– Alô? – a voz masculina estava grogue de sono e saiu mais rouca que o normal.

Carajo!– o celular foi afastado da orelha, mas o eco do som da palavra já se repetia com força dentro da cabeça dele. – Que diabos, Christopher! Essa é a trigésima quinta vez que eu te ligo. Onde você está? – Só então Christopher abriu os olhos arregalados, alguém te perguntar onde você está dessa forma, não deveria ser algo bom. Só viu o seu corpo coberto e fechou os olhos novamente por conta da claridade. Maite não lhe deu mais tempo. – Quer saber não importa! Eu só quero te dizer que estão todos procurando por você como loucos, pela sua voz imagino que está acordando agora, então vou te informar que são quase três da tarde e por esse horário já devíamos estar todos no aeroporto. Só que houve algum problema e nossas passagens foram adiadas, enfim... Eu só tenho um pedido a te fazer.

– Qual é? – Christopher suspirou se esparramando no travesseiro ainda de olhos fechados.

– Esteja no hotel em meia hora! Fui clara? M e i a hora. No máximo! – o tom de Maite foi ameaçador.

– Esta bem.

– Ótimo, estou te dando esse tempo porque você vai acordar a onça, então tem que ter alguns minutos de vantagem, mesmo assim estejam aqui o quanto antes, não sei mais o quanto posso acobertar vocês dois!

– Obrigado!

– Ah não se preocupe, já estou pensando numa excelente forma dos dois me agradecerem, tenho que terminar de arrumar minhas malas agora, nos vemos daqui a pouco. Tchau! – Ela não deu nem tempo dele abrir a boca para se despedir, ela já tinha desligado. E ele notou que por mais autoritária e especialmente mandona ela tivesse sido, tinha preocupação por trás de tudo.

Bom, não tinha muito tempo se levantou preguiçoso para sentar na cama, passou as mãos no rosto para espantar o sono, só o ato de sentar fez algo dentro de sua cabeça estourar... aquilo só podia significar uma coisa, ressaca! Fez uma careta de dor. Seria um longo dia.

E precisou desse pouco tempo para notar algo diferente na sua mão e isso fez com que afastasse lentamente para que enxergasse melhor, arregalou os olhos mais uma vez e prontamente ficou de pé. Outra descoberta, estava completamente pelado. Olhando ao redor assustado estava algum tipo de quarto de hotel, roupas espalhadas... roupas masculinas, femininas... Dela!

Olhou para a cama.

Lá estava a cena que parecia uma pintura do século passado, ela na cama com as costas nua aparecia até um começo de seu bumbum o resto coberto por lençol vermelho, os cabelos loiros estavam espalhados como seu costume de dormir espaçosa tinha os braços bem abertos esparramados, e o olhar de Christopher se fixou apenas num outro detalhe sua mão. Aliás um de seus dedos, um que tinha uma aliança dourada que chamava muita atenção ainda mais por não estar ali antes.

Não só por ser um detalhe que ele não tinha notado antes, como também era um detalhe que ele encontrou em um de seus dedos. Passou a mão nos cabelos, de novo arregalando os olhos diante daquela constrangedora situação.

Eles estavam num quarto de hotel. Pelados. Em Las Vegas. E usavam alianças. Somando ao pleno fator que beberam muito. Eles estavam...

Madre de Díos!– a voz dele saiu gritada e começou a andar de um lado para outro no quarto em frente a cama, repetindo as mesmas palavras quase como numa oração.

– Que passou? – E olhou para a cama e ficou mais desesperado e praticamente congelou onde parou. Anahí ficou ainda mais confusa, acordou com a voz dele e não diria que um homem pelado chamando a mãe de Deus, andando de um lado pra o outro, sendo normal.

Anahí esperou alguma reação de Christopher mais ele só ficou calado e tenso a encarando, ela quase teve vontade de rir não só porque era inusitado, mas porque ele parecia se esquecer que estava completamente pelado. E esse era um fato bem difícil de ser ignorado.

– Não vai me dizer nada? – Ela o questionou se sentando no meio da cama, se ajeitando entre os lençóis.

– Você vai me matar! – ele falou com medo.

– Por que eu faria isso? – Ela disse deixando escapar um sorriso e arrumou os cabelos.

– Porque eu... – ele negou confuso com a cabeça, queria se lembrar. Mas, parecia esta passando um furacão em suas lembranças. – Eu não me lembro direito o que aconteceu, estou morrendo de dor de cabeça. Eu não sei onde estamos, e temos que estar no outro hotel em alguns minutos. Se você não me matar no caminho, vão nos matar depois!

– MEU DEUS! – Ela exclamou entendendo. – Era isso? A hora, estamos muito atrasados. Eu sei que pedi para que me acordasse mais cedo, já que você acorda antes, só que eu entendo devido às circunstâncias. – Se levantou num pulo e foi correndo pelo quarto indo nos lugares certos onde estavam as peças de roupas espalhadas. Encontrava as dele antes e jogava em sua direção, dela era mais fácil, calcinha perto da varanda e vestido jogado numa poltrona perto dele. – Anda Christopher! Olha à hora!

Reclamou ao ver ele ainda parado só a acompanhando com o olhar, ela pegou o telefone e pediu a recepção um táxi.

– Não é porque estamos atrasados que você vai me matar. – Ele falou olhando para ela que saia do banheiro.

Anahí por sua vez ficou assustada foi até ele que a fez sentar na ponta da cama e puxou a poltrona sentando de frente para ela.

– Eu vou ser direto e está livre para fazer o que quiser comigo, certo?

– Certo. – foi o que ela falou receosa pela maneira que ele falou com ela.

– Anahí. – Ele molhou os lábios e suspirou esperando qualquer reação vindo dela. – Nós nos casamos! – e mostrou o dedo com a aliança para ela.

Houve alguns segundos de silêncio até a resposta dela.

– Sim e daí?

Anahí viu praticamente Christopher murchar em sua frente, ele ficou muito surpreso com a reação dela, esperava gritos, tapas e discussão. Não essa calma... Indiferença?

– Como assim “e daí”? – ele ficou bravo.

– Chris, bebê, você se lembra do que aconteceu ontem? – Anahí estava totalmente calma.

– Claro! – ele exclamou irritado. – Nós dois brigamos, eu sai a noite com meus amigos comemorar aniversário de Gus, você apareceu do nada e.. – ele abriu um sorriso pela lembrança. – Nos beijamos. Depois estávamos ficando loucos e decidimos sair, entramos num táxi e... – ele juntou as sobrancelhas confuso tentando lembrar, fez esforço para isso.

– Certo. Vou te ajudar. Nós... Rondamos de táxi até que do nada você quis descer, nós paramos num bar que você conhecia compramos mais bebidas, e saímos para caminhar e estávamos bem alegres. – a medida que Anahí contava ele ia se lembrando de tudo como se ela fornecesse as peças que faltavam de um quebra cabeça. – Bom, foi então que aconteceu tudo. – ela tinha um sorriso e encarava ele com expectativa.

Christopher retribuiu o olhar quase hipnotizado, estava começando a lembrar. Depois de tanto caminhar ele parou ela próximo a uma fonte a colocou no alto e se ajoelhou na frente dela, sem se importar com as pessoas que passavam olhando curiosas, ele a pediu em casamento e Anahí também embarcando na loucura aceitou. Parecia cena de filme, ele ajoelhado falando devagar por conta da bebida as pessoas em volta deles olhando com curiosidade.

Veio então o beijo apaixonado depois dela aceitar, os dois foram atrás da capela mais próxima. Só que não tinham nada marcado, estava tudo lotado. Aquilo era loucura. Christopher só conseguiu comprar alianças ali mesmo. Os dois saíram do local abraçados e novamente foram caminhar, depois de algum tempo sem tantos turistas e pessoas, aconteceu tudo! Tinha um cantor fantasiado de Elvis, os dois, alianças e a cidade e especialmente a lua cheia como a maior testemunha, o casamento aconteceu ali. Naquele instante.

Depois disso ficaram tão empolgados que vieram para o hotel mais próximo se hospedar e começar a lua de mel.

Anahí viu Christopher murchar novamente, dessa vez era de decepção ou frustração não sabia identificar exatamente.

– Me desculpe, eu quase surtei aqui por algo que sequer aconteceu... Eu pensei que tínhamos nos casado, sabe?

– Mesmo que nós tivéssemos casado naquela capela, não teria validade, você sabia? – ela falava cuidadosa e viu ele negar com a cabeça – Estava tudo lotado e existe um tipo de burocracia ainda que as coisas aqui sejam mais rápidas. – Ela deu os ombros ao ver que ele ficou chateado com a notícia.

Ambos escutaram o celular tocar.

Dessa vez era o dela e na ligação era Christian, ele explicou que conseguiu contornar todos e estava à desculpa que os dois comemoraram demais o aniversário de Gus, eles já tinham feito check out no hotel e agora estavam todos indo para o aeroporto, os voos sairiam dali uma hora. Então era para ambos irem direto para o aeroporto, já que ele e Maite conseguiram sabe se lá de que forma deixar não só as malas dos dois prontas como as levariam para o aeroporto.

Christopher escutou toda a ligação e assim que terminou dessa vez o que tocou foi o telefone do quarto, Anahí foi atender e era o táxi que tinham pedido.

– Vamos fazer assim, eu vou descer e fazer nosso check out e você fica aqui. – Ela não deu nem espaço para ele protestar, agora eles tinham tempo de sobra pra se arrumarem.

Assim que ela saiu Christopher olhou para o quarto vazio, pegou o celular e mandou mensagem tanto para Maite como para Christian, pedindo o favor deles reservarem roupas para que eles trocassem quando chegassem ao aeroporto. Fez isso muito mais por Anahí por que sabia que ela queria no fundo isso.

Resolveu adiantar sua parte, pegou suas roupas e levou para o banheiro. Tomou um banho rápido e lá se trocou, se sentiu bem melhor já que a dor de cabeça que ainda sentia parecia ser muito mais pela fome do que pela ressaca.

Quando saiu do banheiro sabia que ela estaria lá.

Houve um momento de silêncio, ele não sabia como se portar diante dela que estava de costas olhando para a cidade pela janela do quarto de um dos últimos andares daquele hotel.

– Las Vegas tem uma magia. – Anahí falou olhando para o nada. Christopher não sabia o que responder. Ela deixou a janela para agora sentar onde estava a poltrona em que ele estava antes sentado. – Eu estou morrendo de fome, ainda sinto sono e estou louca por um banho e trocar de roupa, porém não consigo me concentrar em nada disso por que eu só penso em você!

Christopher ficou instantaneamente indeciso sobre ir até ela, mas acabou o fazendo. Se sentando onde antes ela estava certo de que ela mesmo faminta e sonolenta queria conversar antes de tudo.

– Por que eu te mataria se estivéssemos realmente casados? – Ela perguntou curiosa.

– Porque eu te atrapalharia em sua vida amorosa, em sua decisão. Você gosta de outro cara e eu forço a barra e inverto o jogo para me dar bem. – ele deu os ombros sendo sincero.

– Isso me chateia. – ela também foi sincera e ele curioso. – Eu poderia estar com ele agora, em outra cidade, mas eu fui atrás de você. Isso não mostra realmente quem eu escolhi para minha vida? Depois de toda a noite de ontem?

– Você gosta dele.

– E amo você. – ela falou em contra partida. – e isso vem de anos atrás, eu aceitei um pedido de casamento teu.

– Que não tem validade!

– Sim, tem razão e se bem te conheço deve ser por isso que você esta frustrado. Tem receio que eu passe por aquela porta e me de conta que quem eu devo escolher é Rodrigo?

Ele apenas afirmou com a cabeça, essa não era a verdade.

– Não é só isso, eu estou sendo sincero ao revelar que isso me incomoda também, não como antes porque eu sei que fez sua escolha. – ele se aproximou e fez um carinho na coxa dela para depois olhar de baixo para cima. – Eu realmente queria ter me casado de papel passado contigo. E descobrir que isso não aconteceu de fato, apesar de não ter sido o casamento dos sonhos, e que teríamos um problema enorme na questão profissional, só que eu estava disposto a enfrentar o mundo se fosse preciso por isso te fiz essa proposta, não estar casado com você me fez ficar bem triste.

Anahí se aproximou o suficiente para com as suas mãos trazer o rosto dele perto o suficiente para que deixasse um beijo em seus lábios.

– Nada vai superar o que vivemos. Começou pelo fato de estarmos muito bêbados e somos mais impulsivos nesses estados, entretanto eu não sinto nem uma gota de arrependimento, e da forma que você reagiu antes me fez pensar por um instante que você tivesse se arrependido.

– Não! Nem pensei nisso. – ele negou ainda com as mãos dele em cada lado de seu rosto.

– Chris, ontem foi mágico. Eu me sinto casada com você ainda que um cover de Elvis esteja bem longe de ser um padre. – ambos riram.

– Estamos casados e abençoados pelo poder do rei da música e ele ainda cantou Love me tender. Acho que temos uma nova música só nossa.

Anahí só concordou com a cabeça e se lembrou que eles dançaram ao som dessa música lentamente na calçada enquanto o Elvis cover cantava e tocava guitarra, Christopher repetia cada verso em voz sussurrada em seu ouvido, não seria esquecida essa lembrança durante muito tempo.

– Já que ontem você me fez um pedido, agora sou eu que lhe faço. – ela mordeu ansiosa o lábio inferior.

– Diga.

– Vamos manter esse casamento em absoluto segredo e vamos fazer uma promessa um ao outro, se daqui a um ano nós estivermos solteiros, voltamos a Vegas e nos casamos de papel passado numa capela, com direito a tudo.

– Portilla, está me pedindo em casamento? – o levantar de sobrancelha dele a fez soltar uma gargalhada feliz. Por que era assim que se sentia naquele instante, feliz e plena.

– Só se você não tiver ciúmes do meu outro marido, sabe como é em Vegas, eu bebi demais e acordei casada com ele. – e essa foi a vez de Christopher que soltou uma gargalhada que contagiou ela.

– Eu aceito. – Ele sorriu de lado e ambos trocaram olhares intensos, daqueles que dificilmente se quebra a conexão.

– Te amo. - Disse ela para depois sorrir antes de beijá-lo.

Love me tender love me long, take me to your heart. For it’s there that I belong and we’ll never part

Elvis Presley

https://www.youtube.com/watch?v=093GjYcDg-4