— O que está acontecendo? – ele pergunta repousando a mão em minha costas.

— O banheiro? Onde fica? – digo tentando me afastar dele e acabo tossindo mais, mas consigo me levantar.

— O que você tem? Porque tosse sangue?

Em resposta continuo tossindo. Me apoio com as costas encostadas na parede e ele para a minha frente.

— Porque você é doente?

Eu o encaro por uns segundos sem conseguir focar na imagem dele e então desmaio.

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POV. Sebastian Verlac

— Por que você é doente? – pergunto a garota.

Ela responde caindo desmaiada em meus braços. Pego-a no colo e levo-a ao meu quarto. Ainda desmaiada deixo em minha cama e pego minha estela e começo a queimar uma iratze em seu peito, sobre o coração. Ela remexe e eu a seguro prevendo que acordara com a queimação.

Ela geme e abre os olhos tentando me afastar e eu tento acalma-la.

— Ei, não, me deixe terminar a iratze.

Ela para e assim que termino ela fala.

— Ai, doeu.

— Era só uma iratze.

— Não uso muitas runas, deve ter percebido.

— Sim, você não tem runas nos braços além da visão e do poder do anjo. Por quê?

— Não luto muito então não as utilizo muito.

— Por causa da sua condição? – pergunto e ela faz uma careta. – O que foi?

— Odeio quando as pessoas falam como se eu fosse uma moribunda no leito de morte, frágil demais para ser útil.

— Desculpa. – falo meio que sem resposta.

— Pode me fazer um favor e pegar minha bolsa na sala? Preciso tirar essa roupa ensanguentada.

Assinto e saio.

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— Sebastian – digo lembrando o nome do garoto de repente – Você pode me ajudar – peço envergonha, sentindo minhas bochechas arderem.

— A trocar de roupa? – ele pergunta com a sobrancelha erguida.

— Não consigo fazer sozinha, se levar cairei de tontura.

— Tudo bem então.

Ele constrangedoramente me ajuda a tirar o vestido azul celeste que estou vestindo e então visto a camisola dourada que provavelmente Mary mandou para mim, sabendo que é minha preferida. Deito novamente e estou extremamente cansada.

— Talvez você devesse dormir... – ele me fala. – Mas antes me diga...

— Eu não sei, não adianta perguntar, ninguém nunca me contou a verdade completa do porque sou doente, sei partes e a clave me proibiu de contar a qualquer um.

— Eu só ia perguntar seu primeiro nome senhorita Lovelace, mas já que tocou no assunto eu lhe pergunto – ele faz uma pausa – Você faz cegamente o que a Clave manda?

Penso por um minuto, nunca faço o que a clave manda, sou rebelde, impulsiva, um perigo para os caçadores e se não fosse o sangue em mim eles teriam me apagado para viver como uma mundana a anos.

— Valentina, esse é meu nome. Valentina Lovelace.

— Bonito nome. – ele responde – e quanto a minha outra pergunta? – insiste.

— Pergunte a eles o que acham de mim e saberá a respostas.

— Não sou dos que mantém mais contato com a clave, porque não me conta sua história?

— Eles me odeiam e mal podem esperar para me ver morta, sei que tem alguma coisa haver com quem era minha mãe, eu só tenho uma coisa dela, um colar com uma foto de quando era jovem.

— E o que aconteceu com ela?

— Morreu.

— E seu pai?

— O que tem ele? você o conheceu...

— Você não é muito próxima dele, não é mesmo? Mesmo sem mãe você não é apegada a seu pai.

— Meu pai me culpa pela morte dela, morreu durante meu nascimento.

— Sinto muito. – ele diz sem pesar verdadeiro.

Tiro o colar e mostro a ele.

— Uso o colar desde que posso me lembrar – digo abrindo – Ela parecia ter uns cinco anos nessa foto.

— Essa é sua mãe?

— Sim, porquê?

— Acho que você deve dormir... – diz ele se afastando de mim. – você deve descansar. – e assim sai do quarto.

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Acordei e o quarto estava escuro. A única luz ali vinha da janela, refletindo a luz de bruxa da rua, era uma noite sombria e sem lua. Fiquei deitada por alguns minutos até que emfim juntei forças e me levantei, procurei pelo quarto inteiro por minha estela e não encontrei, eu ainda me sentia fraca. Ouvi um ruído na porta e logo ela se abriu.

— Quem está ai? – perguntei ríspida.

— Sou eu, Sebastian...

— Ouvi barulhos no quarto, vim ver se estava tudo bem.

— Estou bem. – respondi mais grossa do que queria.

— Hey, calminha ai. Só queria saber se você estava bem... É que seu pai falou que provavelmente não acordaria hoje e eu estava no corredor e ouvi barulhos aqui.

— Desculpa... eu estava procurando minha estela, você não a viu?

— Não, mas aqui, pegue a minha. – ele diz e prontamente me entrega a sua estela. – ou quer que eu desenhe alguma runa?

— Não eu desenho... – digo pegando e me virando de costas para ele e começo a desenhar uma runa parecida com a de reposição sanguínea.

— Que runa é essa?

— É uma runa de reposição sanguínea usada em novos shadowhunters, tipo aqueles mundanos que se casam com um caçador de sombras e vira caçador... Eles recebem essa runa para fortalecer o sangue do anjo em especifico. Isso permite que recebam melhor as demais runas, caso contrario, runas mais complexas podem mata-los se o sangue do anjo não estiver forte suficiente no caçador.

— É mesmo? Nunca pesquisei sobre isso...

— Foi a única maneira aceitável que a clave achou para me “curar”. Pelo menos, como uma cura temporária.

— Mas porque você tem que fortalecer especificamente o sangue do anjo? – ele pressiona.

— Onde estão todos? – devolvo a pergunta.

— Dormindo.

— E porque você não está?

— Tenho dificuldade para dormir a noite. – ele diz calmamente.

— Eu também...

— Então.. vai responder?

— Porque uma runa normal fortaleceria todo o meu sangue e isso não adiantaria nada. Para que eu fique estável um dos lados do meu sangue tem que estar mais forte que o outro.

— Como assim um dos lados?

— Eu to com fome? Será que posso pegar algo pra comer? – digo desviando.

— Ah, acho que sim, vamos para a cozinha.

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Acho que Sebastian percebeu que aquelas perguntas não podiam ser respondidas e mudou o assunto, passou a me perguntar sobre mim e meu pai e sobre como é Londres e o que faço por lá. Ficou pasmo com o fato de em toda minha vida eu ter lutado somente quatro batalhas, mas me parabenizou pelo numero de demônios mortos em cada uma delas. Conversamos sobre nossos estudos e nossa ele fala umas três línguas a mais que eu. E também falamos sobre cavalos. Eu os amava e Sebastian disse que assim que amanhecesse poderíamos cavalgar.

— Bom, se vamos mesmo cavalgar, acho que devemos dormir.

— Concordo – disse ele. – Eu te acompanho até meu quarto. – olho estranha para ele e ele ri. – Você está no meu quarto e a levei até ele quando desmaiou e somente agora saiu, mas não se preocupe, continue lá eu só vou pegar uma roupa para dormir e você pode continuar ali.

— Posso trocar... – eu começo mas ele me corta.

— Não, aquela é a única cama boa de quartos de hospedes, as outras são extremamente duras. Os Penhallows só são ricos porque são pão duro, todos eles. – ele sussurra para mim e ambos rimos.

No quarto eu me aconchego a cama enquanto ele pega roupas em uma gaveta.

— Ah, vou tomar banho aqui, o outro quarto também não tem um banheiro próprio.

— Porque esse quarto é tão melhor?

— Parece que é para quando as amigas de Aline veem, Aline não gosta delas em seu quarto então fazem suas festas aqui.

— Nossa que egoísta.

— Você não faz ideia do quão desagradável minha prima pode ser.

E assim ele entra no banheiro.

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Acordo e já é manhã, estou sozinha no quarto mas logo alguém bate a porta.

— Sim?

— Valentina, você vira para o café da manhã? Seria educado conhecer nossos anfitriões.

— Sim pai, desço em cinco minutos.

Ele não responde e sai, no andar abaixo consigo ouvir múrmuros e resquícios de conversas. Na escrivaninha junto com a estela de Sebastian há um bilhete.

“Você dormiu enquanto eu estava no banho, caso acorde no meio da noite, boa noite, volte a dormir tem que estar disposta para cavalgar amanhã. Caso acorde só pela manhã, bom dia, nos vemos no café e não coma o bolo que laranja, é horrível. Aline quem o faz noite sim noite não.”

Rio histericamente na ultima parte e então corro para me vestir. Coloco minha única calça, uma preta elástica de academia, e uma blusa vermelha vinho e botinhas rasteiras marrom escuro. Pego o casaco sobretudo e a estela de Sebastian e desço as escada.

— Filha, - meu pai me recebe com uma mão nas minhas costas e me puxa para a sala de jantar onde estão uma garota e uma mulher - Diana e Aline está é minha filha Valentina Lovelace. Filha... – ele deixa no ar para que eu continue. Meu pai sempre foi puxa saco da clave.

— É um prazer conhecer vocês duas e obrigado por nos hospedarem, foi muita gentileza da sua parte abrir sua casa para nós.

— Não tivemos opção – reponde Aline que ganha um olhar de censura da mãe.

— Não ligue para minha filha, vocês são bem vindos aqui, temos muito espaço. – ela então juntas as mãos e fala – Bom não poderei acompanhar vocês no café da manhã e receio arrastar seu pai comigo, temos assuntos a resolver.

— Sra. Penhallow, Valentina e eu estávamos pensando em cavalgar nesta manhã, poderíamos pegar dois cavalos? – Sebastian pede entrando na sala e então fala – Perdão, bom dia a todos.

— Claro Sebastian, não precisa pedir isso, mas – ela se vira para meu pai e para mim – Juliano, você tem alguma objeção?

— Não, não há objeções, vão tranquilos, será bom para Valentina um pouco de ar puro, mas não se afastem, ela ainda não está totalmente recuperada. – ele fala como se eu não estivesse ali então eles vão embora.

Olho para Sebastian e ele me indica a mesa. Eu largo o casaco nas costas da cadeira e pego a estela dele.

— Sua estela, obrigada...

— Achou a sua? – ele pergunta enquanto ambos seguramos.

— Não, na verdade, não.

— Então fique com ela, eu tenho uma reserva.

— Ah, obrigada.

Quando olho em volta guardando a estela no casaco, capto o olhar de Aline em cima de mim, mas ela desvia os olhos e não parece estar interessada em falar, comemos em silencio.

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— Pronta para ir? – Sebastian desafiou.

— Sim vamos...- disse montada em meu cavalo negro idêntico a égua negra dele.