Data Terrestre: 10 de Junho.

Era cedo o suficiente para o sol não ter nascido completamente quando Laura e Claire partiram do Instituto, cada uma em sua moto.

Elas fizeram o percurso com um aparelho de comunicação no ouvido, mas falaram apenas coisas triviais sobre o percurso, especialmente por que a loira se recusava a dizer para onde estavam indo. Ainda que Laura pudesse reconhecer a direção para o norte do estado de Nova York conforme elas entravam em estradas cada vez mais cercadas de floresta e com uma quantidade ainda menor de casas aquilo a incomodava um pouco.

Seria mentira dizer que não tinha medo de Claire ou que não perguntou sobre ela para o irmão, Christine, Alexis e até mesmo Nate. Todos disseram que a garota era uma ótima pessoa e que tinha um código muito rígido sobre muitas coisas, além de ser mais leal que um cachorro (Laura se perguntou se alguém deveria comparar um amigo a um cachorro, mas decidiu ignorar aquilo). O que a preocupava era a pergunta que fez em seguida, sobre a afirmação de Claire que ela gostar de sexo e foi quando a reação de todos converteu para o mesmo ponto, uma cara de pena na sua direção e um aviso de “fique atenta quando estiverem a sós”.

Continuaram o cominho por uma estrada mais fechada até saírem por um desvio de terra que se dividia em dois, elas tomaram o caminho da esquerda e depois passaram por um portão de madeira aberto a direita chegando até um chalé relativamente grande.

Laura podia sentir o frio que indicava um lago ou rio nas proximidades quando Claire indicou o espaço para deixarem as motos, um barracão ao lado da casa. Elas estacionaram as motos e desceram com as mochilas indo na direção do chalé.

—Tem certeza que o dono não vai achar ruim de estarmos na propriedade dele? –A morena realmente não queria um problema maior que o necessário.

—Não, a dona está aqui para cuidar disso. –Laura encarou Claire na dúvida e a loira riu. –O terreno e a casa foram presentes do tio Tony no meu batizado, mesmo meu pai achando um exagero e eu alugando o lugar na maior parte do ano.

A morena olhava para a outra assustada.

—Espera! Esse lugar é seu?

—Hum? É, na verdade dei sorte que ninguém alugou o espaço até o próximo fim de semana.

—Por que Tony Stark te deu isso? É insano dar um lugar como esse a uma criança.

—Ah, parece que foi uma disputa entre ele e a Emma sobre quem dava o melhor presente.

—Melhor presente?

—É. Ele comprou isso e uma casa nos arredores de Nova York, longe da agitação, já a tia Emma comprou três apartamentos em três prédios diferentes em três estados diferentes e colocou no meu nome para alugar. Eles chamam de plano de sobrevivência e eu de loucuras de gente doida.

—Eles te dão uma mesada igual à que eu recebo da Emma pelo Instituto?

—Ah, sim, mas quase nunca uso aquilo, é muito dinheiro na verdade. –Claire abriu a porta e elas entraram no grande espaço aberto do térreo. –Fique à vontade, eu vou conferir o que tem na dispensa.

Laura deixou sua mochila na poltrona da sala andou até o outro lado do cômodo, notou a porta que levava a outro cômodo que julgou ser o banheiro e uma escada ao lado para um andas superior, passou pela cozinha ao lado da escada e a sala de jantar que dividia o espaço com a sala. A vista da janela oposta a entrada dava para a floresta ao funda da propriedade.

—O lago Kayuta fica a menos de cem metros daquelas árvores. –Laura se assustou com a proximidade da voz de Claire que ria da sua reação. –Relaxe, eu disse que qualquer coisa você só precisa me empurrar, sem falar que isso é um encontro.

—Como?

—Acho que você nunca foi a um encontro. –Laura corou, por que aquilo era verdade em grande parte. –Bom, acho que você não faz o tipo que gosta de ir no cinema, em museus ou em parque de diversões sem bons motivos, especialmente se está desconfortável. Um show poderia ser pouco íntimo e acho que a casa da minha família iria te intimidar tanto quanto um restaurante, então eu pensei em uma coisa como vir aqui pra ficar longe das intromissões e fazer algo diferente. Ou apenas assistimos filmes antigos no DVD.

—Só tem filmes antigos?

—Não, mas é uma opção.

—E a dispensa?

—Não tem carne ou suprimentos, mas tem enlatados e salgadinhos.

—Nada de cozinhar hoje.

—Só se estiver a fim de caçar, mas eu também trouxe uns lanches prontos de casa que estão na geladeira e devem bastar por hoje.

—Fast food?

—Tenho cara de quem faria isso para um encontro?

—Na verdade tem.

Claire acabou rindo.

—Tudo bem, pensei nisso, mas não teria dado certo, então é lanche caseiro mesmo.

Aquelas palavras fizeram Laura sorrir e relaxar.

—O que você faz quando vem pra cá?

—Nada demais, apenas algo em família.

—Família?

—Sim, venho aqui com meus pais e meu irmão quando eles tem tempo e folga juntos.

—Não sabia que você tinha um irmão.

—Ele se chama James, como o seu irmão, e é dez anos mais novo que eu. –Laura observou o sorriso completamente carinhoso e de um afeto inocente que Claire tinha, algo quase angelical. –Agora ele está com a Pepper, por que com meus pais em missão eu mal tenho tempo de me cuidar alguns dias.

—Você não costuma parecer muito ocupada quando te vejo. –E para a morena aquilo era um fato.

—Fury me mandou descansar ou eu faria alguma besteira se continuasse como estava, mas eu tenho trabalhado no Instituto já que não consigo ficar parada por muito tempo. –Claire se sentou no sofá e tirou um livro de dentro da mochila.

—E por que não foi ficar com seu irmão? –Laura estava mesmo curiosa.

—Eu e James lidamos de formas diferentes com a ausência dos nossos pais. Eu meio que já passei por tudo que ele tá passando, mas James é mais maduro do que eu era, então passo lá pra vê-lo umas duas vezes por semana, por que ainda não sou tão madura assim sobre ficar longe dos meus pais. –Claire afastou aquele pensamento de si e olhou para Laura. –Posso perguntar sobre as garras?

—Não tem muito o que dizer, só sei que Logan me salvou no dia que aconteceu, mas minhas lembranças de antes disso são borradas e confusas.

—Ele te salvou? Como assim?

—Eu não tenho certeza, mas já reparou que meu cheiro não é como o do James?

—Sim, mas achei que era algo que herdou da sua mãe.

—Não, na verdade não sei se pode ser isso. –A morena sentou ao lado de Claire e fechou os olhos. –Eu não sei bem qual a minha relação com o Logan, se ele é mesmo meu pai ou uma matriz genética e eu um clone ou mesmo o clone de alguma filha perdida dele. Acho que ele até sabe, mas não quer me contar ou tem medo da minha reação.

—E o que você gostaria que fosse?

—Acho que... Não tenho certeza, qualquer resposta dele me daria mais perguntas que eu talvez não queira ter a resposta, então por enquanto ser filha dele me serve. –Claire se moveu no sofá e beijou o canto da boca de Laura que sentiu o rosto queimar. –Que livro é esse? –A morena mudou o rumo da conversa.

Claire encarou Laura em dúvida se deveria concordar com aquilo, mas decidiu que não precisava ter pressa agora já que ela mesma havia mudado o foco da conversa antes.

—É O Silmarillion. Eu ganhei do meu pai antes dele sair em missão, mas tinha outros livros para ler, então comecei a lê-lo a dois dias.

Laura reparou que faltava menos de um quarto do grande livro para ser lido.

—Em que idioma está?

—Essa versão está em inglês mesmo.

—Se importaria de ler um pouco pra mim?

A garota loira sorriu e colocou o marca página perto do final, abrindo o livro na primeira página.

Laura nunca havia tido um encontro para saber se estavam fazendo aquilo certo, mas gostava daquele momento, apenas elas sem os problemas e duvidas que pareciam querer quebrar sua cabeça. Sentiu vontade de dizer aquilo a Claire, mas não teve a coragem de falar que normalmente lhe vinha sem problemas e precisou admitir, pelo menos a si mesma, que a loira mexia muito mais com ela do que gostaria.

—Se ficar cansativo me avise.

Laura concordou ainda insegura e se concentrou na voz de Claire sentindo o leve arrepio na espinha que a vibração daquela voz causava em seu corpo.

Continua...