"As praias da Inglaterra são tão interessante como nas fotos?" eu perguntei enquanto pagávamos nossos almoços.

Harry estava me contando mais sobre a Inglaterra. Era o meu sonho ir lá um dia.

"Sim, apesar do clima ser frio na maioria das vezes, as praias são bastante frequentadas porque são muito bonitas. A minha preferida é a de Brighton." ele disse enquanto saíamos do estabelecimento com sorvetes nas mãos.

"Ouvi dizer que são pedrinhas no lugar de areia." ele assentiu com a cabeça e eu me imaginei num lugar daqueles.

Andamos um pouco até o momento em que eu vi uma placa indicando que estávamos próximos do museu de Andy Warhol.

"Eu tinha me esquecido que era aqui." eu pensei alto.

"Era aqui o que?" Harry perguntou roubando um pouco do meu sorvete.

"Ei!" eu o repreendi e ele deu um sorriso travesso. " O museu de Andy Warhol. Eu estava aprendendo sobre ele no colégio. Podemos ir dar uma olhada?"

"Sério mesmo? Estamos de férias." Harry reclamou jogando o recipiente do seu sorvete numa lixeira próxima.

"Por favor! Vai valer a pena." eu supliquei e ele torceu a boca.

"Você precisa melhorar sua visão sobre o que vale a pena. Além do mais não temos dinheiro sobrando para essas coisas" eu parei na sua frente, cruzei os braços e fiz biquinho.

"Por favooor. O horário de visitação gratuita já vai acabar prometo que não demoraremos muito." ele levantou uma sobrancelha e eu cruzei os dedos beijando os dois lados.

Ele respirou fundo e disse:

"Tudo bem, mas sem demora."

*****

"O cara fez um monte de impressão de uma foto promocional da Marilyn Monroe com tintas acrílicas numa tela, mas e daí? Eu também faço isso." Harry resmungou pela milésima vez.

"Porém, Styles, na época ninguém provavelmente arriscou ou teve a ideia de reinventar um movimento inteiro assim. Imagine as críticas negativas que ele recebeu por tentar algo novo? Quebrando regras, costumes e..."

"Eu juro que estou tentando prestar atenção em você, mas eu geralmente durmo nas aulas de artes." ele riu e eu o empurrei levemente.

"O horário de visitação gratuita termina em dez minutos." uma voz soou no alto falante e eu suspirei fundo. Apesar de ter sido por pouco tempo a visita deu para ver várias obras de perto. Pelo menos eu vi, já que Harry quase dormia em pé.

Fiquei surpresa ao constatar que o céu, que estava limpo e ensolarado quando entramos no museu agora era preenchido de nuvens carregadas que ameaçavam precipitar a qualquer momento.

"Uou, melhor irmos de volta para a kombi." Harry disse e eu concordei com a cabeça.

"Eu só preciso ir no banheiro rapidinho." eu passei a mão pela saia do meu vestido.

"Vou aproveitar para ir também." Harry disse eu apontei para um banheiro público. Um lado era dos homens e atrás era o das mulheres. " Quem sair primeiro espera o outro na outra porta."

"Okay." eu me direcionei para a parte das mulheres e logo procurei uma cabine vazia.

Na saída aproveitei para lavar as mãos e passar uma água no rosto. Resolvi desfazer o coque - que não parecia mais um coque - e voltei para o meu rabo de cavalo costumeiro com a minha franja caindo no rosto porque não tinha tamanho suficiente para ser presa.

Olhei no espelho ajeitando meus óculos e vi as evidências das noites mal dormidas. Dei de ombros não dando muita importância para aquele detalhe no momento.

Saí do banheiro e Harry ainda não estava me esperando. Fui em direção ao banheiro masculino e chegando perto pude ouvi-lo falando algo.

"Vingança? Você deveria falar isso para si mesmo, não acha?" ouvi ele dizer e cheguei mais perto. Ele estava no celular e não parecia estar muito contente.

"Eu nunca quis nada seu. Eu só não quero que você faça nada idiota. Caso contrário, eu juro que dessa vez eu deformo essa sua cara cínica. Espero que eu tenha sido claro. Boa tarde." ele desligou e eu dei uns passos para trás para ficar mais próxima do banheiro feminino. Não queria que ele soubesse que eu ouvi sua conversa pela segunda vez.

Nos encontramos e ele guardou o celular no bolso.

"Vamos?" Harry disse sem olhar para mim.

"Claro" eu murmurei me pondo a caminhar ao seu lado.

Scarlet estava consideravelmente longe de onde estávamos e no momento isso não era um bom sinal.

Além do silêncio inesperado que pairava sobre nós, uma tempestade estava bem próxima a expulsar de vez o dia ensolarado de algumas horas atrás.

"Tudo bem?" eu me arrisquei a olhar de canto para Harry que dava passos largos e rápidos.

"Sim" ele lançou um sorriso que não refletiu em seus olhos. "Só cansaço."

Eu apenas afirmei com a cabeça sem acreditar muito, algo me dizia que tinha algo a ver com a pessoa da ligação.

Ele parecia perdido em pensamentos e involuntariamente isso me incomodou.

Querendo ou não, nesses poucos dias de viagem, nós havíamos compartilhado muitas coisas um com outro, o que - ao meu ver - nos aproximou mais do que poderíamos imaginar.

Era estranho querer que ele soubesse que poderia contar para mim o que o incomodava, mas eu sempre fui assim com os poucos amigos que adquiri até hoje.

Um pingo gelado caiu no meu ombro e em alguns segundos vários outros se juntaram a ele. Harry olhou para mim:

"Precisamos parar em algum lugar ou vamos chegar na kombi encharcados." eu assenti mas era praticamente impossível achar algum lugar para parar. Os poucos comércios que tinham ali já estavam fora de seu horário de funcionamento.

E então como se vários baldes de água fria caíssem simultaneamente sobre nossas cabeças, começou a chover de fato.

Em poucos segundos, meu vestido estava ensopado.

"Precisamos achar um lugar rápido." Harry disse novamente, apressou o passo enquanto eu tentava acompanhá-lo.

Acabamos em um corredor de uma galeria que tinha várias lojas fechadas.

Alguns poucos bancos de mármore estavam distribuídos por toda a extensão do corredor.

Sentamos um na frente do outro sem dizer uma única palavra. Meu cabelo grudava na testa e aquilo me incomodava profundamente. Sabia que aquela chuva inesperada me renderia algumas horas de nariz escorrendo.

Harry tirou meu celular - que eu havia pedido para por em seu bolso - e colocou ao meu lado. Graças a Deus ele estava seco.

Pude ver que tinha uma mensagem do Tom e me apressei em ler.

"Desculpa pela nossa última conversa. Está sendo difícil ficar sem você. Sinto sua falta. Estou ocupado agora, mas vou te ligar mais tarde. Tom"

Meu coração se alegrou e minha roupa encharcada já não era um problema tão grande assim. Esperava que tudo estivesse nos conformes outra vez.

Harry respirou fundo e deslizou no banco ficando numa posição aparentemente desconfortável. Ele estava de mal humor, com certeza.

"Acho que ficaremos aqui em Pittsburgh um pouquinho mais." eu puxei assunto olhando para ele.

Ele apenas sorriu sem emoção e passou a mão pelos cabelos molhados. Eu resolvi focar na parede atrás dele.

"Você acha que vai demorar muito? Quero dizer, a chuva. " Eu o olhei novamente e ele deu de ombros como se aquilo não importasse. Eu bufei frustrada .

Eu levantei para torcer minha roupa numa tentativa de torná-la mais seca e Harry fez o mesmo com as suas.

Quando eu levantei os olhos percebi o quão próximos estávamos. Ele levantou as mãos na altura do meu rosto e por um momento achei que ele iria tocá-lo.

Envergonhei-me internamente por notar o quão desesperada e surreal era aquela suposição. Principalmente quando ele levou as mãos aos meus óculos e os tirou. Eu olhei fundo em seus olhos.

Quando ele abaixou o olhar para sua camisa eu soltei a respiração que eu nem percebi que estava prendendo.

Ele limpou e enxugou os meus óculos em parte seca da sua camisa e os colocou em mim novamente. Ele aproveitou e tirou minha franja grudada na testa.

"Obrigada" minha voz saiu baixa como um sussurro.

"Não tem de quê" ele disse simplesmente e ficamos nos encarando por rápidos segundos até que eu disse:

"Você está com raiva de mim?"

Achei que ele não responderia pelo tempo que ficou em silêncio. Porém, depois de eternos segundos ele levantou o olhar para mim.

"Por que eu estaria?" ele disse calmamente enquanto seus olhos verdes intensos me analisavam e eu me encolhi involuntariamente.

"Se não tivéssemos ido ao museu, estaríamos secos e seguros na kombi uma hora dessas." eu murmurei tão baixo que eu duvidei que ele tivesse me escutado.

Pela milésima vez, ele respirou fundo.

"Não se preocupe, Aster, eu não estou com raiva de você. Na verdade, estou com raiva de mim mesmo." ele me assegurou e antes que eu perguntasse o motivo ele se apressou em dizer:

"Porém não estou a fim de discutir o porquê."

"Ah" eu disse sentindo uma ponta de decepção e olhei para o chão

"Ei." ele chamou minha atenção tocando meu ombro e me fazendo voltar o contato visual com ele. "Já disse que gosto da sua curiosidade, mas confie em mim, o razão de estar assim não é nada interessante." ele sorriu e eu balancei a cabeça fingindo me conformar.

Sabia que a minha mente ficaria tentando decifrar o motivo.

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