When Smiled You Knew

Capítulo 6- Mon peuple


Eles esperaram um pouco no ponto. Éponine pulava de um pé para o outro,impaciente,mas depois de um tempo o ônibus passou e eles entraram. Éponine correu e pegou o lugar da janela.

–Espero que não se importe. Eu gosto de me sentar na janela.

–Para onde estamos indo,Éponine?-Enjolras perguntou curioso enquanto o onibus se afastava do centro de Paris.

–Estou te levando para conhecer seu povo- ela respondeu com um sorriso.

–Meu povo?

–Sim,vou te levar para fazer um tour pelos bairros pobres de Paris.Dos trabalhadores que merecem ser tratados como gente...Você já os conhece?

Enjolras fez que não com a cabeça.Ele sabia da situação das pessoas mas nunca havia ido visitá-los.- Então vou te mostrar...porque afinal se os protestos acontecerem....

–Eles vão acontecer!- Enjolras interropeu Éponine.

–Eles vão ser seus maiores aliados - Éponine continuou como se Enjolras não a tivesse interrompido -,só você tendo a confiança deles, você vai conseguir alguma coisa....E você sabe que vai poder contar comigo-Éponine bateu o ombro dela no de Enjolras.

–Como você sabe dos protesto?Que eu saiba você não foi a nenhuma das reuniões...a não ser que você estava vestida de homem.

–Non,non- ela respondeu rindo- Courf me contou...ele falou que você era um louco,que só sabia falar disso,que as vezes ficava ate insuportavel conversar com você...- ela colocou uma mão sobre a boca ao perceber que tinha falado o que não devia - mas acho que eu falei demais agora. Desolé.

Enjolras não disse nada. Então Éponine ficava conversando com Courfeyrac e eles falaram sobre ele.

–Como o assunto chegou até a mim?

–Eu estava na fila para comprar pipoca e ele foi me ajudar.Eu perguntei se finalmente eu iria conhecer o misterioso Enjolras. Mas ele me disse que você nunca ia no cinema com eles...mal eu sabia que o misterioso não era tão misterioso assim.- ela soltou uma gargalhada-Eu gosto de conversar com Courf,ele é divertido - ela ficou um segundo em silêncio como se estivesse tentando se lembrar de algo- Na verdade eu gosto de conversar com todos,todos são muito legais comigo...Legais como ninguem nunca tinha sido antes- Enjolras ficou na duvida se era para ele ter ouvido essa frase ou se Éponine tinha falado para si de tão baixo que foi.

Eles ficaram um bom tempo em silêncio.Éponine olhava para fora pensativa e Enjolras pensava em como ela tinha razão. Ele precisava conhecer a classe trabalhadora,eles eram um dos pontos crucias dos protestos e como teria protestos sem eles?

–Aqui nossa primeira parada.- Éponine falou se levantando e dando sinal para descer e Enjolras a seguiu.

–Como você vai me levar para tour sendo que você acabou de chegar ,Éponine?- ele perguntou enquanto desciam do ônibus .

–Ora eu tive tempo para conhecer a cidade. Conhecer os lugares onde ninguém olha, conhecer e conversar com pessoas que ninguém quer conversar...Aqui você deve conhecer.

–Conheço, a basilique du Sacré-Coeur,todo mundo conhece aqui,Éponine.

–Falou certo. Conhece. Conhecer todo mundo conhece.Tem que desvendar,descobrir aqui.- eles estavam subindo as escadarias da igreja- Tantas historias aqui,para serem descobertas...Vê? Daqui você pode ver Paris,a Torre. – ela virou Enjolras e pela primeira vez ele via a paisagem.- Vamos,rápido.Temos muito lugares para ir.Mas vamos até Montmarte...eu te desafio a uma corrida.- ela falou com um sorriso.

–O que?Uma corrida?Com você?- Enjolras perguntou incrédulo.

–Oui,M’sieur. Comigo. Qual o problema?Acha que não pode ganhar de mim?- ela perguntou mordendo o lábio inferior,fazendo charme para Enjolras.

Ele riu.

–Éponine,Éponie. Eu ganho facilmente de você.Não é justo um homem competir com uma mulher.Vocês são frágeis.

–Você me ofendeu agora.- ela falou em um falso tom ofendido- Agora mais do que nunca,quero competir e mostrar que posso ganhar de você.Começando...agora!- ela falou e saiu correndo e rindo.

–Hey...Isso não vale!- Enjolras gritou e saiu correndo atrás dela.

Eles corriam,desviando das pessoas,a maioria turistas. Alguns xingavam,mas nenhum dos dois paravam para pedir desculpas.

Éponine era miúda e isso a tornava rápida,mas não tão rápida quanto Enjolras que depois de um tempo conseguiu ultrapassá-la.

Quando chegaram no fim da colina eles estavam ofegantes. Éponine de apoiou nos joelhos e tinha dificuldade de controlar a respiração. Enjolras se encostou em uma arvore e limpou o suor da testa.

–De...dess...dessa...vez...você...venceu.Por...Porque..eu..eu...deixei-Éponine falou entre uma arfada e outra e Enjolras riu.

–Dessa vez e nas próximas também.

Éponine foi para o lado de Enjolras.

–Você não está nem um pouquinho cansado?Do tipo quase colocando o pulmão para fora?

–Não- Enjolras falou negando com a cabeça e dando de ombros- Isso não foi nada.

–Cala boca antes que eu deixe seu outro olho roxo- Éponine respondeu sorrindo enquanto voltava a caminhar e Enjolras foi ao seu lado.

–Se você tiver força para isso.

–Não me subestime,Jojo.- ela falou esbarrando no braço dele e os dois riram.

Eles entraram em um pequeno bairro,que tinha varias pessoas nas ruas vendendo,e muitos bares. Enjolras imaginou qual seria a reação de Grantaire ali,ou,o que era bem provável,se ele já conhecia.

–Montmarte- Éponine falou- esse é um bairro boêmio. Aqui é famoso pela vida noturna. Por mais que eu prefira vir aqui durante o dia. Aqui transformou-se em um ponto de encontro para modelos,bailarinas e artistas. Monet,Van Gogh era um deles. Aqui era a válvula de escape deles,e até hoje é para os artistas.

–Mas se artistas vem aqui...não pode ser considerado um bairro pobre.

–Por isso eu disse que eu gosto de vir aqui de dia.- eles adentraram mais no bairro e Enjolras pode ver pessoas dormindo chão,com seus poucos pertences. Vendedores ambulantes que faziam artesanatos e tentavam vender para os poucos turistas que ali estavam- Porque assim eu posso ver a realidade...tantas histórias tristes- ela falou com um pesar na voz.- De noite os policiais tiram eles daqui para atrair os turistas.Pela manhã eles são tacados na rua como lixos.Isso é uma ordem do governo. Um policial me contou isso. Uma das muitas leis que o governo não deixa a população saber.

Éponine entrou em um café e comprou varios pães e café e saiu distribuindo para as pessoas que ela ia encontrando na rua.Enjolras se perguntava da onde ela tirava tanto dinheiro. Éponine parava e conversa com as pessoas. Enjolas conheceu histórias que ele nunca ouvira antes,vidas destruidas e a maioria delas tinha alguma coisa a ver com o governo.

Como a mulher que perdeu o marido que era pedreiro em uma obra que o governo estava fazendo.Não deram o kit de segurança,o homem caiu de uma altura muito grande e quebrou o pescoço.Na epoca ela tinha duas filhas.Ela tentou trabalhar para manter,mas uma das meninas ficou doente e ela não teve dinheiro para pagar os remedios,que deveriam ser dado pelo o governo,e morreu. Ela perdeu o emprego.Começou a viver nas ruas com a outra menina.E depois de um tempo perdeu a filha para as drogas e nunca mais a viu. Ela ainda esperava o dinheiro da indenização que era dela por direito.

–Vamos,ainda temos muitos lugares para ir...mas dessa vez vamos de metrô...Vamos eu chamei,eu pago. Mas não vai se acostumando,viu?

Eles foram para a estação de metrô,onde Éponine comprou os bilhetes.

Enjolras parecia perdido vendo aquele monte de gente,ele nunca havia andando de metrô,já havia,claro andando de ônibus,mas sempre esteve acostumado a ter o carro ao seu dispor ou ir caminhando.

–Tome cuidado para não se perder de mim.- Éponine falou passando o braço pelo de Enjolras- Pode ser um pouco complicado a primeira vez que se anda. Vamos a nossa estação é para cá- ela falou o puxando consigo.

–Como você pode ter certeza que é a minha primeira vez?

–Você está olhando com curiosidade e torcendo o nariz por causa do cheiro da urina...- eles pararam em um fila esperando o trem que logo chegou,ele foi entrar mas Éponine o puxou.- Quero te explicar um negocio. Está vendo encima da porta?- ela perguntou olhando atentamente para o rosto de Enjolras e ele assentiu.- Então,temos que olhar para o letreiro, os que estiverem acesos significa os lugares por onde ele vai passar,os que estiverem apagados não lhe interessa, que vai te levar para outro lugar.

–Entendi. E esse é o nosso?

–Não – ela respondeu com um leve sorriso- é o próximo.

Eles esperaram mais um pouco e logo entraram no trem lotado. O que pode ser dizer que foi um pouco embaraçoso, pelo menos para Enjolras. Já que estava lotado eles foram de pé, Éponine estava na frente dele, e eles estavam bem próximos. As vezes ela olhava para cara de Enjolras e não conseguia segurar e ria da cara dele que estava meio vermelha.

Eles passaram por vários bairros, como Stalingrad, Jaurés, Château Rouge.

Já passavam das duas da tarde e eles estavam em um pequeno café, fazendo uma rápida refeição antes de voltarem a andar.

–Ainda tem mais para ver?- Enjolras perguntou e Éponine assentiu.

–Tem umas pessoas que eu quero que você conheça.

–Quem?- Ele perguntou curioso e Éponine passou um zíper imaginário na boca,e logo em seguida tomou um gole do suco.- Eu nunca tinha visto isso que vi hoje. Eu achava que conhecia a situação mas vejo que ela é bem pior...nunca vi tantos clochards como hoje nos bairros 20éme, 19éme ou a 18éme...e esses palhaços que se dizem homens da lei andando em patinetes motorizados para proteger a cidade – Enjolras falou apontando para um policial que passara na frente do café.- Dinheiro que poderia ser investido para ajudar essas pessoas.

–Realmente esses bairros são os piores quando se trata de ter clochards...mas é o governo que temos...Já terminei de comer,vai querer mais alguma coisa?- Éponine perguntou pegando a carteira.

–J'ai payé, Éponine- Enjolras falou pegando sua carteira.

–Aucune manière..eu te chamei,eu pago...talvez quem sabe quando você me chamar para sair,daí você paga.- ela deu um sorriso torto para ele e deixou o dinheiro na mesa.

Eles voltaram para o metrô e desceram na ultima parada,segundo Éponine.

–Favela Clichy-sous-Bois – ela anunciou assim que eles saíram da estação.

As pessoas olhavam com receio para eles.

–Não foi aqui, que teve aquela revolta por causa daqueles adolescentes que foram mortos em 2005?- Enjolras perguntou.

–Oui ,não os encare muito. Eles ainda são bem receosos com quem eles não conhecem.

Eles pararam em frente a uma casa grande,que mais parecia um barracão em más condições.

–Tem um trabalhinho que eu faço aqui todo sábado ..- ela puxou ele pela mão e abriu o portão.-Esse daqui é um “orfanato”- ela explicou e fez aspas com a mão quando disse orfanato.- Eu venho aqui para ensinar as crianças a lerem e a escrever...Elas vão ficar feliz de receber visitas.

–Por que “orfanato”?- Enjolras usou o mesmo tom que Éponine tinha falado.

–Porque nem todas aqui são órfãs,algumas crianças não se dão bem com os pais, ou os pais não tem condições de criar o filho,então eles ficam aqui até a situação melhorar.

–Eu nunca estive aqui antes.Você atravessa a cidade todo sábado?

Éponine fez que sim enquanto entrava e Enjolras a seguia. Assim que ela pisou na sala um garoto loiro gritou avisando que ela tinha chego.

–Olha gente! A Ponine chegou- ele correu e abraçou.Ela sorriu e o abraçou,outras crianças vieram e a abraçaram.Enjolras ficou ali de longe vendo.-E trouxe o namorado junto.

–Ele não é meu namorado,Gavroche...faça o favor de segurar sua língua. Crianças esse é meu grande amigo Enjolras. Digam oi para ele

As crianças falaram um oi em uníssono e Enjolras acenou.

–O que ele faz,Ponine?Ele faz as pessoas sorrirem igual a você?

Éponine pegou a meninha no colo,olhou para Enjolras e sorriu.

–Posso contar um segredo para vocês?- as crianças fizeram que sim com a cabeça.-Vocês prometem não contar para ninguém ?

–Prometemos.

Éponine se abaixou e as crianças se aproximaram dela.

–Ele é um super-heroi- as crianças soltaram um som de surpresa- Verdade,ele ajuda todas as pessoas que tem necessidades a ter uma vida melhor. Ele é o herói de mármore ,porque ele nunca descansa,sempre alerta quando alguém precisar.

–Se é segredo como você sabe?-Gavroche perguntou.

–O garoto chato. Porque ele é meu amigo...quem você acha que ajuda ele?

–Qual seu super poder?Ele responde dessa vez,Ponine.

Enjolras olhou para Éponine sem saber o que falar e ela falou sem som para Enjolras ler.

–Aah eu não posso contar. Éponine não deveria ter nem contado meu segredo para começar.

–Me desculpe, Enjolras. Da próxima vez não conto...Preparados para a aula?Vão indo para sala que eu já estou indo.

As crianças saíram correndo e entraram em uma sala.Gavroche permaneceu na sala encarando Enjolras.

–Que foi,Gavroche?- Éponine perguntou -Nunca te ensinaram que é feio encarar as pessoas?

–Não .Nunca me ensinaram. Eu não tenho pais lembra?

–Eu também não tenho. Mas sempre soube que é feio encarar as pessoas.

Gavroche fez uma careta.

–To de olho em você.

–Vai para sala logo,garoto- Éponine empurrou ele rindo.

–Vai dar uns beijinhos no seu namorado?

–Ele não é meu namorado.

–Aham- ele fez o gesto "to de olho em vocês" e saiu andando.Éponine e Enjolras riram.

–Ele cismou que você é meu namorado.

–Sem problemas...Obrigado por me deixar mais interessante para as crianças.

–Mas eu acho você um super herói. O rapaz que luta para lutar o mundo.Você é muito interessante, Enjolras...agora vamos senão Gavroche vai achar que ele esta certo. E Deus sabe como ele fica insuportável quando ele está certo.

Eles entraram em uma sala de aula improvisada.As crianças estavam sentadas no chão com caderninhos. Na parede tinha uma lousa improvisada.

–Gavroche onde está seu caderno?- Éponine perguntou enquanto tirava algumas coisas da bolsa.

–Não to afim de estudar....não vai mudar nada na minha vida- o garoto falou todo marrento encostado na parede.

–Mas...é claro que você quer estudar,Gavroche. Ou você quer ficar aqui para sempre?... Olha você tem que estudar se quiser se tornar alguém como....como...- ela ficou pensando em alguem- Como ele- ela apontou para Enjolras.

–E quem disse que eu quero me tornar alguém como ele?

Éponine revirou os olhos.

–Gavroche não seja mal educado! Agora vá pegar seu caderno...se não você não vai sair hoje.

Gavroche bufou mas foi pegar o caderno na estante contrariado. Éponine pegou uma cadeira para Enjolras se sentar e começou a dar aula.

Depois de um tempo Enjolras começou a auxiliar Éponine, ele ajudava as crianças com os exercícios de conta e ajudou Éponine a explicá-los também ,já que chegou um ponto que ela mesma não entendia o que estava falando.

–Acho que já deu para perceber que meu forte não são números .- ela sussurrou enquanto observava as crianças concentradas nos exercícios que ele havia passado.

–Sim. Me desculpe mas você é um desastre explicando matemática , se você fosse professora provavelmente todos os alunos reprovariam- ele sussurrou de volta e Éponine riu.

–Acho que já está na hora de acabar a aula- Éponine falou e as crianças gritaram.Ela se virou para Enjolras- preparado para ficar sujo?

–Acho não.

–Que peninha- Éponine fez uma voz infantil. As crianças já tinham guardado suas coisas e estavam saindo da sala correndo.- Muito bem. Esperem aqui que vou falar com Emeri para avisar que estamos indo para nosso jardim.

Éponine fez sinal para Enjolras a seguir e eles foram para um longo corredor.

–Jardim?

–Sim .As crianças estão montando um jardim e eu os levo todo sábado para plantar alguma coisa nova e cuidar do que já esta plantado. Vai ser divertido.- ela bateu na porta -Estou entrando e não estou sozinha.

–Então espere um momento,vou colocar minhas vestes.

Enjolras olhou para Éponine de forma questionadora.Ela riu.

–Ela é louca. Ela diz que não consegue cuidar da parte administrativa se não estiver nua.

–Mas e se alguma criança entrar e a encontrar despida?Você sabe que crianças nem sempre batem na porta.- ele falou em um tom indignado.

–Então eu não me responsabilizo pelo o que elas vão encontrar ao abrir a porta- a porta se abriu e uma mulher de uns 50 anos estava vestida com robe de oncinha.Ela era gordinha e tinha os cabelos vermelhos -Podem entrar,queridos.- ela deu passagem e Éponine entrou puxando Enjolras pela mão.A mulher fechou a porta e parou enfrente dos dois.

–Emeri,Enjolras. Enjolras,Emeri- Éponine apresentou os dois e Emeri esticou a mão para Enjolras.

–Prazer em conhecê-la.- Enjolras apertou a mão dela e ela o puxou mais para perto.

–O prazer é todo meu, Enjolras- ela falou o nome dele lentamente- Ele é seu namorado,Ponine?

–Não,ele apenas meu amigo, Emeri.

Emeri arqueou uma sobrancelha para Enjolras.

–Tem namorada,meu bem?

–Não,mademoiselle- Enjolras respondeu sem jeito.

–Me chame de Emeri,meu bem - ela falou alisando o braço de Enjolras- Sabe,eu tambem não tenho namorado... Para que ficarmos sozinhos,quando....quando podemos ter a companhia um do outro?- Emeri o puxou para mais perto e apertou a bunda de Enjolras,que arregalou os olhos assustado,Emeri estava mordendo o lábio inferior de maneira "sensual" para ele.

–Eu....bem...é....- Enjolras olhou para Éponine pedindo ajuda.

–Tudo bem. Deixe ele em paz, Emeri. Nós já estamos de saída .

Éponine pegou no braço de Enjolras e o puxou para fora,Emeri segurou o outro braço dele.

–Espero vê-lo de novo.- ela passou a mão pelo peito de Enjolras.

–Tchau,Emeri- Éponine puxou com força Enjolras e bateu a porta- Me desculpe. Ela é uma boa pessoa mas é um pouco....atirada demais.

–Sabe que eu nem tinha reparado nisso,Éponine.- ele respondeu irônico, Éponine revirou os olhos.

–Bobo,vamos logo antes que as crianças venham atrás de nós.

Em poucos minutos eles já estavam no espaço onde estavam montando o jardim. As crianças pegaram pás e regadores e se espalharam. Éponine estava pegando uma caixa em um quartinho de madeira que tinha ali.

–Enjolras, mon amour. Você poderia pegara aqueles sacos de adubo para mim?- ela perguntou enquanto passava por ele indo em direção de um canteiro. –Crianças hora de plantar!- as crianças saíram correndo gritando em direção a Éponine. Cada um pegou uma muda e começaram a plantar. Éponine deu um par de luvas para Enjolras e eles começaram a trabalhar junto com as crianças.

–É sempre essa gritaria?- Enjolras perguntou para Éponine que cavava.

–Sempre- ela respondeu e olhou atentamente para Enjolras- O que é isso no seu rosto?- ela apontou.

–Isso o que?

–Isso- ela passou a mão no rosto dele,sujando de terra.

C’est,ne restera pás de cette façon.

–E você vai fazer o que?- Éponine desafiou. Enjolras viu Gavroche chegando por trás de Éponine com o regador.

–Ponine,acho que está na hora de regar as plantas.- ela se virou para olhar Gavroche e nesse momento o menino passou o regador para Enjolras que jogou todo seu conteúdo em Éponine. Todas as crianças deram risadas.

Éponine estava com a boca aberta de incredulidade.

–Gavroche. Seu. Traidorzinho. – ela pontuou cada palavra.- Je vais venger*.- E saiu correndo atrás dele com a mangueira.

Em questão de segundo todos estavam correndo um atrás do outro com regadores,e tacando terra um no outro. Éponine ficava jogando água com a mangueira. Inclusive o intocavel Enjolras, que nunca se divertia,havia entrado na brincadeira e estava sujo de barro.

–Bien, bien. Hora de voltarmos.- Éponine gritou desligando a mangueira.- Emeri vai me matar quando ver o estado de vocês...

As crianças lamentaram,mas começaram a pegar as ferramentas que elas usaram e guardaram no lugar. Éponine tinha um sorriso no rosto, Enjolras percebeu, e era o primeiro sorriso sincero vindo dela que ela havia visto. O único que chegava nos olhos daquela garota misteriosa.

Eles seguiram para a casa e Emeri quase teve um infarto quando viu as crianças sujando a sala. Éponine deu a camiseta de Marius para Enjolras se trocar.

–Et tu?- ele perguntou.

–Eu não tinha roupa minha lá...tudo bem,nada que eu já não esteja acostumada. Vá se trocar.... Gavroche vai te mostrar o caminho.- e ela saiu.

–Sabe, eu gostei que você seja o namorado de, Ponine.- o garoto falou quando foi de encontro a Enjolras.

Enjolras foi para o banheiro que Gavroche indicou, lavou os braços e o rosto e trocou a camisa. Ele se despediu das crianças e foi encontrar Éponine do lado de fora,tremendo de frio.

–Nossa esfriou bastante,não?- ela perguntou trincando os dentes e começando a andar. Ela estava bem encharcada e suja.

Os dois pegaram o ônibus de volta para o centro de Paris, quando entraram todos olharam torto para Éponine que não se importou, ela se sentou em um banco encolhida e olhando para fora, os olhos dela adquirindo uma expressão triste e o rosto dela estava vazio, como se não tivesse sentimentos ali. Ela não falou e nem chegou perto de Enjolras , que achou melhor deixá-la com os pensamentos.

Quando já estavam chegando, Enjolras quebrou o silêncio.

–Éponine...o que quis dizer com “nada que eu já não esteja acostumada?”- aquela frase ficou martelando na cabeça dele.

Ela se virou lentamente para ele e deu um sorriso fraco, aquele sorriso forçado que ele tanto conhecia.

–Nada,mon amour. Certas coisas é melhor a gente não querer saber e nem tentar entender...Vamos?

Eles desceram. Éponine na frente e sem avisar começou a andar na direção oposta do apartamento de Marius.

Enjolras a ficou observando e concluiu que ela não queria ser seguida,então continuou seu caminho até o apartamento de Marius.