James subiu por um corredor escuro, um vento frio vinha da outra ponta e ele esperava que fosse a saída. Tinha que admitir que estava morrendo de medo. Ele nunca fora muito corajoso e aquele lugar estava lhe dando nos nervos.

Então o lugar começou a mudar, as paredes de pedra escura e lustrosa agora se tornavam de uma pedra cinza e desgastada. Plantas começavam a aparecer nas paredes, cada vez em maior quantidade, cada vez mais atrapalhando seu caminho. Água começava a pingar do teto e forrava o chão, masnchas de sangue começaram a aparecer aqui e ali e logo se viam ossos espelhados pelo chão.

Ele correu. Precisava sair dali o mais rápido possível. Aquele lugar parecia assombrado e se tinha algo que James realmente morria de medo eram fantasmas.

Não que ele realmente já tivesse acreditado que eles existiam, mas fantasmas habitavam seus sonhos desde que ele era pequeno.

Então ele tropeçou em uma raiz estendida no chão, tentou se apoiar em uma das tochas que iluminavam a parede mas esta se soltou, ao mesmo tempo que uma passagem se abria aos seus pés, jogando-o por um escorregador que foi dar em uma sala espelhada.

Bem, agora sim o lugar parecia mais seguro. Mas porque todos aqueles espelhos? O chão, quadriculado como o de todas as outras salas, era a única coisa que não era coberta de espelhos, tinham espelhos até no teto.

"Detesto esse lugar." James murmurou para si mesmo. "Preferia estar em qualquer lugar, até no mundo real, desde que não fosse aqui. Estou cansado, sujo, molhado e morrendo de fome. Preocupado, dolorido, com frio e esses espelhos não ajudam nada. Quero ir pra casa!"

"Quer mesmo ir pra casa, James?" Uma voz, muito parecida com a sua perguntou em tom debochado.

O menino virou-se para a direita, para encarar um de seus reflexos, que aparentemente se movia por vontade própria ao invés de imitá-lo, se bem que aquilo era o menos assustador daquele lugar.

"Por que a pergunta?" James perguntou de volta.

"Que diferença faz se você voltar ou não? Aqui, lá, você vai estar sozinho do mesmo jeito." Seu reflexo provocou.

"Não estou sozinho em casa!" James protestou.

"Ah não? Acha que algum de seus amigos vão voltar? Acha que algum de vocês vai conseguir sair desse lugar com vida?"

Os Pesadelos estão famintos, e a rainha não vai deixar com que vocês escapem."

"Não é verdade!" James protestou. "Não vamos morrer aqui. Clar vai pensar em uma solução."

"Sua querida irmãzinha? Ela se aventurou mais longe do que qualquer humano, ou meio humano, como seria o caso dela, jamais se aventurou. Vai ser a primeira a ser devorada. Sua família será a próxima, e todos os outros, até só restar você, o gatinho assustado da equipe. E você assistirá a tudo de camarote." O reflexo riu.

James tocou o espelho, tentando ver se aquilo era mesmo um espelho, algum tipo de passagem para outra dimensão ou o que quer que fosse, mas assim que fez isso sentiu um puxão forte por todo o seu corpo, não por fora, mas por dentro, principalmente em sua mente quando foi tragado para dentro do espelho.

Caiu de cara no chão frio de metal. Demorou um pouco a se recompor e se sentar, confuso. O que tinha acabado de acontecer?

A nova sala não era como ele esperava, não era uma cópia da antiga. Era sim coberta de espelhos, mas apenas nas paredes, o lugar era escuro, com claridade suficiente apenas para que ele enxergasse.

Diferente da outra também, essa nova sala não parecia ter qualquer acesso de entrada ou saída. Ele tentou o espelho pelo qual entrara, mas este era sólido como deveria ser desde o começo.

"Não adianta, meu rapaz." Ele ouviu uma voz as suas costas, virou-se, mas não encontrou ninguém.

Então seus olhos foram lentamente se ajustando a escuridão e o menino pode perceber que não estava sozinho naquele lugar.

A sala estava cheia de espíritos, vagando sem rumo como se fugissem de alguma coisa. Flutuando a sua frente estava o único deles que parecia ter um pouco de juízo (se é que espíritos podiam perder o juízo). Mas com ou sem juízo, James não queria saber de fantasmas. Ele tentou novamente a passagem pelo espelho,novamente sem sucesso, mas ele tinha que encontrar uma maneira de sair dali.

"Garoto, acalme-se!" O fantasma pediu. "Ninguém aqui vai machucar você."

"Não?" James olhou para ele, desconfiado.

"Por que alguém faria uma coisa dessas?"

"Por que fantasmas são criaturas cruéis que gostam de assustar pessoas e às vezes roubam a vida delas?"

"Meu jovem, você deve assistir filmes de terror de mais. Pesadelos fazem isso. Fantasmas são apenas espíritos perdidos."

"Então não foi um deles que me puxou para dentro do espelho?"

"Eles são completamente inofensivos. Não fazem nem ideia que estamos aqui, apenas vagam sem rumo por esta sala."

"Por que? O que os trouxe pra cá?"

"Pesadelos, sempre eles, desde que tomaram esse lugar. Muitas pessoas foram mortas, seus espíritos acabam presos aqui."

"Então por que você não é como um deles?" James perguntou, curioso.

"Não fui morto como os outros, eu me sacrifiquei para proteger a minha filha, minha alma estava e ainda está em paz. Jamais deixei esse lugar por causa da magia da rainha, mas não estou perdido como eles. E o que trouxe um garoto tão pequeno como você até aqui? Não sabia que a rainha também capturava crianças."

"Não fui capturado. Quem é essa rainha à final?"

"Foi ela quem trouxe os Pesadelos para este lugar, e ela quem comanda os Guardas da Noite que trazem as pessoas para cá. Não foram eles quem te pegaram?"

"Não, senhor. Nós só entramos aqui para conhecer o novo jogo, mas minha irmã se perdeu e voltamos para procurá-la. Me perdi dos meus amigos, então caí nessa sala espelhada, meu reflexo começou a falar comigo e de repente eu caí aqui."

"Como assim, novo jogo?"

"Estamos em um jogo, não sabia?"

"Não. Mas talvez seja por isso que não vejo mais pessoas por aqui. Então você ainda está vivo?"

"Tenho certeza que estava antes de cair aqui. Por que?"

"Bem, porque só espíritos podem atravessar os portais. Disse algo sobre seu reflexo?" James assentiu. "Escute, espíritos de Pesadelos mortos também ficam presos aqui também, em espelhos diferentes, mas neste mesmo local. Um deles deve ter despertado, provavelmente roubou o seu corpo. Se você tem amigos lá fora eles podem estar correndo perigo."

"E como saio daqui?"

"Tem que encontrar o espírito antes que seja tarde de mais."

"Mas como, se não posso sair daqui?"

"Os espelhos desse lado refletem todas as almas no labirinto lá fora. Vá até o fundo e encontre o que procura."

James andou até os espelhos no fundo da sala. A primeira coisa que ele percebeu foi Clarion em um dos espelhos, ela estava um pouco machucada, as roupas meio rasgadas, tinha um brilho selvagem e assustador no olhar, mas parecia segura. Então ele achou o que procurava, Vanellope, conversando com ele mesmo, ou o espírito do mal que fingia ser ele. Ainda estavam na sala dos espelhos, ele tinha que correr.

Mas antes de sair, não pode deixar de vislumbrar outro dos espelhos, onde ele via Link, em uma sala escura, lutando contra uma daquelas mãos que os separara, mas esta ema maior do que o menino.

Ele precisava ajudar e rápido.