Clarion tinha decidido, depois de algum tempo caminhando, que o lugar tinha realmente achado seu ponto fraco. Ela estava entediada. Nem mesmo o amigo o estava ajudando muito e ela não suportava aquela sensação.

Passo após passo a incerteza lhe tomava conta, ela apenas agradecia por Link estar ali, não sabia o que faria sem ele.

Mas aquele silêncio e toda aquela calma... Era difícil manter a mente clara e funcionando.

Ela nem notou quando um buraco se abriu sob seus pés e ela caiu. Link tentou seguí-la, mas o buraco rapidamente se fechou.

Ambos ouviram, uma gargalhada sinistra que parecia ecoar por todos os lados.

Clarion caíra em uma sala espelhada, uma sombra se movia pelos espelhos.

"Ajuda é contra as regras do jogo, queridinha!" Uma voz fantasmagórica riu.

"Quem é você?" E menina perguntou, firme.

"Seu maior pesadelo só esperando para acontecer." A voz sussurrou.

Clarion virava para todo lado, mas era impossível acompanhar a sombra, nem ver quem falava.

"Nada mais nesse lugar me assusta. Sei que é só um pesadelo. Enquanto eu não tiver medo, não pode me pegar."

"É o que vamos ver."

Então Clarion sentiu a pedra em seu bolso começar a esquentar e para a sua surpresa ouviu a voz de Link.

"Não desanime Clar. Podem separar nossos corpos, mas não nossos corações. Continue em frente e vamos nos reunir de novo, eu prometo."

"Vamos sair todos vivos daqui, eu prometo." Ela sussurrou.

Ralph e Trinity estavam confiantes que tinham vencido o labirinto. Há algum tempo que nada tentava atacá-los. Duas tinham conseguido sair, mas eles ainda eram sete no labirinto. Trinity não podia deixar de pensar que sete era um número perigoso, se ao menos fosse uma pessoa a mais ou a menos... ela não era supersticiosa, mas desde que aprendera que magia existia, acreditava que as magias do bem residiam mais fortes em números pares.

Então eles chegaram a uma porta com uma estrela negra desenhada. Não era um bom sinal, eles ainda lembravam bem o que tinha acontecido depois da última porta com estrela.

"Com medo ou não, acho que tem alguma coisa nos esperando atrás daquela porta." Ela não pode deixar de expressar seus pensamentos em voz alta.

Ralph colocou gentilmente uma mão em seu ombro.

"Vai ficar tudo bem, vamos conseguir." Ele garantiu.

"Achei que talvez devêssemos voltar, mas ainda tem crianças nesse lugar, não seria certo abandoná-las e simplesmente torcer para que seus amigos as encontrem."

"Não quer chegar ao centro do labirinto, não é? Alguma coisa aconteceu lá, não é?"

"Foi bem quando descobrimos a invasão dos Pesadelos. Era estranho que tivessem começado do centro e vindo para fora, mas estávamos prontos para descobrir o que era e impedir isso. Eramos eu e meu pai, chegamos ao centro do labirinto. Uma porta como esta, mas com uma estrela de oito pontas a marcando. Foi quando uma jovem saiu de lá e nos atacou. Ela era muito poderosa, não tivemos chance e meu pai... Se sacrificou para me dar a chance de fugir de lá." Ela lutou para segurar as lágrimas mas foi em vão. "Nunca mais voltei lá. Já não conseguia distinguir o que realmente tinha acontecido do que era parte apenas de minhas memórias. Não sei se ela e seus Pesadelos são parte do jogo ou se vieram de algum outro lugar através da magia negra dela, mas sei de uma coisa, é ela quem controla tudo por aqui."

"Acho que você deveria voltar e ficar com Roxane e Vanellope."

"Não. Preciso continuar. Além do mais, você vai estar comigo." Ela gentilmente segurou a mão dele.

"Prometi, não foi?" Ele sorriu, mas um tanto desconfortável com aquela situação.

"Bem," Ela tornou a encarar a porta, "vamos nessa."

Ela abriu a porta e foi momentaneamente cegada pela luz do sol. Impossível! Não tinha como eles terem saído do labirinto, tinha?

Eles encontravam-se em um lugar como uma arena da Grécia antiga. Ou seria Roma? Trinity não se lembrava, nunca fora boa em história, pelo que sabia, mas sabia que estavam em uma arena de gladiadores.

"Não estou gostando disso." Os dois murmuraram.

As arquibancadas pareciam cheias de sombras, pareciam humanas, diferentes de todas as que já os haviam atacado. Em uma área coberta estava uma figura vestida em uma túnica roxa com capuz, tornando impossível ver seu rosto.

"Então, finalmente nossos guerreiros chegaram à arena!" A figura falou, sua voz ecoando pelo lugar.

Aquela voz... Trinity a reconhecia bem, pertencia à mesma pessoa que atacara a ela e seu pai.

"Foram valentes ao enfrentarem seus medos e chegarem até aqui. Mas sair daqui... não acho que terão a mesma sorte."

Um pesado portão de metal fechou-se atrás deles.

"Agora é hora de enfrentar seus destinos. Que os jogos comecem!"

A figura desapareceu, ao mesmo tempo em que o chão começou a tremer, de todos os cantos, gladiadores esqueleto começaram a se levantar da terra.

Era a última coisa que precisam, uma batalha contra guerreiros mortos-vivos, ainda mais contando que todos estavam bem armados e eles não tinham nada.

"Sabe como saímos daqui?" Ralph perguntou, não conseguia localizar nenhuma saída.

"Infelizmente só tem uma maneira de sair daqui, lutando. Mas não vai ser fácil, esse tipo de batalha não tem regras, principalmente quando nossos inimigos já estão mortos."

Mesmo após aquelas palavras ela não exitou em atacar. Se ao menos conseguissem chegar ao outro lado inteiros... Não havia garantia de que achariam uma saída lá, não se a rainha não quisesse que eles saíssem.

Eles só tinham um ponto à favor deles naquele lugar, o fato de que ela praticamente crescera no labirinto original, que não servia para algo muito diferente daquilo.

Ela mirou um chute certeiro, derrubando a cabeça do guerreiro mais próximo, não que isso o impedisse de ataca-la, na verdade, era como se a falta da cabeça não lhe fizesse diferença.

"Acho que não dá para parar essas coisas, não é?" Ralph comentou, fazendo um dos gladiadores próximos em pedaços com um único golpe, mas a caveira simplesmente se juntou novamente.

"Vamos ter que abrir caminho." Trinity conseguiu roubar uma espada e um escudo, não faziam muito seu estilo de luta, mas naquela situação era melhor do que nada. "Tem que ter alguma saída do outro lado."

James abriu os olhos lentamente. Ele estava na ponta do que parecia ser um tipo de tabuleiro gigante, as três outras pontas eram ocupadas por duas figuras feitas de sombra, e sua irmã, mas ela estava diferente, parecia mais velha e tinha de novo aquele brilho nos olhos e a aura prateada de quando enfrentara Kitty.

Em frente a ele havia uma réplica menor do tabuleiro com um baralho de cartas.

"Jay, você não parece bem, tem certeza que não quer que a Dani faça isso?" Clarion perguntou.

Dani? Quem era Dani?

"Joga logo garoto, não temos o dia todo!" Gritou uma das figuras.

"Eu começo." Clarion respondeu por ele. "Jay está se preparando, ele pode ir por último."

Ele não entendeu nada quando ela começou a dizer coisas que não lhe faziam nenhum sentido e a colocar cartas em seu tabuleiro, fazendo com que monstros gigantes se materializassem no grande tabuleiro.

Ele tinha que admitir, aquilo era realmente assustador, mas não tão assustador quanto o que aconteceu em seguida, quando Clarion anunciou que era a vez de uma das figuras negras, que por algum estranho motivo ele esqueceu o nome no segundo em que fora pronunciado.

"Muito bem seus pestinhas, preparem-se para o seu pior pesadelo. Seu monstro não é páreo para enfrentar o que tenho reservado a vocês."

Uma carta foi colocada, uma luz brilhou no tabuleiro e uma figura se materializou ali. James congelou quando a viu. Não podia ser, aquilo simplesmente não podia estar acontecendo.

"É só um pesadelo." Ele murmurou. "Só um pesadelo, não vai me machucar."

Houve uma explosão de luz e o monstro de Clarion foi destruído ao mesmo tempo que uma onda de energia pareceu atingir a menina, que se apoiou na mesa para não cair, respirando com certa dificuldade.

Ele queria sair dali, só queria que tudo aquilo acabasse. Mas o que mais podia fazer? Seus poderes não funcionavam e ele parecia incapaz de se mover dali...

A estratégia de fuga não tinha adiantado muito. À princípio a batalha parecera à favor deles, mas então mais e mais guerreiros começaram a surgir e eles acabaram cercados.

Não parecia haver chance de fuga. Toda vez que um deles derrubava um dos Gladiadores, outro tomava seu lugar enquanto aquele se regenerava.

"Acho que entramos numa fria." Ralph disse.

"Tenho uma ideia!" Trinity respondeu. "Uma ideia louca e sem garantia."

"Qualquer coisa é melhor do que nada."

"Confia mesmo em mim?" Ela perguntou.

"Até agora você não me deu motivos para não confiar. Qual é o plano?"

"Aguenta firme." Ela respondeu, antes de lançar um frasco no chão. Uma explosão de ar varreu toda a arena, lançando todos os esqueletos alguns metros longe deles, mesmo assim não destruiu nenhum e eles ainda não tinham um caminho para passar.

"Esse era o plano?" Ralph perguntou.

"Apenas feche os olhos!" Ela pediu.

O que? Fechar os olhos e rezar por um milagre, não era um plano, era puro desespero.

"Por que..."

"Apenas me escute, por favor!"

Ele obedeceu. Tinham outra chance? Quem sabe ela tivesse realmente algum plano.

Mas ele certamente não esperava quando ela pressionou os lábios contra os dele num beijo forte e desesperado.

Aquele era o plano então? Simplesmente desistir? Não. Aquilo não fazia muito o estilo de Trinity. Mesmo confuso e preocupado ele não pode deixar de retribuir o beijo. Talvez fosse aquela energia estranha que parecia pairar no ar, ou aquele silêncio, que transmitia certa paz e segurança... Silêncio de mais.

Ralph abriu um olho, apenas pra se deparar com uma sala como todas as outras, completamente vazia. Ele separou-se de Trinity, um tanto chocado. O que tinha acontecido com a arena e os gladiadores esqueletos?

"Funcionou?" Ele ouviu Trinity perguntar, incerta.

"Acho melhor você ver por si mesma." Ralph deixou escapar um riso baixo.

Trinity finalmente tomou coragem para abrir os olhos. Tinha funcionado! Fora uma ideia louca e um tanto improvisada, mas tinha dado certo!

"Não acredito! Eu..." Então ela pareceu tomar consciência do que acabara de acontecer. "Eu..."

"Salvou a gente." Ralph a cortou, percebendo o quanto ela estava nervosa, o quanto ele mesmo estava nervoso. Tinha realmente salvado a vida deles, mas... tinha sido realmente apenas isso? "Acho que tô te devendo duas agora."

"Tenho certeza que podemos resolver isso quando sairmos daqui." Ela se permitiu um sorriso maroto que logo desapareceu e ela encarou a porta de saída. "Melhor continuarmos. Se ao menos houvesse um jeito mais fácil... com medo ou sem medo, as portas parecem invocar aquelas coisas, como um tipo de armadilha."

"Por que não disse isso antes? É só não usarmos as portas." Ralph respondeu, antes de abrir um buraco e uma das paredes.

Trinity sorriu para si mesma, porque ela nunca pensara naquilo?!

"Então... você realmente não tinha um plano, não é?" Ralph não pode deixar de perguntar.

"Claro que tinha. Só não tinha certeza se ia dar certo."

Ele voltou-se para ela. confuso.

"Acho que eu devia tentar explicar. Pesadelos se alimentam da dor e do medo, tanto medos naturais quanto criados por eles. Até a pessoa mais corajosa tem medo, quanto mais entramos no labirinto, mais forte os Pesadelos ficam e mais eles podem detectar até o mínimo restinho de medo, que nem a própria pessoa sabe que tem. Eu sempre tive uma teoria, de que se eles se fortaleciam de energia negativa, o que a energia positiva podia fazer com eles? Mas é difícil criar uma energia positiva forte no meio do território deles. Não foi a melhor hora para testar uma teoria sem fundamento, mas não consegui pensar em outra solução naquele momento. Mas podemos deixar pra falar disso depois? Achei que estávamos em uma missão urgente."

E com isso ela correu para a próxima sala, antes que Ralph pudesse notar o quanto ela estava ficando vermelha.

Tamora estava realmente esperando alguma coisa acontecer quando cruzou a porta, mas certamente nada não era o que ela esperava, mas foi tudo o que conseguiu, o vazio e o silêncio.

Mas talvez fosse tudo o que o labirinto pudesse fazer agora. Só uma coisa ela realmente tinha medo e era exatamente o motivo dela estar ali, não havia mais nada que pudesse atingi-la naquele momento.

Então sentiu uma mão em seu ombro e ouviu uma voz chamá-la. Como estava enganada.

"Tammy!"

Só uma pessoa a chamava assim. Só uma pessoa tinha o direito.

Mas antes que pudesse se virar para responder, conseguiu ligar aquela voz a um rosto e certamente não era nada do que ela esperava. Não fazia sentido. Não era possível. Aquele labirinto estava tentando lhe pregar uma peça, ela não ia cair.

Virou-se, a arma engatilhada, apontada para o peito do invasor quando ela percebeu que apesar de ser impossível ela estava certa, parado em pé ali estava Brad.

Era um deles, não era? Aquelas coisas de que Trinity falara, podiam se transformar em qualquer coisa? Ou não podiam? Nem mesmo Insetrônicos podiam tomar uma completa forma humana. Aquelas coisas eram mesmo tão poderosas? Ou havia algum outro tipo de força naquele labirinto? Algo como Nightmare. Sim, só podia ser magia dela, se estivesse ali provavelmente diria que só estava tentando tornar o jogo mais interessante.

"Você não!" Ela deixou um sussurro escapar. Fosse o que fosse, não era a melhor hora apara aquele tipo de brincadeira. Nightmare ia realmente se arrepender da próxima vez que cruzasse seu caminho. "É só mais um pesadelo. Só mais um pesadelo." Tentou esvaziar a mente, mas primeiro que aquilo parecia impossível, ela estava preocupada demais para isso. Segundo, que por um momento ela teve certeza que não ia funcionar. Era um truque de Nightmare, não era como o resto.

Seus pensamentos foram interrompidos quando, para sua surpresa, ela a beijou, pegando-a completamente desprevinida. Ela nem precisou pensar para reagir, afastando-o com um soco. Puxou a arma novamente mas parou ao ouvir um grito assustado não muito longe. Resolveu ignorar o fantasma, ou seja lá o que fosse e saiu correndo na direção do som. James estava em perigo, não estava muito longe e ela precisava ajudar.

"Onde você está indo?" Brad de repente apareceu a sua frente, mas ela nem mesmo parou para responder, o empurrou para o lado e continuou a correr.

Ela finalmente encontrou o menino. Ele estava encolhido em um canto chorando assustado. Não parecia acordado, devia ter tentado usar algum tipo de magia, de outra forma não teria chegado tão longe em tão pouco tempo.

"Venha cá docinho." Ela tomou James em seus braços. Passando a mão pelos cabelos ruivos do menino e sussurrando para acalmá-lo até ele pareceu voltar a si. "Você está bem?"" Ela perguntou.

"Estou. Tive um pesadelo horrível!"

"Já acabou. Eu estou aqui agora."

Ele a abraçou de volta, ainda tremia, mas parecia um pouco mais calmo.

"Quem é ele?" Perguntou James lentamente, focalizando Brad.

"Ninguém. Vou tirar você daqui, está bem?"

Então parte de uma das paredes foi ao chão e Ralph e Trinity saíram pelo buraco.

"Finalmente!" Ralph exclamou. "Estão todos bem? Onde está Felix?"

"Não sei." Ela respondeu preocupada. "Também não encontramos Clarion. O que James está fazendo aqui? Onde estão os outros?"

"Vanellope e James voltaram ao labirinto com Link depois que os mandamos para casa. Roxane conseguiu sair com Vanellope, mas também não temos nem sinal de Link ou Clarion."

"Levem James para fora. Eu vou continuar."

Ela passou o menino para os braços de Ralph e se afastou correndo antes que ele pudesse protestar. Se eles podiam ou não ver Brad, que a seguia como uma sombra, ela não tinha certeza, mas isso era algo que ela tinha que resolver sozinha. Ou, no caso, ignorar sozinha, como ela tinha escolhido fazer.

Ralph ficou ali parado por alguns segundos, tentando decidir em obedecer a sargento ou segui-la. Mas o que quer que tivesse acontecido com James parecia ter sido muito ruim. Poderia pedir para Trinity tirar o menino dali, mas sabia que ela não iria sem ele, e que os dois não estariam seguros pelo caminho original, principalmente com o menino naquele estado. A única chance era saírem os três dali, os outros teriam que se virar.

"Cinco fora, quatro mais faltando." Ele murmurou.