Data Terrestre: 25 de Junho.

Alguém com senso de humor diria que Claire estava apenas pagando seus pecados ao se apaixonar por Laura Howlett, claro que essa pessoa estaria comprando seu passe de ida para mundo dos mortos se dissesse isso nesse momento.

Havia tido a péssima ideia de chamar Laura para sua casa para um fim de semana calmo cujo tema seria gastronomia. Uma forma idiota de dizer que elas passariam o domingo cozinhando algo juntas.

É claro que na hora pareceu uma boa ideia, mas depois veio o arrependimento consciente de quem percebe que cometeu o maior erro de todos: esqueceu suas fraquezas. E no caso da loira sua atual fraqueza vinha sendo a forte atração que sentia por Laura e as poucas chances que parecia ter de se aproximar dela nos últimos dias.

Não podia reclamar, parte era sua culpa, mas não andava fácil manter o controle sobre a vontade de agarrar a morena sempre que ela fazia algo fofo. A outra parte da culpa era de Laura mesmo, que às vezes parecia querer avançar para mais perto e depois recuava dolorosamente ao começo de tudo.

Suspirou cansada daquela sensação de impotência, o que chamou a atenção da outra garota.

—Tudo bem?

Claire olhou para Laura que havia terminado de picar todos os legumes que havia pedido.

—Ah, sim, só pensando. –Olhou a morena que de modo distraído cortava as frutas que estavam separadas. –Você é boa nisso.

Laura deixou uma risada escapar.

—Vindo de você isso realmente deve ser um elogio e tanto. –Claire pareceu confusa. –Você desossou dois frangos em menos de oito minutos.

—Hum. Eu não marco o tempo, mas cozinhar é um dos meus passatempos e faço isso bastante com meu pai.

A morena notou o brilho encantado nos olhos da outra garota.

—Você adora o seu pai, não é mesmo?

—Meus pais são meus heróis em todos os sentidos, por isso sempre que eles saem eu digo que eles estão indo salvar alguém. –Uma risada um pouco mais triste do que Laura escapou de Claire. –Só queria que o mundo não precisasse ser salvo com tanta frequência.

Laura engoliu em seco contendo a vontade que tinha de beijar Claire, algo que ela mesma ainda não conseguia processar, mas pelo menos não andava surtando como nos primeiros dias. A morena pegou as duas últimas frutas para descascar e picar, enquanto a loira mexia em três panelas ao mesmo tempo e verificava o forno.

—Acho que não tem muito que mesmo eles possam fazer sobre isso, nossos pais sempre parecem muito mais ocupados do que gostaríamos, mas acho que eles pensam igual. –A morena não sabia se dizer aquilo ajudaria. –Se bem que eu não posso falar muita coisa uma vez que passei quase dez anos indo no Instituto só pra fazer exames.

—É, eu sei.

Laura olhou surpresa para Claire que havia ido até a geladeira pegar uma garrafa de vinho.

—Qual parte?

—As duas.

—E você pode usar ou tomar vinho?

—Posso. –Claire notou a sobrancelha arqueada de Laura. –Meu organismo é imune ao álcool e acho que a todos os tipos de drogas, mas eu ainda posso apreciar o sabor. –A loira olhou ao redor. –Acho que vou arrumar tudo para comermos no balcão mesmo, tudo bem?

—Por mim está ótimo.

Laura tentou não se importar com os detalhes, até por que aquele encontro era ao mesmo tempo parecido e diferente do primeiro, mas não mudava o fato de que Claire parecia dar tanto espaço para que ela fugisse se quisesse que aquilo se tornava irritante às vezes.

A morena sabia que se a mais nova não fizesse isso nunca aceitaria alguma aproximação, mas aquele espaço era sufocante quando Laura não sabia o que fazer e como agir.

—Cuidado!

O grito de Claire fez Laura notar que a faca havia escapado da sua mão tarde demais para evitar o corte no seu braço.

—Droga.

E antes que a morena pudesse pegar algo, um pano úmido foi enrolado no seu braço e ela encarou a garota loira um pouco mais surpresa do que deveria.

—Eu sei que em cinco minutos o corte vai estar fechado, mas fique com isso ai. –Claire colocou a faca suja de sangue na pia e pegou uma limpa. –Eu termino.

Laura ficou em silencio vendo Claire terminar tudo que faltava, a salada e colocar os legumes par cozinhar, cada um do jeito certo, para em seguida tirar as carnes do forno com uma velocidade e habilidade incomuns mesmo para um profissional.

—Você realmente gosta de cozinhar e não é apenas como passatempo.

A loira olhou para ela curiosa.

—Ajuda a me acalmar e manter o foco em algo agradável.

—Você tem outros passatempos?

—Cantar, tocar e desenhar, além de treinar técnicas de combate corpo a corpo.

—Achei que você dançava também. –O comentário divertido de Laura fez Claire rir.

—Não, dançar é coisa da Christine, eu só sei imitar os passos dela, mas não tenho talento para isso.

—Então você não dança.

—Muito pouco, muito mais por que a Chris insistiu em me dar aulas básicas do que por habilidade.

—Encontrei pelo menos uma coisa então que eu sei fazer e você não.

—Você dança?

Por um momento Laura se arrependeu de dizer aquilo.

—Nada no nível da Christine, mas sei.

—Legal. Então vamos em uma boate no próximo fim de semana.

—Como?

—Ah, é mesmo, semana que vem eu não vou poder. Então vamos deixar pro aniversário da Chris, ela adora sair pra dançar.

—Você está falando sério sobre sair para dançar, não é? –Laura retirou o pano do braço já curado e se aproximou de Claire apoiando o corpo no balcão da pia.

—Estou.

—E o que você tem que fazer semana que vem?

—Uma missão pro Fury e a Hill.

—E por que não tenho te visto durante a semana? Antes você parecia que estava morando no Instituto.

—Você não tem me visto por que a Emma não quer me sobrecarregar já que estou escalada todos os dias na Shield esse mês. Normalmente durante as férias eu sou instrutora de lutas na Shield, pego os alunos da Romanoff e faço eles verem que ainda estão longe de serem bons de verdade.

—Bons de verdade? –Laura seguiu para o balcão levando as saladas enquanto Claire levava as carnes.

—Eles acham que por que terminaram o circuito básico dela já são muito bons e ninguém pode derrota-los, então eu passo o resto das férias escolares limpando o chão com o uniforme deles enquanto ainda estão usando.

—Você é cruel. –A morena comentou sentando no assento do balcão.

—Não, Natasha ainda limpa o chão com a minha cara duas vezes por ano, então isso é necessário. –Claire sentou no banco ao lado de Laura.

—Ela consegue te bater?

—Muito mais do que eu gostaria, mas menos do que antigamente.

—Essa é uma coisa que eu gostaria de ver. –Laura notou Claire a encarando. –Falei algo errado?

—Não, é que tem uma coisa que eu preciso mesmo fazer.

A morena ficou preocupara.

—O quê?

Claire se inclinou na direção de Laura e a beijou, a morena sabia que não durou mais do que dez segundos, mas foi o suficiente para seu coração disparar e a voz irritante em sua mente que dizia que ela deveria beijar a loira a chamar de idiota por demorar tanto a ponto de ser beijada.

—Pronto.

Laura engoliu em seco e se voltou para a comida antes de conseguir dizer:

—Você faz isso de propósito.

Claire sorriu, um misto de vitória e cinismo, mas também havia amor estampado em seus olhos.

—Um pouco.

Continua...