela entrara na sala, mas ele continuava sozinho, as imagens estavam apenas nos espelhos.

"Surpreso em me ver?" Ela perguntou.

"Nem um pouco. Estava imaginando que era só questão de tempo até você aparecer."

"Garoto esperto. E poderoso também. Conseguiu afastar quase todos os meus Pesadelos, tive que começar a invocar a elite. Por azar, enquanto eles são mais fortes na questão da mágica, são mais fracos fisicamente e seus amigos os fizeram em pedaços."

"Não se pode ganhar todas, não é?" Ele respondeu, calmo.

"Não. Só uma perguntinha, garoto: Tem medo de lugares fechados?"

"Eu não. Por que?"

"Porque digamos que esse aqui vai ficar um pouco pequeno."

Uma névoa negra começou a escapar por debaixo dos espelhos quando eles começaram a se mover, diminuindo pouco a pouco o espaço na sala.

"Você disse que não mata pessoas!" O menino acusou.

"Claro que não. Assim perde a graça. Mas com você a história é outra. Você interferiu no labirinto e isso é contra o regulamento. Digamos que você está sendo expulso do jogo. Para sempre."

E com isso ela desapareceu, deixando James sozinho. Se ele estava desesperado? Nem um pouco. Tinha aprendido muito sobre seus poderes naquele tempo trancado ali, fechou os olhos e invocou o feitiço que o tiraria dali.

Ele só não contava, quando sentiu a sala ao redor dele mudar, com a repentina fraqueza que o atingiu. A magia tinha consumido de mais de sua energia. Ele fez o que pode para chegar até a parede e sentar-se, encostado nela. Sua consciência se apagava lentamente.

Nightmare voltara a sua sala de controle, procurando rapidamente pelos outros intrusos no labirinto. Foi quando notou Roxane e Vanellope fugindo dali, um pouco tarde de mais para imped-las. Ela não podia ir além da zona de magia e as duas tinham acabado de cruzá-la. Sem problemas, ainda haviam sete deles perdidos ali, e que não pareciam ter intenção nenhuma de sair sem chegar ao fundo de toda aquela história. Mas, se dependesse dela, eles não iam chegar a lugar nenhum.