Nightmare monitorava o o jogo com um sorriso satisfeito no rosto. Tudo estava correndo como ela planejara. Tudo parte do jogo, caminhando para a rodada final, onde ela usaria seu último truque para encerrá-lo com perfeição, mas, enquanto isso ela ainda tinha alguns pequenos-grandes truques para um pouco mais de diversão.

Ela só não contava que James pudesse sobreviver ao olho do destino, nem que Ralph e Trinity conseguiriam escapar da arena da perdição e certamente a fuga do trio não estava em seus planos, mas além de seus poderes de impedir.

Mas estava tudo bem, ela sabia que eles podiam deixar o labirinto, mas não deixariam o jogo sem os outros, e sua carta final seria uma bomba para todo o jogo.

O que a preocupava era Clarion. Mesmo sem o apoio de Link, a menina parecia ter reunido um poder de proteção que ela jamais imaginara possível. Mas ela ainda era humana, ainda cometia erros, ela ainda ia abrir uma brecha e nesse momento ia se arrepender de ter pisado ali pra começar.

Felix não fazia ideia de onde estava, mas tinha certeza de duas coisas, ele estava vivo, e estava preso.

Mas porque Nightmare o deixara vivo? Por que ela fazia tudo aquilo?

Só podia haver um motivo, ela era louca. Só podia ser, não havia outra explicação para alguém se divertir com a dor e o medo de outras pessoas.

Ele precisava sair dali o quanto antes, pelo bem de sua família.

Clarion continuou pelo caminho espelhado o mais rápido que podia sem ter que correr. Por algum motivo sentia-se estranhamente cansada, embora já fizesse algum tempo que não lutava com nada, desde que fatiara aqueles zumbis para salvar Link.

Aquela voz que ela ouvira pouco mais atrás... Não lhe era familiar, mas ela podia reconhecer no tom algo que ela percebera em Kitty, algo sombrio...

Será que os outros estavam bem? Ela já não podia mais senti-los, pelo menos a maioria deles. Mas isso era bom ou ruim? Significava que estavam em segurança ou em perigo?

Não adiantava ficar se perguntando e imaginando, precisava chegar ao centro do labirinto, destruir a fonte da ameaça e só assim ela teria certeza.

Ela podia fazer isso. Depois da batalha com Kitty, uma batalha contra si mesma, aquilo não era um desafio, era mais uma brincadeira.

Era estranho o quanto pensava em Kitty naquele momento. Ela já a tinha assombrado no labirinto. Ela tinha dito algo, sobre o quanto as duas eram parecidas... Clarion se perguntava: Ela tinha mesmo aquele lado negro?

Ela parou, encarando um dos espelhos.

Mesmo sem Kitty, suas atitudes na última semana não tinham sido das mais favoráveis. Tinha simplesmente explodido, depois fugira, por um momento ela tinha se acalmado então tinha se rebelado novamente e agora estavam ali. Ela não tinha feito nada por ninguém além de si mesma desde que chegara.

E se Kitty estivesse certa? E se ela estivesse perdendo o contato por que eles estivessem finalmente desistindo dela? Ela não se surpreenderia, eles tinham tentado ajudá-la e ela simplesmente tinha agido como uma boba todo o tempo. Era um milagre que tivessem continuado com ela por tanto tempo.

A medida que ela pensava, era como se uma força estranha e poderosa fosse congelando-a no lugar. Uma sombra começava a tomar forma no espelho, uma sombra de olhos amarelos brilhantes.

"Kitty!" A menina murmurou. "Por que você?"

"Porque você finalmente se tocou, não foi? Sei que depois que nos separamos você vem se perguntando, por que você? E a resposta é simples, já te disse isso, nós somos muito parecidas. Você bem que tentou se livra de mim, por um momento parecia que tinha conseguido, isso porque você tinha mudado, tínhamos perdido completamente tudo o que nos ligava. Mas ninguém pode escapar de sua própria natureza. Você é uma guerreira solitária das ruas, é um pouco egoísta e, querendo ou não, tem uma natureza perigosa. Não pode fugir disso. Demorou, mas finalmente percebeu, não foi?"

Clarion não podia negar. Era exatamente o que estivera pensando antes de Kitty aparecer. A gata estava certa, ela era tudo aquilo, elas eram parecidas. Clarion podia não ser cruel como Kitty. Ela roubava para sobreviver, quando não tinha outra alternativa, mas e quanto a tudo o resto? Suas mentiras, as brincadeiras que tinha feito sem se importar quem ia se machucar, sua atitude rebelde, todas as regras que tinha quebrado, as coisas ruins que tinha dito... Tinha feito muito aquilo antes e depois de Kitty, então não podia culpá-la. Então talvez a gata tivesse razão.

"Eu sei, é difícil admitir isso, mas talvez seja melhor assim. Você tem sido um perigo desde que chegou, vão estar melhor sem você. Junte-se a mim novamente! Podemos sair desse lugar e esquecer que tudo isso aconteceu." Ela estendeu uma mão para a menina.

"Olha, você pode estar certa em tudo o que disse sobre mim, mas você é pior do que eu, você é má, sem coração. Pode até me matar se quiser, não posso me mover daqui, mas jamais me unirei a você."

"Mata-la?" Kitty arqueou uma sombrancelha para a menina. "Tem mesmo tanta coragem?"

"Agora você tem um corpo, não precisa mais de mim, se é que essa é você de verdade. Mas Kitty ou não, estava certa. Sou um perigo para todo mundo, então por que continuar? Vá em frente, estou indefesa aqui."

Mas ver a menina abatida daquele jeito só deixou Kitty com raiva.

"Então você vai desistir?" Ela perguntou furiosa. "Não pense que vou deixar as coisas fáceis pra você." A menina sentiu seu corpo descongelar rapidamente e caiu de joelhos, ainda sentindo os músculos meio duros e doloridos de mais para ela se mover. "Nós vamos lutar." Clarion viu uma espada ser atirada perto dela.

"Não vou lutar com você." Ela respondeu, empurrando um pouco a espada para longe.

"Que seja. Eu vou lutar." Kitty declarou, derrubando Clarion com um chute na altura do peito.

A menina ainda não se moveu, apenas ficou ali e tentou recuperar o fôlego.

"Qual é o problema, querida? Não acha mais que tem forças para me enfrentar?" A gata desafiou.

"Não. Não tenho mais razão para lutar, nem força pra isso. Banquei a garota durona até aqui, mas a verdade é que, a cada momento, esse lugar drenava mais e mais de minha energia. Ponto final agora."

"Ponto final? Não é o ponto final!" Kitty a puxou para cima pela gola da blusa. "Só acaba quando uma de nós vencer. É mais divertido quando você reage, mas se á assim que você quer que seja, não me importo de bater em você."

A gata atirou-a contra o espelho mais próximo, tudo o que a menina pode fazer foi erguer os braços para proteger a cabeça do impacto. O vidro quebrou todo à sua volta, mesmo assim ela tentou se levantar, sentindo as pernas ainda fracas.

"Ainda não vai lutar?" Kitty perguntou.

Clarion apenas negou com a cabeça.

"Então vai morrer." A gata rosnou e derrubou-a com um soco.

Clarion não tinha mais vontade de resistir, não ia mudar nada do que tinha acontecido, nada do que ela tinha feito, simplesmente nada.

Mas então ela ouviu uma voz em sua mente.

Ninguém te culpa por nada do que aconteceu. Aquela era Kitty, não você. E por mais que eu esteja zangado por ter me assustado, você é minha irmã e eu te amo.

James tinha lhe dito aquilo quando descobrira que estavam vivos e de volta ao Arcade. Tinha ficado furioso por ela tê-lo feito pensar que iam morrer, mas quando a menina revelara estar com medo de ainda ser culpada por tudo que Kitty causara, ele ainda a apoiara. Na verdade, depois da briga quando os dois descobriram suas verdadeiras identidades, estavam sempre lá um pelo outro, ao ponto dela arriscar sua própria vida só para que ele não sofresse um acidente durante a corrida em Sugar Rush. Aquilo não fora Kitty. E ela se livrara do espírito da gata uma vez, o que significava que havia mais nela do que ela simplesmente declarara à pouco.

Ela tinha recebido uma segunda chance e prometido que ia dar uma nova chance a si mesma, mas quando pensara sobre aquilo se recusara a aceitar tudo o que estava acontecendo, e então logo em seu primeiro dia as coisas tinham ficado piores do que nunca. Mas era mesmo motivo para desistir? Eles não tinham desistido dela com Kitty, desistiriam agora? Talvez ela tivesse exagerado, talvez não houvesse motivo para desistir, talvez ainda houvesse um pouco de força para lutar, por seus amigos. E talvez, quando tudo acabasse, ela realmente conseguisse começar uma terceira vez, talvez daquela desse certo, talvez fosse tudo o que ela precisasse.

"Estão comigo?" Ela sussurrou, segurando o medalhão entre as mãos. Então ela sentiu, uma energia quente e poderosa que emanava dali. Ainda não podia senti-los, mas sabia que estavam com ela. Era a mesma energia que a fortalecera para se livrar de Kitty, a força de uma amizade poderosa.

Ela se levantou, uma aura prateada brilhando à sua volta, seus olhos tinham ficado da mesma cor. Suas roupas também tinham mudado com a força mágica que a envolvia, ela agora usava uma jaqueta preta, parecida com a sua original, uma camiseta branca com uma estrela prateada de quatro pontas bordada na frente. Sua saia era azul, com estrelas douradas nas bordas, as botas eram azuis de cano curto, com enfeites prateados nas bordas e na sola. Ela agora tinha braceletes dourados incrustados de safiras e uma coroa. Seu cabelo voltara ao cumprimento original e estava trançado, preso por um laço azul e sua franja presa por sua presilha de algodão doce. Sua espada se materializou em sua mão e ela sentiu sua energia renovada.

Kitty deu um passo atrás assustada, mas logo se encheu de raiva e tentou atacá-la novamente, mas uma barreira mágica pareceu impedi-la.

"Não! Não pode ser!" A gata exclamou.

"Você queria que eu lutasse? Bem, eu vou lutar agora." A menina sorriu maldosamente, sua espada brilhou, transformando-se em um sabre de luz prateado e, antes que Kitty pudesse reagir, ela cravou a arma no peito da gata que rapidamente desfez-se em poeira negra.

Clarion olhou impressionada para a arma em suas mãos. Esperava que a gata fosse simplesmente voltar a ser um deles e cair no chão, mas alguma coisa ali parecia capaz de destruí-los. Ela sorriu, agora sim estava pronta para enfrentar o resto do labirinto.

Olhou sua imagem no espelho. Ela aparentava um pouco mais velha e aquelas roupas a faziam parecer uma jovem princesa rebelde. Ou talvez fosse a coroa que fizesse aquilo. De uma forma ou de outra, ela tinha finalmente vencido a prova fatal pela qual precisava passar desde o começo: Confiança. Agora era ir enfrentar a batalha final. Se livrava dos acessórios desnecessários quando voltasse para casa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.