POV. Natasha Romanoff

Estávamos todos prontos para irmos atrás de Skye, me dei conta de algo.

– Onde está Ward? – Perguntei, fazendo todos pararem para me encarar.

– Ele não faz mais parte dessa equipe. – Fala Coulson entre dentes, seco.

– Ele não faz mais parte dessa equipe? – Falei, acidentalmente deixando a indignação em minha voz ficar clara – Como assim? Não estou entendendo. Quando ele ficou arrasado ao ver Skye ser levada ele não fez parte da equipe? Quando ele ajudou vocês, - Estava começando a ficar exaltada - que aparentemente não fazem parte da mesma equipe que ele, no ataque de Ultron, ele não fez parte da equipe? Quando ele foi marcado como alvo de Ultron ele não fez parte da equipe? Quando ele teve contato com Simmons e se abriu para ela ele não fez parte da equipe? Quando ele pediu perdão e permissão para entrar no time ele não fez parte da equipe? Quando ele se infiltrou na H.Y.D.R.A., foi espancado e torturado por Ultron, quebrou mais de uma costela, ficou cheio de cicatrizes, parecia uma polpa de sangue ambulante e ainda assim se levantou para salvar a minha vida isso não o fez parte da equipe?! – Coulson exibia uma expressão dura; eu tinha me aproximado dele e a irritação, frustração e indignação presentes em mim estavam evidentes em meu rosto e voz – Então, sinceramente, ele tem muita sorte em não fazer parte da equipe. Porque se seus companheiros fossem assim tão hipócritas o tempo todo ele só teria a perder.

May enrijeceu os músculos ao me ouvir chamar Coulson de hipócrita, mas ele fez um sinal para que ela se acalmasse. Ele me encarava, como se estivesse me estudando, mas em seus olhos eu vi que ele estava tendo um conflito dentro de si.

Depois de minha alteração para com o Diretor da S.H.I.E.L.D., um silêncio cortante se alastrou pelo ambiente. Todos olhavam de mim para Coulson, mas eu os ignorava com sucesso. Então, sem suspirar, sem piscar, sem nem mesmo esboçar um sinal de irritação ou qualquer coisa, Coulson disse, extremamente calmo:

– Pode ir pegá-lo.

– Eu não estava pedindo permissão; isso foi um aviso. – Eu disse, me virando para ir atrás de Ward. Sentia os olhares dos outros em minhas costas.

Sei que havia a possibilidade de Steve ou Clint me questionarem sobre meu pequeno showzinho, mas eu não ligava. Se tinha algo que estava mais que claro para mim era que Ward havia mudado e estava disposto a mostrar isso. Não esquecia o que ele tinha feito por mim naquele dia; ele poderia ter morrido, ou qualquer coisa pior, e mesmo assim ele salvou a minha vida. Escolheu não deixar que Ultron me amassasse. Então, além de grata a ele, eu também o compreendia.

Passei um bom tempo procurando por ele, porque não estava em lugar nenhum. Depois de alguns minutos, decidi procurar na sala em que ficava a antiga cela; o encontrei no chão, chorando, em aparente desespero e agonia. Me assustei.

– Ward, está tudo bem? – Coloquei uma mecha de cabelo atrás do ouvido e me abaixei para ficar no mesmo nível dele – O que aconteceu?

Ele começou a balbuciar alguma coisa, mas eu consegui pegar as palavras “Skye” e “culpa”, o que foi o bastante para me fazer entender o que estava passando ali.

– Ai, meu Deus. – Eu disse – Ward, antes de mais nada, fique calmo. Respire fundo. Não estou entendendo uma única palavra do que você está falando. Vamos lá. Tome fôlego. – Eu comecei a respirar fundo, incitando-o a fazer o mesmo; por um instante, me senti como se estivesse monitorando um parto – Pronto. Agora, deixa eu te falar uma coisa, uma coisa muito importante. Eu sou uma Vingadora. Coulson é o Diretor da S.H.I.E.L.D. E quer saber? Nenhum de nós o culpamos. Em nenhum momento isso ocorreu. – Sabia que por parte de Phil era uma meia verdade, mas ainda assim continuei – Então por que diabos justamente você estaria se culpando? O único que tem culpa no cartório é o Ultron. Ele levou Skye, não você. Olhe seu estado. Você parece querer que Skye fosse levada? Realmente parece culpado.

– Eu... – Ele hesitava, balbuciando entre lágrimas e soluços – Eu os traí, eu... Eu sou H.Y.D.R.A...

– Sim, você os traiu. E sim, você era da H.Y.D.R.A. Não é mais. Porque uma pessoa que fez aquilo por mim, que se arriscou daquela forma para salvar minha vida, não é da H.Y.D.R.A., mas é meu colega e companheiro; quem sabe até amigo. – Hesitei por um momento – Eu confio em você.

Ele me encarou, sua expressão indecifrável. A única coisa que ficara claro para mim era o fato de que ele tinha ficado perplexo. Mesmo tendo ficado meio desconfortável com isso, continuei sustentando seu olhar, continuei olhando-o nos olhos. Seu rosto ainda exibia lágrimas, um pouco secas, mas seus olhos mostravam que ele parara de chorar.

– Quer saber? – Eu disse, me preparando para me levantar – A maior prova disso tudo é que você vem conosco. – Ele me olho confuso enquanto eu me erguia – Estamos indo tirar Skye das mãos do verdadeiro culpado disso tudo. Só falta você. – Estendi a mão em sua direção, observando seu rosto de iluminar cada vez mais com a perspectiva de recuperar sua amada; então ele pega a minha mão e eu o ajudo a se levantar, dando umas batidas carinhosas em suas costas. Tímido, ele murmura, sem olhar para mim:

– Natasha... Muito, muito obrigado. – Em resposta, abro apenas um sorriso.

– Vamos. Temos que nos encontrar com o resto.

Enquanto andamos em direção ao saguão, nós não chegamos a nos falar nem a nos olhar. Muitos considerariam isso um silêncio constrangedor, mas eu não. Eu não me incomodava com isso e eu sabia que ele também não.

Finalmente chegamos lá, todos nos esperamos. Noto que Coulson evita olhar para Ward, enquanto Simmons exibe um sorriso que era capaz de iluminar o ambiente. Dei um meio sorriso para mim mesma ao notar isso.

– Tudo pronto. – Eu disse.

POV. Clint Barton

Estávamos todos no Quinjet, a caminho de uma base militar localizada em Nova Jersey, lugar onde, aparentemente, estava Ultron, de acordo com Stark, que conseguira rastreá-lo.

Eu tinha notado que Tony estava um pouco alterado quando o capacete da armadura fechou-se em volta de seu rosto quando entramos no Quinjet. Olheiras recém-formadas, olhar cansado, rugas a mais, cabelo despenteado. Mas achei melhor não comentar nada.

– Tudo bem, Vingadores. – Começou Rogers – Eu tenho um plano.

“Pietro, você vai se infiltrar diretamente para salvar Skye enquanto Fitz-Simmons lhe orientam de longe e Ward lhe dá cobertura. Stark, Banner, Thor e eu ficaremos com a parte do ataque enquanto Wanda, Barton e Natasha vão pelo telhado instalar as bombas dadas por Bruce. Sam, você vai dar suporte aéreo e, com os novos óculos desenvolvidos por Stark, vai conseguir achar Ultron, vendo do alto. Enquanto tudo isso acontece, Hill e Fury vão entrar por trás, aproveitando que estaríamos distraindo o restante, para roubar informações. May e Coulson: Nos deem cobertura”, finalizou ele.

Entendida a tática, finalmente chegamos na base, o plano sendo colocado em prática imediatamente. Eu, Nat e Wanda logo chegamos ao telhado, encontrando alguns inimigos: robôs do exército que Ultron construíra. Nós três trocamos um breve olhar de incredulidade entediada antes de partirmos para o ataque.

No momento em que Wanda levantou voo e derrubou um dos minions do Ultron, Natasha ativou sua roupa e, dando um soco poderoso o bastante para atravessar um dos robôs, o eletrocutou, enquanto eu pegava meu arco e acertava uma flecha bem na testa de outro.

Perco as meninas de visão enquanto bato em um robô com meu arco ao mesmo tempo em que pegava uma flecha de explosão e atirava em um amontoado deles, mandando-o aos pedaços. Peguei uma flecha com gancho e corda e atirei no pescoço de um deles, então comecei a correr, dando a volta, prendendo vários robôs com a corda. Olhei para Natasha.

– Nat, uma ajuda? – Ela sai de cima de um dos robôs e joga-o de cima do telhado, quando olha para mim, entendendo o que queria dizer. Cravo a flecha no chão enquanto Natasha pula na minha direção e, ativando a descarga elétrica de seu traje, pega na flecha, eletrocutando todos os robôs que estavam presos pela minha corda.

Olhei para Natasha e ela para mim e, em simultâneo em que vejo seus olhos ficarem alarmados, vejo um robô surgir em suas costas.

Ao mesmo tempo, acertei uma flecha com a potência de uma bala no peito do robô, atravessando-o, enquanto ela ativava seu ferrão e atirava em outro que estava atrás de mim. Sem termos tempo de falar um com o outro, continuamos a batalha e, ao derrubar outro robô, consegui ver uma coisa.

Wanda mexia os dedos, os robôs na frente dela sendo envoltos por uma luz escarlate, um a um perdendo o brilho em seus olhos; então ela abre os braços bruscamente, estendendo-os ao seu lado, fazendo com que todos esses robôs caíssem aos seus pés. Ela ofega, sem perceber outro robô que surgia atrás dela.

– Ei! Chapeuzinho Vermelho! – Gritei, chamando sua atenção e fazendo-a olhar para o robô. Assim que ela o derrota, eu não perco a chance e provoco:

– Cuidado, meu pedacinho de rubi. Vai acabar perdendo. – Um sorrisinho sarcástico surgiu no meu rosto; porém, vejo sua mão se estendendo na minha direção, e eu me viro a tempo de ver um raio escarlate incinerando um robô que aparecera ao meu lado, pronto para me matar. Ela ergue a sobrancelha.

– Acho que não sou eu quem vai perder aqui, fofo. – Provoca ela.

– Eu... Eu o tinha na mira. – Digo, fazendo-a rir.

– Tinha, né? – Então eu acerto uma flecha no olho de um robô que ia atacá-la sem ela perceber. Ela olha para mim.

– Pelo menos esse eu tinha. – Trocamos sorrisos sarcásticos e nos voltamos para a batalha.

Quando finalmente vimos uma abertura, conseguimos adentrar na base.

– Ok, Fitz-Simmons, estamos dentro. – Disse Nat.

Ok. – Ouvi a voz nervosa de Fitz – O ponto mais próximo de vocês fica há 5 metros, virando logo a direita.

Seguimos as orientações e, chegando lá, instalamos a primeira bomba, todos juntos, de acordo com as instruções que Banner nos tinha passado. Quando terminamos, Wanda avisou:

– Ok, Fitz, terminamos. Qual a próxima?

Certo. – Dessa vez, Simmons se fez ouvir no ponto eletrônico – Agora vocês vão ter que seguir até o outro lado, indo pela esquerda, até encontrarem o extremo oposto da base. Instalem a bomba no canto.

Jemma. – Ouvimos Fitz – Eles sabem que é para colocar no canto, não precisa...

– Achei melhor deixar tudo claro, vai que...

– Jemma, eles não são burros, pode deixar que eles...

– Fitz, pode me deixar trabalhar por fa... – E desliguei o ponto eletrônico. Olhei para Natasha, passando o olhar por Wanda.

– Vamos? – Estendi a mão em cortesia. As garotas seguiram, ambas revirando os olhos.

Seguimos as orientações de Fitz-Simmons, instalamos a bomba, assim como as duas outras que colocamos nos extremos do Térreo.

Estou com a Skye. – Ouvimos Pietro dizer.

Achei Ultron! – Disse Sam – Ele está... Indo para o subsolo. Está a cerca de três metros de Nat, Barton e a Feiticeira.

Não demora mais que dois segundos para que a voz autoritária de Steve imediatamente surgir em nossos ouvidos:

Saiam daí agora.

Começamos a correr para fora dali, até que ouvimos uma explosão e uma viga cai, separando a mim e Wanda de Natasha, além de machucar a Feiticeira; sua perna tinha sido atingida. Provavelmente a primeira das bombas.

Fiquei sem saber o que fazer. Ver Wanda machucada ali, na minha frente, e não poder fazer nada, me encheu de pânico de uma forma que eu não conseguia entender. Ver Natasha longe de nós, desprotegida com Ultron a solta, me fez sentir aquele murro no estômago que normalmente sinto ao vê-la em situação de perigo.

– Vão. – Disse Nat, olhando para nós por trás da viga – Eu vou conseguir achar outra brecha pra sair daqui. Pode deixar comigo.

Tudo passou muito rápido pela minha cabeça; odiava deixar Natasha ali sozinha, mesmo sabendo que ela definitivamente conseguiria se virar. Tinha Wanda nos meus braços, desacordada, com um ferimento na perna. Não queria de jeito nenhum deixar nenhuma das duas. O que ia fazer?

Então pesei as coisas. Sabia do potencial de Natasha e tinha total consciência de que as possibilidades de ela sair bem dali eram absurdas de positivas. Enquanto isso, Wanda estava desmaiada, a perna gravemente machucada. Tive que pensar em quem precisava mais de mim no momento.

– Nos encontre. – Disse eu, entrelaçando os braços de Wanda ao redor do meu pescoço e erguendo-a – Boa sorte. – A última coisa que vi antes de me virar para ir, foi Natasha assentindo.

POV. Natasha Romanoff

Dou meia volta e logo coloco a mão no ponto eletrônico.

– Sam, onde Ultron está agora?

Hã... – Ele disse, parecendo checar a localização do robô – Ainda em direção ao subsolo, mas está ficando mais perto de você. Está indo pela direita.

Imediatamente me viro para a esquerda, mudando o canal do ponto eletrônico para que eu pudesse falar com Hill e Fury para saber por onde eles se infiltraram para poder seguir por aquele caminho; porém, quando o sinal estava começando a parar de chiar, ouvi um Sam desesperado:

Perdi a localização dele! Não consigo achar o Ultron! Não faço ideia de onde ele pode estar!

Antes que pudesse dizer/fazer alguma coisa, sinto um raio em minha barriga, que me derruba e me faz sentir uma dor lacerante. Toco no local onde fui atingida, mas isso só faz com que sinta um ardor forte. Olho para frente e me deparo com Ultron, que me olhava de forma imponente.

Discretamente, ligo o ponto eletrônico para que todos pudessem ouvir a conversa; sempre soube que Ultron era o tipo que gostava de fazer um teatro, que era uma verdadeira “diva”. Certamente iria se vangloriar de algum plano genial que tinha – e eu queria que todos ouvissem.

Ativo meu traje, para que pudesse dar choques, e pego minha arma – quem sabe eu pudesse retardá-lo; porém, ele lança um raio fino na minha mão, derrubando a arma que segurava. Se aproxima de mim tão rápido que eu nem mesmo fui capaz de ver, então acerta um murro tão forte em meu rosto que senti meu maxilar estalar. No ponto eletrônico, ouvi uma respiração ofegante entrecortada que eu sabia ser de Steve.

– Olhe só. – Disse Ultron; sabia que ele ia começar com o joguinho psicológico que tanto gostava de fazer – Tem sangue escorrendo na sua boca. Sabe o que me lembra? O sangue que saiu de você no dia em que eu te derrubei. Quando você estava grávida, sabe. Se bem que, claro, a quantidade nem se compara. Se não me engano... – Ele se abaixou em minha frente, fingindo pensar – Foi naquele momento em que você perdeu o filho, não foi?

Imediatamente depois de ouvir essa declaração, senti todo o meu corpo paralisar. Não sabia como agir, não sabia o que fazer, nem mesmo sabia como tirar meus olhos do olhar vermelho e vibrante de Ultron. Percebi, enfim, que eu não tinha ideia de como lidar com a perda de meu filho – não ainda.

E, infelizmente, Ultron pareceu perceber.

– Eu entendo que você me culpe... – Começou ele – Mas sabe... Eu não fiz nada. Só fiz acelerar o processo. Aquela criança ia morrer de qualquer jeito e você sabe disso.

Subitamente, começo a me lembrar das dores que sentia na gravidez, que tentei com tanto ardor esconder de Steve e Clint. Naquele momento, remoendo a única situação que eu tentava apagar completamente da minha memória, sentia que estava sofrendo com as mesmas dores – só que três vezes mais fortes. Nunca achei que lembrar da perda do meu filho fosse ser tão doloroso. Para minha agonia, Ultron continuou:

– Aquela cicatriz de anos atrás. – Disse ele, venenoso – A bala que nunca foi encontrada. O soviético.

Naquele momento, senti como se minha barriga fosse cair até os meus pés, me dando conta de que, realmente, a bala que ainda estava em meu corpo disparada anos atrás por Bucky pode ter causado a morte de meu filho.

No ponto eletrônico, escuto Steve balbuciar coisas sem sentido, tentando dizer algo; sem conseguir formar uma frase, diz apenas:

Nat...

Me sinto meio zonza e levo mais um soco de Ultron, me fazendo cuspir sangue; ele pega meu rosto e vira para ele, como se quisesse que eu o olhasse enquanto ele me matava, para que eu visse minha vida se esvaindo de mim pelos seus olhos. Porém, quando ele estava prestes a me acertar, uma luz escarlate extremamente incandescente surge do nada e toma conta de todo o ambiente, ao mesmo tempo em que escuto Clint:

Wanda... – Sua voz estava trêmula – Pessoal, tá... Acontecendo alguma coisa estranha com a Wanda... Ela tá brilhando...

E então, tudo fica escuro.