2017 – Nova York

– Não seja absurda.

Não soube dizer se foi pela palavra escolhida ou pelo seu tom de voz. Ela simplesmente teve vontade de matar ele ali, assim talvez fosse mais fácil descontar tudo o que ela sentia de ruim dentro de si.

– Não seja babaca! – devolveu de forma feroz. Como uma leoa ferida por que era assim que ela estava.

– Eu só não estou acreditando que estamos vivendo esse tipo de situação a essa altura da nossa história. – ele ignorou o que ela disse, como se não fosse nada. – Eu deveria sair por essa porta. – Mesmo com as palavras ele não moveu nenhum músculo em direção da saída não só do ambiente como também de tudo.

– Estamos vivendo isso porque eu tenho direito de saber. Com quem foi? – ela voltou a questiona-lo, o empurrou e literalmente o colocou contra a parede. Anahí só não esperava a reação de Christopher.

Ele travou os dentes como se fosse alguma forma de se conter, após ter sido empurrado foi como tivesse reacendido uma chama dentro de si, de raiva. Voltariam assim como o começo dessa discussão, aos gritos. Foi fácil para ele encontrar os braços de Anahí, já que estava tão próxima, aperta-los e por fim empurrar o seu corpo com menos força do que ela fez. Ainda assim ela ficou paralisada por não esperar, os olhos dele estavam tão vidrados nos dela que poderia decifrar a raiva em ambos. Sua expressão fechada estava escancarada “Não faça isso de novo!”

– Você não tem direito algum sobre mim. – ele falou baixo, ainda assim ela não se deixava enganar pelo tom ameaçador, sentia ele apertando seus braços para que ela entendesse.

– Eu tenho. – Ela levantou a cabeça e manteve o olhar tenso de ambos, sabia que levava desvantagem física sobre ele, mas tinha em mente por pior que fossem seus sentimentos, Christopher, não a machucaria como outros. Ele também não conseguiria mais do que já lhe fez.

Ele avaliou o seu olhar e o nariz empinado dela, estavam medindo forças. Travou ainda mais os seus dentes, se é que era possível, era de algum modo confortável ver que ela o enfrentava, durante os anos Anahí passou a ter uma serenidade que não tinha e ao contrário dele que aprendeu que não podia aguentar tudo calado. Geralmente nas discussões de ambos ele passava a levantar a voz, era como um cachorro bravo que latia muito, mas não mordia. Por mais próximos do equilíbrio que ambos estivessem, haviam momentos como aquele no qual os dois estavam em sintonia, a da raiva, acusações, pressões e mágoa.

Por fim, cedeu a pressão física que estava fazendo nos braços dela, ele tinha que se controlar, gritar não daria em nada. Tinha vontade que ela cedesse também a pressão que fazia a ele.

– Não tem o direito de me cobrar nada a parti do momento que você pediu um tempo pra mim. – ele falou tão perto dela num tom acusatório, já que se sentia acuado. A raiva parecia dar lugar aos outros sentimentos dentro de si. No entanto Anahí sentiu suas palavras como se fosse outro empurrão, tanto que encontrou na parede atrás de si, mas estava encurralada. – Você terminou comigo!

– Eu fiz o que eu achei que era certo para nós dois.

– Quando é que você vai entender que o certo para nós dois é ficarmos juntos? – Ele perguntou indignado com a justificativa dela. Tanto que se afastou. No mesmo instante Anahí sentiu frio, sensação estranha não só porque ele não estava mais perto, mas por sentir como se já tivessem vivido uma situação como aquela. Porém, os lugares estavam invertidos. – Eu fiquei tão surpreso com tudo que não tive nem como discutir, estava cansado. Estou cansado agora.

Ela fixou o olhar que estava perdido nele que estava meio curvado agora, como se carregasse peso demais. Estavam discutindo há horas desde que ela entrou no quarto de hotel dele, nenhum dos dois fez menção de sair do quarto porque sabiam que tudo precisava ser sentido ali, dito agora.

– Eu preciso saber quem é! – Ela afirmou.

– Por que isso faz diferença pra você? – Ele usou um tom sério.

– Porque é importante para mim. – ela teimou. Soube ali que não teria mais jeito, ela continuaria com aquilo até descobrir, só estava dando a chance para ele dizer.

– Foi com a Natalia. – ele se rendeu nessa questão, liberando então certo alívio pelo corpo, o que não foi tão bom porque de certa forma já sabia o que estava por vir e se sentiu tenso por isso.

O nome ecoou pela cabeça de Anahí. Várias vezes, mordeu o lábio inferior e negou com a cabeça, teve vontade de voltar a gritar com ele, de bater, mas tudo que fez foi processar tudo. Natalia, a conhecia há anos, desde que trabalharam juntas na novela depois disso no tempo de toda a banda os encontros foram quase nulos era verdade, só que a banda acabou, Christopher e ela tinham dado um tempo do namoro e isso foi que abriu espaço para novos amores. Ela namorou um tempo Rodrigo depois de ver que Christopher tinha novas paixões diárias.

A lembrança mais forte foi quando houve uma festa na casa de alguém só não lembra o porquê, mas estava desacompanhada aquela noite provavelmente alguma viagem a trabalho de Rodrigo. Christopher já estava na festa e se lembrou do momento em que Natalia chegou, talvez antes de que ambos se dessem conta, ela sabia que o interesse seria mútuo. Não deu em outra, depois que ela foi embora da festa soube por Christopher que ambos ficaram. Passou a implicar com Natalia, sabia que ela era diferente das outras, seu ciúme era maior. Assim como namoro de Anahí não deu certo, o romance entre Christopher e Natalia também não, ambos terminaram praticamente ao mesmo tempo assim como os dois de consolaram.

A última lembrança que Anahí teve foi da última vez que viu Natalia, não fazia nem quatro meses, estavam num evento. Por mais que Natalia não estivesse sozinha algum instinto da Anahí lhe dizia algo diferente, o olhar de interesse estava ali, aguentou as brincadeiras dele depois, mas no fundo sabia que a atração de ambos era muito forte.

Então com sua mágoa em evidência, Anahí soltou um riso sem alegria para depois dizer para ele olhando em seus olhos, porque queria mais da verdade.

– Agora vai negar a atração que sente por ela? – não negou o tom de acusação.

– Anahí... – Christopher foi interrompido antes de falar qualquer outra palavra.

– A ligação que vocês têm é tão forte. Meu ciúme esta me matando por dentro, eu só consigo pensar no estado que você ficou quando vocês terminaram por que ela voltou para o ex-dela. Em quantas piadas você fez porque eu estava implicando com ela. Em quantas vezes você me disse que ela não era nenhuma ameaça pra nós dois.

– Tudo o que eu lhe disse era verdade, só que a partir do momento que eu fiquei solteiro, tudo mudou. – Christopher tentou justificar, mas o olhar decepcionado dela estava lhe deixando pior do que se ela tivesse explodido mais uma vez naquele dia.

– O que mais me doi é pensar que num momento estamos juntos trocando juras de amor e no outro você esta com ela aos beijos. – Anahí não evitou os olhos transbordar de lágrimas e chorar, detestava aquela situação, se sentir mais exposta a ele. Entretanto aquilo era ela, um furacão de emoções e se sentia traída.

Christopher não teve palavras para aquilo, não sabia simplesmente o que dizer. E talvez palavras só piorassem tudo, ele estava solteiro e saiu com alguém de quem gostava da companhia, por que razão se sentia tão mal com tudo aquilo? No fundo sabia que nada do amor que sentia por Anahí foi alterado, nenhuma atração grande por nenhuma mulher superaria isso. A indiferença de Anahí sim, ela preferir terminar o relacionamento por que o trabalho estava corrompendo a convivência dos dois, o machucava. Mas, o pior de tudo era se dar conta de que ela preferia ficar sem ele do que lutar pelo que ambos tinham que não lhe deu chances de nada, preferia renunciar o amor de ambos. Aquilo o dilacerava.

Por isso e por mais o que sentia que ele foi a passos lentos, porém firmes até ela e ainda que se negasse a abraçou forte. Assim a fazendo chorar ainda mais. Ele entendia perfeitamente o que ela estava sentido, já que no passado foi ele na mesma situação quando descobriu que ela o traiu, se sentiu sem chão. Ela precisava de aconchego. De entender que a dor passará, ainda que tenha sido ele que tenha lhe causado tanto.

Tanto.Eu te amo tanto.” Ela disse numa voz abafada, o arranhando, ele ficou mais uma vez sem saber o que lhe responder, palavras ainda seriam inúteis diante da atitude dele. Mas, ele amava também, tanto quanto ela. Só que não passaria por cima da decisão de ambos de não estarem mais juntos.

Passou algum tempo enquanto Christopher praticamente ninava uma Anahí mais calma em seus braços, eles se assustaram com as batidas na porta, estavam imersos um no outro.

– Anahí? Você esta aí? Estou preocupada com você! – Neni bateu na porta incerta, tudo estava quieto demais não tinha notícias da irmã havia algum tempo. Olhou pra o lado e viu o marido a espera de algo, Jorge estava sério, entretanto incentivou com a cabeça ela mais uma vez bater na porta. – Christopher? Por favor. – ela deu mais algumas batidas.

– Estamos aqui! – A voz de Christopher saiu distante pela porta trancada desde que Anahí entrou ali. Neni imediatamente se alegrou, por um ligeiro momento ficou arrependida em ter dito que viu Christopher acompanhado nas ruas da cidade americana, talvez aquilo não lhes dizia respeito, mas ela era sua irmã e estava num estado desolado em casa.

Não imaginou que horas depois da notícia, Anahí estaria no mesmo hotel que eles é claro que não procurava a irmã e o cunhado que estavam numa viagem romântica enquanto os filhos estavam com os avós no México. Procurava por Christopher, apenas por ele. A contra gosto do marido levou até onde descobriu ser o quarto dele, pensou em esperar a saída da irmã, mas quando a discussão ficou maior resolveu ir até a recepção do hotel para o caso de reclamarem do barulho. Passou-se duas horas, quando retornou ao andar estava no completo silêncio, aquilo a apavorou, chamou algumas vezes e ninguém respondeu, foi atrás do marido e estavam ali na porta. Talvez Anahí e Christopher só não tivessem a escutado.

– Você precisa ir! – Christopher disse olhando para baixo, na altura do olhar de Anahí que prontamente negou, queria ficar ali com ele. – Não pode ficar aqui.

– Você quer que eu vá embora? – Anahí questionou triste sobretudo.

– Eu estou tentando fazer o que é o melhor para nós dois. Assim como você fez. – Ele soltou um suspiro, não tinha certeza se o que estava fazendo é o melhor para ambos. Fez uma carícia no rosto dela enquanto enrugava a testa indeciso sobre suas ações, ela fechou os olhos para senti-la. – Não vou te fazer bem agora, vai com sua irmã ela vai cuidar melhor de você, além do mais eu viajo amanhã a trabalho pro Texas.

– É isso que você quer? – Ela perguntou com os olhos que diziam que apesar de tudo queria estar com ele, só que parecia tarde e confuso demais para Christopher.

– Foi isso que decidimos! – Ele falou mais seguro.

Sem dizer mais nada se afastaram e ela foi caminhando pelo quarto, talvez mais destruída do que chegou. Pegou o cartão pra destravar a porta, não queria mais olhar para trás, queria se afastar daquilo. Só que Christopher não lhe deu essa opção naquele instante. Chamou-a.

Relutando ela virou metade do corpo para dar atenção a ele.

– Eu sei que deve estar me odiando neste momento, que sou um canalha pelo o que eu fiz. Porém, no dia do nosso casamento lhe disse que sempre estarei com você, não retiro o que falei. – Anahí estava tão ferida pela recusa dele de estar com ela que não conseguia esboçar nada. Então depois de encarar os olhos castanhos atormentados dele se virou para abrir a porta. - Se algum dia puder me perdoar por tudo, só isso que lhe pedirei agora.

Escutar aquilo doeu muito, talvez mais do que no passado porque foi isso que ela disse para ele, não sabia se foi de propósito. Queria poder abrir ainda mais seu coração e lhe dizer que faria isso, assim como ele o fez, mas estava ferida por demais e tudo o que restava ali era cinza do que um dia fora colorido e tão bonito para ela.

Destravou a porta, não quis mais olhar para ele porque apesar de tudo ainda o amava.

When I'm gone, you'll need love to light the shadows on your face

The Calling

https://www.youtube.com/watch?v=iAP9AF6DCu4