– Está nervosa? – Disse Miley enquanto dirigia.

– O que acha? Estou a caminho do médico para saber os resultados dos meus exames e se...

– Não, não diga isso, você verá, vai estar tudo bem. – Sorriu. Percebi que foi forçado, ela não estava tão confiante, assim como eu, os sinais estavam claros, a falta de ar, cansaço, tosse, perda de apetite... Talvez eu estivesse mesmo com insuficiência cardíaca.

[...]

– Bom dia Tracy. – Disse Ross, um senhor de 55 anos, bastante simpático, médico com o qual eu fiz os exames a algumas semanas atrás.

– Bom dia Ross. – Sorri lhe fraco. – Então, vamos logo com isso. - Me sentei na cadeira coberta de couro preto, Miley fez o mesmo, já conhecia aquele consultório muito bem, as cores brancas um dia com certeza me cegariam.

– Então doutor, quais são os resultados? – Disse Miley, estava nítido o nervosismo na sua voz, ela segurou minha mão enquanto nós duas aguardávamos a resposta.

– Bom – Tirou os óculos – Sinto muito em lhe dizer isso Tracy, mas está confirmado, realmente está com insuficiência cardíaca ICC.
Pude sentir a mão de Miley apertando a minha com muita força, mas não senti nenhuma dor, afinal como podia? Acabará de receber uma notícia terrível, porém esperada.

– Bom, até que teve sorte Tracy.

– Sorte? Como assim? Ter insuficiência cardíaca congestiva agora é sorte?

– Perto da ICA ou aguda como preferir, eu diria que sim, é sorte, a ICC é muito mais próspera ao tratamento, muito menos fatal que a aguda, acredite em mim, você fez os exames cedo, e forte do jeito que é, com certeza estará bem daqui a algum tempo!

– Algum tempo, quanto?

– Bom, isso dependerá de como evoluir durante o tratamento. Te peço que não faça muitos esforços e nem passe por muitos estresses, isso é o pior. E terá que mudar sua alimentação.

[...]

Depois de um tempo ouvindo todas as informações do Ross, eu e Miley nos encontrávamos no estacionamento do hospital, dentro do carro, estávamos em silêncio, encarando o nada, pensativas e aquilo me incomodava.

– Por favor, não vamos ficar assim daqui pra frente, ouviu o médico, irei acompanhar o tratamento, ficará tudo bem. – Disse a Miley que já estava com os olhos cheios de lágrimas.

– E mesmo que não fosse acompanhar, iria obriga-la e é claro, com certeza ficará tudo bem, terá que ser forte Tracy e por favor não seja teimosa, se precisar de algo fale comigo imediatamente. – Ela disse soltando um sorriso e limpando as lágrimas de seu rosto.

– Pode deixar. – Odiava ter que pedir alguma coisa a outra pessoa, principalmente se fosse algo financeiro e Miley sabia disso e ficou ainda mais ciente depois que ouvimos quanto eu pagaria pelo tratamento e remédios, é isso aí, não eram nada baratos, me ferrei, legal né?

– Obrigada Miley, tchau.

– Tchau e se cuida e ouviu o médico nada de gorduras exageradas, hoje terá que trocar a pizza por uma salada – Rimos.

– É, essa será a pior parte, terei que dizer adeus aos meus bebês.

– Já pedi que parasse de chamar as pizzas de bebês.

– Ok, desculpa. – Ri. – Vou indo nessa, amanhã vou pro show de uma banda chamada Guns... É como é mesmo? Há sim, Guns N’ Roses, uns caras novos aí, é uma banda de Hard Rock, vou fotografar o show deles, preciso de dinheiro, vai ser bom pra me distrair.

– Concordo, ser fotógrafa é legal, já ouvi essa banda, são muito bons e acho que tenho o CD aqui – Vasculhou algumas coisas. – Ah sim, aqui Appetite For Destruction, o primeiro álbum deles. Ouve aí.

– Tá, vou ouvir, tchau. – Sai do carro e entrei no prédio, ok, sem elevador dessa vez, peguei as escadas até o sétimo andar, sempre tive vontade de morar no último andar, pelo fato de ter piscina, mas nessas horas eu agradeço por morar no sétimo andar. Fiquei cinco minutos procurando a chave na minha bolsa, inteligente do jeito que sou, me distraio facilmente com coisas que encontrei ali dentro que pensei que nem tinha mais, isso que dá usar a bolsa só em casos extremos.

Tinha acabado a última música do álbum, era Rocket Queen, tinha uns gemidos no meio da música, torço pra que sejam falsos, mas é engraçado e sim os caras são realmente bons, todo mundo deve ter escutado, mas perdida do jeito que sou, nunca havia ouvido falar neles.

[...]

– Hum, estou ótima! – Estava me olhando no espelho, já iria para o show, preparei as câmeras e peguei meu “passaporte” de entrada pra poder ficar na frente do palco e no palco, para poder fazer ótimas fotos.

– YOU KNOW WHERE THE FUCK YOU AREEE? – Quase deixei a camera cair nessa hora, gritos enfurecidos vinheram da plateia nesse momento, minha vontade era que todo mundo ficasse quieto, estava ficando surda, com certeza, mas hey Tracy, isso é um show.

– YOU’RE IN THE JUNGLE BABY! YOU GONNA DIEEEEEEEEEEEEEEEEEEE – E pronto o “Dieeeeeee” não acabava, ouvi o riff de welcome to the jungle ficar cada vez mais alto, preparei a camêra e esperei as luzes acenderem e comecei a fotografar, o primeiro que vi através da lente foi um cara com o cabelo engraçado, era o guitarrista, estava com um cigarro na boca e parecia meio drogado, normal, fotografei. O próximo que vi foi o baterista, tocava alegremente, com um sorrisão estampado no rosto, fotografei, o próximo foi o baixista, ele era bem alto e bem... Gostoso, fotografei, depois veio o segundo guitarrista, era tímido pelo o que percebi, estava no canto tocando a guitarra na sua, sabe? Como, estou simplesmente fazendo a minha parte, também estava com um cigarro na boca, bem na hora que ia apertar o botão o maldito do vocalista passa correndo em frente, estragando totalmente a foto, tirei a câmera do meu rosto e olhei pra ele com raiva, claro que ele nem notará, parecia um louco, estava com uma calça jeans rasgada, botas e uma camiseta escrita “Shit Happens”, ok com a frase eu concordava. Bati uma foto dele no seu pior momento, para que ele saísse bem feio, mas o maldito ficou lindo na foto, bufei e voltei a tirar a foto do guitarrista.

[...]

O show já havia acabado á 15 minutos, a última música foi Paradise City, bem legal, gostei do show, menos do vocalista, durante Rocket Queen o cara ficou com o olhar pregado em mim, deveria ter atacado a câmera nele nessa hora, juro que vontade não faltou. Estava sentada em um banco que havia no corredor que dava aos camarins, examinando as fotos, ficaram realmente boas, bom saber que ainda levo jeito com isso. Mas as risadas estéricas que vinham do fim do corredor me atrapalharam, a banda estava vindo com algumas mulhe... Desculpe, eu quis dizer vadias, olhei com cara fechada para todos eles e elas quando passaram pela minha frente, reparei que o vocalista não estava lá. Elas olharam com aquelas caras de nojentas que tem e entraram na pequena sala que havia ali.

– Legal, só espero que meus ouvidos não sangrem com os gemidos.

– Não se preocupe, se quiser te tiro daqui. – Olhei pra o lado e levei um susto o vocalista ruivo estava ali, sentando ao meu lado com um sorriso nada inocente.

– Não obrigada, eu sei me retirar daqui sozinha. - E me levantei.

– Eu sou o Axl, Axl Rose e você é? – Disse ele interrompendo a minha passagem e estendendo a mão na esperança de que a apertasse.

– Tracy Harver. – Passei direto por sua mão estendida.

– Fotografa né? Me diz em cada 10 fotos eu fiquei bonito em quantas? 11? – Convencido né?

– Sim, só que ao contrário. – Sorri vitoriosa. – Por que você está me seguindo, tem um monte de vadias ali dentro, aposto que querem ficar com o seu dinhei... Quer dizer, querem ficar com você.

– Você é sempre tão chata assim? – Perguntou parando na minha frente.

– Com pessoas como você... Sempre. – Ok, eu acho que deu pra perceber que não fui com a cara desse ser.

– Pessoas como eu? Por acaso me conhece?

– Não, mas você estragou muitas fotos minhas, que teriam ficado ótimas, por isso não gosto de você. – Sai andando... Voando que não é né Tracy?

– Como eu estraguei elas?

– Ficava correndo de um lado pro outro, o tempo inteiro. – Bufei.

– Ah sim, então eu quero me redimir, vou te levar pra beber algo. – Sorriu, ok, ele tinha um sorriso muito bonito, que droga.

– Se eu for, depois disso, promete que me deixa em paz?

– Não, mas vou tentar.
Ok, pensei, pensei mais um pouco, contei até dez, respirei fundo e respondi.

– Tá, vamos, mas eu juro que vou até a delegacia e te denuncio se continuar atrás de mim. – Ele riu.