As ruas de Londres não eram mais um encanto pra mim, não quando passo por elas todos os dias, não quando tenho tempo para perambular por elas todos os dias. Eu não devia ter esse tempo todo, devia implorar por ele, devi estar treinando e caçando demônios e não contemplando cada pedra nas paredes de Londres.

— Vou levar esse, obrigada. – digo a vendedora da minha loja preferida de sapatos.

Meu pai é uma pessoa vaidosa e acho que puxei isso dele, dizem que é a única coisa que puxei do sangue dos Lovelace, a vaidade, todo o resto puxei de minha mãe “Moun Die” diziam “Igualzinha a mãe” completavam todos que me viam pela primeira vez, mas ninguém me fala sobre ela, quem é ela, o que fazia. Todos são proibidos de falar, inclusive meu pai. Ao que parece minha mãe era membro do Circulo, um grupo rebelde de caçadores de sombras que a pouco mais de uma década e meia atrás causou uma guerra entre caçadores de sombras. Meu pai apoiou a Clave uma vez que minha mãe havia morrido durante meu nascimento e o único motivo dele integrar o Circulo era ela.

Isso é só o que foi permitido a ele me contar, não que ele quisesse falar-me mais, na verdade acho que ele gosta do fato de guardar o segredos de minha mãe para si, não me acha digna de tê-los, uma vez que me culpa por sua morte.

Mesmo sendo uma pura caçadora de sombras não me é permitido lutar, foram raras as ocasiões que me deixaram sair, a ultima vez foi a dois meses atrás e eu só fui porque a maioria dos caçadores de Londres estavam em uma reunião em Idris, o pais dos caçadores de sombras. Para me manter ocupada meu pai me colocou em uma escola mundana no ano passado. Não deu certo. De cara arrumei inimigos, brigas, perguntas e com minha doença piorando a cada dia mais, tive que deixar a escola. Sempre fui encrenqueira, dizem que é do sangue, da parte de minha mãe misteriosa. Com isso voltei a ter aulas com os tutores do instituto. Meu Latim já era perfeito, assim como Frances, Mandarim e Espanhol, agora estava aperfeiçoando somente o Português. Eu conhecia tudo da parte técnica de ser um caçador de sombras e sabia lutar, mas meu treinamento físico fazia todo sozinha, porque como já disse, ele me mantém afastada do físico.

Em alguns meses eu faria dezoito anos e teria que fazer uma escolha. Eu já havia decidido recusar, mas não disse a ninguém.

Não demoro muito para chegar ao instituto e sou barrada na porta.

— Senhorita, você está atrasada.

— Para que Mary? – perguntei a única mundana que era permitida no instituto.

— Tome, pegue – ela disse me entregando uma bolsa.

— Para que isso?

— Você vai viajar, seu pai a espera, você tem dois minutos para ir até o jardim, deixamos um bilhete antes de vocês acordar – ela suspira – seu pai está um pouco irritado, então melhor não falar muito com ele por hoa.

— Não vi bilhete algum.

Ela me puxou dando a volta no instituto até o jardim onde meu pai pegou minha mãe e pulou no portal comigo sem falar sequer uma palavra.

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Cai no outro lado com um baque e um chiado de dor.

— Ai! – reclamei.

— Por onde esteve Valentina? – meu pai pergunta bravo.

— Estava fazendo compras como faço todo sábado. – disse com a mesma irritação que ele demonstrava em sua voz.

Ele ainda segurando meu pulso foi em direção aos caçadores que estavam ali para nos receber. Me senti levemente tonta e tive que me apoiar em meu pai que me segurou pelo ombro.

— Onde ficaremos?

— Na casa dos Penhallown. Eles tem muito espaço lá e quartos sobrando, os Lightwood também ficaram lá.

— Eles já chegaram?

— Não, chegam em uma semana. – ele então me encarou – O que há com ela?

— Esteve o dia na rua, deve está um pouco fraca, só precisa repousar. – meu pai fala com uma sobrancelha erguida como se o mandasse lembrar que não pode falar da minha “doença”.

Seguimos para a casa em que ficaremos e meu pai praticamente me arrasta. Ele tem uma mochila em suas costas e eu uma pequena bolsa que não deve ter mais que duas peças de roupa.

— Por que saímos com tanta pressa?

— Eramos solicitados aqui, todos caçadores estão vindo para Idris.

— Por que?

— Pare de fazer perguntas Valentina, você tem mais com que se preocupar agora. Porque está tão debilitada?

— Eu...

— Você? – ele insiste parando perto de uma ponte.

— Tenho treinado um pouquinho a noite... – falo incerta.

— Voc...? – Ele revira os olhos – De que adianta treinar se não pode lutar, eu lhe dou tudo, tudo para que não se coloque em risco e você simplesmente desperdiça isso, treinando sozinha, escondida.

— Não estava exatamente escondida, só que vocês estavam dormindo. E Também não estava sozinha, não sempre, de mês em mês me encontro com uma amiga.

— Maldita seja Tessa Gray, sabia que ela não estava simplesmente te fazendo companhia nas compras.

— Como sabe?

— Ela pediu minha permissão para lhe acompanhar em seus passeios as vezes, e eu dei, não imaginei que ela a treinaria, logo ela que passou por algo parecido.

— Como assim ? – eu o corto.

— Não é nada, vamos devemos continuar. – ele fala sério e sei que deu o assunto por encerrado.

Caminhamos mais um pouco e logo chegamos a casa. Um garoto de cabelos negros nos atende, meu pai nos apresenta e pergunta se há mais alguém em casa.

— Não, no momento somente eu.

— Droga, tenho uma reunião agora e Minha filha não pode ir, mas ela não pode ficar sozinha, Aline demorará?

— Posso cuidar dela até que você volte... mas o que ela tem?

— Está um pouco debilitada, precisa somente de repouso e que alguém fique por perto, se puder observar ela por umas horas, só para caso ela desmaie.

— Ela faz isso com frequência?

— Não tanto, mas se acontecer deve me chamar.

— Tudo bem... não se preocupe. – diz ele cortes.

— Sabem que estou aqui e escuto tudo, parem de falar de mim assim.

— Perdão senhorita Lovelace.

E assim que meu pai me solta tenho que lutar para não cair e finjo ao máximo estar melhor. Ele olha para mim e vai para a porta, o garoto está apoiado na mureta do corredor de um lado e em um fraquejo eu recaio sobre o muro me apoiando com as mãos e por um momento encosto no garoto de cabelos preto que prometeu cuidar de mim. Sua mão é fria como a minha ele me encara por um segundo com um sorriso novo e olhos curiosos e então se volta para meu pai com a expressão formal de antes. Rum, franceses. Penso comigo mesma. E então meu pai se vai.

— Então... – o garoto começa mas sinto um gosto acido em minha boca e começa a tossir me reclinando sobre a mureta.