–Se acalme, Enjolras. Vai tudo dar certo. Prometo me comportar.- Éponine tentou tranquilizar o rapaz que estava inquieto. Estavam os dois na frente da casa dos pais dele.

–É so que...- ele começou mas se silenciou.

–É so que..?- Éponine o incentivou.

–Isso parece uma coisa tão grandiosa. Um jantar. Eu queria que vocês se conhecessem,coisa do tipo “Mãe essa é Éponine,minha namorada. Éponine essa é minha mãe”. Vocês sorririam,apertariam as mãos e iríamos embora.

–Era assim que você queria que eu conhecesse seus pais?- Éponine perguntou com uma sobrancelha arqueada.

–Minha mãe,não meu pai... Isso não vai dar certo.

–Shhh.- ela tampou a boca dele com a mão.- Cala a boca que vai dar tudo certo. Tenha confiança, não é como se fossemos pedir permissão para... matar pessoas. Ou como se fossemos dizer que temos AIDS ou...

–Já entendi.- Enjolras a cortou e Éponine deu de ombros apertando a campainha.

–Como estou? Tenho que causar boa impressão nos seus pais.- ela se afastou para que Enjolras a observasse,por mais que estivesse tentando parecer calma, por trás daquela mascara de tranqüilidade, ela estava nervosa,suando e pensando em mil maneira de como aquela noite acabaria mal, ou que provavelmente os pais de Enjolras não a iriam aprovar.

–Está linda. Não se preocupe eles vão gostar de você.

Éponine riu passando um braço pelas costas de Enjolras.

–Não estou preocupada. Afinal eu sou ótima.- ela falou brincando e apertou a campainha de novo. Enjolras deu um beijo no topo da cabeça dela que fechou os olhos.

–Rosa combina com você.- ele sussurrou.

–Prefiro vermelho.- ela respondeu e a porta se abriu. A mãe e o pai de Enjolras estavam parados olhando para os dois. Éponine sorriu para eles.

Passou uns minutos em silêncio constrangedor. Enjolras encarava o pai.

–Ah... salut. Je suis Éponine.- ela se adiantou a frente, estendendo a mão para os pais de Enjolras.

–Je suis Natalie. E esse é meu marido Patrick.- a mãe de Enjolras apontou para o marido que cumprimentou Éponine com um aceno frio de cabeça.- Prazer em finalmente conhecê-la - ela puxou Éponine para um abraço.- Vamos entrem.

Éponine entrou e apertou a mão do pai de Enjolras, enquanto a mãe dava um abraço apertado no filho.

Os quatro foram para a sala enquanto esperavam o jantar ficar pronto. O clima estava tenso e Éponine não se sentia muito a vontade, ali. Ficou observando Patrick, parecia estar quase nos seus 50 anos,um pouco gordo, o nariz e os olhos iguais ao de Enjolras e o mesmo semblante sério,bravo que as vezes o namorado adotava. Os cabelos também eram loiros,por mais que estivessem mais grisalhos que loiros. Talvez se sorrisse não iria parecer tão assustador.

–Vinho mademoiselle?- ele perguntou e ela sorriu.

–Oui,m’nsieur Levrefe.- Éponine esticou a taça que estava na mão e o pai de Enjolras a encheu.- Se me dão licença vou ver se a Sra. Levrefe precisa de ajuda.- ela se levantou indo para a cozinha a passos largos.

O pai de Enjolras se sentou e ficou rodando o vinho na taça.

–Onde você conheceu a garota?

–Por amigos em comum. Por que?

Patrick deu de ombros.

–Ela parece não ser o que aparenta ser.

–O que quer dizer?- Enjolras perguntou confuso.

–Essa pose de boa moça, simplesmente não engana. Preste atenção.- ele fez com os dedos um chifre de cada lado da cabeça. Enjolras riu sem acreditar no que estava ouvindo.

–Você a conhece faz vinte minutos! O que você sabe sobre ela?- ele perguntou irritado lutando para manter a voz. O pai dele deu de ombros.

–Posso estar errado,mas é o que eu vejo nela.

Enjolras fechou os olhos pedindo paciência. Não queria discutir e estragar a noite de sua mãe e Éponine.

–Precisa de ajuda?- Éponine perguntou se aproximando da mãe de Enjolras. Estava nervosa, nunca tinha passado por uma experiência daquela,afinal nunca teve um namorado que fazia questão de apresentá-la a seus pais. Com o pai de Enjolras ela não fazia questão de se dar bem,nem o prório Enjolras se dava bem com ele,mas queria causar uma boa impressão na mãe dele, não precisavam ser amigas, apenas se gostarem. Ela bem sabia como um namoro podia acabar se caso a mãe não aprovasse a garota.

–Não se preocupe,querida. Está quase pronto.- Natalie respondeu com um sorriso para Éponine que hesitou um pouco colocando a taça de vinho na mesa e indo lavar as mãos.

–Se eu lhe ajudar irá ficar pronto mais rápido. E outra não gosto de me sentir um estorvo para ninguém.

–Então se fizer se sentir melhor, aceito sua ajuda. Poderia lavar a louça?

–Claro.- Éponine respondeu começando a lavar.

–Merci.

As duas ficaram em silêncio enquanto faziam suas tarefas.

–Eles estão quietos.- Éponine comentou e Natalie riu.

–Temos que nos preocupar quando os gritos começarem... Então Éponine, quantos anos tem?

–Tenho 18.

–Enjolras é quatro anos mais velho que você. Como está sendo? Meu filho não é nem um pouco fácil, você é a segunda garota que ele nos apresenta.

Éponine suspirou.

–No começo foi difícil. Somos completamente diferentes. Ele é todo sério e eu já sou mais despreocupada com certas coisas. Mas no fim, eu acabo sendo mais complicada que ele, e me surpreendo como ele tem paciência para me aturar e não desistir de mim.

–Então ele gosta muito de você. Enjolras nunca desiste daquilo que ele ama e acha que é o certo.

–Eu só não sei por que.- Éponine confessou.

–Certamente você sabe, querida. Você está despertando o lado emocional dele... Me ajuda a levar as coisas para a sala de jantar?

–Oui.- Éponine secou as mãos e pegou uma travessa de salada e foi seguindo Natalie. Ao passar pela sala onde Enjolras estava com o pai, deu uma piscadela para o namorado que sorriu.

Ao terminarem de arrumar a mesa, Natalie foi até a sala chamar os dois que logo estavam na sala de jantar. O pai de Enjolras se sentou na ponta, Natalie se sentou ao lado dele, Éponine e Enjolras se sentaram do outro lado.

–Eu não sabia o que você gostaria de comer então fiz frango com mostarda,mexilhões à mariniéres e tapenade. De sobremesa fiz parfait de limão siciciliano. Enjolras comentou que você gosta de sobremesa que tenha limão...

–Mãe!- Enjolras chamou-lhe a atenção. Não queria assustar Éponine e sentia que era isso que sua mãe estava fazendo.- Eu falei que não precisava fazer tanta comida...- ele sentiu um chute de leve em seu calcanhar e olhou para Éponine que estava sorrindo calmamente.

–Enjolras, você sabe que eu sempre estou com fome.Não se preocupe eu como de tudo.- Éponine tranqüilizou Natalie que relaxou,não queria fazer a garota terminar com Enjolras mas também queria ser uma boa anfitriã e mimar Éponine o máximo possível.

–Ainda bem porque fiz torta de maçã também e madeleines. Enjolras ama minhas madeleines. Lembro quando ele era criança e...

–Natalie por que não comemos e depois você conta histórias para a garota.- Patrick falou impaciente.

–Éponine. O senhor me chamou de garota. Por favor, eu tenho nome.- Éponine o corrigiu antes que pudesse se segurar. Odiava ser chamada de garota por pessoas com ar de superior,como se fossem melhores que ela.

Patrick a encarou com a testa franzida e Éponine manteve a expressão neutra,mesmo que quisesse desviar daquele olhar arrogante que estava recebendo.

–Trés bien, Éponine.- ele falou em um tom seco e começou a se servir.

O jantar pode-se dizer que foi embaraçoso. Eles comeram em silêncio e Éponine por mais que estivesse fazendo um esforço, não conseguia parecer a vontade e deixava isso transparecer. As poucas vezes que começaram uma conversa,sempre era encerrada rapidamente com algum comentário vindo do pai de Enjolras.

Natalie se sentia triste por trás do sorriso. Estava fazendo o possível para fazer o filho e Éponine se sentirem bem, e por um momento,imaginou que ao ver a namorada de Enjolras,o marido ficasse feliz e pedisse para o filho voltar para a casa. Mas estava acontecendo o contrário. Patrick não estava tentando dar uma chance para nenhum dos dois e mostrava claramente que não havia gostado de Éponine, e Natalie percebia que ela estava se esforçando para ser agradável.

Ao terminarem de jantar, Éponine e Enjolras ajudaram Natalie a tirar a mesa,por mais que ela tenha insistido que não era necessário. Patrick foi para sala sem direcionar uma palavra à ninguém.

Os três ajeitaram a cozinha, enquanto Éponine elogiava a comida que Natalie havia feito e a mãe de Enjolras se deliciava ao ouvir aqueles elogios. Enjolras estava feliz que as duas estavam se dando bem. Feliz e aliviado.

Éponine pegou o celular e viu 20 mensagens e 10 ligações de Cosette, mais ligações dos outros Amis e se lembrou que não havia avisado que ela e Enjolras iriam no dia seguinte pela manhã.

–Excusez-moi. Preciso ir retornar uma ligação.- Éponine avisou ao terminar de ajudar.

–Claro. Enjolras mostre seu quarto para que ela tenha mais privacidade.- Natalie ordenou.- Estarei na sala junto com seu pai.

–Oui,mãe.- Enjolras respondeu um pouco corado pelo tom que a mãe havia usado na frente de Éponine.- Venha.- ele colocou a mão nas costas de Éponine e foi a guiando escada acima.

Depois de meses estava parado na porta de seu antigo quarto e rapidamente tentou se lembrar de como o havia deixado.

–Vai abrir ou não?- a voz de Éponine o tirou da lembrança daquela manhã. Ele abriu a porta e fez um gesto para que ela entrasse. O quarto estava limpo, a cama arrumada, seus livros ainda na mesinha ao lado da cama.

–Então aqui que você dormia.- Éponine olhou todos os poucos detalhes que havia no quarto. Enjolras não era muito de detalhes. Havia a mesa de estudos,com papeis ainda espalhados, a mesinha ao lado da cama com livros, uma poltrona preta em um canto perto da onde estava a Tv e o aparelho de DVD.

–É.- Enjolras respondeu dando de ombros. Éponine abriu o guarda roupas encontrando-o ainda cheio e olhou para o namorado,como se pedindo explicações.- Peguei só algumas peças. Eu estava saindo de casa,não podia sair e pegar tudo que foi comprado pelo dinheiro do meu pai, do mesmo modo que não podia sair sem nada. Quando comecei a trabalhar,o que sobrava eu comprava roupas.

Éponine assentiu fechando a porta e se sentando na cama.

–Acho que vou ligar para Cosette agora.- ela anunciou pegando o celular e Enjolras entendeu que ela estava pedindo que ele se retirasse. Como qualquer pessoa, Éponine não gostava que ficassem ouvindo sua conversa.

–Vou estar na sala. Você sabe com minha mãe e meu pai- Enjolras revirou os olhos ao dizer pai e foi para a porta.

–Tudo bem. Irei descer em um minuto.- Éponine sorriu e discou o numero de Cosette que atendeu no segundo toque.

–Onde você esta?- a voz de Cosette estava aguda, uma mistura de preocupação e nervosismo.

–Em Paris...

Em Paris? Mas por que aconteceu alguma coisa? Estamos esperando vocês aqui no aeroporto faz horas!

–Me desculpe, Cosette. Eu esqueci de avisar que Enjolras e eu não íamos hoje.

–E por que não?- Cosette começa a soar irritada.

–A mãe dele nos chamou para jantar e eu queria conhecê-la.- Éponine respondeu sabendo que Cosette não tinha como ficar brava com ela por causa disso, na verdade sabia que a amiga ficaria feliz.

–Awwn que fofo!- a voz de Cosette ficou calma mas só para logo estourar.- E custava pegar a porcaria do celular para me avisar? Ir outro dia jantar com a sua sogra? Você tem noção que eu to morrendo aqui? Combeferre está surtando, perguntando o dia inteiro quando você vai chegar, me escutou? O dia inteiro se você ia aparecer. Jehan sumiu com a namorada dele que eu esqueci o nome. Grantaire e Courfeyrac estão sendo... Grantaire e Courfeyrac. Joly e Marius foram achar um lugar para comprar comida e não voltaram até agora para me buscar. E você ta em Paris, relaxada, jantando com seu namorado e sua sogra? Lembrando que a idéia foi sua de vir para cá e agora você me deixa cuidando de um bando de criança!

–Mas eu não pedi para você ir junto.- Éponine rebateu ficando irritada.- Nós iremos amanhã de manhã. Até lá pensem em alguma coisa. Eles são seus amigos também, Cosette. Entendo que Combeferre quer ver Augustinne, mas é a primeira vez que tem um cara que quer me apresentar para a mãe dele e que eu tive vontade de conhecer. Então me perdoe por fazer algo por mim as vezes!- ela terminou de falar sem dar chance de Cosette responder e desligou o telefone com raiva.

A mãe de Enjolras estava mexendo em uma caixa de fotografias que havia pego, Enjolras observava a escada, enquanto o pai fumava na janela.

–Quanta educação, vir nos conhecer e ficar pendurada no celular.- Patrick comentou quebrando o silêncio.

–O senhor fala como se não deixasse as pessoas falando sozinhas para atender seus amigos.- Enjolras respondeu sem alterar a voz.- A única diferença que ela não está planejando roubar ninguém.

–Enjolras!- sua mãe chamou sua atenção e ele pediu desculpas com o olhar.

–Me desculpem a demora.- Éponine pediu entrando na sala.

–Algum problema?- Enjolras perguntou dando espaço para ela sentar-se ao seu lado. Éponine suspirou.

–Só Cosette sendo Cosette.

Natalie pegou um álbum de fotos e andou até eles.

–Mãe, acho que a Ponine não quer ver fotos.- Enjolras comentou se sentindo pouco á vontade por sua mãe querer mostrar suas fotos para ela. A mãe de Enjolras pareceu ficar um pouco desapontada, queria que a namorada conhecesse o filho dela.

–É claro que eu quero ver foto! São do Enjolras?

–São sim. Quando ele era criança.- Natalie respondeu feliz ao perceber o interesse de Éponine. Ela se levantou do lado de Enjolras para ir se sentar ao lado da caixa com vários álbuns de fotos.

Logo, Patrick e Enjolras estavam sentados do lado delas observando as fotos. Natalie fazia questão de mostrar cada foto e comentar cada detalhe, dizendo o que tinha acontecido aquele dia e cada vez que falava sua voz e seu olhar ficavam mais nostálgicos como se quisesse voltar para aquele tempo. Para as festas de aniversario de Enjolras. Para quando eles eram uma família. Ela ficou um bom tempo observando uma foto de Patrick e Enjolras juntos na formatura do filho da oitava serie.

Enjolras quando criança e adolescente não era o rapaz que chamava atenção. Meio pálido e magricelo, sempre teve as feições de ser sério. O tempo para ele lhe fez bem. Seus cabelos eram cacheados que davam o ar de inocência nele. Éponine preferia o topete que o namorado usava agora.

–Quem são esses?- Éponine pegou uma foto caída no fundo da caixa. Na foto estava Enjolras e mais quatro garotos. Enjolras ria, enquantos os outros tentavam fazer cara de durões. Usavam maquiagem preta,com roupas de couro falso apertado demais.

Enjolras riu ao pegar a foto,como se estivesse revivendo aquele momento.

–Combeferre, Jehan, Courfeyrac e Grantaire, quando decidiram ter uma banda no colegial.

–Não!- Éponine pegou a foto da mão do namorado.- Como eu não fiquei sabendo disso?

Enjolras deu de ombros.

–Faz tanto tempo.

–Quem era o vocalista?

–Combeferre.- Enjolras respondeu e Éponine riu divertida.- Inacreditável,não é?

Éponine fez que sim com a cabeça, ainda encarando a foto.

–Eles tinham talento.- Natalie falou esticando o pescoço para olhar a foto.

–É. Só se for para tocar para um bando de surdos.- Patrick comentou.

–Combeferre tem jeito.- Natalie insistiu.

–Como eu vou saber se ele parecia estar arrotando enquanto cantava?- Patrick rebateu.- Sorte sua de não tê-los conhecidos quando estavam no colegial.

Éponine riu, achando talvez que Patrick não fosse tão mal, talvez ela estava com a imagem que Enjolras criou do pai para ela.

– O que vocês vão fazer amanhã?- Natalie perguntou percebendo a tensão diminuir.- Vocês podem passar a noite aqui e amanhã podemos ir almoçar fora.- Éponine ficou imaginando que Natalie deveria estar muito desesperada para ter o filho por perto ou era uma mãe diferente e moderna que não se importava de ter seu filho e a namorada no quarto ao lado do seu.

– Nós vamos viajar amanhã.- Enjolras respondeu antes que Éponine pudesse recusar de maneira educada.

–Mesmo? Vão para onde?- a mãe de Enjolras perguntou desapontada mas ao mesmo tempo curiosa.

–Vamos visitar minha amiga na Dinamarca.

Patrick pareceu se interessar.

–Dinamarca? Como você vai pagar a passagem, Enjolras? A não ser que você tenha vindo aqui para pedir dinheiro.- Patrick provocou.

–Não vim pedir seu dinheiro.

–Ah. Então sua namorada vai bancar você? Que vergonha sustentado por uma garota! Porque afinal, com o salário que recebe naquele trabalhinho não deve dar nem para pagar a classe econômica.- o pai de Enjolras terminou de falar com um ar divertido enquanto olhava para o filho. Natalie já começava a ficar nervosa. Éponine percebeu Enjolras fechando a mão.

–Enjolras não trabalha mais como garçom. Conseguiu um estagio junto com Marius. E não vejo porque deveria ser vergonha se eu pagasse para ele ir viajar. Porém para sua infelicidade não sou eu quem estou pagando.- Éponine respondeu apertando a mão de Enjolras.

–Então você trabalha, Éponine?- Patrick perguntou e Éponine corou. Pensou em mentir, mas não via motivos para tentar agradar um homem como aquele. Se arrependeu de ter cogitado que ele era uma pessoa boa.

–Não. Apenas estudo.

–Estuda o que? Medicina? Jornalismo? Engenharia?

–Não,senhor. Curso artes cênicas.- Éponine falou assumindo uma posição de defesa. Patrick fez uma cara de deboche mas ficou em silêncio.

–Artes cênicas?- Natalie foi a primeira a falar.- Já fez alguma peça?

–Já sim. Algumas na cidade onde morava e apresentei Cabaret na faculdade como fechamento de semestre.

Patrick riu e se levantou apontando o dedo para Enjolras.

–Te falei que ela é uma puta.

–Patrick!- Natalie exclamou horrorizada. Éponine o olhava chocada.

–Francamente! Ela faz teatro. Quer ser atriz. Não se importa de ver sua namorada ser apalpada e beijada por outros caras? Me diga, já pensou em trabalhar em alguma coisa que te de futuro? Sabe uma coisa de pessoas decentes,não de vagabundos.

–Me desculpe,senhor. Mas acho que o senhor tem que rever seus pensamentos antiquados. Isso é um trabalho. Tudo é profissional. Isso envolve sentimentos e saber lidar com pessoas que enfrentam coisas que ninguém pode imaginar. Fazer teatro é uma coisa assustadora,porque é assustador ver pessoas expondo seus medos em um palco e desvendando sua alma. Fazer o que eu faço é muito mais decente do que o senhor faz. Pelo visto Enjolras não exagerou sobre você. Apenas agradeça aos céus pelo seu filho ser uma pessoa melhor que você. Quem sabe ele não pode te salvar de tanta ignorância.

Patrick estava vermelho de raiva.

–Peça desculpas para Éponine.- Enjolras falou em um tom serio e Patrick riu sarcástico.

–Eu não vou pedir desculpas para essa vadiazinha. Você que um dia vai me pedir desculpas por não ter ouvido quando eu te alertei.

–Patrick pare!- Natalie gritou começando a chorar. Nunca tinha visto o marido falando daquele jeito. Éponine olhava para a mãe de Enjolras e começou a se sentir culpada por algo que ela não sabia o que era.- O que deu em você? Não pode tentar ter um momento sem ofender nosso filho por mim?

Patrick pareceu se lembrar que Natalie estava ali e a olhou como se pedisse desculpas pelas lagrimas que ele causou.

–Eu não vou pedir desculpas.

–Uma pena que eu também não vou pedir desculpas. Nunca.- Enjolras falou em um tom frio pegando a mão de Éponine.- Vamos.

Enjolras saiu puxando Éponine pela mão e ela sussurou um “sinto muito” para Natalie,enquanto ainda assimilava o que tinha acabado de acontecer.

Quando já estavam bem longe dali, Enjolras parou e saiu andando deixando Éponine para trás. Ela entendeu que ele precisava desse momento para ele e o deixou.

O telefone de Éponine vibrou avisando que chegou mensagem, ela o pegou e leu.

“ Pelo amor de tudo, Ponine. Me desculpe pelo jeito que falei com você. Mas por favor me diga que vocês irão vir amanhã de manhã. Grantaire colocou uma idéia ridícula na cabeça de Combeferre e eu não consegui fazer ele não aceitar. Estou com medo. Jehan apareceu aqui no hotel com uma sacola de roupas estilo anos 60 e perucas como parte do plano.

Cosette”