Criaturas das Trevas parte 1

Link entrou pela porta marcada por uma estrela vermelha. Assim que deu uma olhada no lugar onde se encontrava, apenas desejou que os amigos tivessem tido mais sorte do que ele.

Se o labirinto era idêntico ao do Templo das Sombras em seu jogo, aquele lugar lembrava uma versão mais sinistra do poço na vila Kakariko.

E quando ele pensara "mais sinistra" ele realmente queria dizer muito mais. Manchas de sangue pelo chão já não eram tão ocasionais quanto no poço, e agora haviam delas pelas paredes também. Caveiras, que não eram muito comuns também no poço, agora haviam ossos espalhados por toda parte e era possível encontrar até esqueletos inteiro nas poças no chão, por sorte não pareciam recentes.

Não, ele ainda não estava assustado, à final, sua coragem era principalmente o que o destacava e não era apenas durante horas de jogo. Mas não podia deixar de se preocupar com seus amigos.

Ele só desejou que tivesse trazido algum equipamento melhor do que uma espada e um estilingue, mas já era difícil passar por Surge Protector só com aquilo e quando ele deixara seu jogo não imaginara que aquilo fosse acontecer, era pra ser só uma visita rápida a uma amiga.

Se bem que ele devia ter esperado aquilo, à final, era de Clarion que estavam falando, nada nela ou sobre ela era normal. Mas o que mais esperar de uma semi-elfa, ladra, que crescera no mundo real e tinha por amigos a turma que muitos no Arcade consideravam os maiores piratas dali?

Regras nada tinham a ver com o estilo de vida dela. Segurança não era uma das coisas com as quais ela mais se importava e juízo não era uma das coisas que ela mais tinha. Liberdade era seu estilo de vida, o que ela mais se importava eram provavelmente os amigos e provavelmente o que ela mais tinha era a coragem. Ela era simplesmente a garota perfeita pra se ter por perto.

Bem que ele queria que ela estivesse ali agora. Se bem que, se ela estivesse, não haveria motivo nenhum para nenhum deles estar ali.

Com um último suspiro ele revolveu continuar e explorar. A sala onde ele se encontrava era ampla, mas tudo o que havia à partir dali eram dois corredores estreitos, um de cada lado.

Link normalmente teria tomado o da direita, que parecia o mais limpo, mas estava tão distraído em seus pensamentos sobre Clarion que algo o fez mudar de ideia e ir pelo da esquerda.

Para sua sorte, porque assim que ele deu as costas para a passagem uma sobra voltou veloz para dentro dela e um par de olhos vermelhos brilhou antes de desaparecer e a passagem se tornar completamente escura, uma leve névoa verde volta e meia escapando dali.

Mas apesar de, mesmo sem ele saber, aquilo ter se tornado a solução para o que poderia ser a morte certa, certamente pensar na amiga não era a solução para todos os seus problemas. Pior, era um chamariz para mais problemas.

Mesmo que ele soubesse, era tarde de mais para parar agora. Enquanto fazia cautelosamente seu caminho pelo corredor, Link começou a ouvir uma voz. Alguém estava cantando, não longe dali, uma voz suave, doce e infantil.

Mesmo assim ele tomou cuidado em seu caminho, embora já tivesse ouvido algo como aquilo e tivesse quase certeza de onde vinha.

Nem por um momento pensou que algo estivesse errado ali, não havia porque, certo?

Finalmente ele virou em um canto e descobriu que a passagem ia dar em um lugar idêntico a fonte dos Zoras, exceto que o píer de pedra não era habitado por Lord Jabu Jabu, o que era um alívio, na opinião do garoto.

Mas havia sim alguém lá e esse alguém era exatamente quem ele imaginara.

Clarion estava sentada na borda do píer, de costas para o garoto, cantando. Quando Link se aproximou ela parou, levantou-se e virou-se para encará-lo com um sorriso.

"Link! Que bom vê-lo! Estava começando a ficar preocupada." Ela abraçou o amigo, o que o fez corar um pouco mas também notar, o toque dela era um tanto frio. Havia algo errado ali. "Me perdi, não consegui encontrar a saída, achei que ninguém nunca fosse me encontrar!"

Não querendo demonstrar suas suspeitas, o menino perguntou:

"Você está bem?"

"Melhor agora."

"Então vamos sair daqui." Ele chamou.

Como já esperava, a menina não o seguiu.

"Espera! Quero que você veja uma coisa primeiro."

"O que?" Link perguntou, desconfiado.

"Dizem que essa fonte é mágica, ela mostra o futuro e dizem que se você beber dessa água e conseguir sair do labirinto com vida, ela lhe trará sorte."

Ele não sabia se ia até lá ou não. Poderia ser uma armadilha mas, por outro lado, poderia não ser. Que aquela não era Clarion ele tinha certeza, mas se ela era ou não uma das coisas que os estavam perseguindo, difícil dizer.

"Zora's Fountain?" Ele perguntou.

"Ela toma a forma que mais lhe convém. Nada nesse mundo tem forma definida, como você já devia saber."

Toma a forma que mais lhe convém. Era aquele o caso dela? Resolveu se aproximar. Foi até lá e ajoelhou-se na beira da água, tomando um pouco do líquido.

A água brilhou, então imagens começaram a se formar ali. Ele viu uma figura de aparência fantasmagórica com uma coroa na mão, então uma explosão de luz aconteceu e ele viu um estranho grupo de pôneis. A imagem brilhou novamente, mas ele só teve um leve vislumbre da cena se formando ali antes de mãos fortes o empurrarem na água.

"Ei! O que está pensando?!" Ele gritou, assim que conseguiu por a cabeça pra fora d'água.

A garota na borda soltou uma gargalhada assustadora.

"Crianças são tão ingênuas. Pensou mesmo que fosse sua amiguinha?"

"Nem por um segundo. Não depois que você me abraçou." Ele respondeu.

"Esperto, mas nem tanto. Ainda assim confiou em mim. Agora caiu na armadilha."

Ele sentiu-se ser arrastado mais para o meio do lago enquanto a água a sua volta começava a ficar turva, restando apenas um pequeno círculo, onde devia ser a fonte, de água limpa. Tentou nadar de volta, mas sentiu algo agarrar seu tornozelo e começar a puxá-lo para baixo. Ele se debateu, tentado se livrar,mas o que quer que fosse era muito forte.

Ele tentou a espada, mas era difícil maneja-la em baixo d'água, mesmo assim conseguiu atingir o que o segurava e voltar para a superfície, nadando o mais rápido possível para o único pedaço de terra longe do píer. Por vezes, mais coisas tentaram agarrá-lo, mas ele estava esperto com ela agora e não permitiu que o alcançassem. Quando finalmente conseguiu sair da água, olhou para o píer, mas não havia mais ninguém lá. Olhou para trás, foi quando a viu parada ali.

"Você é bem forte para um garoto tão jovem. E muito corajoso também. Nós temos muito menos força quando você não tem medo. Isso não quer dizer que não sejamos perigosos."

E se Link imaginava que a coisa não podia ficar mais estranha, percebeu que estava enganado quando a figura à sua frente se transformou em um Dead Hand. A princípio o monstro tentou atacá-lo e Link revidou, como já fizera tantas outras vezes, então o bicho se afastou e desapareceu na terra. Foi quando Link aproveitou a falta das mãos que normalmente o atraíam para fora e correu por um túnel estreito até chegar a um beco sem saída. A parede a sua frente era toda feita de ossos.

Sem saída, Link puxou a espada e se preparou para o pior, mas não para o que aconteceu em seguida. As mãos começaram a sair da parede às suas costas e o agarraram antes que ele as percebesse e a puxá-lo para a parede. Ele tentou se livrar delas mas eram muitas, qualquer esforço era inútil. Então ele mergulhou na escuridão.