What if i got it wrongand no poem or song could put right what I got wrong

Coldplay

Apesar de toda aquela música alta ela gostava de pensar que ainda conseguia escutar o barulho das ondas, talvez não fosse verdade, mas quando ela era pequena e ia até o mar no final do dia se fechasse os olhos conseguia escutar o barulho das ondas e as via se desmanchando na areia. Agora depois de tanto tempo parecia viver aquela mesma sensação gostosa.

Fechou os olhos para comprovar que não estava apenas fantasiando, ainda conseguia imaginar o barulho das ondas, mas o que via era ele. Sorrindo para ela bem perto que ela conseguia ver suas sardas e sinais no seu rosto, tudo aquilo era fruto da sua imaginação. Pelo menos o pensamento, já que quando abriu os olhos encontrou justamente ele em pé a poucos metros olhando para ela apesar de estar numa conversa calorosa. Ela negou com a cabeça e sorriu pensando que deveria ir com calma, porém era pedir demais. Resolveu sair dali um pouco, ir de encontro ao mar realmente a festa de comemoração estava incrível só que precisava sair antes que fizesse bobagem.

Não demorou para estar de frente a toda aquela imensidão azul, mesmo que agora fosse a noite e a água não tinha a mesma cores vibrantes de dia que parece tudo tão acentuado. Fechou os olhos sentindo a brisa e tomou um susto quando sentiu alguém a abraçando por trás.

- O que faz aqui sozinha? – Ele perguntou em seu ouvido e isso fez ela estremecer levemente.

- Que susto! – foi o que ela conseguiu falar e depois apoiou sua cabeça no ombro dele, fazia tempo que ele era maior que ela.

- Desculpa! Não era minha intenção te assustar.

- Não passa nada. – disse enquanto se virava para encará-lo de frente, ao menos aqui não tinha problema cruzar a fronteira do perigo. – Precisava pensar um pouco.

Christopher não disse nada apenas deu um sorriso de lado, apesar de não entender completamente a razão dela estar assim, ele entendia que era normal pela época que estavam. Um momento que se reavalia muito.

- Sete é um bom número, sabia? – Dessa vez ele alargou o sorriso só não sabia dizer pela expressão confusa dela ou por ela ter apoiado os braços em seus ombros e assim eles ficavam mais próximos. – O ano que está chegando. E você é toda ligada nisso de numerologia, eu acho que vai ser um grande ano. – ele esclareceu.

- Oxalá. Ainda não vi essa curiosidade numerológica, porém eu também acho que vai ser um ano grande. – Anahí apertou mais os braços que tinha apoiado nele. Os cruzando. – Que estranho é essa sensação de ser o último dia do ano, ficamos um pouco paranoicos. Como fazer algo por ser a última vez neste ano, fora as piadas de ano velho e ano novo. – Ela revirou os olhos e ele soltou uma risada por que tinha escutado muitas durante o dia todo.

- É por isso que veio para cá? – Ele a questionou curioso.

- Não exatamente. A verdade é que eu quero mais, só que não posso. – ela falou e deixou de prestar atenção nos olhos castanhos dele, e voltou seu olhar para o queixo e a boca dele. Que entendeu a que ela se referia.

- Nunca trouxe um namorado para passar o ano novo com sua família? – Ele riu da sua própria pergunta, fazendo ela rir também por estar sem graça, se lembrou de quando ligou o convidando para viajar pro litoral com ela. Que aceitou sem pensar.

- Não é isso. E você não é meu namorado. – ela o advertiu da verdade. E ele fez um careta por que ela tinha razão.

Droga, ele sussurrou baixo mais ela pode escutar e fez menção de desgrudar dela, que imediatamente o trouxe para mais próximo.

- Não se afasta! – Ela soltou um bico involuntário.

- Não vou. – Ele disse com sereno.

Automaticamente ambos olharam para onde estava a festa, grande parte a família dela estava lá. A música ainda continuava alta, bebiam, comiam e nem se importavam com o que acontecia com eles que estavam mais afastados.

- O que eles pensam é importante. – ela comentou mais para ela do que para ele. E ele assentiu porque tinha noção do quanto à aprovação deles tinha peso para ela, não era como se desconhecidos quisessem palpitar a vida deles. – Mas, eu também quero aproveitar esses momentos com você, totalmente. – ela se voltou a ele.

Era o que ele mais queria também, aceitou vir exclusivamente por ela. E por isso que se aproximou e lhe selou os lábios demoradamente.

- Não precisamos nos reprimir aqui. – ele deu um sorriso que mostrava os dentes pequenos e isso fez ela morder forte os lábios, tentou ao máximo esconder o que queria que agora poderia ser possível, não pararia. Nem que brigassem com ela, tudo estava tão claro, até indiretas já tinha recebido de seus familiares e estava tão maluca por ele que não importava mais nada.

Foi por isso que o beijou dessa vez de verdade, como queria desde que o convidou para viajar com ela ou quando passaram o dia todo na praia. Um ano novo se aproximava e tudo que ela queria era aproveitar aqueles últimos momentos com ele.

- Anahí? Anahí? Esta bem? – Eu escutei uma voz bem de longe dos meus pensamentos e isso me fez voltar para a realidade. Olhei para ele que me encarava confuso.

- Sim? – Respondi.

- Você parecia tão distante! – Ele agora sorriu.

- Estava aqui organizando algumas coisas para ter mais espaço e encontrei um antigo álbum de fotografia, me lembrei de uma virada do ano que aconteceu há algum tempo atrás e foi importante. – Me expliquei fechando o álbum onde tinha fotos daquela noite, antes que ele pedisse para olhar e eu ficasse sem graça. – Já está na hora? – Guardei o álbum no meu pequeno baú me virei na direção de dele.

- Exatamente, por isso vim te chamar antes que nos atrasemos. – Até mesmo ele pareceu se lembrar do motivo de ter vindo atrás de mim.

- Então vamos. – sorri e fui em direção a ele.

Manuel e eu hoje tínhamos o compromisso de visitar uma feira local, que ficava próxima ao centro de Tuxtla, lá vendia uns artesanatos lindos que eu particularmente me apaixonei quando vi pela primeira vez. Se tiver a oportunidade vou comprar algo.

Não demorou para que eu e Manuel chegássemos, conversamos com a imprensa primeiramente, dei até algumas entrevistas perguntas sobre o nosso futuro casamento que estava em nossos planos. Eu não demorei a me acostumar com a dinâmica de tudo, a verdade que não é tão distante do que eu tinha quando estava divulgando algum trabalho meu.

Conversamos com alguns políticos ali presentes e depois era vez de Manuel dar entrevistas, eu aproveitei para andar um pouco na feira que era especial por apoiar a cultura indígena de Chiapas, tive um pouco de assédio, entretanto não como o de costume afinal todos estavam concentrados no começo da feira.

- Boa Tarde senhora! – Escutei uma voz próxima feminina. E deparei com uma senhora e logo abri um sorriso não só pela cordialidade dela, mas pela surpresa dela falar em espanhol perfeito. Muitos indígenas não sabiam o espanhol.

- Boa Tarde! – Disse sorrindo e me aproximando dela para ver o que ela me mostrava. – Que lindos! – Eram brincos artesanais, de uma delicadeza sem igual. Na verdade haviam vários deles, diferentes uns dos outros. – Tem objetos tão lindos aqui, senhora.

- Ah eu que fiz a grande maioria. – Ela tinha um tom orgulhoso de si mesma. – Posso lhe contar uma história?

- Claro. – Sorri para ela.

- Minha família sempre fez artesanatos, é nossa mais forte tradição desde o começo do séc... – Enquanto a escutava e olhava sua arte, algo me chamou a atenção.

Tinha um objeto no meio dos artesanatos que me fez ter uma sensação estranha, o peguei com as mãos e a sensação só aumentou. Não sabia explicar o que estava sentindo. Era feito de madeira, fibra, penas, uma espécie de filtro dos sonhos a última vez que viu algo parecido foi naquela virada do ano que me lembrei mais cedo e estava com Christopher.

Eu não conseguia tirar os olhos, como se fosse uma criança curiosa com um brinquedo novo, eu acariciava o filtro como se ele pudesse me revelar algo. E era o que eu queria. Por que ali tinha algo misterioso, estava num estado estranho num possível dejavu talvez. Fechei os olhos involuntariamente e...

Foi bem ali que algo estranho aconteceu!