Winds of Night

Cruzando o caminho.


Sonic usava um traje de realeza que contrastava fortemente com seu estilo de vida anterior. A capa vermelha escarlate do rei estava ricamente bordada com detalhes dourados, especialmente feito para ele, assim como a coroa que brilhava com esmeraldas.

O peito pesado, assim como as respirações profundas que saiam pouco a pouco, não apenas pela coroa, mas pela responsabilidade que agora recaía sobre ele.

Lancelot, apesar de ser sério e taciturno, era o cavaleiro que parecia mais próximo de entender a luta interna de Sonic. Ele não se dirigia a ele como "rei" o tempo todo, sabendo que Sonic preferia um tratamento mais informal. Essa pequena consideração significava muito para o outro ouriço, que não queria ser afogado em formalidades. O que levou meses para acontecer após a vitória do ouriço azul.

Lancelot andava ao lado de Sonic, a armadura negra contrastando com a capa brilhante do ouriço. Ele não falava muito, porém, acostumado, a presença dele era reconfortante e suficiente para o outro.

Ao caminhar pelo salão real após a cerimônia, Sonic viu Lancelot se aproximando. O cavaleiro tinha sido o primeiro a entrar, e agora ele ia até o rei com uma expressão séria.

"Vamos conversar." Lancelot pediu respeitosamente.

Oh. Que surpresa, Lance iniciando um diálogo!

"Claro que sim!"

Lancelot levou Sonic para um canto mais tranquilo do salão. "Estás preocupado?"

O ouriço suspirou, meio que aliviado por alguém perceber a hesitação dele. “Ah...”

Nem um pouco bobo, Lancelot não procurou os olhos do rei imediatamente, esperando um tempo. Mas ele pensou que seria melhor deixar claro:

"O que disseres agora vai ficar somente entre nós."

E então, Lance quase parou de respirar assim que visualizou as esmeraldas de Sonic, tão mas tão de perto, e o tom de voz baixo, como se estivesse compartilhando um segredo.

"Lance...” Lancelot não conseguiu evitar se deslocar de forma constrangida diante do apelido. “Ser rei não estava sendo parte dos meus planos, como você já sabe. Eu sou um aventureiro, mas liderar um reino não é...”

Ele se virou na direção do do reflexo no majestoso espelho dourado que adornava o Salão Real. A coroa repousava sobre a cabeça, o manto real envolvendo os ombros finos, o símbolo do reino destacando-se no peito. Ele parecia um rei, todos os elementos que compunham a imagem de um governante, mas algo estava errado.

Ele franziu a testa e suspirou, murmurando consigo mesmo.

"Não sou eu..." ele deixou escapar. "Não é assim que eu sou."

Foi então que Lancelot chegou mais perto, a armadura mal fazendo barulho enquanto ele se posicionava perante o rei relutante. Ele permaneceu em silêncio por um momento, avaliando Sonic e a imagem refletida.

"Não, não é você", admitiu o ouriço negro, portando uma voz profunda. Depois de um tempo, ele admitiu muita coisa no fundo do peito, agora então que finalmente o daria algumas respostas. “Este é o rei que o reino precisa, mas não é a essência daquele que carrega a coroa."

Sonic virou-se para encarar Lancelot, surpreso com a resposta. Ele esperava uma repreensão ou talvez um sermão - como de vez em quando ganhava dele e de Caliburn. Em vez disso, encontrou compreensão.

"Eu sei o que todo mundo espera de mim, mas, às vezes, me sinto deslocado nesta pele real."

Lancelot inclinou a cabeça, como se compartilhasse da confissão de Sonic. “Ser rei não significa abdicar de quem você é. Significa liderar com sabedoria, mas também manter a tua própria verdade. És um ouriço destemido, um aventureiro por natureza. Do seu ponto de vista a coroa pode te mudar, mas ela é incapaz de mudar a tua alma.”

As palavras ecoaram na mente de Sonic, um lembrete reconfortante para o espírito dele.

“…”

E o rei simplesmente não teve mais o que dizer. A face esquentou, sentindo-se um pouco mais leve, ele desviou o olhar pra longe de Lancelot.

Lancelot sorriu de leve, um gesto raro, mas genuíno. "E eu estarei ao teu lado, Majestade."

Lance... Lancelot sorriu.

Ele sorriu!

Mesmo de relance Sonic pôde ver. Droga, ele tinha que tirar uma foto, mas era impossível naquela dimensão!

O calor no estômago de Sonic aumentou, e ele teve que se afastar mais uma vez.

"Mesmo eu odiando estas roupas?" Uma hora ou outra ele iria larga-las. "E esta coroa."

Lancelot assentiu compreensivamente. "Usar esta coroa significa ter em mãos uma responsabilidade imensa, e nem todo mundo está preparado para isso. Mas a decisão tomada não foi à toa."

Sonic olhou para o cavaleiro enfim.

"Camelot escolheu-te como rei. Eles viram algo em ti que os fez acreditar que és a pessoa certa para liderar este reino."

"E o que você acha, Lance?”

Eles foram interrompidos por Sir Percival, infelizmente ou não, já que Sonic não sabia se queria ouvir a resposta de Lancelot.

... Antes de se enfiar no quarto, Sonic continuou a caminhar pelos corredores do castelo, os pensamentos dele vagando e tentando refletir sobre a presença de Lancelot ao lado dele. Não podia evitar fazer comparações inevitáveis entre Lancelot e Shadow, o ouriço do próprio mundo dele.

Shadow era um caso complicado para Sonic. Eles eram tão semelhantes em muitos aspectos: ambos eram ágeis, corajosos e dispostos a lutar pelo que achavam certo. No entanto, havia uma escuridão em Shadow que sempre o intrigara e o deixava temeroso um pouco. As memórias dolorosas e a busca por vingança muitas vezes obscureciam uma parte de Shadow, tornando-o um um pouco complexo e, às vezes, até mesmo ameaçador.

Lancelot, por outro lado, exibia mais controle. A lealdade e devoção ao reino eram inabaláveis, e ele mostrava uma compreensão genuína e paciência em relação a Sonic. Agora. Era quase como se Lancelot fosse mais equilibrado, ou o mesmo. Talvez pelas experiências diferentes de cada um. Entretanto, no campo de batalha, tanto Lance quanto Shadow eram imparáveis.

No coração de Sonic, não existiam mais comparações. Ele nunca poderia ser como nenhum dos dois ou merecedor deles. Shadow e Lancelot eram diferentes, únicos a própria maneira deles, completos, iguais e opostos ao mesmo tempo. Se o mundo exigisse que eles lutassem, eles lutariam do próprio jeito que sempre fizeram: fervorosos e protetores.

Sonic saiu do quarto, pela tarde. Lance foi o primeiro a ser encontrado. Um silêncio confortável enquanto caminhavam, Sonic não podia deixar de sorrir lembrando das conversas que passou a ter com ele. Eles não eram apenas rei e cavaleiro; eram amigos. Sim, sim, amigos... Ele gostava de pensar assim. Sonic apreciava a maneira como Lancelot o tratava agora, sem exigir mais formalidades reais. Isso demorou muito, tanto que Sonic pensou em desistir, até que foi surpreendido pelo nome dele sendo chamado quando estavam a sós.

"Sabe, Lance," começou Sonic, rompendo a quietude que pairava entre eles, "você é muito diferente de outra pessoa que conheço... embora ele me lembre muito você também."

Lancelot ergueu um olhar curioso, escondido por baixo da viseira. "Te referes a alguém de teu mundo, não é mesmo?"

Sonic assentiu. "Sim. O nome dele é Shadow. Ele é... complicado. Assim como você, ele tem habilidades incríveis, e..." o ouriço suspirou novamente.

Lancelot ficou em silêncio por um momento, considerando as palavras de Sonic. "Ele tem sorte de ter você lá."

Sonic sorriu de forma pensativa.

"Eu acho que pra ele não faz diferença, eu estando lá ou não."

"Então ele é um tolo." Lance disse por fim, escutando uma risadinha genuína de Sonic.

Se Shadow pudesse ouvi-lo agora...

*

Sir Lancelot observou atentamente o rei, discutindo questões de governança no salão real de Camelot. Ele estava intrigado pelas palavras do ouriço azul sobre liberdade e seu mundo de origem, e secretamente desejou saber mais sobre ele.

No entanto, havia algo mais que chamava a atenção de Lancelot. Era a maneira como Sonic reagia em várias situações. Quando confrontado, desgostoso ou impaciente, o rei cruzava os braços, franzia o cenho e começava a bater rapidamente um dos pés no chão. Era um gesto que Lancelot achava interessante, mais um fator de sua personalidade. Então até ele nem sempre é mil sorrisos.

Sonic expressava um imenso desagrado em relação a uma proposta que estava sendo debatida, ele começou a cruzar os braços, os olhos verdes faiscando de impaciência. O pé dele tornando a bater no chão em um ritmo rápido e constante.

Lancelot captou-o discretamente, olhos treinados notando todos os detalhes. Ele não conseguia desviar nem se quisesse, hipnotizado pela maneira como Sonic canalizava a frustração dele.

O ouriço azul proferiu algumas palavras cortantes, expressando sua discordância. Lancelot notou que, mesmo quando estava irritado, Sonic mantinha um sorriso carismático e auto-controle impressionante. Seu jeito decidido e suas ações enérgicas não passavam despercebidos.

"Meu Rei, peço desculpas se minhas palavras desagradaram-te", disse um dos nobres presentes na sala.

"Okay" o Rei Sonic, com o pé ainda batendo no chão, soltou um suspiro audível. "Mas não importa mais, vocês entenderam tudo errado o que eu estava tentando dizer. Vamos começar de novo."

A reunião, embora tivesse tido um começo tenso, gradualmente encontrou seu ritmo. Propostas foram discutidas, decisões tomadas e, com o tempo, o salão real começou a se esvaziar. Sonic, esgotado pela política e discussões, decidiu que uma pausa era necessária e, em um impulso, correu para o jardim do castelo para um momento de reflexão.

Lancelot, de longe, optou por segui-lo, mantendo uma distância respeitável. Os passos eram silenciosos, quase como se ele flutuasse - sempre fora conhecido por uma postura tranquila e sombria.

No jardim, a lua brilhava alta, e estrelas pontilhavam o céu noturno, iluminando a paisagem com um brilho suave. Em meio às rosas e ao suave murmúrio das fontes, Sonic foi encontrado olhando fixamente para o céu, os pensamentos claramente em outro lugar.

Vendo uma oportunidade, Lance chegou passo a passo, o olhar fixo no jovem rei. “Esta vista ajuda a clarear a mente.”

Sonic virou-se, um pouco surpreso ao ver Lancelot ali. "Lance," ele sorriu suavemente, olhando-o de cima a baixo, "Sim. É realmente uma vista impressionante."

"..."

"Lance, me conta um segredo."

"O quê?"

"Não precisa ser nada demais. Apenas algo que você faz e ninguém aqui sabe, e nem vai saber, além de mim claro."

Lancelot o analisou por uns momentos. Até que ele assentiu.

"Frequentemente me pego olhando para as estrelas, imaginando o que está além delas. Mesmo quando estou em guarda.”

Sonic riu suavemente. Isso não conta como um segredo.

"É complicado. Não podemos abaixar a guarda nem sequer para admirar a lua, mas..."

"Sabe, de onde eu venho, as estrelas têm uma importância diferente. Elas são tanto uma fonte de poder quanto de esperança."

Lancelot inclinou a cabeça. "Uma fonte de poder?"

Sonic hesitou por um momento, ponderando suas palavras. "As 'Esmeraldas do Caos', onde eu venho, são impulsionadas pelas energias das estrelas. Elas têm o poder de transformar pensamentos em realidade, desejos em existência."

O cavaleiro parecia quase maravilhado. "Isso soa quase mágico."

"É uma forma de magia", admitiu Sonic. "Mas, como todas as coisas poderosas, pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição."

E assim, sob o céu cintilante de Camelot, o rei e seu cavaleiro compartilharam um momento de tranquilidade e compreensão mútua, fortalecendo ainda mais os laços entre eles.

*

Amanheceu pacificamente - vendo o sol raiar Lancelot já estava em seu posto.

Da feita que os dias passaram, Lancelot começou a notar um padrão estranho. Sonic não estava mais em seus aposentos de manhã cedo. Em vez disso, ele era encontrado em lugares incomuns, como no topo de uma árvore alta no jardim do castelo, dormindo como um felino preguiçoso.

Ele ficou intrigado com esse comportamento peculiar e começou a manter um olhar atento sobre o governante - querendo ter certeza de que ele estava seguro, mesmo quando parecia estar fora de lugar.

Em um claro dia ele obteve a resposta quando o sol estava começando a lançar os primeiros raios dourados. Lancelot viu uma figura azul repousando nas sombras das folhas de uma alta árvore. Os olhos afiados reconheceram imediatamente quem era.

Sonic estava deitado, apoiado em um galho largo, com os braços cruzados atrás da cabeça. O peito subia e descia lentamente com a respiração suave e calma. Ele parecia à vontade, como se a árvore fosse sua cama habitual.

Lancelot se aproximou silencioso, e mantendo-se nas sombras continuou a observar o rei adormecido. Ele se perguntou o que poderia estar levando Sonic a preferir dormir ao ar livre, em vez dos confortáveis lençóis de seda intricados em ouro.

Ao que o observava, as flores próximas começaram a desabrochar sob a luz da manhã, e o aroma doce flutuou pelo ar. Era como se a própria natureza estivesse sussurrando a Sonic que era hora de acordar.

Pouco depois, os cílios trêmulos, revelaram os característicos olhos verdes brilhantes. Ele se espreguiçou manhosamente como um felino preguiçoso, pernas pendendo do galho da árvore.

Lancelot veio, saudando o rei com uma reverência respeitosa. "Bom dia, Vossa Majestade."

Sonic sorriu de forma descontraída. "Bom dia, Lance. Me desculpe, eu não estava no quarto... eu gosto de acordar com o sol."

O cavaleiro assentiu. "Eu entendo. Eu estava apenas visando te proteger em teu sono, pela tua segurança."

'Oh'. Sonic balançou a cabeça, parecendo grato pela preocupação de Lancelot. "Eu sei que posso contar com você, Lance. Além disso, estar perto da natureza me faz sentir mais próximo do meu lar."

*

Anoiteceu, e a torre do castelo oferecia uma visão espetacular das estrelas que pontilhavam a escuridão noturna. O vento sussurrava suavemente pelas ameias da torre, criando uma melodia suave que preenchia o ar.

Sonic estava sentado na beira da torre admirando o céu estrelado - as pernas pendendo sobre o lado de fora, balançando levemente. Orbes verdes brilhantes estavam fixas nas estrelas, como se estivesse tentando decifrar os segredos por trás delas.

A pedido de Sonic, Lancelot apareceu na torre naquela noite. Ele chegou com o elmo ainda sobre a cabeça, escondendo a preocupação clara que era dita no brilho dos olhos.

"Está tarde. As noites podem ser frias e úmidas, e os ventos noturnos podem ser implacáveis. O inimigo nunca descansa", disse Lancelot com uma voz cuidadosa.

Sonic virou a cabeça para encarar o cavaleiro, o sorriso característico iluminando aquele bondoso rosto. Ele ergueu a mão e fez um gesto para que Lancelot tirasse o elmo. "Relaxe, Lance, não estamos em uma batalha agora. Vamos. Deixe-me ver você."

Demorou muito para que Sonic tivesse seu pedido acatado. Tanto que, não esperava que Lance considerasse realizá-lo naquele momento. Lancelot pareceu hesitar por um momento, mas então obedeceu e removeu o elmo, revelando a face. Os fios de ébano caíam sobre a testa, e orbes rubis encontraram os esmeraldas de Sonic.

O ouriço azul se virou e deitou a cabeça no colo de Lancelot, pegando-o de surpresa. Ele virou o rosto para cima, encontrando o olhar de Lancelot.

"As noites aqui podem ser frias", disse Sonic, o tom mais sério do que o normal. "Mas a brisa é revigorante. Além disso, eu confio em você, Lance. Sei que você cuidará de mim."

Lancelot sentiu uma mistura de emoções olhando para o rei, seu amigo e líder. Ele sabia que Sonic era um espírito livre e, às vezes, parecia que nada poderia detê-lo. No entanto, também sabia que o papel de um cavaleiro era protege-lo, não importava o quão independente ele fosse.

"Sempre", respondeu Lancelot, sua voz cheia de devoção. Ele então gentilmente acariciou a cabeça de Sonic, transmitindo silenciosamente a preocupação terna. "… Sonic."

Sonic fechou os olhos por um momento, aproveitando o toque reconfortante de Lancelot. Os ventos da noite sopravam suavemente ao redor, e ele se sentiu seguro e em paz na companhia do cavaleiro.

•••

Lancelot despertou de madrugada, sentindo o frio se aprofundar nos ossos. Ele conseguiu dormir por cerca de 1 hora.
Embora ainda fosse o início do outono, as manhãs em Camelot já traziam um ar gelado. Vestindo a armadura negra, complementada com uma capa escura, ele fez o caminho pelo castelo. Próximo à masmorra, local onde muitos já haviam sido erroneamente encarcerados e torturados, ele conhecia um atalho.

Apenas cavaleiros do alta escalão sabiam deste segredo, uma passagem discreta, usada pelos Cavaleiros do Vento, agora sob o título de Rei Sonic. Sir Gawain, estava ali, a figura forte envolta em uma capa escarlate. Ele segurava Galatine, olhos fixos em algum ponto distante. A aura parecia carregada de preocupação e anseio.

"Sir Gawain", Lancelot chamou o nome dele, se aproximando.

Gawain virou-se lentamente ao som dos passos de Lancelot, olhos ametistas encontrando os dele. A voz dele também era estranha quando respondeu. "Você percebeu? O Rei não voltou desde ontem à noite."

“Ele sempre volta”, Lancelot tentou tranquilizá-lo, apesar da própria inquietude. "... Mas está atrasado."

"Sabe onde ele está?"

Ele tinha um palpite.

“... Caverna do Dragão.”

Lancelot não pôde conter estalar a língua. A notícia de uma ameaça vinda da caverna do dragão havia chegado aos ouvidos deles recentemente, mas a maneira de Sonic lidar com a situação era típica.

Lancelot suspirou, frustrado.

"Vamos lá."

“Tsk. Não me dê ordens!”

“Então pare de perder tempo.”

Eles caminharam até chegarem à beira do fosso, onde uma espécie de névoa se erguia em espirais e ocultava a ponte que conduzia ao Castelo de Camelot.

Antes que eles pudessem se afastar mais ainda do Castelo não demorou muito para que Lancelot avistasse, através da névoa, uma sombra tomando forma dando a visão de uma silhueta se movendo com lentidão. Era Sonic, ele estava voltando .... e ao lado dele, uma espada...

No entanto, algo estava errado.

"Vossa Majestade... Sonic!!", exclamou Lancelot.

Correndo ao encontro dele Lancelot agarrou Sonic momentos antes de deixá-lo atingir o chão. O aroma do sangue encheu o ar. O peito de Sonic exibia uma ferida profunda e a perna esquerda estava quase dilacerada. Olhando mais de perto, talvez até a névoa estivesse tingida de vermelho devido ao líquido vermelho.

Sir Gawain permanecia alerta, os olhos varrendo constantemente o ambiente em busca de perigos iminentes.

"Isso é terrivelmente grave."

Gawain chegou mais perto. “Vossa Graça... Você pode nos ouvir?”

"Isso é imprudente...! Ele pode morrer desse jeito ....!" Caliburn disse.

Uma energia tomou conta de todo o ambiente. Era escura, densa e raivosa, movendo-se em redemoinhos ao redor de Lancelot como se fossem tentáculos da noite. No entanto, a intenção não era violenta para com os aliados. Em vez disso, a penumbra parecia ter um propósito singular: proteger Sonic a todo custo.

”Contate os outros.”

Percebendo aquela aura assassina, Gawain deu um passo para trás. Ele nunca tinha visto algo assim vindo de Lancelot antes. Mas ele compreendia; era uma espécie de barreira contra qualquer ameaça que se atrevesse a se aproximar do rei dele.

Sonic, embora fraco e machucado, não ficou imune à sensação. Mesmo naquele estado debilitado, ele pôde sentir a força que emanava de Lancelot. O rosto do ouriço contorceu-se levemente, os lábios murmurando algo inaudível, uma resposta ao chamado mudo do cavaleiro.

Lancelot, por outro lado, mal reconheceu o que estava acontecendo. Ele estava tão concentrado nele, em chegar até ele, que não notou que Sir Gawain estava reagindo à isso.

"Lan..."

"Fique longe." Lancelot disse. "Deixe a tarefa de levar ele até lá comigo.

Gawain assentiu, e respondeu: "Eu irei na frente." Ele se voltou para a direção dos portões do castelo.

Certo, ele pensou.

Por ter o poder de curar todas as feridas e até levar à imortalidade, a bainha foi devolvida à Senhora do Lago para não repetir os erros do passado. Por isso foi prometido que Caliburn estaria lá quando necessário. Caliburn balbuciava perto dele.

“Vamos voltar agora”, disse Lancelot, envolvendo Sonic com sua capa. "Sonic, acorde!"

O importante era deixar ele consciente. Chamando-o repetidamente, tentando manter Sonic acordado, Lancelot viu a lucidez deixar o seu brilho esmeralda. Olhos desfocados. O ouriço murmurou algo...

"Shadow" ele conseguiu dizer, antes da voz dele se perder em um balbucio. "Você ... Está aqui..." E ele desmaiou nos braços do cavaleiro, o corpo pesado, como uma marionete cujas cordas foram cortadas.

Lancelot abraçou Sonic e correu de volta ao castelo, enquanto a névoa se dissipava na estrada sob o brilho do amanhecer - esmagando os sentimentos sombrios que surgiam no peito dele.

Afastando as luvas a mão de Sonic era segurada com cuidado, como se temesse quebrá-lo no aperto.

O rei estava deitado na cama, pálido, desmaiado com os ferimentos que ainda o afligia. Por pouco, ele saiu do estado crítico.

Com um suspiro silencioso, Lancelot abaixava a cabeça, os fios de ébano e vermelho caindo um pouco sobre os olhos. Ele sentia o calor fraco do toque de Sonic sob o seu, desejando que o ato pudesse curar o rei, mas sabia que não era tão poderoso assim.

Sentindo o ritmo lento, mas constante, das batidas do coração do rei, a preocupação que pesava internamente era como uma âncora, e ele não conseguia deixar de pensar nas palavras que trocaram antes dele desmaiar.

O cavaleiro se culpava por não ter estado lá. A visão do rei, gravemente ferido, assombrava os pensamentos dele.

“Sonic...”

Tirando de repente a mão depositada da pele de Sonic, Lancelot virou o rosto pra longe, o coração martelando.

Isso tudo é culpa dele.

Pela mesma janela que ele entrou, Lancelot partiu.

•••


O rugido do dragão ressoou pelas paredes da caverna, sacudindo o chão sob os pés de Sonic. Ele podia sentir o calor abrasador daquela respiração de fogo. Tudo parecia estar bem. Ele não iria exagerar, não iria demorar muito e tudo acabaria bem.

Até que alguma coisa estranha surgiu. O cenário se distorceu e tremeu diante do ouriço, e o rugido do dragão tornou-se um zumbido ensurdecedor. Sonic piscou, tentando entender o que estava acontecendo. Caliburn não parava de gritar ao lado dele.

E então o coração de Sonic acelerou. Eles surgiram diante dele. A visão o atingiu como um soco no estômago. Amy, Tails, céus, até Knuckles e Rouge estavam lá, e o mais surpreendente de todos, Shadow. Reunidos, como se estivessem esperando por ele, sorrindo e acenando. O peito de Sonic se encheu de alegria e saudade.

Até que as palavras saíram de seus lábios, inconscientemente. "Lance..." Ele chamou por.... Por... Por Lancelot....

Sonic piscou.

Contudo, em vez da resposta usual, ele viu a miragem de Shadow parecer confusa. "Com quem você está falando?" A voz Shadow soou nostálgica, fria e vazia. O brilho no olhar esverdeado do ouriço azul se perdeu. Era tarde demais.

Em segundos o rosto de Shadow se desfez, revelando uma forma monstruosa, e atacou Sonic ferozmente. A dor aguda e avassaladora, o trouxeram de volta à realidade – onde o mundo ao redor estava a desmoronando. Ele se viu de volta a Camelot, mas o dano já estava feito.

Ele olhou para a ferida no peito, o sangue se espalhando rapidamente. Ele não deveria ter ido ali 'sozinho'.

Logo ele estava sendo carregado. Ouvindo aquela voz, porém com um tom mais ardente do que a usual frieza que ele estava acostumado.

“Shadow...”


Uma semana inteira se passou. Ele acordou somente no sexto dia. Sonic suspirava, resignado.

Sir Gawain cuidou da sua escolta no início do dia. Mesmo ele estando temeroso sobre como agir perto do rei, Sonic relaxou perante seu comportamento hesitante - ‘você é um pequeno espinho cheio de ansiedade, como Knucklehead.’ Sonic brincou e riu, por mais que Gawain tenha respondido a isso com raiva.

“Você está bem?”

“Melhorando.”

“Aquelas ilusões devem ter ferrado com seu espírito de luta”

“… não” Sonic coçou a bochecha. “Eu tô bem, prometo.”

“Como eu odeio mentiras” Gawain se ergueu do seu assento em um pulo. “O que aconteceu lá? O que você viu?”

O rei ficou mudo, sem saber como encara-lo - ele mesmo não sabia o que tinha acontecido - nunca ele tinha fraquejado, não até ser imprudente de novo e desafiar a si mesmo.

“Lancelot é muito preocupado com você.” Ele se surpreendeu por Gawain ter iniciado aquele tópico. “Todos os seus servos, na verdade, como deveria ser. Mas como me disseste quando nos conhecemos: o propósito de ser um cavaleiro não significa somente servir ao rei.”

”Gawain…”

”E sim, cumprir com as outras devidas obrigações. Quando ele voltar esperarei pela chance de relembrar isso a Lancelot.” Gawain socou a parede atrás dele, o punho cerrado em impaciência.

Sonic agradeceu por isso. Era a própria maneira dele de confortá-lo - de dar a certeza que o ouriço azul precisava em meio a névoa de dor e fadiga. Knuckles bateria os punhos um no outro e prometeria uma luta de rivalidade.

“Antes de cavaleiro, antes de servo leal, você é um aliado importante - meu companheiro, Sir Gawain.” Sonic proferiu, sabendo que Gawain reagiria tímido e irritadiço com a palavra ‘amigo’. E mesmo assim as bochechas de Gawain foram pintadas de um rosa fraco. “Então obrigado pelas palavras.”

“Hunf.” Ele cruzou os braços, teimoso, fingindo estar concentrado nas espadas gêmeas - Galatine.

Sonic passou a se cuidar melhor com o tempo passando. Foi bom, ele conversou com Caliburn, desculpou-se com todos pela preocupação e o trabalho que deu. Sonic recebeu sorrisos calorosos e algumas advertências em troca. Nisso, o sol se pôs. E a noite veio.

O quarto permaneceu iluminado apenas pela luz suave de várias velas acesas. Cortinas de seda bordadas balançavam lentamente com a brisa que entrava pela janela aberta, revelando a noite escura e fria lá fora. Sonic permanecia inerte, deitado naquela cama majestosa, recebendo o tratamento adequado de acordo com o estado atual dele. Infelizmente, desta vez ele não teve como fugir de todo aquele luxo, trocar as almofadas fofinhas por um belo tronco de àrvore, tudo pela recuperação dele – envolto em lençóis aconchegantes e um enorme curativo branco cobrindo a ferida no peito e um maior no braço.

Alguém bateu à porta e Sonic murmurou 'entre' suavemente. “Vossa Majestade.” Blaz— Sir Percival se curvou à frente dele. Ela estava sem o elmo, deixando à mostra o rosto familiar a Sonic.

“Hey” Ele saudou com um aceno. “Não precisa ser tão formal, Bla-... Digo... você pode me chamar de Sonic.”

“Mas...”

“Estamos só nós dois aqui, Perci. O que pode dar errado?”

Ela pareceu surpresa pelo novo apelido, mas comprimiu os lábios, indecisa.

“Isso é uma ordem?”

Sonic quase revirou os olhos. “Se você me tratar com menos formalidade, então sim, é uma ordem”

“Oh. Entendido.”

“Não quero ser chato nem nada, mas o que te traz aqui?” perto da lareira presente no enorme quarto, Sonic avistou um banco de madeira e uma 'almofada real' no assento parecendo confortável o suficiente. Ele indicou-o com a cabeça na direção de Percival. “Sinta-se em casa, antes de responder.”

“Meu lorde–”

“Por favor, se vai tomar conta de mim, então deixa eu te dar menos trabalho de ficar parada fora do quarto, igual uma estátua na porta o tempo todo.”

Ela fez o que foi dito, parecendo desponfortável, até que ela tornou a falar. “De forma alguma. Me honra e me alegra tomar conta da guarda do rei por mais essa noite, e é o meu dever.”

“Vocês se preocupam demais, caras. Eu não quero dar trabalho pra mais ninguém ”

“De forma alguma, é um dever muito gratificante - ainda poder guardar pelo nosso rei. Sir Lancelot é quem faz isso pessoalmente, porém...”

“Ele ainda não voltou.” Sonic sussurrou, encarando as mãos calejadas da espada.

“... Isso.”

“...”

“...”

Sir Percival não era muito de conversa. É seguro dizer que nem Lancelot era fácil. Ou pior que Shadow, que mais parecia uma pedra às vezes. Mas, pouco a pouco, Sonic se alegrava de ouvir a voz dela. E para sorte dele ou não, ela provou estar bem disposta a falar mais do que o normal por aquela noite.

“Mas ele vai voltar, meu rei. Tenha certeza disso.

As palavras reconfortantes de Percival alcançaram Sonic. Por pelo menos aquela noite, ele usaria o tempo restante para refletir antes de tentar descansar.

‘Ele vai voltar por você.’

Ele vai?

Uma última reverência, Sir Percival se retirou. E ele ficou sozinho debaixo da luz da lua cheia.

Ele gostava de relembrar de quando chegou naquele mundo. As coisas foram difíceis, mas após a vitória do Rei Sonic, os tempos de comemoração chegaram graças as notícias do sucesso dele se espalhando por aquelas terras, as pessoas em todos os lugares começaram a celebrar a libertação do falso rei tirânico que desestruturou e enganou o povo. Posteriormente, as festividades se estenderam para homenagear aqueles que haviam conquistado essa vitória, e assim, os quatro, Sonic, Lancelot, Percival e o próprio Gawain, se viram imersos em um ciclo aparentemente interminável de festivais comemorativos e bailes reais, onde quer que passassem de volta ao serem conduzidos.

Longe de ser um fardo, essa atenção contínua era bem-vinda - Sonic amava atenção, contanto que não fosse venerado como um deus - e cada um dos aliados reagia de uma forma diferente.

A imagem de Lancelot passeou pela mente do ouriço. Recentemente tanto Caliburn quanto Lance o davam bronca pelas escapadas pra fora do castelo e por Sonic se livrar das vestes reais e da coroa em meio a elas.

Se Caliburn percebesse que Sonic dormia na sala do trono a espada o faria se acordar e Sonic reviraria os olhos. Se estivesse prestes a pular a janela do próprio quarto, Lance estaria lá para puxa-lo de volta pelo ombro e repreendê-lo pela imprudência - com sorte era possível convencer o cavaleiro se juntar a ele já que Lancelot se ofereceria para fazer sua escolta devido Sonic se mostrar teimoso - embora não fosse uma boa ideia provocar a paciência do ouriço negro.


[…]

Sonic começou a despertar. Olhos verdes agora carregavam a névoa do sono e da confusão. Ele se esforçou para se sentar, mas uma força invisível o manteve deitado.

"Lance...?"