Ás dez horas em ponto o avião de Enjolras e Éponine estava pousando na Dinamarca. Eles não haviam trocado mais de dez palavras aquela manhã. Enjolras ainda estava mal humorado por causa do comportamento do pai na noite anterior. Havia pedido desculpas para Éponine,mesmo ela dizendo que estava tudo bem. Porque de fato estava tudo bem.

Vinte minutos depois eles estavam no saguão, procurando a conhecida cabeleira loira de Cosette e não demorou muito para encontrá-la junto com Marius.

–Graças a Deus.- ela falou correndo até Éponine.- Precisamos ir agora para que você impeça uma... monstruosidade.

–Não é para tanto.- Marius discordou.- E aí?- ele cumprimentou Enjolras que acenou com a cabeça não se importando em falar. A cara fechada em uma carranca ao qual Éponine revirou os olhos, já Marius estava acostumado com o jeito do amigo e nem se importou.

Cosette olhou para os dois por um momento e sorriu.

–Então... Como foi o jantar?- ela perguntou animadamente. Éponine fechou os olhos se perguntando por que a amiga tinha que ter feito aquela maldita pergunta. Enjolras soltou um grunhido.

–Te conto mais tarde, está bem?- Éponine respondeu pegando no braço de Enjolras e indo em direção as portas do aeroporto. Cosette olhou sem entender para o Marius que deu de ombro.

–Aposto que tem alguma coisa a ver com o pai do Enjolras. Vamos?

Cosette assentiu e eles seguiram Enjolras e Éponine . Ela tentava trazer algum sorriso ao rosto do namorado fazendo caras engraçadas ou então com sua câmera, mas Enjolras estava disposto a não esquecer tão fácil o que tinha acontecido.

–Sabe você tem que ficar bravo com seu pai, não comigo. Eu não te fiz nada.- Éponine finalmente esbravejou ao ver Cosette e Marius se aproximando.- Então se for para ficar com essa cara de bosta, fique trancado no quarto do hotel. Estamos entendidos?

Enjolras se sentiu mal. Estava estragando a viagem deles, a última que eles teriam em um bom tempo,porém não conseguia deixar de se sentir irritado por Éponine não estar irritada como ele. Seu pai a havia ofendido e ao saírem da casa ela não o xingou uma única vez.

Os quatro entraram no taxi e Marius falou para onde eles deveriam ir. O taxista fez uma cara estranha mas não questionou. Éponine tirava foto de tudo que era possível,não saberia dizer quando teria a oportunidade de voltar a Dinamarca.

Marius pagou o taxista e Éponine e Enjolras olharam a fachada do hotel que não era das melhores. O bairro era bem distante do centro de Copenhague. Éponine olhou para a Cosette, não podia acreditar que a amiga, tão delicada e que fazia questão de ficar nos melhores lugares, tinha escolhido um lugar daqueles. Não que Éponine se importasse, já estivera em lugares piores. Mas observando a amiga, percebeu que ela estava com os ombros caídos. Não queria estar ali.

Depois de observado a fachada do hotel, Marius bateu no ombro de Enjolras e tomou a frente fazendo todos os seguirem.

–Prepare o coração.- Cosette alertou para Éponine ao irem direto para o bar decadente do hotel.

O lugar era escuro e cheirava a fumaça. No palco uma luz brilhante e com pessoas usando as roupas ridículas dos anos 60, coladas e coloridas cheia de brilho.

–Mas que...

–Merda?- Enjolras completou a pergunta de Éponine, os dois se aproximando do palco.

Combeferre estava com uma roupa laranja e roxa,o rosto sujo de marrom e uma peruca loira longa com um headband. Grantaire usava uma roupa do mesmo estilo que a de Combeferre só que rosa com amarelo,cheia de lantejoulas nos ombros, Courfeyrac estava com uma calça boca de sino branca e uma blusa com um decote, os cachos estava desarrumado propositalmente com a intenção de parecerem enorme. E Jehan usava uma roupa igual a de Courfeyrac mas usava uma peruca, a qual estava com uma trança.

–Ei vejam!- Grantaire apontou para o grupo que havia acabado de chegar.- A Éponine chegou.

Combeferre deu um olhar aliviado ao ver Éponine ali, havia achado a ideia do Grantaire boa,mas precisava ter certeza que Augustinne iria querer olhar na cara dele e isso só seria possível se Éponine estivesse ali.

–Salut... o que vocês estão aprontando?- Éponine perguntou se sentando em uma cadeira que estava perto do palco. Acenou para Caitlyn que estava sentada com uma maleta enorme de maquiagem.

–Foi minha ideia!- Grantaire apontou orgulhoso para si mesmo e Éponine assentiu.

–Imagino que tenha sido mesmo. Agora não querem me mostrar o que estão tentando fazer?

–Antes de começar quero dizer que faz muito tempo que não canto e que Enjolras se lembra da banda que tivemos no colegial.- Combeferre falou antes de assumir seu posto no centro do palco.

Enjolras se sentou, ainda sem reação ao ver as roupas que os Amis estavam usando e também sem acreditar que teria que ser obrigado a ouvir eles tocando de novo. Eles eram horríveis até que ele podia se lembrar.

Os quatro começaram a cantar, Éponine tinha uma mão sobre a boca enquanto olhava, Enjolras balançava a cabeça sem acreditar que estava vivenciando aquilo de novo e rezando para acabar logo. Cosette tampava os ouvidos e estava de olhos fechados. Marius tinha uma careta estranha.

Ao terminarem os quatro fizeram um cumprimento entre si e se viraram para o pequeno público. Combeferre sorria orgulhoso do trabalho que havia feito.

Se passaram alguns minutos em silêncio.

–E então?- perguntou Combeferre. Éponine se levantou.

–Vou ser bem sincera ao dizer que eu odiei.- ela respondeu e a cara de Combeferre foi no chão. Grantaire, Courfeyrac e Jehan a olharam boquiabertos.- Primeiro lugar vocês estão ridículos com essas roupas. Segundo: desde quando é uma boa aceitar ideia do Grantaire?- Éponine ia enumerando nos dedos.- e terceiro: você realmente espera reconquistar a Augustinne com uma musica que fala sobre traição? Isso é serio, Combeferre? Eu sei que você é inteligente. Então para só um pouco e observa tudo isso.

–Éponine você esta errada.- Grantaire se pronunciou.- Não entende que a letra não importa e sim a melodia.

–E a intenção.- adicionou Courfeyrac. Éponine ignorou os dois e foi se sentar ao lado de Combeferre.

–Por que não vamos simplesmente ir até lá falar com ela?

–Porque... porque eu quero fazer um pedido especial de desculpas, Éponine.- Combeferre admitiu.- Porque ela ficava vendo esses pedidos de desculpas que os caras cantam alguma musica. Porque ela chora sempre em filmes que tem isso. Porque eu quero fazer alguma coisa para ela perceber o quanto ela é importante para mim.- ele deu uma risada sem humor.- Eu tenho noção que não sou o melhor cantor do mundo... mas eu queria fazer isso por ela. Entende?

Éponine assentiu e apertou o ombro do amigo.

–Entendo e posso te ajudar com isso. Mas primeiro todos vocês vão tirar essas roupas.

–O que você tem em mente?- Combeferre perguntou enquanto se levantava, tirando a peruca.

–Acredite : é melhor que a ideia do Grantaire. Vamos todos para Odense... conheço um bar que a Augustinne adora e o pessoal é bacana, vão deixar vocês tocar lá. E eu já tenho a musica perfeita para você cantar.- Éponine sorriu ao terminar de falar. Combeferre disparou porta a fora,direto para o quarto. Grantaire fez uma careta para Éponine.

–Fique sabendo que eu não vou tirar essa roupa.- falou provocativo. Éponine deu de ombros indo abraçar Caitlyn.

–Problema seu, Grantaire.

[...]

Marius, Enjolras e Joly foram em busca de um carro para alugar, enquanto os outros se preparavam para a pequena viagem até Odense.

–Você bem que poderia já ter visto isso ontem, né Marius?- falou irritado.

–Eu pensei...mas acabou não dando tempo, senhor irritadinho.- Marius retrucou andando apressado para encontrar o endereço que Cosette havia anotado.

Enjolras bufou e apertou o passo para acompanhar o amigo.

–Ei... esperem por mim.- Joly gritou correndo para alcançar os dois.- Por acaso esse mal humor do Enjolras se deve ao jantar de ontem?- ele perguntou respirando com dificuldade ao chegar do lado de Enjolras. Marius encarou o amigo.

Enjolras balançou a cabeça como se estivesse tendo um tique.

–Talvez.- respondeu por fim.

–Que falar sobre isso?- Marius questionou e Enjolras o olhou com descrença.

–Daqui a pouco estaremos fazendo compras e falando sobre nossos sentimentos uns para os outros na nossa festa do pijama!- Enjolras falou em um tom zombeteiro.

–Tudo bem. Não quer conversar, já entendemos.

–Mas o fato de perguntamos, não quer dizer que estamos nos tornando garotinhas.- Joly afirmou.- É saudável falar de suas frustrações. Isso não te faz mais ou menos homem. Te faz um ser humano.

–Vocês sabem como eu odeio quando vocês estão certos?- Enjolras admitiu. Marius e Joly assentiram encarando o amigo que olhou para o céu colocando as mãos nos bolsos.-Muito bem, o jantar estava indo... bem. Minha mãe e Éponine se deram bem e era isso que eu queria.

–Sinto que tem um “mas” ai.- Joly incentivou.

–Mas meu pai estragou tudo. Éponine se esforçou o máximo para agradar e no final de tudo ele ainda a ofendeu.

–Sabia que isso ia acabar acontecendo.- admitiu Marius dando de ombros.- Mas e aí?

–E aí que... eu a defendi e saímos de lá. Mas ela não ficou nem um pouco irritada. Sabem? Do tipo Éponine fica irritada quando a criticam quando a questionam por escolher teatro. Duas vezes que eu fiz isso ela quase me matou. Na última vez ela sumiu por quase um mês. E quando ela precisa fazer tudo isso, ela fica tranqüila. Eu não entendo.

Marius riu.

–Jojo.- Marius o chamou pelo apelido criado pelo Grantaire.- Você deveria já saber que a Éponine faz essas coisas só para quem ela se importa. No caso do seu pai, ela quer mais que ele se exploda. Ela nunca mais vai precisar vê-lo, então não tem que mudar a opinião dele sobre ela. Mas nós que somos amigos dela e agora sua namorada, ela quer que a gente entenda que isso é o que ela quer fazer. Conseguiu entender?- Marius perguntou e Enjolras mesmo não entendendo fez que sim com a cabeça.

–O que o Marius quer dizer é: - Joly abriu a boca para explicar mas acabou a fechando novamente.- Esquece. Mas... ela não faz questão que seu pai a aceite, ela quer que você a aceite,por isso fica brava quando você fala alguma coisa do tipo.

–Calem a boca que vocês são péssimos conselheiros.

–Pelo menos tentamos... Aqui o endereço.- Marius olhou para o local que estava escrito em letras grande “Rent a car”.

[...]

–Cadê aqueles garotos? Foram fabricar o carro?- Cosette perguntou impaciente, enquanto andava de um lado para o outro na frente do hotel. Éponine estava sentada em sua mala enquanto observava a amiga. Os outros haviam se cansado de esperar do lado de fora e foram para saguão do hotel que tinha ar condicionado.

–Calma, Cosette. Você sabe que tem que assinar um monte de coisa, sem falar que não deve ser fácil achar carro para...- Éponine parou, contando nos dedos em quantos eles estavam.- Dez pessoas! Nem sei se existe um carro para dez pessoas. Provavelmente vai ter que ser uma van.

–Pode até ser uma carroça! Eu quero que eles cheguem logo, não aguento mais esperar.- Cosette se sentou na beirada que sobrou da mala de Éponine.- E aqui é tão quente. Mais quente que Paris. Aqui é quente e abafado,meu cabelo ta todo ferrado,grudando no meu pescoço e não faz nem tanto tempo que tomei banho e já estou fedendo.- ela levantou o braço cheirando disfarçadamente o sovaco e fez uma careta de nojo.

–Quer que eu prenda seu cabelo?- Éponine perguntou e Cosette abriu um sorriso concordando.

Éponine fez uma trança com os longos cabelos loiros da amiga e depois a torceu até formar um coque no topo da cabeça, finalizando com uns grampos que achou perdido no bolso da calça que usava.

–Merci, Ponine. Isso melhorou muito... Olha lá.- Cosette apontou para o final da rua,rindo.- Que lata velha, como que autorizam uma coisa dessas a andar ainda na rua?- As duas continuaram observando até que reconheceram os três dentro do automóvel.

–Bem você disse que podia ser até uma carroça. Gosto de acreditar que isso é melhor que uma carroça.- Éponine comentou enquanto fechava a boca da amiga que estava escancarada de surpresa.- Bom... eu vou ir chamar os outros, Cosette.- ela entrou correndo de volta para o hotel, sem querer ver a reação que iria vir a seguir da amiga.

–Passarinha.- Marius a chamou assim que desceu. Ele começou a chamar Cosette assim por ela ser muito delicada,que o lembrava sempre um passarinho, delicado e ao mesmo tempo forte do seu jeito.

–Pontmercy!- ela respondeu,com o semblante duro.- O que é isso?

–Uma Kombi.- respondeu Joly lá de dentro,enquanto higienizava o Maximo que podia dos bancos.

–Isso eu estou vendo.- Cosette respondeu pedindo para Marius se explicar apenas com um olhar. Enjolras assistia a cena de dentro da Kombi sem dizer nada, havia dito para o amigo que não era uma boa ideia alugar aquilo,que eles achariam outro lugar que alugasse carros e talvez uma van com motorista já incluso. Mas Marius era cabeça dura e não queria perder tempo. Se Cosette estava brava só de ver a Kombi, imagina quando descobrisse que ela não chega nem ao 100km/h.

–Eles não tinham muitas opções de carro. E pensamos que ... ficaria mais caro alugar dois carros, e esse era o maior que eles tinham disponíveis.

–E vocês não podiam arrumar outro lugar para alugar?- Cosette perguntou com a mão na cintura,como se fosse a coisa mais obvia a ser feita. Marius olhou para Enjolras como se pedindo ajuda e todo que o amigo fez foi dar de ombros como um sinal de “O que eu disse?”

–Iria demorar mais e eu sei como você fica impaciente quando tem que esperar. Eu peguei esse pensando em não te estressar, Cosette.- respondeu cabisbaixo. Cosette deu um sorriso de leve e o abraçou,dando um beijo nele.

–Tudo bem. Contanto que nos leve onde queremos ir,poderia ser até uma carroça.- nesse momento os outros saíram do hotel,segurando suas malas.

–Fico feliz que ainda esteja vivo,duende.- Éponine murmurou ao passar por ele carregando a mala. Marius murmurou um “eu também” e depois percebeu que ela o havia chamado de duende e se separou de Cosette indo atrás de Éponine para saber o que aquilo significava.

–CARAMBA UMA KOMBI!- Grantaire saiu correndo do hotel gritando.- Sempre foi meu sonho andar em uma Kombi. Eu vou no banco de trás na janela e ninguém pega.- dizendo isso entrou,empurrando todo mundo.

–E é nesse momento que percebemos que o Grantaire não tem nenhuma ambição na vida.- Combeferre comentou enquanto todos observavam a felicidade do amigo por ter entrado primeiro.

–Não precisa ser grande coisa. Quando você sonha isso já é uma grande ambição. Nem todo mundo se dá o luxo de sonhar hoje em dia, mesmo que seja bobo pra você,para ele é uma grande realização. Não devemos julgar os sonhos das pessoas,não importa o quão pequeno e insignificante ele seja.- Éponine falou,enquanto ainda observava o Grantaire.- Vamos?

Isso fez com que todos parassem de fazer piadinhas com o Grantaire. Marius foi na frente com Cosette. Caitlyn e Jehan foram no banco que dava de frente para Éponine e Enjolras. Joly foi no banco do meio com Combeferre e Courfeyrac foi no fundo com Grantaire.

Dentro da Kombi o calor era infernal, as janelas mal abriam e a maior parte do vento vinha das janelas da frente que estavam aberta. Depois de acenar para os carros e mostrarem a bunda para quem estivesse na rua, Grantaire e Courfeyrac ficaram quietos sendo vencidos pelo calor.

–Mãeeee tamo chegando?- Courfeyrac gritou do fundo.

–Teremos sorte se tivermos saído de Copenhague nessa velocidade- Éponine comentou.- Chegaremos hoje?

–O MOTORISTA PODE CORRER, QUE A GENTE NÃO TEM MEDO DE MORRER.- Grantaire começou a cantar a plenos pulmões enquanto batia no banco. Logo Courfeyrac se juntou a ele.

–Dá para vocês calarem a boca?- Enjolras gritou irritado com eles e sua barulheira. Os dois ficaram quietos e Éponine o encarou sem acreditar que ele havia realmente feito aquilo. Qual era o problema dos dois estarem animando aquele fiasco de viagem?

–O MOTORISTA PODE CORRER, QUE A GENTE NÃO TEM MEDO DE MORRER.- Éponine começou a cantar, enquanto batia palmas e logo Grantaire e Courfeyrac se juntavam a ela.

Depois de um bom tempo cantando todas as músicas que sabiam sobre motoristas eles ficaram quietos. Enjolras tinha uma carranca por Éponine ter entrado na bagunça,parecendo uma criança birrenta.

De repente a Kombi começou a diminuir lentamente.

–Marius para de graça e acelera essa merda.- Combeferre que havia ficado quieto o caminho inteiro finalmente se manifestando.

–Eu to tentando mas não to conseguindo.- ele respondeu pisando no acelerador mas tudo o que conseguiu foi um barulho estranho e a Kombi parando do nada. Ele olhou para Cosette que olhava para fora,tentando não ficar nervosa.- Eu vou ir dar uma olhada.- Marius murmurou.

Cosette fechou os olhos e assentiu com a cabeça.

–Vai.- respondeu sem olhar para Marius.

Enjolras, Jehan e Combeferre desceram também para ver se podiam ajudar Marius,mas nenhum deles sabia mexer com aquilo.

–E agora?- Jehan sussurrou enquanto os quatro estavam inclinados observando o motor.

–Querem ajuda?- Grantaire perguntou, enquanto fechava o zíper da calça.

–A menos que você saiba consertar isso.- Enjolras respondeu se afastando.

–Com licença, deixem o mestre olhar.- ele pediu enquanto se agachava e os amigos se afastavam. Ele começou a mexer,abrindo, desconectando e conectando fios.

–Vocês sabem que não é uma boa ideia deixar o Grantaire fazer umas coisas dessas.- Combeferre apontou para o amigo que olhava concentrado tentando encontrar o problema.

–Ele é o único que se arriscou a olhar.- Jehan o defendeu.

–E o único de nós que não pensa.- Enjolras rebateu e os três o olharam de olhos arregalados. Se Grantaire ouviu o comentário, fingiu que nada tinha sido dito.

–Precisa de água. Ta seco.- Grantaire falou se levantando e limpando as mãos na calça .- Ponine você tem água?- uns segundos depois Éponine desceu com uma garrafa de água e entregou para Grantaire que se agachou e esvaziou a garrafa.- Pronto tente ligar.- falou para Marius que correu e ligou a Kombi que voltou a vida.

–Muito obrigado, Grantaire. Vamos continuar a viagem!- Marius gritou. Jehan e Combeferre deram tapinhas nas costas do amigo parabenizando. Éponine ficou de braços cruzados olhando para Enjolras.

–Não pense que o Grantaire não ouviu. Porque eu que estava la dentro ouvi a coisa maldosa que você disse. Vocês todos subestimam demais o Grantaire,sendo que ele é o mais inteligente de todos aqui.- ela falou e deu as costas para Enjolras,indo se sentar com Courfeyrac e Grantaire no fundo.

A viagem até Odense levava quatro horas. Eles já estavam na estrada três horas. A Kombi estava mergulhada em um profundo silêncio. Grantaire dormia. Combeferre ouvia a música que Éponine disse que deveria cantar,se ainda quisesse levar a ideia adiante. Éponine havia ido se sentar na frente,ficando no meio de Cosette e Marius. Enjolras estava sentado com Joly.

Cosette estava dormindo encostada em Éponine que observava tudo,Marius estava concentrado na estrada,até que puxou o freio de mão e arregalou os olhos ficando tenso. Éponine percebeu e olhou para o amigo que a encarava de olhos arregalados e lentamente levantou a mão que estava segurando o freio. Éponine não entendeu de inicio mas logo adquiriu a mesma expressão de Marius e foi a primeira a gritar chamando atenção de todo mundo,fazendo Cosette bater a cabeça no painel na hora do susto.

–O que aconteceu?-Enjolras perguntou preocupado,achando que Éponine estava com algum tipo de dor. Ela estava apontando para a mão de Marius.

–O freio quebrou.- ela finalmente disse.

–QUE?-Cosette gritou tirando o freio da mão de Marius.-Vamos morrer!- a voz dela estava em pânico.

–Se acalmem.- Enjolras pediu.- Vamos achar um jeito de solucionar isso.- ele ficou em silêncio pensando.

Grantaire finalmente acordou .

–O que ta acontecendo?- perguntou com a voz rouca.

–Marius quebrou o freio e agora vamos todos morrer. E o Combeferre nunca vai ter a oportunidade de se desculpar nem conhecer o filho dele.- Courfeyrac explicou e Grantaire assentiu.

–Eu vou conhecer meu filho sim!-Combeferre saiu da inércia se levantando e abrindo a porta.- Todo mundo para fora.- ele gritou enquanto praticamente empurrava os amigos para fora da Kombi.

Quando todos desceram e estavam na estrada,com as malas que conseguiram pegar, Cosette estava com um galo na testa e os olhos cheios de lagrimas. Éponine ainda olhava para o freio sem acreditar. Caitlyn estava abraçada ao Jehan,enquanto ele perguntava se ela estava bem.

–Nossa. Realmente teríamos morrido nessa velocidade que a Kombi esta.- Grantaire comentou enquanto via a Kombi se distanciar até bater em uma árvore.

–Como vamos chegar agora?-Cosette perguntou.

–Simples: andando.- Courfeyrac respondeu e passou na frente acompanhado de Grantaire. Lentamente todos começaram a segui-los a passos lentos.

[...]

Já fazia mais de duas horas que eles estavam caminhando. Cosette ia montada nas costas de Marius, enquanto os outros iam se apoiando uns nos outros. Éponine foi a primeira a desabar no asfalto.

–Não aguento mais! Continue a jornada sem mim.- ela falou em tom dramático. Enjolras revirou os olhos e foi até ela a pegando no colo.

–Vocês ouviram isso?- Jehan perguntou enquanto olhava para o lado oposto de onde Enjolras e Éponine estavam.

–O que?-perguntou Caitlyn tentando ouvir. Logo os amigos ficaram em silêncio quando ouviram um lamento.

–Ge...gente. Vamos andando,sim?- Joly falou com medo.

Eles assentiram mas ficaram no mesmo lugar, ouvindo atentamente. Começaram a ouvir um barulho vindo do mato,ficando cada vez mais forte. Éponine agora estava abraçada fortemente.

“Trinta anos eu os espero nesse lugar”

Puderam ouvir uma voz sem dono.

“Trinta anos! Agora que vocês vieram até mim, não irão escapar tão fácil assim”

–Quem está ai?- gritou Marius reunindo toda a coragem.

–Não pergunta,não cara.- Grantaire bateu no braço do amigo.- Ele ta brincando. Não quer saber quem esta aí. Por sinal estamos indo. Passar bem.

“Eu disse que não irão escapar tão fácil assim.”

–Já que vamos morrer quero que foi um prazer conhecer todos vocês.- Cosette falou.

O barulho de cascos ficaram mais próximos,assim como o barulho de alguma coisa pesada sendo arrastada na terra, sons horríveis vinham de todos os lados. Ou isso ou a mente deles já estava criando coisas.

Finalmente de trás dele surgiu um barulho maior e todos começaram a gritar, sem exceções, até o líder Enjolras estava gritando. Nesse momento cada um foi para um lado, quando finalmente se acabaram,encontraram um velho os encarando em uma charrete.

–Trinta anos venho esperando clientes. Desde que inventaram os carros,meu negocio faliu. Estão precisando de carona?

Eles se entreolharam e começaram a rir. Então era a ele que pertencia a voz e ele so queria clientes.

–Estamos indo para Odense. Acha que podemos chegar antes da noite?- Combeferre perguntou desesperado.

–Acho que ocês podem chegar logo. Odense não fica muito tempo quando se tem bons cavalos.

Combeferre olhou para os amigos e deu de ombros. Era aquilo ou continuar a pé.

Eles preferiram aquilo.

–Discurpem se assustei ocês, não sei lidar muito bem cás pessoas.

[...]

Finalmente o homem parou com a charrete em frente ao bar que Éponine havia indicado.

–Muito obrigado,senhor. Quanto ficou?- Cosette perguntou pegando a carteira,o homem fez um sinal de descaso.

–Num prercisa, não. Eu assustei ocês.

–Mas nós insistimos.- Cosette esticou o dinheiro na direção dele.

–É insistimos.- Combeferre pegou tudo o que tinha com ele.- Por ter nós trazido até aqui. Isso significou muito.

O homem sem jeito aceitou o dinheiro de Combeferre e guardou no bolso.

–Ocês me lembram muito eu quando tinha meus amigos. Aposto que todos estão aqui para te apoiar.- ele apontou a mão enrugada na direção de Combeferr.- Aproveite. Antes que ocês não sejam mais tão unido assim.

–Eu irei. Merci.- Combeferre agradeceue se juntou aos amigos que se despediram do senhor enquanto ele se afastava. Courfeyrac fungou e todos olharam para ele.

–Esquecemos Grantaire dormindo lá.- ele respondeu e logo começou a rir. Marius e Éponine saíram correndo atrás,deixando os outros rindo.

Pouco depois voltaram os três. Grantaire com cara de emburrado.

–Sacanagem me acordarem. Ele tava me cantando uma canção de dormir.

–Você não quer ajudar o Combeferre?- Éponine perguntou com uma voz terna,como se estivesse falando com uma criança.

–Eu posso?

–Claro mas vai ter que fazer o que eu falar,certo?- ele concordou com a cabeça e assim o grupo entrou no bar.

[...]

Éponine deixou Combeferre nas mãos dos garotos,para ser mais precisa nas mãos de Enjolras e Jehan. Enjolras porque ela sabia que não deixaria o amigo fugir do foco ou aceitar alguma idéia absurda e Jehan por ter seu jeito meigo de ajudar as pessoas com assuntos românticos,por mais que muitas vezes nenhum de seus conselhos era de grande ajuda na vida real.

Ela,Cosette e Caitlyn foram até a casa de Augustinne. Era uma casa de aparência simples,mas com aquele ar de elegância que casas antigas possuem.

Éponine chamou a amiga umas duas vezes antes de uma Augustinne com a cara inchada de sono e com uma barriga já bem chamativa atendeu a porta.

–Ponine... Cosette e não sei quem é você.- ela falou indo lentamente até o portão.- Aconteceu alguma coisa?- perguntou preocupada. Éponine e Cosette sorriram e balançaram a cabeça negativamente.

–Nada. Só queríamos ver você antes das aulas começarem.- Éponine respondeu.- Essa é Caitlyn.

–Prazer em conhecê-la, Augustinne. Ouvi falar muito de você.

–Aposto que ouviu.- Augustinne sorriu enquanto a abraçava.- Vamos entrando,meus pais vão ficar felizes de ver vocês três. Eles andam reclamando que eu tenho que ver pessoas,porque desde que me mudei para cá não sai mais.

Elas estavam já dentro de casa,que era abarrotada de enfeites e móveis antigos. Os pais de Augustinne estavam no jardim dos fundos e como ela havia dito ficaram extremamente felizes de ver que a filha tinha companhia. Depois de algum tempo conversando,as quatro seguiram para o quarto de Augustinne.

–Então... o que me contam? Como está Paris? Sinto tanta falta de lá.

Pouco a pouco elas iam colocando a amiga a par das novidades,contando detalhe por detalhe,sem nunca citar o nome de Combeferre. A mãe de Augustinne entrou no quarto para levar um lanche para elas. Quando terminaram de comer,houve um silêncio que Augustinne aproveitou para perguntar o que estava com vontade desde que viu as amigas paradas no portão.

–E o meu Ferre?- ela perguntou com os olhos baixos.

–Não perguntou mais de você.- respondeu Cosette como se estivesse pouco a vontade.

–E para falar a verdade, me desculpe por dizer,Tinne, mas ele ta namorando.- Éponine falou com o maior tom de pesar que conseguiu,abaixando os olhos e pegando na mão da amiga. Augustinne reprimiu um soluço e forçou um sorriso.

–Tudo bem. Eu estou feliz. Era isso que eu queria,não? Que ele tivesse uma vida feliz,sem ninguém para atrasá-lo. Só não imaginava que ele seria tão rápido.- ela acariciou a barriga.- Parece que seremos só nós duas,garota.

–É uma menina?- Caitlyn perguntou. Sempre que se imaginava grávida,na sua mente seria uma menina,então sempre inveja as mulheres que tinham filhas. Augustinne riu.

–Na verdade eu não sei. Foi uma opção minha. Eu espero que seja uma menina,mas vou ficar feliz com o que me for dado. Agora essa coisinha é o que tenho de mais precioso.

–Mas como você vai comprar as roupinhas?

–Meu medico disse para minha mãe e ela ta cuidando de tudo.- as três ficaram encarando Augustinne que estava com os olhos cheio de lagrimas. Ela riu, algumas lágrimas escaparam e ela as limpou rapidamente.- Eu estou bem gente, de verdade.

–Então por que não prova isso para a gente?- Éponine sugeriu.

–Como?

–Nos leve essa noite naquele bar que você ama.- Augustinne fez uma careta, não tinha mais vontade de sair como antes. Sua maior vontade era ficar na cama,comendo,dormindo ou assistindo TV. As vezes lia algum livro que seus pais comprava ou um dos seus livros antigos.- Por favor.- Éponine implorou.

–Tudo bem. Vamos sair essa noite.- ela concordou por fim.

Passaram o dia jogando conversa fora e competindo no karaokê. No começo da noite elas começaram a se arrumar.

Caitlyn estava maquiando Augustinne,mas não demais,porque achava lindo o brilho que todo mulher grávida possuía,mesmo que muitas pessoas não viam o brilho.

–Acho que o Enjolras está te ligando.- Cosette comentou enquanto passava o delineador e Éponine saiu correndo do banheiro,enrolada na toalha para atendê-lo e voltando a se trancar no banheiro.- É assim o tempo todo. Eles são um casal chato.- ela comentou e Augustinne riu pensando “não devem ser mais chatos que você e Marius”

Éponine saiu do banheiro depois de cinco minutos.

–Enjolras não queria que eu viesse e agora fica querendo saber se estou bem. Ele é muito cuidadoso. Alguém viu meu vestido vermelho que eu separei?

–Está aí na cama.-Caitlyn apontou para a cama que estava uma bagunça. Éponine murmurou um “beleza “ e começou a jogar tudo no chão até que gritou “Achei”.

Os pais de Augustinne abriram a porta.

–Parece que o quarto ganhou vida novamente. Vão onde?

–Éponine quer ir naquele bar. E como as garotas nunca foram vamos lá.

–Isso. Vão e se divirtam. Seu pai e eu estamos indo jantar fora,qualquer coisa é só ligar para a gente.

Por volta das 20:00 elas saíram e foram em direção ao bar. A noite estava agradável e em muito tempo Augustinne se sentia... confortada,de ter companhia

Quando chegaram o bar já estava lotado. Éponine procurou discretamente por Enjolras e o encontrou sentado em uma mesa perto do palco junto com os outros. Elas pegaram uma mesa próxima ao palco que ficava bem de frente.

Pediram alguma coisa para beber,enquanto faziam comentários e piadinhas com as pessoas ao redor.

–Você está ansiosa com alguma coisa,Ponine?- Augustinne perguntou.

–Eu? Não. Por que?

–Você não para de bater o pé na minha canela.

–Pardon.

As luzes do pequeno palco que havia ali se acendeu e ali já havia uma pessoa com um violão que começou a tocar alguma coisa no violão enquanto berrava a música.

–On the other side of a street I knew

Stood a girl that looked like you

I guess that's deja vu

But I thought this can't be true, cause

You moved to West L.A or

New York or Santa Fe or

Wherever to get away from me

–Aquele é o Grantaire?- Augustinne apontou para o palco de onde Grantaire mandou um beijo para ela ao terminar de cantar.

–Está parecendo. Mas deve ser alguém só muito parecido.- Cosette falou como se não fosse nada demais.

Augustinne ficou intrigada,mas mesmo assim deixou quieto. Existia pessoas muito parecidas mesmo. As vezes ficava observando as pessoas da janela e sempre encontrava alguma que lembrava seus antigos amigos e era quando a saudade apertava. Só nunca havia achado ninguém parecido com Combeferre, porque para ela, ele era único.

http://www.youtube.com/watch?v=Whv6PbQx_Bo&hd=1

Uma melodia triste começou a tocar e ela reconheceu de sua música preferida. Um outro homem havia ocupado o palco. As luzes foram acendendo e mostrando o rosto de Jehan, Courfeyrac, Grantaire e... Combeferre.

Augustinne olhou para os lados, mas Éponine, Cosette e Caitlyn já tinham tomado suas posições no palco.

Oh she may be weary

(Oh talvez ela esteja entediada)

Combeferre estava diferente da última vez que que Augustinne o virá. Ele havia cortado o cabelo e deixado a barba crescer. Como ela sempre pedira.


Those young girls they do get weary

(E garotas novas costumam ficar entediadas)


Wearing that same old shaggy dress

(Vestindo esse mesmo vestido surrado yeah)


But when she gets weary

(Mas quando ela ficar cansada)


You try a little tenderness
(Tente com um pouco de delicadeza,yeah)

Sua voz tremia um pouco de nervoso e enquanto estava cantando não iria olhar para Augustinne, foi o que Éponine pediu quando o estava instruindo se caso estivesse muito nervoso. Ele achou bobagem,nunca estaria nervoso perto de Augustinne,mas percebeu que se olhasse para ela,seria incapaz de continuar qualquer coisa.


I know she's waiting

(Eu sei que ela está esperando)


Just anticipating

(Apenas antecipando)


The thing that you'll never never possess

(Por coisas que você talvez nunca, nunca, tenha)


While she's there waiting

(Mas ao mesmo tempo ela está esperando)


Try just a little bit of tenderness

(Por um pouco de delicadeza)

That's all you got to do

(É tudo o que você tem a fazer)


Now it's not just sentimental no,no,no

(Isso não é apenas sentimental,não,não...)


But she has her griefs and cares

(Ela tem seu pesar e carinho,yeah)


But the soft words they are spoke so gentle

(Mas as palavras tranqüilas soam tão gentilmente)

Enjolras estava sentado,assistindo sem acreditar que ainda estava vivo para ver os amigo fazendo aquilo novamente. Combeferre até que era decente,mas desafinava quase sempre. Mas não pode deixar de sorrir ao ver como todos estavam animados e empenhados em ajudá-lo com Augustinne.


Yeah yeah yeah


And it makes it easier to bear

(E isso faz as coisas ficarem mais fáceis, pra beber)


Oh she won't regret it, no no

(Ela não vai se arrepender não,não...)


Them young girls they don't forget it

(Garotas novas não esquecem isso)


Love is their whole happiness

(Amor é toda a felicidade delas yeah)


Yeah yeah yeah


But its all so easy

(Mas é tudo tão fácil)


All you got to do is try

(Tudo que você tem a fazer é tentar)


Try a little tenderness

(Tente com um pouco de delicadeza)

Augustinne nessa altura já estava chorando. Combeferre estava ali, na sua frente, cantando sua música preferida. E ela nem sabia que ele sabia cantar. Começou a rir em meio as lagrimas de felicidade.



You've got to

(Você tem que)


Hold her

(Abraçá-la)


Squeeze her

(Apertá-la)


Never leave her

(Nunca deixá-la)


Now get to her

(Agora pegue-a)


Got got got to try a little tenderness

(Tem, tem, tem que tentar com um pouco de delicadeza)

You've got to hold her

(Você tem que segurá-la)


Don't squeeze her

(Não apertá-la)


Never leave her

(Nunca deixá-la)


You've got to (break)

(Você tem que (quebrar)

Ao terminar de cantar, Combeferre finalmente olhou para Augustinne que estava de pé,o rosto manchado de lagrimas,com um sorriso triste. Não entendia por que ela estava com aquela expressão. Ele fez exatamente o que ela queria. Ou será que tinha feito alguma coisa errada?

Grantaire o empurrou em direção a ela. Combeferre engoliu em seco e continuou por conta própria até estar frente a frente de Augustinne.

–O que você está fazendo aqui?- ela sussurrou com a voz embargada, tinha medo de falar e começar a chorar e despejar toda a verdade para ele. Já havia decidido que o melhor para Combeferre seria longe dela.

–Eu precisava te ver... para te pedir desculpas.

–Poderia ter mandado um email.

–Não seria o suficiente. Eu precisava estar olhando para você- ele começou a falar com dificuldade.- Precisava olhar para você para dizer que eu quero te ajudar a criar nosso filho,que sinto saudades e que eu te amo, Augustinne.

Augustinne o olhou e olhos arregalados,em choque.

–Como você soube do bebê?

–Éponine me contou.- respondeu dando de ombros.

–Aquela desgraçada.- Augustinne murmurou,olhando torto para Éponine que fingiu não ter visto.- Olha, Combeferre, eu não quero ser um peso na sua vida,uma obrigação. Quero que você seja feliz. Nós iremos ficar bem.

–Augustinne.- ele a segurou pelos braços, forçando-a a encará-lo.- Entenda,que eu só vou ser feliz com vocês. Isso importa. Outros cursos aparecerão. Outras chances. Mas não me tire a oportunidade de ver todas as etapas do nosso filho crescendo.

–Então você quer ficar comigo?- Augustinne perguntou timidamente,ainda sem acreditar.- Mesmo sabendo que eu vou ficar enorme de gorda?

–Eu não voei de Paris até aqui, andei em uma Kombi que perdeu o freio,fui assustado por um velho louco,que depois nos deu uma carona em uma charrete para não ficar com você. Então sim. E não me importa quanto você vai pesar. Eu conheço como você é.

–Ah, Ferre, eu também te amo e senti tanto a sua falta.- ela falou por fim, se dando por vencida e jogando os braços ao redor do Combeferre, enquanto inspirava o cheiro dele que ela havia sentido tanta falta.

Os dois se beijaram. Como se não houvesse ninguém ao redor. Mesmo que estivessem ouvindo os gritos e aplausos ao redor.

–Não sabia que você cantava.- Augustinne sussurou contra os lábios de Combeferre, ele deu de ombros.

–Eu tinha uma banda, quando estava no colegial. Você sabe para conseguir garotas.

Agustinne sorriu antes de voltar a beijá-lo.

–Está funcionando.

–Ainda bem. Espero não ter que usá-la para conseguir garota nenhuma.

–Eu também.

Os amigos ficaram um tempo observando, todos com sorrisos afetados.

–Ta certo. Quando se cansarem, estarei bebendo.- Grantaire quebrou o momento,tirando todos do transe e fazendo-os perceber que Augustinne e Combeferre não queria mais uma platéia.

–Gente... cadê meu marido?- Cosette perguntou finalmente, não tinha visto Marius a noite inteira.

–Ele disse que ia no banheiro,mas depois disso ele não apareceu mais.- Enjolras respondeu se lembrando de ouvir o amigo comentando alguma coisa de ir rapidinho.

Um Courfeyrac apareceu correndo,o zíper da calça aberta.

–Enjolras. Banheiro. Agora.- ele tomou fôlego.Todos olhavam com curiosidade para Courfeyrac - Marius. Com. Problema.