Witch

O destino de Erza Scarlet


Já passava de meia-noite, Erza estava em sua cabana com seu costumeiro livro de plantas em mãos, tinha acabado de voltar de uma aldeia fora do reino e precisava encontrar um remédio para uma pequena garotinha adoecida, mas estava difícil descobrir que ingrediente faltava, por isso decidiu reler seu livro novamente. No entanto, começou a ouvir barulhos das folhas secas no chão e alguns animais agitados, cautelosa foi até a porta se assustando com a batida na mesma.

— Erza, está ai? — uma voz conhecida sussurrou.

— Jellal? O que faz aqui? — perguntou surpresa ao abrir a porta e dar passagem para o rapaz entrar. Ele era muito inconsequente quando queria, parecia não pensar no perigo que os dois corriam.

— Precisava vê-la. — respondeu direto, enlaçando a mão ruiva. — Desde aquele beijo não consigo parar de pensar em você. Sei que vai dizer que estou louco, que não existe futuro nenhum para nós, mas nunca pensei que uma mulher me deixaria tão enfeitiçado que fizesse meu corpo agir sem pensar. — declarou com um sorriso enorme, fazendo o coraçãozinho de Erza bater feito louco e suas bochechas ficarem mais vermelhas que seus cabelos.

— V-V-Você tem noção do que está dizendo?? — perguntou envergonhada. Ela não podia negar que também pensava nele. Nunca foi boa em lidar com seus sentimentos, nem havia se sentido especial dessa maneira.

— Não estou pedindo para nos casarmos ou algo do tipo, mesmo eu querendo... só me deixe poder vê-la e tocá-la. — Ao dizer isso uma das mãos de Jellal pegou uma mecha do cabelo da ruiva e a outra acariciou o rosto dela delicadamente, até que a distância entre os dois não existisse. — Seu beijo está bem melhor. — comentou sorrindo ao se separarem.

— Eu devo ser mais inconsequente que você. — suspirou quase se arrependendo do que estava fazendo. — Eu sempre vou ao redor do reino ao anoitecer pegar algumas plantas que os próprios moradores que ajudei acabam separando para mim, então me encontre naquele mesmo beco que nos b-b-beijamos, uma vez a cada dois dias começando por hoje. — disse envergonhada, enquanto empurrava o Fernandes para fora de sua casa.

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Os dias foram se passando e com isso o envolvimento entre Erza e Jellal ficava maior. Se encontravam sempre que possível, deixando claro que os sentimentos de ambos estava crescendo em sincronia, fazendo com que deixassem a guarda baixa quando estavam juntos.

Erza nunca havia experimentado tal sentimento. Era forte, intenso, aconchegante, o verdadeiro significado de magia. Ela andava nas nuvens, era como seu passado triste não fosse tão doloroso e nem seu presente fosse tão cruel, era como se ela pudesse ter esperança de algo bom no futuro. Ela estava cada vez mais apaixonada por Jellal Fernandes.

— Melhor voltarmos, está quase na hora da ronda dos seus guardas. — disse Erza se afastando, mas não antes de ser impedida por Jellal ao segurar seu braço.

— Não está esquecendo de nada, senhorita Scarlet? — sorriu sacana.

— Que homem cheio de caprichos. — respondeu a ruiva revirando os olhos, sem deixar de sorrir. Ela se aproximou dele enlaçando seus braços sobre o pescoço, sendo prensada na parede enquanto recebia mais um dos beijos apaixonantes de Jellal.

Eles ficariam aproveitando mais alguns momentos juntos, mas o barulho de passos correndo foi o suficiente para fazer ambos entrar em estado de alerta. Jellal cautelosamente fez guarda ao redor, mas nada foi visto, talvez fora sua imaginação?

Despediram-se rapidamente e cada um seguiu sem caminho, um zelando pelo outro em pensamento.

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Ultear chegou cedo na igreja, precisava pedir perdão por seus pensamentos tão mundanos. Nunca imaginou que acabaria se apaixonando pelo filho do rei, afinal, desde pequena fora ensinada ignorar seus sentimentos e agir pela razão. No entanto, ao ver o envolvimento do Jellal com aquela bruxa ao longo dos dias seu coração se encheu de ciúmes e ela desejou por um momento ser aquela quem ele beijou.

— Maldita, bruxa! — esbravejou ainda de joelhos. — Com certeza é um feitiço do demônio que está sobre o príncipe, e eu como serva do Senhor devo ajudar os que estão perdidos e ir contra as trevas que ronda nosso povo. Isso acaba hoje! — Ultear sabia que aqueles não eram seus reais motivos, mas por alguma razão, falar aquilo foi como deixar sua consciência livre da culpa e do pecado.

Rumou em direção ao castelo para realizar o diário aprendizado do príncipe. Chegou em seus aposentos e o encontrou sentado em sua mesa como de costume, absorto em pensamentos que ela imaginava saber quais eram.

— Senhor. — chamou-o. — Vejo que ultimamente está muito distraído. — comentou tentando extrair algo de Jellal.

— Muitas coisas para resolver sobre o reino e mudar, é claro. — Jellal nunca se incomodou com Ultear. A moça sempre agia com seriedade e era uma boa companhia, melhor que os velhos que só sabiam reclamar.

— Com “mudar” você quer dizer aceitar que bruxas caminhem pelo reino sem uma punição divina? — Ao ouvir isso Jellal temeu o pior, mas tentou agir de forma natural, o que era quase impossível ao ouvir o que ela disse a seguir. — Não achou que Erza Scarlet combinaria como rainha, não é mesmo?

— Deixe-a em paz! — exasperou-se. Como? Como ela sabia sobre eles? Poderia ser ela que os viu noite passada?

— Não vê que ela está usando bruxaria para se vingar de todo o reino? Se aproximando de um coração tão bom para conseguir o que quer. Eu vou abrir seus olhos, majestade, nem que eu tenha que manda-la para o inferno de onde veio!

— Nem mais uma palavra! Eu a proíbo, Ultear! — Jellal estava desesperado. O que deveria fazer? Erza estava em perigo e a culpa era toda dele.

— Se não punir a bruxa, punirei aqueles que compactuaram com ela, e sei que são muitos. A escolha é sua majestade. — Ultear ao lhe dar as opções se retirou, não dando nem tempo para o Fernandes contornar a situação.

Seu mundo estava desabando na sua frente e ele não podia fazer nada para impedir.

∆•∆•∆

Erza aguardava ansiosamente Jellal no mesmo lugar de sempre, contudo o Fernandes estava um pouco atrasado, o que não era seu feitio. Esperou mais um pouco, algo no seu coração dizia ter algo errado, mesmo ela não sabendo.

— Jellal! — disse assim que o viu indo em sua direção. — Senti tanto sua falta! — confessou envergonhada, enquanto seu corpo era envolto em um abraço apertado.

— Me perdoe, Erza. — disse baixinho. — Eu não consegui te proteger.

— Ei, o que houve, Jellal? — perguntou preocupada. Vê-lo com aquela expressão fazia seu coração doer.

— Você tem que fugir hoje mesmo, Erza. — desesperou-se. — O clero descobriu sobre nós. Não posso deixar que te encontrem! E sobre aqueles que você ajudou eu vou pensar em como ajuda-los, eu prometo.

— Não posso deixar que outras pessoas paguem o preço por minha culpa, Jellal. — disse tristemente ao abraça-lo. Ela já estava com a sensação de estar sendo observada desde a entrada da floresta, mas ao escutar tudo isso sabia que provavelmente alguém estaria esperando para prende-la — Não se culpe, porque eu poderia muito bem ter rejeitado toda essa situação, mas não quis. Você é um homem incrível e de bom coração, aposto que será o melhor rei que reinará nesta terra.

— Erza... — Jellal parecia um garotinho perdido, seus olhos já derrubavam as primeiras lágrimas. Não conseguia entender como ela parecia tão calma diante da situação... Era como se ela estivesse esperando por esse momento. — Vá para uma aldeia distante, certo? Não deixem te pegarem, vou tentar contornar a situação.

— Está tudo bem, Jellal, só me prometa que vai proteger todos que ficaram em perigo por minha causa, certo? — Ela acariciou as bochechas do rapaz carinhosamente, encostando uma testa na outra, para então se beijarem pela última vez. Um beijo calmo, apaixonado e doloroso como uma despedida.

— Eu te amo. — disseram em uníssono pela primeira vez o sentimento que tanto guardavam em deus corações para logo se despedirem.

Erza esperou Jellal partir, imaginando o quão doloroso seria ver a expressão dele ao ver que ela foi pega, e não demorou muito para dois guardas aparecerem junto a um sacerdote. A ruiva não ofereceu resistência, então apenas colocaram correntes em seus pulsos e tornozelos, e a levaram puxando seus cabelos.

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Na manhã seguinte todo o reino se reuniu na praça principal. Jellal atrás da multidão não conseguiu enxergar o que estava acontecendo para tanto alvoroço, ninguém o havia comunicado sobre algum evento.

— Senhor, que bom que está aqui, assim poderá dar início a punição da bruxa. — comentou Ultear se aproximando do príncipe enquanto abria um caminho para ele entre a multidão.

Ao se aproximar pode ver Erza de joelhos com vários ferimentos em seu corpo causados por pedras de todos os tamanhos. Seu corpo travou. Aquilo era desumano! Como alguém que dizia ser servo de Deus poderia cometer tal atrocidade ao invés de praticar o amor e perdão que tanto pregavam? Eles eram os verdadeiros demônios!

— Olhe em sua volta e escolha bem suas atitudes, não queremos mais mortes que o necessário. — sussurrou Ultear ao ficar lado a lado do Fernandes

Olhando ao seu redor pode identificar algumas pessoas que Erza ajudou. Eles estavam com expressões tristes em seus rostos. Lucy chorava baixinho sobre o peito de Natsu que encarava tudo incrédulo sem poder fazer nada por quem tanto o fez. No entanto, Jellal pode observar que guardas estavam atrás dessas pessoas, apenas esperando ordens. Ele não tinha escolha.

— Povo de Fiore, por muito tempo nosso reino vem sendo amaldiçoado por essas bruxas, filhas de satanás, mas hoje isso acaba! — Quem havia tomado a palavra era o próprio rei que estava sendo instruído por um dos sacerdotes. — Meu amado filho e sucessor, Jellal Fernandes, será aquele que dará as ordens para punir Erza Scarlet, a filha da maior bruxa que habitou em nosso reino anos atrás, como prova de sua coragem e proteção com seu povo.

A multidão comemorou, ficou em entado eufórico a espera do que o futuro rei faria com a bruxa. Jellal aproximou-se de Erza, sua maior vontade era abraça-la e fugir, mas tanto ele como ela sabiam que seria impossível, vidas inocentes estavam em jogo.

Jellal puxou os longos cabelos de Erza, marca registrada para identificação de bruxas poderosas, e com sua espada, cortou-os.

A ruiva que até o momento se mantinha com um espírito inabalável, se quebrou. Sempre esteve preparada para sua morte, mas não havia se preparado para conhecer o amor. Poderia ser qualquer um a realizar a punição, mas não ele. Não o homem que ela amava.

Jellal arrastou-a até o tronco a sua frente e amarrou-a com nós frouxos, na esperança que ela fosse egoísta o suficiente para fugir.

— Me perdoe, por favor. — sussurrou Jellal enquanto fingia amarra-la ainda.

— Não o culpo pela ignorância de outras pessoas. — respondeu baixinho com a voz embargada pelo choro. — Sempre aceitei meu destino, assim como minha mãe.

Jellal recebeu uma tocha já acesa em suas mãos, colocando fogo sobre as madeiras abaixo dos pés de Erza. A multidão começou a gritar : Arrependa-se! Arrependa-se, bruxa!

— Eu te amo, Jellal. — sorriu Erza com lágrimas nos olhos.

Foi a única coisa que Jellal pode ouvir antes de se afastar e escutar os gritos agonizantes de Erza.

A multidão gritava.

A igreja comemorava com orações aos céus.

E Jellal chorava escondido como uma criança sobre os cabelos vermelhos da sua amada bruxa Erza Scarlet.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.