Witch

A filha da Bruxa Escarlate


Em uma grande floresta, onde animais não se aproximavam e os raios de luz pouco alcançavam, havia uma pequena cabana iluminada apenas por um lampião, onde uma mulher de longos cabelos vermelhos como o sangue vivia.

Erza Scarlet tinha um grande conhecimento sobre ervas medicinais, conhecimento este passado por sua mãe, Eileen, conhecida por todos como a Bruxa Escarlate. Enquanto ela acendia a lareira por causa do frio que estava fazendo naquela noite, ao olhar para o fogo que aos poucos aumentava, não evitou de ser abatida por dolorosas lembranças.

Lembrava-se perfeitamente do dia em que tivera que fugir da aldeia. Estava à procura de sua mãe, quando no meio da praça havia uma grande multidão. Curiosa, foi até lá, deparando-se com a cena mais dolorosa já presenciada. Sua mãe estava amarrada em um tronco, enquanto jogavam pedras em si gritando: Arrependa-se! Arrependa-se, bruxa!

Desesperada, correu até ela para tentar desamarrar seus pés, mas fora apedrejada junto de sua mãe. Então, com um doce sorriso, Eileen disse: Eu te amo muito, filha! Agora vá e fuja!

Com grossas lágrimas Erza correu, mas não antes de olhar para trás e ver Eileen sendo queimada. Desde então, a ruivinha ficou conhecida como aberração, filha do demônio, uma bruxa.

Essas lembranças eram sempre acompanhadas com um grande sentimento de ódio por aquelas pessoas ignorantes, ódio daquele reino, principalmente do clero que tirou sua liberdade, assim como a pessoa que mais amava... Mas, apesar de tudo, ela sempre tentou ajudar aqueles que vinham em sua procura, até mesmo aqueles que inesperadamente precisavam dela, como ele precisou.

Assustou-se com o rumo que seus pensamentos estavam tomando desde aquele dia, ela não precisava de mais problemas, muito menos com o reino, então tentou manter sua cabeça ocupada com a preparação de outros remédios que iria precisar para ajudar uma moça da vila.

~•~•~•~•~

No lado oposto da floresta, Jellal Fernandes já estava cansado de ouvir os sacerdotes da igreja que sempre passavam os ensinamentos e histórias desde os tempos primórdios. Ser o próximo sucessor do trono não era tão simples quanto parecia, ainda mais quando ele precisava muitas vezes a aprovação do clero antes de decidir algo, o que não lhe agradava de maneira nenhuma, pois as escolhas eram sempre em prol da igreja e não de todo o povo.

Decidiu descansar sua mente, para logo fechar o livro que estava lendo. Caminhou em passos lentos pelos seus aposentos, debruçou seus braços sobre o parapeito da janela, e ao olhar para a extenso horizonte não conseguiu deixar de lembrar da ruiva extremamente bela que o socorreu. Obviamente sabia quem era Erza Scarlet, mas não acreditava nem um pouco sobre o que Ultear contava sobre ela, não depois da ruiva tê-lo socorrido.

Jellal havia saído para caçar em uma noite de lua cheia, era um costume que adquiriu com seu pai Sieghart, no entanto, o velho já não tinha a mesma disposição como antes. E, mesmo sendo perigoso, ele gostava de ir sem os guardas, então ele apenas assoviaria em qualquer situação de perigo, alertando os homens que ficavam na entrada da floresta esperando suas ordens.

Ele adentrou a floresta escura tendo apenas a lua como claridade, o arco-flecha preparado ao lado do seu corpo, seus passos eram suaves, havia somente o barulho do vento soprando as folhas das árvores e os sons dos animais que ali viviam. Quanto mais ele adentrava a floresta, mais ele conseguia distinguir a direção dos ruídos e seu corpo ficava em um estado de pura adrenalina. Inspirou e expirou profundamente e em um movimento rápido seu corpo moveu-se, assim como a flecha que em um piscar de olhos estava cravada em seu alvo. Havia acertado em um cervo, o ruído agonizante que o animal deu antes de morrer acabou chamando a atenção de outros animais por perto, e antes que Jellal pudesse chegar até o animal, ele parou imediatamente sentindo uma dor em seu tornozelo que irradiou pela extensão da sua perna. Ao olhar para baixo, uma cobra deslizava já para longe e só pelo formigamento que começou no local que havia sido picado, sabia que era uma cascavel. Seus olhos começaram a pesar, quase não conseguindo abri-los, caminhou um pouco até que caiu pela dificuldade de locomoção; não conseguiu assoviar, seu corpo estava cansado demais.

Escutou alguns barulhos, parecia que alguém estava por perto. Pensou ser seus guardas, mas se enganou: o que apareceu em sua visão turva era um borrão vermelho que agarrou atrás de si e começou a puxa-lo, não conseguiu ver o trajeto que faziam, mas sabia que estavam bem afastados da saída, já não era possível ver o céu com seus pontos de luz. Então o desconhecido parou, ele pode reconhecer um clarão, estavam em um local mais aconchegante, pôde sentir apenas pelo cheiro de alguma sopa, e do calor que a lareira emanava. Sentiu algo gelado em sua perna, uma mão quente e macia em seu rosto, logo após, um pano úmido em sua testa, e então, adormeceu.

Jellal acordou incomodado com a luz do ambiente e estranhando o mesmo, até que lembrou-se do ocorrido, alarmando-se. Não fazia a mínima ideia de onde estava e quem o socorreu, mas logo suas dúvidas foram sanadas por uma bela moça que apareceu na porta com uma tigela marrom, cheia de plantas.

— Erza Scarlet? – perguntou mais para si mesmo do que para a mulher em sua frente.

— Vejo que me conhece, majestade. – disse aproximando-se do rapaz, vendo-o se afastar. – Está com medo?

— Medo? – sorriu galanteador – Estou mais é espantado com tamanha beleza senhorita.

Erza se mantinha neutra diante do comentário do azulado apesar da vergonha que sentiu. Sem aviso prévio retirou a bandagem da perna de Jellal, arrancando um grunhido, logo colocou mais das folhas medicinais que estavam na tigela e refez o curativo.

— Poderia me falar o que colocou em minha perna? Além disso, como posso agradecê-la? – perguntou curioso. Sua intenção real era poder saber mais sobre a mulher que todo o clero repudiava. Seria mesmo uma bruxa?

— Bom... – ponderou, mas tinha vontade de esclarecer sobre seus conhecimentos, no fundo estava com medo do que podia acontecer consigo. – Eu tenho conhecimentos sobre diversas plantas, sei como mistura-las e prepara-las, e assim criar um “antídoto”, então preparei um para sua perna. – Jellal se mantinha atento em cada palavra. – Minha avó passou esse conhecimento para minha mãe e ela a mim, assim como pensam, não sou uma bruxa.

— Isso é incrível, senhorita Scarlet! – exclamou maravilhado, mas lembrou-se do que fizeram com ela, o que o fez se sentir culpado de certa forma. – Sinto muito pelo que aconteceu com sua mãe e pelo que fizeram com você, me envergonho pelo que acontece no reino e pelas ações que muitas vezes tomam sem ao menos tentar descobrir a verdade, espero um dia mudar isso. – disse sincero. Erza sentiu um alívio, seu coração se aqueceu de certa forma, ele parecia ser um bom homem.

— Isso é passado, senhor. – suspirou, já havia prolongado aquele conversa demais. – Como está bem melhor, receio que deva ir embora. Não me entenda errado, mas acredito que já estejam à sua procura na floresta e temo que me encontrem, então, por favor, como agradecimento, finja que nunca me viu.

O Fernandes assentiu, sabia que ela era procurada pela igreja, e não queria causar mais problemas para a moça, mas por alguma razão seu coração desejava encontra-la novamente.

— Pode me chamar de Jellal, sem formalidades entre nós, ainda mais depois de ter me ajudado. – sorriu. – Poderia me acompanhar até onde me encontrou? Infelizmente, não conheço esse pedaço da floresta. – sem graça passou a mão sobre seus cabelos.

— Claro, senh... Jellal. – ela se aproximou dele e passou um de seus braços na cintura do herdeiro e colocou um dos braços deles sobre seus ombros para dar apoio.

Caminharam por um tempo na floresta, estava com uma neblina densa e fria, o Fernandes curioso, fazia perguntas a todo momento. Erza apenas respondia, tentava limitar a aproximação entre ambos, mas estava impossível, sem dizer que era estranhamente bom estar ao lado dele.

— Olha, vou te dar esse líquido e quero que tome duas vezes ao dia, isso vai ajudar no tratamento, tem a quantia certa que precisa. — entregou um potinho de vidro com um líquido de aparência esquisita, fazendo o rosto de Jellal se contorcer em uma careta. — Oras, não me diga que tem um estômago fraco. — riu brincalhona da reação rapaz.

— Você é incrivelmente linda. — Jellal hipnotizado por seu sorriso, deixou seus pensamentos escaparem por seus lábios, fazendo a ruiva ganhar o tom avermelhado em suas bochechas. – M-Me desculpe, Erza, eu.. eu.. Enfim, espero vê-la em breve. — assim se despediu e lentamente se dirigiu a saída da floresta, tentando parecer o mais normal possível em frente aos seus guardas, ele subiu em seu cavalo e se direcionou ao castelo, tudo sendo observado por uma ruiva envergonhada."

Queriavê-la de novo, pensou Jellal, enquanto olhava tudo pela janela. Nunca imaginaria que uma mulher pudesse invadir tanto seus pensamentos. Havia se enraizado como uma erva daninha, e como se alguém escutasse seu desejo, lá estava ela saindo de dentro da floresta, colocando seu capuz sobre os cabelos, caminhando suspeitamente por entre as ruas mais escuras. Sem esperar o Fernandes logo deu um jeito de sair escondido do castelo, como sempre fizera quando queria um pouco de paz. Não demorou muito para alcança-la, ela entrou em uma casa simples, sem pensar muito bateu na porta que a ruiva acabara de entrar, sendo atendido por um rapaz de cabelos róseos.

— Posso entrar? — perguntou educadamente. O rapaz a sua frente logo ficou tenso, sabia que era o filho do rei, não podia negar sua entrada, só esperava que ele não reconhecesse a mulher que estava lhe ajudando.

O lugar era simples e aconchegante como uma casa de família devia ser, diferente do seu lar, o cheiro de comida exalava pela sala, procurou Erza até onde seus olhos conseguiam ver, mas sem sinal da mesma.

— Erza Scarlet se encontra, senhor...?

— Dragneel. Natsu Dragneel, majestade. — respondeu, e antes que pudesse dizer algo sobre a mulher, alguém o interrompeu.

— Não me diga que veio atrás de mim, Jellal. — sorriu ao vê-lo acanhado.

— Estaria mentindo se dissesse que não. — disse o azulado com o rosto vermelho, prestou mais atenção na mulher e viu que ela carregava uma vasilha e macetava alguma coisa dentro. — Fiquei curioso ao vê-la entrar aqui.

— Eu disse que ajudava quem precisava, e como o senhor Natsu veio até mim, aqui estou. — agora olhando para o Dragneel que sorriu grato. – Bom, se quiserem me acompanhar, vou até Lucy. Alguém poderia me trazer uma bacia com água morna? Estarei no quarto.

Jellal seguiu a ruiva e Natsu foi esquentar a água. Ao adentrar o quarto, uma moça de cabelos loiros se encontrava adoecida na cama, lamentou ao vê-la tão debilitada. Natsu apareceu com a bacia quente e alguns panos limpos. Jellal observava a naturalidade de Erza preparar o líquido e acrescentar as diferentes preparações que havia feito.

— Espero que melhore agora. — disse ao depositar o liquido na boca da loira. — Amanhã voltarei para vê-la nesse mesmo horário, continue trocando os panos úmidos. Tenha uma boa noite.

Natsu agradeceu e despediu-se dos dois, ainda mantendo sua expressão de preocupação, mas com a esperança de que sua mulher fosse melhorar.

Agora mais distantes das redondezas do castelo, Erza puxa Jellal para um beco, retirando o capuz e olhando de maneira intimidadora, não entendia o que aquele homem tinha na cabeça.

— Está louco? — sussurrou, mantendo-se atenta com qualquer sinal de guardas. — Sabe que a igreja está atrás de mim, por que me seguiu? Pretende me entregar? — perguntou nervosa, não fazia a mínima ideia das intenções do Fernandes.

— Ei, calma, só fiquei curioso ao vê-la de minha janela, sem dizer que entregar a senhorita está fora de questão, não tem sentido eu deixar que todos a vejam sendo que apenas eu tenho esse privilégio. — sorriu sacana, fazendo a mulher em sua frente desviar o olhar.

— O que quer de mim? — perguntou cansada daqueles joguinhos.

Jellal analisava a Scarlet com um olhar intrigante. Como diria que não havia tirado ela de seus pensamentos desde a primeira vez que se encontraram? Que sentia-se tão atraído que ele mesmo pensava ser loucura? Que ele estava tão hipnotizado por sua beleza quanto por sua gentileza que realmente parecia ser o feitiço de uma bruxa?

Enquanto seus pensamentos aumentavam procurando uma resposta, seu corpo movia-se em direção a ruiva, fazendo seus corpos se chocarem. Erza estava eufórica, seu coração batia descontrolado em seu peito ansiando pelo toque do rapaz e seu corpo parecia querer o mesmo ao colocar suas mão sobre o rosto de Jellal puxando-o para um beijo. Apesar de surpreso, o azulado logo ditou o ritmo, parecia ser o primeiro de Erza pelo modo desajeitado que começou, mas logo ela seguiu o mesmo movimento que ele, dando passagem para sua língua. Era uma mistura de sentimentos, Jellal tentou ser o mais calmo e gentil possível, mas antes de poder apreciar mais daquele momento, se viu sendo empurrado, encarando a ruiva vermelha e espantada, provavelmente, com sua própria atitude.

— Perdão, majestade... eu... eu... — antes mesmo de poder formular qualquer frase Erza correu envergonhada e até um pouco feliz, se esquecendo de agir com cautela, não imaginando que já estava sendo observada por mais uma pessoa além do Fernandes e, infelizmente, não era alguém tão bom quanto ele.