When I Saw You.

Aquele em que Sesshoumaru descobre que tem sentimentos.


POV KOUGA

— Você já terminou de fazer o seu resumo? – Pergunto para a morena que olha fixo para o livro mas já tem meia hora que não muda de página – Higurashi?

Ela me olha fixamente por um instante. Um incômodo em meu estômago é automático.

— Desculpa, eu faço isso em casa e te mando por e-mail. Pode ser?

Tem algo errado. Sem piadas ou provocações. Quero perguntar o que aconteceu mas isso vai contra o que eu decidi. Ela olha o relógio e começa a guardar suas coisas. Antes de sair ela coloca um guarda chuva na minha frente.

— Você não pode levar chuva. – Ela pronuncia as palavras automaticamente pegando a mochila e indo em direção a saída da biblioteca. Porque teima em se importar comigo?

Eu a vejo sair pela porta e guardo minhas coisas correndo.

- Ei, espera! – Corro atrás dela que já saiu da porta principal mas ainda está sobre o teto. Uma chuva fina mas insistente cai.

— Eu sinto muito por ter feito você perder tempo, Kou-, ah, Hasegawa-kun. – Ela diz sem me olhar diretamente.

— Eu sabia que era você cantando no hospital, eu sempre soube. Mas pra que me mandar aquilo?!

Kagome respira pensando por um minuto no que dizer, eu conheço todas as suas expressões e sei que está mentindo antes mesmo de dizer.

- Eu sei quando está mentindo. É melhor nem tentar. – Ela suspira rendida dando um leve sorriso.

— Eu estava chateado porque você está agindo feito um babaca comigo e pensei que talvez aquilo fosse te magoar um pouco. Talvez um pouco de remorso? – Ela se vira de costas – Eu decidi que ia respeitar a sua decisão, mas é a coisa mais difícil que eu já fiz na vida.

Um silêncio paira entre nós e tudo que conseguimos ouvir e a chuva batendo contra o chão.

- Hoje eu não posso ficar aqui fingindo estar bem com isso. Apenas, use o guarda chuva e não fique doente. – Ela sai andando na chuva e eu fico ali parado.

Antes eu jamais deixaria isso acontecer. Eu jamais a deixaria sozinha quando está sofrendo. Eu sei que o motivo não sou eu, mas não ajudar, piora tudo.

*FLASH BACK ON*

— Kagome-chan, sai da chuva! Eu sei que está chorando. – Eu digo pra menina que chora como se não houvesse amanhã achando que ninguém vai perceber.

— Eu não estou chorando! – Ela diz abraçando os joelhos ainda mais mantendo um sorriso no rosto – Você acha que sabe tudo sobre mim mas não sabe!

Toda vez que chovia ela corria pra fora e sentava por um tempo, aproveitando a chuva para chorar o que não podia chorar normalmente.

- Você acha que porque está chovendo pode chorar, assim ninguém perceberia não é? – Coloco um guarda chuva sobre ela que esconde o rosto emburrada – Eu sempre vou saber quando você estiver triste boba.

Nesse momento ela começa a chorar de soluçar e eu me sento ao seu lado nos cobrindo completamente com o guarda chuva amarelo.

* FLASH BACK OFF *

— Você ainda faz isso. – Murmuro pra mim mesmo olhando para o guarda chuva na minha mão. E amarelo como aquele. Eu fico olhando até vê-la sumir pela chuva – Kagome.

POV INUYASHA

— Você fica olhando o celular, está esperando alguma mensagem de alguém especial? – Kikyou diz deitada em minha cama como se tudo fosse como antigamente.

— Porque você esta aqui mesmo?

— Eu já disse, você está em negação. Eu preciso estar presente para lhe provocar e lembrar que eu existo. – Ela levanta as pernas cruzando elas no ar mostrando sua calcinha preta pra mim. Eu me levanto incomodado.

— Vá embora. Eu não tenho mais interesse em você, quantas vezes preciso te dizer isso ... – Minha voz soa ríspida e a garota levanta se aproximando de mim rápida e rasteira.

Ela me dá um beijo intenso me pegando desprevenido, em seguida, me encara.

— Você me ama. Não é uma coisa que consiga mudar. – A arrogância em suas palavras me faz ter ódio de mim mesmo.

Ela limpa o batom da minha boca antes de pegar a bolsa e sair do meu quarto. Meu celular toca e eu pego sobressaltado.

— A Kagome está com você? – Sesshoumaru pergunta tentando disfarçar a irritação.

— Não ... – Ele desliga na minha cara – Mas o que ... – Pego meu casaco e corro pra casa principal. Já passou das 22:00, se ela ainda não apareceu aconteceu alguma coisa.

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— Você só notou isso agora?! – Se eu não o conhecesse, diria que está realmente preocupado.

— Eu não achei que ela faria isso. Eu contei tudo. Sobre o anel, sua mãe, Naraku. Depois daquela ligação o que eu poderia fazer? Quando cheguei do trabalho ela não estava em casa!

Pego o celular ligando para a Sango.

— Sango! A Kagome está com você?

— Não. Ela ia fazer um trabalho com o Kouga hoje a tarde, depois ia para casa ... – Ela diz desconfiada – Porque?

— Ela ainda não apareceu. Sango, sabe onde ela poderia estar? – Olho pela janela e vejo a chuva caindo forte.

— Vou procura-la. Me encontre na frente do colégio agora! – Ela desliga sem me deixar terminar.

Estou saindo quando o Sesshoumaru vem atrás de mim.

— Você fica. – Eu o empurro e ele cerra os punhos – Eu sempre soube que você era babaca, mas achei que cuidaria dela depois de tudo.

Ele não responde. Apenas me encara até eu sair.

POV KOUGA

“Você é tão bonito

Mas não é por isso que eu te amo

Eu não tenho certeza que você sabe

Que a razão que eu te amo

É você, sendo você, só você

Sim, a razão de eu te amar

É por tudo que nós passamos

E é por isso que eu te amo

Mesmo que a gente não consiga superar

Estarei sempre aqui para você

Escuto sua voz no áudio a capela, sua voz é tão bonita como eu sempre lembrei. Olho pela janela e vejo como a chuva está pesada.

Será que ela voltou pra casa? O toque do meu celular me desperta. Sango. Ela não fala comigo a um tempo.

— O que aconteceu? – Digo com um nó na garganta.

— A Kagome está com você? – Sua respiração está acelerada e ela parece estar correndo.

— Não ... Ela saiu cedo do colégio. Nem terminamos de fazer o trabalho.

— Kouga, ela não apareceu até agora. Ela não estava bem, você deve saber para onde ela iria.

Talvez eu saiba. Eu não respondo então a garota continua.

— Isso é sério. Eu sei que você não quer se envolver, mas eu vou atrás dela. Me diga onde ela pode estar! Você não é esse ser frio e vazio que quer ser! – Ela praticamente grita comigo.

— Eu acho que tenho uma ideia ... Vou te mandar uns lugares que ela costumava ir.

— Certo. Inuyasha vai ajudar. Manda agora os endereços! Pra mim e pra ele! – Ela diz desligando em seguida.

Depois de enviar os endereços olho para o guarda chuva amarelo sobre a mesa. Inuyasha e Sango irão encontra-la, mas eu quero encontra-la primeiro. Sua voz continua ressoando em meus ouvidos pelo fone de ouvido.

* FLASH BACK ON *

— Nada vai mudar, não importa o que acontecer ... – Ela cantarola colocando uma compressa gelada em minha testa.

— Chega, eu já to bem. Cala a boca, pelo amor de Deus! – Eu a puxo para cima de mim que me abraça carinhosamente quando cai.

— Você ainda está quente, eu só saio daqui quando você melhorar. Nem adianta me expulsar. – A morena me dá um beijo na bochecha se aninhando em mim – Amo você, Kouga. Quando você fica doente desse jeito eu tenho tanto medo ... – Meu coração acelera e eu não sei o que dizer. Na verdade sei, mas não consigo. Ela se levanta me puxando – Vai tomar um banho gelado para abaixar essa febre.

— Não vou, não vou. NÃO VOU! – Me enrolo nas cobertas e ela me belisca – AI!

— Se não for, vou continuar cantando. – Eu me levanto na mesma hora e ela me apara.

— Eu vou, mas vai ter que mostrar o quanto me ama parando de cantar essa musica irritante – Digo emburrado e ela ri. O som da sua risada me faz sentir melhor instantaneamente.

* FLASH BACK OFF *

Pego minha mochila e coloco um moletom e uma manta. Pego uma garrafa e encho de café. Uma capa de chuva e saio em direção ao reservatório de água da cidade.

Espero mesmo que ela esteja lá.

—-

Durante a temporada de férias é aberto já que a vista é linda. Mas a Kagome tem a chave já que a propriedade é do seu avô.

Subo as escadas correndo na chuva mal segurando o guarda chuva. E lá está ela, sentada no banco do mirante, embaixo da chuva. Abraçando os joelhos como naquele mesmo dia. Ela está tão absorta que só percebe a minha presença quando eu coloco o guarda chuva sobre ela.

A surpresa em seu rosto parte meu coração.

— Você acha que porque está chovendo pode chorar, assim ninguém perceberia não é? – Ela está pálida de tanto tempo embaixo da chuva gelada – Eu sempre vou saber quando você estiver triste boba.

— Você ... Me encontrou. Porque? – Ela limpa as lágrimas imperceptíveis graças a chuva.

— Porque eu sempre vou te encontrar. – Me sento ao lado dela nos cobrindo com o guarda chuva – Dói estar com você, mas dói mais ainda não estar.

Ela deita a cabeça no meu ombro chorando compulsivamente.

— Me perdoe, eu devia estar aqui. – Digo baixinho – Eu amo você Kagome. Eu amo tanto, que quis te esquecer ... Por favor, me perdoa.

— Kouga, eu te odeio! – Ela se agarra a mim e eu a abraço forte – De todas as pessoas no mundo, você era a única que eu pensei que não iria me magoar.

Eu a aperto um pouco mais. E ficamos assim até seu choro diminuir e ela cair no sono em meus braços.

“É por isso que confio em determinadas certezas

Algumas coisas nunca mudam

Como a sensação da sua mão na minha

Algumas coisas são sempre verdades

Algumas coisas nunca mudam

Como o quanto estou te abraçando forte

— Desculpa ... – Eu a coloco sobre meu ombro e a levo até dentro do reservatório. Coloco o moletom nela e a manta. Em seguida a pego no colo e a levo para a casa.

— Sango, eu a encontrei. Vou leva-la na casa do Inuyasha. – Deixo uma mensagem de voz pra ela.

POV SESSHOUMARU

01:00 da manhã. A campainha toca e a Kagome está desacordada nos braços do Hasegawa.

— Eu vou subir com ela. – Ele diz e concordo a contragosto.

Eu o leva até o quarto dela. Ele a coloca sobre a poltrona e eu toco seu rosto gelado, ela está completamente embalada na manta encharcada. Começo a tira-la mas o garoto segura meu braço.

— A Sango está chegando. – Ele me encara sério e eu respiro fundo encarando a garota desfalecida na minha frente. Não vou criar caso agora.

— Onde ela estava? – Pergunto impaciente me levantando andando de um lado para o outro.

— Eu não vou dizer.

— O que? – Eu vou jogar esse garoto pela janela.

— Se você tiver que saber, vai ser porque ela vai contar. – O garoto vai até o banheiro e pega uma toalha secando o cabelo dela. Eu sei o quanto Kouga é importante para Kagome e o quando ela estava sofrendo pela falta de sua amizade.

Os porta retratos estão todos sobre a mesinha, como estavam em sua casa. Eu não vou me meter nem mesmo se houver 1% de chance deles se entenderem.

— Obrigada. – Digo o surpreendendo. Ele me fita um tanto desconfiado – Você é muito importante para ela. – Eu indico as fotos com a cabeça para que ele veja que ela nunca o apagou de sua vida.

— Eu não devia ter demorado tanto para ir atrás dela ... – Ele murmura cheio de remorso ao ver as fotos. Todos nós erramos.

— Eu vou pegar uma roupa pra você trocar, e fazer um chá. – Saio do quarto deixando a porta escancarada. Quando estou descendo dou de cara com a Sango e o Inuyasha subindo. Sango passa batida mas eu chamo o Inuyasha que desce comigo novamente.

— O que é?! Heein?! – Ele diz irritado, todo molhado.

— Kouga está lá com ela, Kagome acabou dormindo. Vá trocar de roupa. – Digo o encarando um tanto envergonhado.

— Eu estava lá fora procurando por ela, vou vê-la! – Ele tenta sair mais eu o seguro pelo braço.

— Vá trocar de roupa, traga umas para o Kouga. Ai sim, você pode subir e ficar com eles. – Encaro o fogão na minha frente.

— Você devia ter vergonha de si mesmo. Isso tudo foi culpa sua, ela podia ter morrido! – Meu meio irmão trava seu maxilar.

— Eu não sabia onde procurar. Eu não sabia o que tinha acontecido. Eu não sabia o que fazer. – Pela primeira vez na vida não discuto com Inuyasha – Você tem razão dessa vez, foi culpa minha. Isso não vai mais se repetir. – Quando eu o olho, vejo que ele esta mais perplexo do que enraivecido.

Inuyasha parece um garoto assustado, como se tivesse visto algo jamais imaginado. Ele sai da cozinha e eu coloco água pra ferver.

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Quando eu subo com a bandeja de chá Sango já trocou a roupa da Kagome e esta sozinha com ela no quarto.

A garota coloca uma toalha morna em seu rosto tentando aquece-la.

— Aqui. – Lhe entrego uma xícara e ela me dá a toalha morna para continuar o que estava fazendo. Eu me sento ao lado da Kagome e passo a toalha em seu rosto gentilmente mesmo com a mão tremendo. Seus lábios estão quase azuis. Isso me deixa tão puto, tão puto que agradeço quando a menina toma a toalha da minha mão novamente.

— Tudo bem, eu faço isso. – Ela diz em um tom tranquilizador – Você deveria ir descansar. Eu vou dormir com ela e os meninos devem ficar aqui também.

Eu concordo com um aceno de cabeça sem tirar os olhos da minha esposa dormindo profundamente na cama.

— Sesshoumaru? – Sango me chama a atenção – Todo mundo erra, só precisa aprender com seus erros e não os cometer novamente.

Minha voz parece sumir. Eu não consigo falar. É como se eu estivesse em pânico por dentro. Eu quero abraçá-la. Quero deitar com ela e esquentar seu corpo.

Mas não posso.

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Não consigo dormir. Passo o resto da madrugada rolando na cama e volta e meia andando de um lado para outro.

Silencio demais. Uma noite ainda mais longa.

Quando o sol começa a subir dou uma olhada no quarto da frente e vejo Sango e Kouga dormindo ao lado da Kagome. Inuyasha está na poltrona dormindo também.

Eu não entendo o que estou sentindo mas acho que é gratidão. Eles salvaram a minha garota.