Welcome To The Coven - Hiatus

Capítulo 8 - O Que Está Acontecendo Comigo?


Sexta-Feira

— Até mais, Darcy. — A garota levanta-se da cadeira, caminhando até a porta.

— Até mais, senhorita Green. — Violet vira seu rosto, dando um tchauzinho para a secretária sorridente antes de abrir a porta e sair dali.

A jovem estudante caminha pelo corredor escolar enquanto observa seu material para a aula de natação em suas mãos. Torcendo mentalmente para que o maiô caiba nela e que não houvesse necessidade de troca, Violet segue até seu armário. Ela abre sua bolsa, tirando alguns livros de dentro dela para colocá-los no interior do mesmo.

A adolescente precisava de espaço para guardar o novo material. Enquanto vasculhava a bolsa, verificando se havia mais alguma coisa que podia ser retirada, sua mão vai de encontro à superfície lisa de algo que ela tinha trazido consigo para a escola. A Green pega o objeto, trazendo o mesmo para o exterior.

Uma vela.

A menina encara a mesma, dando uma atenção maior ao pavio branco. Talvez, se ela se concentrar, poderia fazer o que fez na noite passada, pelo menos mais uma vez.

A noite passada.

A garota deixa um suspiro escapar de seus lábios ao recordar-se da noite anterior.

Violet, está tudo bem?”

Sua avó questionou assim que notou uma expressão um tanto diferente presente no rosto da menina.

“Ah sim, estou bem.”

A Green mais nova lembra-se de ter dado seu melhor sorriso para Amelie, uma tentativa de convencê-la. Isso não deu muito certo. A mais velha, apesar de não falar mais nada, vez ou outra depositava seus olhos verdes sobre a face da neta.

E meio as suas lembranças, a jovem também se recorda de ter sentido o caloroso abraço de Vincent. Isso a fez sorrir. Um sorriso verdadeiro presente em seus lábios enquanto a mesma retribuía o abraço com semelhante intensidade.

“Pequena Green! Não nos falamos desde o inicio da semana, confesso que senti saudades.”

“Também senti saudades, Vincent.”

O jovem homem passa um dos seus braços envolta da garota, a abraçando de lado. Um belo sorriso sendo direcionado para ela em seguida.

A estudante sorri, ainda encarando a vela. A conversa e os momentos que teve com sua vó, Elizabeth e Vincent na festa proporcionaram alegria para ela. Até a fizeram esquecer um pouco do que tinha ocorrido na sala de jantar do prefeito.

— Que sorriso bonito. — A Green sai dos seus pensamentos e volta para a realidade ao escutar a voz de Sarah.

— Ah, obrigada. — Um sorriso um tanto encabulado se faz presente na jovem face da menina. A mesma guarda a vela o mais rápido possível dentro de sua bolsa, procurando evitar qualquer questionamento vindo da outra.

— De nada. Só estou dizendo a verdade. — Sarah dá de ombros, encostando-se no armário fechado ao lado da Green.

Violet termina de se organizar, fechando seu armário em seguida.

— Pronta para mais uma aula da professora Monique? — Questiona Wenham, abrindo um sorrisinho depois.

— Talvez sim. — Diz a outra, repetindo o sorriso da estudante ao seu lado.

— Então, vamos.

Sarah desencosta-se da superfície metálica e gesticula para que a Green a siga. Assim ela o faz.

As duas garotas iniciam a caminhada pelo corredor. Alguns alunos ainda conversavam entre si despreocupadamente enquanto outros ou andavam para suas salas ou tinham sua atenção focada em outras atividades.

— Queria ter te visto ontem na festa. — Comenta Wenham, virando o rosto para encarar a outra. — Quando eu encontrei a Kate, ela tinha me dito que você estava com Reid e Tyler no pátio, mas quando fui até lá não encontrei vocês.

As duas dobram á esquerda.

— Acho que eu já tinha ido para casa. — Diz a Green. — Mas eu vi você chegando. E com certeza vi quando Caleb te recebeu.

Violet lança um sorrisinho de canto para a garota. Sarah, por sua vez, deixa um enorme sorriso brotar em sua face.

— Ele me convidou um dia antes. Meu pai meio que não gostou muito da ideia, mas acabou me deixando ir depois que insisti bastante.

As meninas deixam alguns risinhos escaparem após a declaração da Wenham.

— Só espero que ele me chame para sair mais vezes.

— Ele vai.

— Tomara que sim.

Violet faz alguns movimentos positivos de cabeça, confirmando a ideia. Já estava mais que claro que Caleb e Sarah tinham interesse um pelo outro. As duas jovens seguem em frente, já avistando a sala de aula.

~ ♢ ~

— Madison, pare de frescura e pegue a droga dos panfletos! — O tom de voz de Juddy chama atenção, fazendo alguns alunos direcionarem seus olhares para ela.

— Já disse que não vou sair por aí distribuindo esses panfletos. Olhem para mim. — A Montgomery aponta para seu próprio rosto com o dedo indicador da mão direita. — Acha que eu, logo eu, caminharia pela escola entregando panfletos? Não, obviamente não.

— Então por que diabos você está na equipe? — Foi a vez de Kate se pronunciar. Ela estava ao lado direito de Juddy. — Você não fez nada até agora! Só nos irrita! — Tunney já estava ficando cansada daquela garota. O olhar, a pose, a voz de Madison. Tudo causava desconforto para a jovem.

— Do que está falando? Eu refiz aquela faixa brega e sem estilo que vocês duas fizeram para colocar na entrada da escola.

— Você destruiu a faixa sem nossa permissão e em troca nos mandou aquela sua faixa ridícula! — A Evans se exalta mais um pouco.

Madison solta um riso breve e sem humor, encarando a estudante com um rosto cheio de desdém.

— Primeiro, — Ela levanta seu dedo indicador da mão esquerda. — ela não é ridícula. E segundo, — Madison repete o gesto, levantando o segundo dedo. — eu fiz um favor a vocês duas ao destruir aquela faixa tosca, mandando fazer uma bem melhor.

A Montgomery coloca as mãos sobre a cintura, olhando para as garotas com uma expressão leve de aborrecimento na face.

Juddy dá um passo à frente na direção da loira.

— Escuta aqui garota...

— Juddy, para. Não vale à pena. — Kate a interrompe. A Evans já tinha o dedo indicador apontado para Madison e uma expressão nada boa em sua face. Talvez se a Tunney não a impedisse, algo pior poderia ocorrer.

A estudante baixa sua mão, levando seu olhar para o corredor. Alguns alunos assistiam a cena, uns curiosos, outros um tanto espantados. Juddy solta um suspiro breve, olhando para Kate antes de voltar-se para a outra.

— Kate tem razão, não vale à pena perder meu tempo com você. — Um olhar de desprezo é lançado para a Montgomery. Juddy Evans já tinha visto a loira fazer aquilo tantas vezes que foi fácil copiá-la.

Madison continua com sua postura, mantendo-se inexpressiva.

Juddy guarda os panfletos dentro da bolsa.

— Deixa que eu distribuo. — Fala a adolescente para Kate. — Vou para a aula agora. Te encontro no intervalo, precisamos resolver mais alguns detalhes.

— Tudo bem. — Juddy se afasta dali, começando a andar.

Kate olha para a garota a sua frente, balançando a cabeça negativamente.

— Qual é seu problema? Por que é assim? — A Tunney não espera nem mais um minuto e repete a ação feita pela colega segundos antes, retirando-se dali.

Madison acompanha Kate com o olhar durante um breve momento. Ela leva sua mão até alguns fios de cabelo espalhados pela sua face, pondo-se a andar em seguida. Ignorando os olhares curiosos das pessoas a sua volta, a garota se dirige até a sala de aula.

~ ♢ ~

— Ok meus amores, tenho uma atividade para vocês. — A professora Monique levanta-se de sua cadeira e caminha até o quadro negro, pondo-se a escrever.

Quando Kate leu “Trabalho em trio” escrito com as letras cursivas e delicadas da professora, logo levantou a mão, anunciando qual seria seu grupo. A Tunney mantinha seu olhar focado a sua frente, os braços cruzados, permanecendo calada desde que tinha chegado. Ela apenas soltou um “Oi meninas” para Sarah e Violet e não falou mais nada com elas desde então.

A garota observa a jovem mulher ruiva, que trajava o uniforme padrão dos professores da Spencer, escrever no quadro negro seu nome e os de Wenham e da Green em seguida.

— Qual será o próximo grupo? — Questiona a Monique. — Vamos amores, garanto que será melhor assim do que se eu fizer um sorteio.

Enquanto ouvia os outros alunos citando seus nomes para a formação dos grupos, Kate leva seus olhos para baixo quando nota um caderno aberto sendo posto próximo a ela. A pergunta: “Por que você está assim?” escrita a lápis na folha branca. A morena levanta seu olhar, podendo assim ver Sarah e Violet esperando uma resposta.

A adolescente solta um suspiro.

— A ridícula da Madison me irritou e tirou a Juddy do sério hoje. — Fala a Tunney, a voz um pouco mais baixa para não chamar atenção dos outros.

As outras jovens olham uma para a outra após a resposta de Kate.

— Não deixa essa garota te afetar assim, Kate. — Diz Sarah. — Isso só faz mal.

— Eu sei, mas eu aguento Madison há um bom tempo e sei como ela pode ser difícil de engolir. E com certeza ela foi hoje. — Kate solta outro suspiro, encarando sua frente mais uma vez. – Além de não fazer nada para ajudar na organização do evento, aquela mimada ainda solta seus comentários idiotas praticamente o tempo todo.

— Você não vai deixar isso atrapalhar sua participação no evento, vai? —Pergunta Violet, ela estava ao lado direito de Sarah e inclinava-se um pouco frente para poder encarar Kate melhor. — Por que eu acho que isso não combina com você.

A Green podia não a conhecer bem, mas pelo que presenciou do comportamento da garota, Kate não parecia se abalar tão fácil assim.

— Ela tem razão. — Sarah faz um movimento positivo com a cabeça, concordando com a outra.

A Tunney olha para as duas, provavelmente elas estavam certas. Ela não podia deixar seus problemas com Madison atrapalharem suas contribuições para o evento.

— Ok. Grupos formados. — A atenção das três é voltada para a professora. – Agora explicarei como quero que me entreguem esse trabalho.

~ ♢ ~

— Elizabeth, já estou indo. — Violet podia ouvir o som dos saltos da governanta ecoando entre os corredores enquanto ela andava até a porta principal da casa.

— Espere, quero ver você partindo. — Diz a mulher ao chegar ao hall. — Tenho que dizer a sua vó que vi você saindo com as meninas. — Elizabeth anda até a porta, a abrindo em seguida. — Você sabe como funcionam os protocolos dela. — O tom divertido que ela usa faz Violet rir um pouco.

— É. Eu sei como é. — A governanta abre um sorriso para a menina e ela retribui. — Volto mais tarde.

Violet dá um tchauzinho para a mulher e passa pela porta. Elizabeth encosta-se no batente da entrada principal da casa, observando a menina.

A garota mal chega ao portão e já se depara com Kate acenando da janela do banco do carona ao lado do motorista. Pelo visto seu humor e ânimo haviam retornado. A jovem sorrir ao ver a cena, entrando no carro em seguida, colocando sua bolsa sobre as pernas após se acomodar melhor ali.

As três acenam para a governanta antes do carro seguir.

— Sua casa é enorme Violet! — Kate vira um pouco seu corpo para trás, encarando a menina. — Se eu soubesse disso, teria sugerido que nossa reunião fosse lá e não na minha casa. — A morena sorri com seu comentário brincalhão.

— Não seria uma má ideia. — Comenta Sarah, entrando no clima.

Violet ri um pouco.

— Se quiserem, podemos voltar. — Sugere ela, apontando para trás com seu dedo polegar da mão direita, também entrando no rumo que aquela conversa estava seguindo.

— Ah não! Combinamos de pensar sobre o trabalho na minha casa. — Protesta Kate. — Sem contar que quero passar um tempo com vocês fora da escola. — A Tunney sorri paras as duas, parecia animada com a ideia.

O humor da namorada de Pogue contagiava as outras estudantes. Cada comentário vindo dela provocava risos e sorrisos em Violet e Sarah. A Green gostava disso, gostava da alegria que sentia ali.

O carro prossegue percorrendo as ruas de Ipswich. Violet aproveitava para observar o caminho.

— Violet, não quero ser curiosa, mas quem era aquela mulher que estava na porta de sua casa? — Questiona a Wenham, seus olhos se alternando entre a frente e o retrovisor.

A jovem leva seu olhar para frente ao ouvir a pergunta da garota.

— É a Elizabeth. Ela é a governanta da casa.

— Ah, eu conheço ela. — Fala a Tunney. — Quer dizer, eu já a vi algumas vezes com sua vó em festas ou algo assim.

— É. Ela trabalha para minha vó há um tempo. — Comenta a Green.

— Sabe, — Kate vira novamente seu rosto e corpo para trás, apoiando-se no assento enquanto encarava a menina. — quando Pogue me falou sobre onde sua vó morava, eu achava que ele estava exagerando. Pelo visto, ele falava a verdade.

Violet solta um riso discreto com a expressão que a Tunney faz após a sua fala. Sarah olha rapidamente para a morena e deixa um riso breve e mais sonoro escapar.

— Do que estão rindo? Não estou entendendo. — Kate se faz de desentendida por alguns instantes antes de rir também. A garota endireita-se, voltando a encarar a frente em seguida. — Sarah, não se esqueça de dobrar essa rua á esquerda. — A jovem gesticula, indicando o local correto para a outra que ainda não havia decorado o percurso.

Mais alguns minutos se passam até que finalmente elas chegam ao destino.

Kate foi a primeira a sair do carro, caminhando até a entrada de sua casa. Ela vira-se, observando as duas jovens andando até ela.

— Esta é minha humilde residência. — A morena aponta para a casa com as duas mãos. — Não é tão grande quanto a sua casa Violet, mas é bonita e pode ser bem aconchegante. — A Tunney solta aquilo com um tom divertido na voz, provocando um risinho na Green. — Venham, vamos entrar.

A morena abre a porta e as três entram.

Kate estava certa. Sua casa podia ser menor, mas a atmosfera sentida por Sarah e Violet ao caminharem pela sala de estar assim que passaram pela porta compensava o fato. Era uma sensação boa de paz e tranquilidade.

— Mãe? — Kate avança mais alguns passos pela sala. — Fiquem á vontade gente. — Diz ela, virando-se para as outras por breves segundos. — Mãe, a gente chegou. — A garota então gesticula para as outras, indicando uma escada localizada em um canto mais afastado da sala, ao lado direito.

Momentos depois, uma mulher aparentando ter seus trinta e poucos anos, quase quarenta, se faz presente para as três jovens.

— Ah mãe, estas são Sarah e Violet. Elas são as meninas de que lhe falei. — A Tunney mais nova se posiciona ao lado da bela mulher negra, dona de cabelos castanhos e ondulados que agora sorria para as duas colegas de sua filha.

— Oi meninas, é um prazer conhecer as duas. — A senhora Tunney tinha um tom simpático na voz.

As garotas sorriem em retribuição.

— A gente vai subir, vamos pensar sobre o trabalho de francês. – Informa Kate, já apontando para a escada.

— Tudo bem. Qualquer coisa eu estou lá trás, organizando algumas coisas. — A mulher olha para a filha por alguns segundos antes de encarar as duas jovens. — Sintam-se á vontade meninas. — A senhora Tunney lança mais um sorriso para elas, afastando depois, indo para os fundos da casa.

Quase que em um uníssono, a Wenham e a Green dizem um “Obrigada” enquanto viam a mais velha seguir.

— Ela deve está ocupada com o trabalho. — Fala Kate, a mesma já voltando a caminhar até a escada. — Minha mãe é floricultora.

— Isso é legal, gosto de flores. — Declara Sarah, já seguindo a morena. Violet faz o mesmo.

— Quem não gosta? — Kate começa a subir alguns degraus, gesticulando para que as duas a seguissem.

— Eu não curto muito. — Pronuncia-se Violet, já colocando seu pé sobre o primeiro degrau. Seu comentário faz as outras duas a encararem. — Quer dizer, flores são lindas, mas não faz muito meu estilo. — Justifica-se ela.

— Violet, você é estranha. — Kate solta um riso e logo Sarah a acompanha. A Green sorri um pouco com a frase brincalhona da Tunney. — Vamos gente, vamos subir logo e agilizar nosso trabalho.

~ ♢ ~

— Aqui, tome. — A governanta deposita um copo d’água sobre a mesa.

— Obrigada Elizabeth. — Amelie pega o copo de vidro e o leva a boca, tomando um bom gole do líquido. — Tenho que confessar algo. — A mais velha olha para a mulher a sua frente. — O prefeito Jonathan pode ser muito teimoso em certos momentos.

— Isto é sobre a conservação das antiguidades da cidade? — A governanta une as duas mãos, colocando as mesmas para frente.

— Sim. — A mais velha coloca o copo sobre a mesa novamente. — Vincent estava na reunião hoje também. Ele ficou um pouco irritado quando o prefeito disse que a verba que ele liberou era o suficiente para as obras continuarem.

— Imagino. O Vincent adora o que faz e adora todos aqueles artefatos. Não me surpreende o fato dele ter ficado irritado.

— E com razão. A quantia liberada foi muito baixa. — Amelie leva sua mão direita até a testa. — Violet está lá em cima?

— Ah não, ela saiu. Foi para a casa da namorada do Pogue, a Kate. Ela e mais uma garota. Se não me engano o nome dela é Sarah.

A senhora Green abre um pouco a boca, fazendo menção de que falaria algo.

— Mas não se preocupe. — Diz Elizabeth, adiantando-se. — Vi quando a senhorita Green entrou no carro e seguiu com as meninas. — A loira gesticula um pouco enquanto fala. — Agi segundo o protocolo. — Um sorrisinho fechado e de canto podia ser visto na face da mulher mais jovem.

— Protocolo? — Amelie solta um riso bem breve. — Elizabeth, já disse que não sou tão protetora assim.

A governanta abre um sorriso mais expressivo após a frase da patroa.

— Mesmo assim, sempre é bom informar. — A loira mantém o sorriso por mais alguns segundos antes que o clássico som da campainha se fizesse presente. — Com licença.

Elizabeth sai da cozinha e caminha até o hall. A campainha toca mais umas duas vezes antes que a mulher chegasse á porta.

— Caleb. — O jovem Danvers encontrava-se ali, parado de frente a mulher que sorria para ele. O rapaz sorri de volta.

— Oi Elizabeth. A Violet está?

— Ah não, ela não está. A senhorita Green precisou sair. — A governanta abre caminho para que o garoto pudesse passar. — Se quiser, posso dizer a ela que você esteve aqui ou se precisar deixar algum recado eu digo a ela.

— Ah não, obrigado. Na verdade, eu preciso falar com a senhora Green. Ela está em casa?

— Estou aqui.

A voz de Amelie se faz presente no hall, chamando atenção dos dois. Caleb vira seu corpo um pouco para o lado, na direção da mais velha. A mesma parada, encarando os dois.

— Olá senhora Green, eu preciso conversar com a senhora.

~ ♢ ~

— Que tal O Velho e o Mar? — Indaga Sarah. A mesma se encontrava sentada ao lado esquerdo da cama de Kate, lendo uma lista de livros clássicos da literatura mundial em seu celular.

— Moby Dick pode ser legal também. — Sugere a Tunney. A garota encontrava-se de frente ao seu notebook, localizado sobre uma escrivaninha presente mais á direita do quarto, perto da janela. Ela também lia a mesma lista que a Wenham.

— Senhor dos Anéis é uma boa opção também. — Comenta Violet. A Green assim como Sarah, também lia a lista em seu aparelho telefônico. A jovem havia se sentado no lado oposto ao de Wenham na cama.

— Não! Senhor dos Anéis não! — Kate movimenta-se na cadeira em que estava sentada, virando um pouco seu corpo para encarar as duas.

— Por que não? É um clássico da literatura inglesa. — Argumenta Violet.

— A estória é enorme! Será mais trabalhoso escolher os trechos mais importantes de cada capítulo e traduzi-los para o francês!

— Mas não precisamos focar em todos os livros, podemos escolher um. Eu já li toda a saga, posso ajudar na separação dos trechos. Será mais fácil.

Kate para um pouco, pensando sobre a possibilidade.

— Ah não sei. O que você acha Sarah? — A morena leva seu olhar para a outra, Violet faz o mesmo.

— Bom... — Sarah se endireita na cama. — Acho que o fato da Violet já ter lido todos os livros ajuda bastante. Mas a lista é bem extensa, acho que podemos pensar mais um pouco sobre a escolha do livro.

— Acho que você está certa. Vamos pensar mais um pouco. — Fala Kate. — E Violet?

A Green lança seu olhar para a garota.

— Reid tem razão.

A menina franze um pouco seu cenho após a declaração da outra.

— Sobre o quê ele tem razão?

— Sobre você ser uma nerd.

Kate solta pequenos risos após ter dito tal coisa. Sarah abre um sorriso, um riso quase saindo dela também.

— Eu já disse que não sou nerd. Preciso aprender muito ainda.

— Isso é que um nerd diria. — Kate fala ainda risonha. Violet apenas a encara com um sorrisinho no rosto, não iria discutir sobre o assunto agora. A Tunney levanta-se da cadeira e anda até a cama, virando-se de costas e jogando seu corpo sobre o colchão macio. O pequeno impacto provocado no colchão faz Sarah e Violet moverem involuntariamente seus corpos um pouco para os lados.

— Queria tanto ter passado mais tempo com vocês ontem. — Comenta a morena, alternado o olhar entre as duas. Os fios castanhos de seu cabelo estavam espalhados pelo tecido branco que cobria o colchão.

— Mas estamos fazendo isso agora. — Diz Sarah, seus olhos azuis sobre a garota deitada.

— É. E com certeza vamos no encontrar em muitas festas como a de ontem. Não faltarão eventos parecidos com a festa dos fundadores para fazermos isso. — A Tunney se senta, encostando-se na cabeceira da cama.

— Acho que o Pogue deve agradecer por você ir sempre com ele. — Comenta Sarah um pouco risonha.

— Bom, digamos que eu vou por outros motivos também. — Kate alterna o olhar entre as duas adolescentes.

— Como assim? — Pergunta Violet.

— Eu não só vou por causa do Pogue. Vou por causa da minha família também. — A garota passa a mão entre os fios de cabelo, colocando grande parte dele de lado. — Eu meio que descendo de uma das famílias que vieram para cá na época da colonização.

Kate leva uma das mãos até a alça esquerda da bolsa de Violet que estava sobre o colo da garota.

— Posso não pertencer a uma das famílias fundadoras, mas ás vezes eu e meus pais somos meio que obrigados a participar dessas festas chatas. — A jovem olha para a Green em seguida. — Eu posso ver sua bolsa? — Era incrível como Kate era espontânea.

Violet faz um sim com a cabeça e a Tunney começa a sua observação.

— Eu não vi seus pais ontem. — Afirma Violet, ela também tinha sua cabeça apoiada na cabeceira agora.

— Eu também não. — Sarah imita a Green e também faz o mesmo que ela segundos depois.

— Eles não quiseram ir. Meus pais não ligam muito para essas coisas. — A namorada de Pogue mexe um pouco a bolsa para o lado, a mesma estava aberta e isso possibilitou que o que estivesse em seu interior saísse dali, caindo em cima do colchão. — Violet... — Kate pega a vela branca que quase se camuflava com o branco do tecido que forrava o colchão. — Por que você tem uma vela dentro da bolsa?

A Tunney leva um tempo encarando o objeto em suas mãos para depois dirigir seus olhos castanhos para a Green.

— Acho hoje de manhã vi você com essa vela. — Comenta Sarah, também a olhando.

— Não me diga que a sua casa enorme não tem luz? — Kate solta mais um dos seus comentários divertidos.

Para disfarçar, Violet solta um riso breve.

— Na verdade, não lembro como ela foi parar aí. Acho deve ter caído ou algo do tipo. — “Que desculpa horrível Violet! Você pode fazer melhor que isso.” Sim, ela podia ter dito uma desculpa melhor, mas foi o que havia saído naquele momento. A menina não podia dizer para as duas que havia colocado uma vela dentro de sua bolsa para tentar acendê-la como tinha feito na noite passada.

As duas encaram a Green por mais uns segundos, Kate guardando a vela em seguida.

— Bom, acho melhor voltarmos para o trabalho. — A garota levanta-se da cama rapidamente, se direcionando para a escrivaninha. — Então, — Ela volta a encarar as duas. — quais são os outros livros que vocês sugerem?

~ ♢ ~

Amelie encara o jovem rapaz sentado no sofá a sua frente.

— Então jovem Danvers, o que o trás aqui? Sobre o que quer conversar? — Indaga a mais velha, mesmo tendo suas suspeitas sobre o objetivo de Caleb ali.

O garoto parecia pensativo enquanto se preparava para pronunciar suas próximas palavras.

— É sobre a Violet, sobre os poderes dela. — Diz ele, levando seu olhar até a mulher. A senhora Green faz alguns movimentos positivos com a cabeça após a declaração do rapaz.

— Sim, o que houve naquele dia em que vocês saíram, o comportamento dela ao voltar para casa. Muito provavelmente ela sentiu algo em relação ao assassinato daquele rapaz. — Fala Amelie, relembrando a cena em sua mente.

— Não senhora Green, não estou falando sobre isso. — Diz Caleb, sua declaração faz a mais velha encará-lo com mais atenção. — Aconteceu um acidente na aula de química durante essa semana. — Começa ele. — A Violet acidentalmente colocou fogo em um dos béqueres no laboratório.

Amelie deixa seus olhos claros sobre o rosto do jovem Danvers por mais alguns momentos, absorvendo a informação. Os poderes da sua neta estavam se fazendo presentes, estavam aflorando. Um misto de alegria e preocupação invade o interior da mulher. Contar a verdade a neta era tudo que ela mais queria, porém Amelie não podia ignorar o que isso implicaria para a garota. A mais velha solta um suspiro breve.

— Bem, isso aconteceria cedo ou mais tarde. — Fala ela, levantando-se do sofá em que estava indo sentar-se ao lado do garoto. — Escondi isso dela tempo demais e agora Violet precisa saber. — A senhora Green cruza suas pernas, unindo as mãos para depositar as mesmas sobre o joelho. — Eu sei que essa fase será um tanto complicada, mas eu estarei aqui para ajudar minha neta.

— Sim, senhora Green. Claro que sim, não tenho dúvida disso. — Caleb abre um sorriso simples para a mulher, concordando com suas palavras.

Amelie analisa o rosto do rapaz, parecia preocupado.

— Não é só por isso que veio até aqui, não é? O que perturba você?

Caleb leva seus olhos para um ponto aleatório, pensativo. O rapaz respira fundo, liberando o ar ao poucos.

— Eu não quero tirar o seu direito de contar a Violet o que ela é senhora Green. — Ele volta a olhar a mulher. — Mas sinto que quem deve fazer isso sou eu.

— Por acaso isso tem relação com o seu futuro papel no coven? Com seu futuro papel para com os garotos e minha neta?

— Sim, tem. — Responde Caleb fazendo alguns movimentos positivos com a cabeça. — Acho que eu tenho certa obrigação de ajudá-la. — Danvers estava um tanto sério. — Acho que preciso ajudar os outros também. Afinal, é o que todos esperam de mim. — Suas últimas palavras saem quase como um sussurro, como se deixasse um dos seus pensamentos escapar. As feições do menino demonstravam suas preocupações contidas.

Amelie compreendia o jovem. Pertencer à família Danvers não era uma coisa fácil, não quando se espera muito de você. A senhora Green leva uma de suas mãos até um dos ombros do garoto, oferecendo ao mesmo um olhar compreensível e carinhoso.

— Caleb querido, não deixe que suas futuras obrigações lhe sobrecarreguem assim. Você ainda é muito novo, tem uma vida pela frente. Não deixe que isso atrapalhe sua juventude.

— Eu sei senhora Green, eu sei. — O rapaz olha diretamente para a mulher, lançando um sorrisinho fechado bem discreto.

A mais velha entendendo o problema que aquele jovem estava passando, oferece ao garoto um abraço. Um abraço um tanto maternal e consolador.

— Está tudo bem querido, está tudo bem. — Diz ela, suas palavras transmitindo conforto. O gesto não se prolongou muito, mas foi de grande ajuda. — E não se preocupe, entendo sua opinião. — Fala ela em relação a quem deveria fazer tal revelação a Violet. — E pensando nisso, sei o que devemos fazer.

~ ♢ ~

— Tchau gente. — Diz Kate após abraçar as duas garotas. O trio havia passado o tempo debatendo suas ideias, trocando risadas quando a Tunney soltava um dos seus comentários e conversando coisas aleatórias.

Agora Violet e Sarah já se encontravam indo até o carro da Wenham.

— Ei vocês duas! — O chamado da morena faz as adolescentes virarem seus rostos para ela. — Não esqueçam que o lava carros é nesse domingo. — Kate tinha seus braços cruzados enquanto se apoiava no batente na porta de sua casa.

As duas confirmam com movimentos positivos de cabeça, dando mais alguns acenos antes de entrar no carro. Sarah dá partida e segue em frente. Não demorou muito para que o veículo parasse em frente ao portão da casa de Violet. A garota se despede de Wenham antes de abrir a porta do carro e iniciar sua caminhada até a porta de sua residência. Ela entra.

— Elizabeth? Vó? Cheguei.

~ ♢ ~

Domingo

Batendo a porta do carro de seu pai com força após sair, Madison encara a entrada da grande Spencer Academy com seu rosto um tanto aborrecido.

— Filha, desfaça essa cara e sorria. — Fala Jonathan ainda dentro do veículo. — Não é nada exemplar a filha do prefeito está com essa feição logo no dia de um evento beneficente.

A Montgomery revira os olhos, virando o corpo para encarar o pai.

— Eu não estaria assim se não fosse obrigada a participar disso tudo! Eu não quero lavar carros! — Ela bufa, colocando as mãos na cintura, desviando o olhar para um ponto aleatório.

— Madison, olhe para mim. — O tom da voz do homem muda, tornando-se mais autoritário. — Madison! — Um pouco a contra gosto, a adolescente faz o que é mandando. — Já discutimos sobre isso. Você é minha filha e como tal deve dar o exemplo. Agora vá até lá e faça o que tem que ser feito.

A menina solta outro bufo, não escondendo seu aborrecimento.

— Preciso ir agora. Quero boas notícias quando eu chegar em casa. — Jonathan segue com o carro, deixando a garota ali.

— Argh! — Madison cruza os braços, batendo o pé contra o chão. Como se não bastasse ter que estar na mesma equipe que Juddy e Kate, agora tinha sigo obrigada a participar lavando carros.

A loira põe-se a andar, procurando manter sua postura perfeita enquanto se encaminhava até uma área mais afastada do pátio da escola. No caminho, Madison nota sua faixa pendurada acima do portão de entrada, a mesma anunciava o evento e indicava o local onde os donos dos veículos poderiam estacionar para que seus carros fossem lavados. Um sorrisinho de orgulho e vitória surge na face da garota. Evans estava totalmente equivocada, sua faixa definitivamente não era ridícula!

Endireitando sua franja e passando a mão por entre os fios claros de seu cabelo preso em um rabo de cavalo, a Montgomery prossegue andando. A filha do prefeito trajava uma blusa frente única branca, um short cintura alta acinzentado e um par de sandálias.

A jovem dá mais alguns passos até chegar ao destino. O pátio da escola era grande, tendo uma área ampla onde era possível que uma grande quantidade de carros se fizesse presente.

— Não creio. — Madison olha na direção da voz avistando Juddy. A garota segurava um balde com água e sabão em uma mão e um esfregão em outra. — A filhinha do prefeito veio nos ajudar a lavar os carros. — O sarcasmo estava bem presente na voz da estudante negra, dona de cachos cor de chocolate e corpo bem feito que se destacava pelo short jeans azul e uma regata branca que a mesma usava.

A outra adolescente revira os olhos, cruzando seus braços enquanto encarava Juddy.

— Tem mais alguma coisa a dizer ou eu posso parar de perder meu tempo?

— Quer saber... — A Evans praticamente joga o balde para Madison segurar. Se a mesma não tivesse se afastado um pouco, o líquido derramado teria atingindo sua roupa. — Não vou discutir com você. Se está aqui para ajudar então faça isso, escolha um carro e lave ele.

Juddy se afasta, deixando Madison para trás.

~ ♢ ~

O vento batia contra o rosto da garota, balançando seu cabelo e o tecido de seu vestido branco simples que estava usando no momento. Violet observa enquanto os alunos presentes lavavam os veículos ali enquanto outros preenchiam as fichas dos donos dos mesmos, recebendo a quantia simbólica a ser paga para que seus carros recebessem o serviço.

A menina vira seu rosto para a direita ao ouvir um “psiu”. Era a Sarah. A garota acenava discretamente para a Green enquanto um homem pegava o dinheiro em sua carteira para pagar a taxa. Violet retribui o aceno.

— Aí está você! — Diz Kate se aproximando da menina. — Estava te esperando. — A morena acompanha o olhar da Green, vendo Sarah em sua atividade atual. — Seu trabalho vai ser diferente. — Fala ela voltando-se para Violet.

— Alguma coisa me diz que eu estou prestes a lavar alguns carros. — Comenta a outra, sorrindo de canto, provocando um risinho em Tunney.

— Vem. — Kate pega na mão de Violet, a direcionando para um local mais á esquerda. — Como disse, você vai lavar alguns carros. — Diz ela ainda segurando a mão da jovem. — Mas você vai ter uma boa companhia.

A Green logo vê Reid e Tyler lavando um carro cada um. Não demorou muito para que eles notassem a presença da garota.

— Violet! — Simms abre seu sorriso típico que fazia a garota sorrir também.

— E aí Vy. — Diz Reid lançando seu sorriso de canto para ela.

— Oi. — Fala a menina, ainda sorridente olhando para os dois.

— Você pode ajudar os dois. — Fala a morena para a Green. O sol que batia em sua pele morena ajudava a realçar a beleza dela. Kate usava uma blusa de alça cinza e um short preto enquanto seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo.

— Pronto, já guardei as caixas que você me pediu. — Fala Parry, caminhando até Kate.

— Obrigada. — A adolescente sorri para o namorado, dando-lhe um beijo em seguida.

— Não sei se vocês notaram, mas não queremos segurar vela aqui. — Comenta Tyler, brincalhão.

— Por que você não continua lavando o carro em silêncio Tyler? — Pronuncia-se Pogue vendo o sorrisinho na face do amigo. O rapaz então olha para a Green. — Oi Violet. — As palavras dele são acompanhadas de um movimento discreto de cabeça.

— Oi Pogue. — A adolescente responde da mesma forma. O namorado de Kate usava uma camisa preta sem mangas e uma bermuda jeans. Olhando os dois ali, lado a lado, a opinião da garota se confirmava ainda mais. Eles eram bonitos juntos.

— A gente vai indo, eu preciso verificar se tudo anda bem e o Pogue vai me ajudar. — Kate segura na mão do namorado, os dois se afastando em seguida.

Violet vira seu corpo um pouco para o lado, encarando os dois garotos ali.

— Então, quem eu ajudo primeiro?

— Eu, claro. — Responde Reid, abrindo um sorriso convencido em seguida. O mesmo ainda ensaboava o carro.

— Por que você tem que ser o primeiro Reid? Não vejo nenhuma razão para isso. — Protesta Simms.

— Você já está enxugando o carro, eu preciso que alguém me ajude a enxaguar o meu. Violet vai me ajudar primeiro.

A rápida careta que Tyler faz provoca uma risada na menina. Os dois pareciam duas crianças discutindo.

Assim como Pogue, Reid e Tyler usavam camisas sem manga e bermudas. Simms usando uma azul enquanto o Garwin tinha escolhido uma camisa branca.

— Como eu disse, sempre é assim.

— Caleb. — Violet abre um sorriso ao ver o rapaz ao seu lado.

— Oi Violet, tudo bem? — Danvers deposita uma de suas mãos sobre o ombro direito da garota, lançando um sorriso para ela depois.

— Eu estou bem e você?

— Também estou. — O rapaz parecia um tanto pensativo após a pergunta da garota. Ele cruza os braços sobre o peito, observando os amigos em suas tarefas.

— Sem querer ser chato Caleb, mas Violet não vai poder nos ajudar se ficar conversando com você. — Solta Tyler, colocando a toalha usada para enxugar o carro sobre seu ombro.

Caleb acaba rindo um pouco com a fala de Simms.

— O idiota do Tyler tá certo. — Comenta Reid, recebendo uma toalhada na cara em seguida.

— É. Acho que ele tem razão. — Danvers diz sorrindo e achando graça dos amigos. Ele volta-se para Violet. — Eu vou falar com a Sarah antes que mais algum carro apareça para mim — Informa ele, apontando para trás com o polegar direito. — Nos vemos daqui a pouco.

— Ok. Tudo bem. — O garoto que trajava uma camisa branca regata e calça jeans cinza, sorri para a menina antes de virar o corpo e seguir caminho.

A Green volta-se para os dois amigos, indo ajudá-los.

~ ♢ ~

Os três adolescentes prosseguiam com suas tarefas. Violet ajudava os garotos de forma alternada, enxugando ali, ensaboando acolá. Ela até quase gargalhou com os protestos de Tyler quando mais um carro, desta vez muito sujo, chegou para ser lavado. As caras e bocas que ele fazia divertiam a menina.

— Gente, aquela que tá vindo não é a Madison? — Cochicha Tyler.

O questionamento de Simms fez Reid e Violet olharem na direção que a garota vinha. A Montgomery carregava um balde cheio enquanto se dirigia um pouco mais para á direita deles. Os estudantes continuam sua observação discreta por mais alguns segundos antes de continuarem com suas atividades.

Não demorou muito para que outro carro se aproximasse e estacionasse próximo ao grupo. Olhando em volta, Violet não vê ninguém para atender o homem e limpar o veículo a não ser a filha do prefeito.

— Ah, Madison? — Chama a Green, fazendo a outra olhar para ela.

— Esse carro precisa ser lavado. — Fala ela, apontando para o veículo.

A garota lança seu olhar de desprezo para o carro assim como para o dono do mesmo que saia de dentro do veículo.

— Argh. Por que eu sempre pego os mais pobres?

Violet enruga um pouco a testa ao escutar aquilo.

— Só para ser clara, seu carro é uma droga. Eu posso até lavá-lo, mas continuará a ser uma droga. — Diz ela com seu ar superior.

A Green olha para o rapaz dono do carro e depois para Madison.

— Você não precisa ser rude.

— Rude é ser feio e andar nesse lixo.

Mais uma vez a garota leva seus olhos até o rapaz que envergonhado, se retira logo dali. Violet volta a encarar Madison, a mesma olhando para a outra com desdém antes de se abaixar um pouco para pegar uma mangueira deixada ali, ligá-la e colocar a mesma no balde para mantê-lo sempre cheio enquanto ela fosse lavando o carro.

A Green seguia seus movimentos, uma expressão de irritação em seu rosto. Kate estava certa em não gostar da Montgomery. Ela judiava e humilhava as pessoas. Quem ela pensava que era? Ser a filha do prefeito não a faz ter esse direito. Violet podia sentir uma pequena brasa crescendo dentro de si, semelhante à mesma que sentiu antes de fogo surgir em volta do béquer. Porém desta vez, ela estava um pouco mais intensa. Seus olhos direcionam-se para a torneira. Meio que sem pensar, Violet foca toda a sua indignação provocada por Madison e que agora preenchia seu peito no objeto que a mesma segurava.

Um jato de água e sabão atinge em cheio o rosto da Montgomery segundos depois, provocando gritos da mesma e certa surpresa em Violet. No entanto, a garota até deixa um sorrisinho discreto brotar em seus lábios ao ver a outra segurando uma mangueira descontrolada.

—Peraí, peraí. — Tyler se aproxima da loira que ainda lutava contra o objeto que jogava água para todos os cantos, incluindo o rosto dela. Simms pega a mangueira das mãos da menina e a fecha. O rapaz entrega a toalha que estava apoiada em um dos seus ombros para Madison.

— Mangueira idiota! — Exclama ela, pegando de uma maneira um tanto rude a toalha das mãos de Tyler. Ao olhar para a situação da garota, Simms não deixa de soltar algumas risadas e Reid acaba fazendo o mesmo. — Do que vocês estão rindo seus estúpidos?! — Braveja ela, se afastando dali.

Reid e Tyler dão mais algumas risadas vendo a filha do prefeito andar para longe deles. A Green observava a cena calada, sua feição tinha uma mistura de sorriso discreto e surpresa no rosto.

— Violet? — A menina olha para o Garwin. — Tá tudo bem?

— Tá, tá sim. — A estudante abre um pequeno sorriso para ele. — Vamos enxugar logo esse carro.

— É, vamos sim. — Diz Reid, encarando a jovem por alguns segundos antes de voltar sua atenção para o veículo.

~ ♢ ~

— Sem chance Chase, não vou lavar seu carro. — Fala Tyler ao ver Collins saindo do veículo. O rapaz cruza os braços e encara o outro com sua face divertida.

Chase fecha a porta do carro, arqueando uma sobrancelha ao escutá-lo.

— Nunca disse que o carro era meu, Simms. — O rapaz anda um pouco, aproximando-se do outro.

— De quem é então?

— É meu, meu bem. — Agatha se aproxima dos adolescentes ali, Collins entrega a chaves para ela. — Chase apenas o estacionou para mim enquanto eu preenchia a ficha.

A mulher olha para Violet e Reid ao lado antes de apoiar seu braço no ombro direito do jovem Tyler.

— Então, pode o lavar para mim? — Pergunta ela, olhando o garoto com seus olhos azuis destacados pelo lápis de olho.

— Sim, para você eu posso. — O sorriso da mulher faz o estudante sorrir abertamente.

Chase revira os olhos com tal coisa.

— Obrigada meu amor. — A mais velha dá um beijo na bochecha do menino e Violet teve quase certeza que o viu corar um pouco.

Agatha se põe a andar, Chase fazendo o mesmo em seguida.

— Até mais crianças. — A mulher acena, olhando para os três ali. — Não demoraremos muito, capriche Tyler. — Fala ela, olhando um pouco para trás para encarar o jovem.

— Pode deixar. — Diz ele, sorrindo mais uma vez.

Ao passar por Violet, a garota pôde ver melhor como a mais velha estava. Um vestido de renda preto que batia um pouco acima dos joelhos cobria o corpo magro de Agatha. Seus cabelos castanhos escuros e longos serviam para embelezar ainda mais o rosto dela assim como seus olhos azuis. A mulher parecia que estava pronta para ir a algum lugar, especialmente usando aqueles sapatos altos.

As observações da Green são interrompidas quando a garota percebe o olhar de Chase para ela. Não era mais novidade para Violet o modo como Collins lançava seu olhar provocador para ela. Felizmente, o rapaz apenas se limitou a fazer tal coisa, voltando a olhar para frente em seguida. Ele usava roupas mais simples, uma camisa cinza escuro, calça jeans e tênis.

— Oh Tyler, tem uma babinha escorrendo no canto da sua boca. — Reid aproveita o momento oportuno para debochar do amigo.

— Cala a boca Reid. — Um tanto envergonhado, o menino volta a sua tarefa enquanto ouvia o Garwin rindo.

— Quem é ela? — Indaga Violet, voltando seu olhar para eles.

— É a tia do Chase. — Responde o loiro.

— Tia? Mais ela parece tão nova.

— E é. A Agatha tem no máximo uns trinta anos. — Comenta Tyler enquanto jogava água no carro.

Por ser mais nova que a maioria dos parentes dos adolescentes, Agatha tinha um relacionamento menos sério e formal com os garotos.

— Ás vezes ela deixa o Tyler mais idiota do que já é. — Garwin solta mais uma, fazendo o amigo jogar um pouco de água em sua direção em seguida. Violet apenas os observa. Pelo visto Reid e Tyler estavam um tanto mais inspirados hoje.

~ ♢ ~

Após lavarem vários carros, Kate deu aos alunos voluntários um tempinho de descanso. Aproveitando isso, o Garwin e Simms foram comer alguma coisa na lanchonete da escola. A Green decidiu ficar no pátio mesmo, indo contra aos pedidos deles.

Agora a jovem observava o cenário a sua frente, encostada no capô de um dos carros lavados enquanto descansava.

— Hora de varrer. — Madison entra no campo de visão da menina. A mesma segurava um vassourão em uma de suas mãos.

— O quê? — Pergunta adolescente, uma expressão não muito boa presente na sua face por está falando com Madison mais uma vez.

— Temos que limpar o chão. Ou melhor, vocês têm que limpar o chão. — Fala a Montgomery como que se aquilo fosse óbvio.

— É um lava carros. O chão está mais que limpo.

— Mas não está seco. — Responde a outra, já um pouco impaciente.

— E por que eu faria isso? Kate acabou de nos dar um tempo de descanso.

Madison solta um pequeno bufo, não escondendo sua chateação.

— Kate não está aqui, está? Além do mais, eu também faço parte da equipe organizadora. Ou seja, eu também estou no comando.

A filha do prefeito praticamente joga o vassourão nas mãos da outra antes de desfilar por ai com sua pose de riquinha. Violet acompanha a garota com o olhar por um tempo. As duas pequenas mãos segurando o capo de madeira da grande vassoura. Ela solta um suspiro um tanto cansado, não iria tirar todo aquele excesso de água presente no chão do grande pátio por que Madison mandou.

A Green leva seus olhos para uma pequena poça d’água localizada próximo a ela. Por que Madison era daquele jeito? Por que toda aquela pose? Será que Montgomery estava implicando com ela por que Violet defendeu o rapaz de seus comentários maldosos? Será que ela sabia que a rajada de água que havia levado no rosto foi culpa da Green? Espera, foi culpa dela mesmo?

Essas e outras indagações passeavam dentro da mente da menina, que ainda encarando a poça de água, não percebeu quando pequenos vapores subiam á medida que o líquido esquentava ali.

A temperatura foi aumentando gradativamente até que pequenas chamas fazem-se presentes na poça. Violet entre abre a boca, surpresa e até espantada. Porém, ela permanece imóvel, ainda segurando o cabo da vassoura, acompanhando com o olhar os movimentos das chamas que agora se estendiam pelo caminho.

O fogo segue, percorrendo uma trilha até um carro azul estacionado um pouco mais a frente da garota. Os gritos assustados das pessoas ao verem a cena pareciam vozes distantes para a Green, ela se via presa á dança das chamas que consumiam o carro. Violet ficou assim pelos dois minutos que se sucederam.

— Violet! Violet! Violet!

Uma voz masculina foi aos poucos se fazendo presente na consciência da garota. E as chamas pareciam notar isso, apagando-se á medida que a menina voltava à realidade. O fogo cessa e Violet se desperta por completo. Só então garota nota que duas mãos seguravam seus ombros, balançando um pouco seu o corpo. Ela vira-se, encarando Caleb e seu olhar preocupado.

— Violet.

— O que aconteceu? — Pergunta ela ainda um pouco área.

— Você estava em um tipo de transe. — Responde o rapaz, suas mãos ainda segurando os ombros da menina.

Violet então olha para trás, vendo o carro em grande parte queimado. A fumaça negra subindo lentamente para o ar. Ela volta-se para Danvers.

— Eu... Eu fiz isso? — A voz da menina saiu em um sussurro. Caleb observa o carro por alguns segundos antes de voltar seu olhar para a garota confusa e assustada.

— Sim, Violet. Eu acredito que sim. — A resposta dele fez a confusão dentro da Green aumentar. O que estava acontecendo com ela?

— Mais alguém viu? — Pergunta ela, olhando um pouco em volta para depois encarar os olhos dele mais uma vez. Já bastava o azar de Caleb ter visto aquilo, ela não podia correr o risco.

Danvers encara o rosto da Green por alguns segundos antes de fazer movimentos negativos com a cabeça.

— Caleb, não conte para ninguém, por favor. — A voz dela ainda saia em sussurros. O rapaz confirma com a cabeça.

Violet dá dois passos para trás, um tanto desajeitada por ainda está atordoada. Ela vira-se, joga o vassourão no chão e apressa os passos até os mesmos transformarem-se em uma discreta corrida.

Caleb acompanha os movimentos da garota até onde pode, vendo a mesma desaparecer de vista em seguida. Soltando um breve suspiro, o garoto olha para trás, vendo Reid e Tyler lançando seus olhares interrogativos e preocupados.

Enquanto isso, próximos a Spencer, Agatha e Chase avistam Violet e seus passos acelerados.

— Aquela não é a neta da Green? — Pergunta a mulher acompanhando os passos da menina.

— É. É sim. — Fala Chase, também fazendo o mesmo, seguindo a garota com seus olhos.

~ ♢ ~

— Senhorita Green, já chegou. O evento terminou mais cedo? Deveria ter ligado para sua vó ir lhe buscar.

— Eu resolvi voltar sozinha. — Violet mal responde a Elizabeth, forçando um breve sorriso para ela antes de subir a passos rápidos as escadas do hall.

Ela fecha a porta atrás de si e se joga em sua cama. Encarando o teto de seu quarto, colocando as mãos sobre a cabeça, a garota pensa o que estava havendo com ela durante essa semana. Violet tentava encontrar uma explicação racional e plausível para béqueres pegando fogo, velas ascendendo-se sozinhas e como ela quase incendiou um carro inteiro e que por sorte não causou uma explosão.

— O que está acontecendo comigo? — O peso da dúvida invade o peito da Green, esse sentimento juntamente com o medo e a angústia apertam o coração da pequena. — O que está acontecendo comigo? — A menina senta-se, sentindo as lágrimas brotando. A primeira gota cai, dando início ao choro.

— Violet?

A porta abre-se, revelando a figura de Amelie. A mais velha entra de vez no cômodo, olhando para o rosto choroso de sua neta.

— Vó, eu não sei o que está havendo comigo. — Diz ela, sua voz embargada pelo choro.

— Eu sei querida, eu sei. — A senhora Green senta-se ao lado de sua neta, abraçando a mesma com força enquanto a menina libera todo seu choro.

~ ♢ ~

Minutos haviam se passado, o choro da menina tinha cessado. Mas as perguntas permaneciam. Violet estava sozinha em seu quarto agora, sua vó havia descido para atender alguém.

— Querida? — A garota olha para a porta, avistando Amelie. — Por favor, preciso que você desça por um instante. — A voz de sua avó era gentil e calma.

— Vó, eu...

— Por favor, meu amor, é importante.

A mais velha abre mais a porta, estendendo sua mão para a neta. Um pouco relutante Violet segura na mão de sua vó, saindo do quarto, descendo as escadas.

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Ao chegar ao hall, a menina avista uma figura masculina conhecida.

— Caleb?

— Oi Violet. — Danvers ainda tinha uma expressão preocupada em seu rosto enquanto olhava para ela.

— O que está fazendo aqui? — Indaga ela, franzindo um pouco seu cenho.

O rapaz respira fundo antes de respondê-la.

— Violet, precisamos conversar.