Data Terrestre: 09 de Junho.

Laura tinha um grande problema em mãos e nenhuma ideia de como resolver aquilo.

Havia se encontrado com Claire Carter exatamente três vezes na última semana, isso por que estava tentando evitar se encontrar com a garota, e essa não era nem mesmo a pior parte disso.

Não, o pior não eram os elogios sutis e nitidamente intencionais que recebia sobre seu sorriso, suas roupas ou mesmo quando a garota loira lhe dizia, calma e tranquilamente, que estava muito bonita mesmo quando havia acabado de sair de um treino intenso fedendo a suor.

O pior mesmo era que Laura estava gostando dos elogios e que seu coração acelerava sempre que via Claire a ponto de sua respiração ficar irregular com mais facilidade do que queria admitir ou o fato de que suas mãos ficavam tremendo como se estivesse ansiosa sempre que a garota loira se aproximava e ficava a menos de três passos dela, o que parecia acontecer todas as vezes.

E ainda tinha o sorriso, o maldito sorriso cheio de intensões que ela já havia visto Christine lançar a Andrew, que viu Nate dar para Alexis e até mesmo Emma para seus dois amigos-amantes, Hank e Logan.

Sabia o que estava implícito naquele sorriso e isso a perturbava, principalmente por que, mesmo que não fosse dizer em voz alta, aqueles pensamentos vinham surgindo em sua mente com mais e mais frequência desde que conheceu Claire.

Laura se encostou na parede da biblioteca aonde havia se escondido e suspirou cansada de toda a confusão que vinha se formando em sua cabeça.

—Eu nunca gostei de mulheres.

—E eu acho que você não deveria ficar aqui se quer se esconder da Claire. –A voz um tanto cansada do outro lado das prateleiras assustou a morena que correu até a origem da voz e deu de cara com Alexandra Rasputin lendo um livro. –Sério, ela é frequentadora dessa biblioteca em especifico, mas se quer um conselho para o seu problema, você já ter gostado ou não de uma garota não é o problema e sim se você realmente gosta da Claire ou é apenas curiosidade.

Laura ficou encarando a loira russa que não havia desviado o olhar do livro que lia nem ao menos por um segundo.

—E como diabos eu deveria saber a diferença?

—Não sei se o meu conselho sobre esse ponto seria algo que você quer ouvir. –Então Alexis viu que Laura continuava a encarando, a loira suspirou e fechou o livro andando até a morena. –Primeiro, você não se sente da mesma forma comigo ou Tália ou outras garotas em geral, certo? –A morena concordou. –Segundo e mais importante, pra ter certeza você tem que tentar.

—Tentar?

—Sim, dar uma chance para ela e pra você.

Laura pareceu chocada com a ideia e Alexis voltou a sentar onde estava antes para voltar a ler, o que fez a morena decidir sair logo dali.

Só precisava ficar longe de Claire por algum tempo e tinha certeza que aquele estranho fascínio iria passar.

Tinha que passar.

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—Sabe onde sua irmã está?

James encarou Claire sentada no laboratório de informática.

—Te evitando. –A loira suspirou de um modo cansado, o que chamou a atenção de James. –O que houve?

—Entre eu estar gostando da sua irmã, estar sem sexo a dez dias, meus pais em missão a pelo menos quatro meses e meu irmão tendo que ficar com a tia Pepper por que não tenho tempo para muita coisa, nada demais.

—Tudo bem, já entendi. –Ele notou que a amiga parecia concentrada. –O que tá fazendo ai?

—Revisando meus últimos exames e testes.

—Alguma mudança?

Claire sorriu, mas James sabia que era educação.

—Não, ainda sou imortal e não vou ter filhos.

—Claire, eu...

—Ei! Eu tô legal, não é nada que eu já não soubesse, lembra?

Ela voltou a encarar a tela do computador e James entendeu o recado mudo que era para sair e deixa-la sozinha.

Claire fez as informações do computador passarem pelo projetor e começou a revisar as informações dos exames pela terceira vez sem achar nada que indicasse uma mudança no seu status.

Estava parando de envelhecer e teria sorte de chegar aos vinte e um com uma taxa mínima de envelhecimento. Aquilo a incomodava mais do que gostaria de admitir, mas não diria isso para ninguém ou seu pai iria se culpar pela sua situação.

Desligou o projetor e estava a meio caminho de sair da sala quando Laura passou pela porta apressada, fechando a mesma sem olhar se a sala estava ou não ocupada.

Ver a morena ali animou Claire, ela não sabia muito sobre a garota, apenas que era mutante, uma Howlett e que quase não convivia o pessoal do Instituto, pelo menos até recentemente. A loira apenas esperava ter uma abertura para que a morena a deixasse se aproximar um pouco mais.

—Oi Laura.

A garota virou assustada para Claire que sorria, um sorriso que era um misto de desejo e fascínio e que fazia a morena sentir calafrios na espinha. A loira se aproximou de Laura e tirou algumas mechas de cabelo castanho do rosto dela.

—Ah, oi Claire. –Laura deu um passo para o lado tentando se afastar de Claire. –Não sabia que estava usando a sala.

—Tudo bem, já terminei.

A morena reparou que a outra garota parecia estudar cada detalhe do seu rosto com um sorriso que a deixa desconfortável, especialmente por que Laura queria tocar o rosto de Claire tanto quanto a loira parecia querer o mesmo com aquele sorriso.

—Você pode parar com isso?

—Com o que?

—De sorrir para mim desse jeito.

—Desculpe, não consigo evitar. Embora eu não entenda bem por que isso te incomoda.

Laura se sentiu idiota diante daquela frase, afinal Claire não podia saber de algo que nem mesmo ela estava entendo sobre si mesma.

A morena recuou um passo, mas notou que já estava entre a parede e a mesa de computadores, então desviou o olhar para seus pés.

—Eu não sei.

Claire sorriu.

—E eu posso tentar te ajudar a entender isso?

—Acho pouco provável.

A loira se aproximou mais de Laura e apoiou o braço ao lado da cabeça da morena que a encarou tão surpresa quando assustada.

—Me empurre com força se achar que estou sendo idiota.

Laura demorou alguns segundos para entender exatamente do que Claire falava e esse foi o tempo que a loira levou para deslizar os dedos da mão livre pela linha do maxilar da morena até o queixo, erguendo o seu rosto alguns centímetros.

—O que você...?

—Você sabe.

E então os lábios de Claire tocaram os de Laura e a morena teve certeza de que iria morrer de tão rápido que seu coração batia, ela sentiu quando a mão livre da loira mergulhou nos seus cabelos e antes que se desse conta retribuiu o beijo com muito mais intensidade do que esperava ou imaginava possível.

Havia algumas partes do seu cérebro que passavam informações racionais para Laura, mas a maioria era ignorada, exceto aquela que gritava alto que aquele era o melhor beijo que a garota já havia tido.

Quando Claire se afastou, aparentemente mais racional do que gostaria Laura ainda parecia muito confusa.

—O que foi isso?

—Eu te beijei e você retribuiu. Aliás, esse foi um ótimo beijo.

—Eu não entendo. Quero dizer, sim o beijo foi ótimo, mas eu nunca...

—Nunca beijou uma garota? –Laura notou uma pontada de ironia na voz de Claire. –É, eu ouvi falar, mas beijo é beijo, meu primeiro namorado pode te dizer isso.

—Você namora homens?

—E mulheres, mas não é esse o ponto, é?

—Se esse não é o ponto, qual é?

—Eu gosto de você. –Laura pareceu chocada o suficiente com as palavras de Claire, o que permitiu que a loira fizesse a segunda declaração. –E eu gosto de sexo, isso não é segredo, pode perguntar para qualquer um.

Laura empurrou Claire para longe de si e tomou distância.

—Como é?

—Só achei bom deixar isso claro, gosto de você, mas não significa que se você não for se quer me dar uma chance vou ficar aqui parada. Posso fazer meu melhor se você quiser tentar e esperar, mas não sou uma idiota que fica sofrendo por amor não correspondido.

Laura se sentiu estranha, um misto de ofendida e ansiosa.

—Eu não vou transar com você sem saber o que está acontecendo comigo.

—Não espero que faça isso, só estou falando que se quiser tentar fazer isso dar certo é bom estar séria e não de brincadeira.

A morena se sentiu ainda mais frustrada e acabou batendo a mão no projetor que ligou novamente mostrando o último exame marcado de Claire.

—De quem é isso?

—Meu, recebi a duas semanas, mas abri só ontem. Queria esperar meus pais, mas acho que eles não vão voltar tão cedo. –A loira já estava indo desligar o projetor quando Laura segurou sua mão.

—Qual o meu poder?

Claire ficou surpresa com a pergunta.

—Super força? –Laura pareceu irritada e apertou mais o pulso de Claire. –Sério, você não vai conseguir quebrar meu pulso com a sua força, os únicos que conseguem fazer isso são a Alexis e o Nikolai.

—Qual o meu poder?

—Não sei.

—Como não sabe?

—Eu não perguntei e não me interessei por isso, gosto de você, não do seu status mutante ou poderes.

—E não imaginou que eu tenho os poderes do meu pai e irmão?

—Christine não tem os poderes da mãe e irmãs, então não sigo essa cadeia de pensamentos. Mas admito que nos últimos dias isso chegou a me ocorrer, embora ainda esteja apostando na super força.

Laura soltou o pulso de Claire e levantou a mão expondo as duas laminas metálicas em seu punho.

—Isso é... –A morena assentiu. –Quando? Ou melhor, quem?

—Eu não lembro.

Claire respirou fundo e segurou as mãos de Laura sem se importar se as laminas expostas poderiam acabar cortando sua pele.

—James me disse que você quer ir embora do país. –A morena ficou surpresa em saber que o irmão havia contado aquilo para a loira. –Se estou te incomodando tanto assim, pode falar e eu me afasto, é sério. Só não vá embora sem falar com ninguém, seus irmãos vão ficar preocupados.

Laura tentou articular a resposta pelo menos três vezes e uma delas era para pedir que Claire se afastasse, mas não pareceu certo e por isso ela desistiu.

—Eu só não sei o que está acontecendo, o que estou sentindo é tão estranho e novo.

Claire sorriu para Laura e a garota ficou surpresa com a expressão gentil e amorosa nos olhos da mais nova.

—Posso te levar a um lugar amanhã?

—Como?

—Entenda como um encontro.

—Um encontro?

—Nada muito fora de um passeio legal, nada de museus ou parques de diversão. Apenas nós duas e duas motos.

—Posso aceitar isso.

Claire se inclinou na direção de Laura e a beijou novamente, dessa vez rápida e delicadamente. Quando se afastaram a morena parecia um pouco confusa.

—Por que fez isso?

A loira sorriu.

—Por que senti vontade e você não me empurrou.

E Laura teve certeza que se realmente estivesse gostando de Claire tanto quanto temia aquela não seria a última vez que ouviria aquelas palavras.

Continua...