Welcome To The Coven - Hiatus

Capítulo 10 - Conversas


Sarah aconchega-se em sua cama. Uma almofada atrás de sua cabeça e seus olhos focados no visor do celular.

A Violet falou com você?

Não. Não falo com ela desde manhã.

Pois é, ela sumiu logo depois do intervalo. Acha que aconteceu alguma coisa?

A jovem Wenham coloca uma almofada sobre suas pernas esticadas.

Por que não liga para ela?

Tem razão. Farei isso.

Ok. Enquanto isso vou tentar terminar de traduzir um dos trechos do livro.

Você sabe que pode fazer isso no Google tradutor, não é?

Sarah sorri um pouco. Claro que ela estava fazendo tal coisa.

Sim, eu sei. Mas o Google pode ser um pouco burro quando faz as traduções, você sabe.

É. Você tem razão. Eu vou ligar para Violet, nos falamos depois.

Ok. Até mais.

A garota envia um emoji sorrindo e outro mandando um beijo para Kate antes de voltar para sua atividade. Seu notebook estava ao lado direito da cama e o livro á esquerda. Com o auxílio da internet, Sarah podia selecionar de forma mais rápida os principais trechos de alguns capítulos do livro.

Na reunião de sexta foi decidido que cada uma faria um pouco do trabalho e após isso, as três juntariam o material e corrigiriam qualquer possível erro.

Afinal, traduzir os trechos mais importantes do Morro dos Ventos Uivantes não era tão trabalhoso quando se tinha mais duas pessoas para ajudar.

Um risinho escapa da boca da garota ao lembrar-se da expressão de Violet quando tal livro foi decidido. Ela realmente queria traduzir O Senhor dos Anéis. No entanto, a Green acabou cedendo posteriormente.

— Posso saber o motivo do riso? — A loira levanta o olhar, encarando a mulher alta com os braços cruzados, apoiada no batente direito da porta.

Sarah sorri abertamente.

— Ora vamos, não vai dá um abraço em sua tia? — Pergunta a mais velha, abrindo os braços.

A adolescente se levanta e caminha até ela. As duas se abraçam.

— Vamos, me deixe observar você. — Fala a mulher ao se afastar da sobrinha. — Você cresceu Sarah. Ou talvez eu tenha me ausentado demais.

— Talvez as duas opções estejam certas.

Pensando um pouco, a mulher não demora em falar mais uma vez.

— Você pode ter razão. Não nos vemos há um tempo.

— Culpa do seu trabalho, certo?

Ela anui com um movimento de cabeça.

— Meu trabalho tem tomado muito meu tempo. Percebi que preciso ficar um pouco com minha família. — Ela sorri de canto enquanto toca o ombro da sobrinha.

— Quanto tempo ficará aqui, tia Christine?

— Ainda não sei. Vamos ver quando tempo seu pai me aguenta aqui. — Ambas soltam um breve riso nasalado. — Vem, vamos. Seus pais nos esperam na sala de estar.

~ ◊ ~

Os passos do garoto foram leves e nada apressados após passar pela porta. O som da televisão ligada ecoando da sala de estar o leva até o local. Sua entrada no cômodo faz sua tia direcionar o rosto para ele.

— Então, como foi com a neta da Green? — Agatha tinha seu corpo deitado sobre o sofá. A saia longa, que agora ela vestia, cobrindo a maior parte de seu corpo.

— Previsível. — Collins imita a tia e se deita no sofá do outro lado da sala. — Caleb é lento e cauteloso demais. —Ele deposita sua atenção na TV. — E os outros o seguem fielmente, sem questionar.

Agatha encara o sobrinho por alguns segundos antes de sentar-se e apoiar seu antebraço direito sobre um dos braços do sofá.

— E como a garota reagiu?

— Violet tem a mania de fugir da verdade, mas no final acabou cedendo. — Responde ele, seus olhos ainda sobre a programação que estava sendo transmitida, mesmo que não estivesse realmente prestando atenção no que se passava ali.

— Precisa ter paciência com ela. A neta da Green não cresceu como você cresceu Chase. Magia não é algo natural para ela.

— Ser paciente é diferente de ser lento. — Collins olha para a tia. — Não quero desperdiçar meu tempo enquanto Danvers a ensina. Vou fazer da minha maneira.

Agatha se silencia, ainda o encarando. Ela conhecia aquele olhar. Os olhos de Collins mostravam o quanto ele estava determinado e ao mesmo tempo impaciente com o caminho que as coisas estavam tomando. A mulher conhecia seu sobrinho. Quando Chase queria uma coisa, ele fazia.

Apoiando as palmas das mãos sobre o sofá, ela impulsiona o corpo para frente, levantando-se e indo até ele.

A tia de Chase senta-se de lado no pequeno espaço existente no sofá próximo ao sobrinho. Calada e pensativa, ela permanece encarando o garoto.

— Você tem os olhos da sua mãe. — A mulher leva uma de suas mãos até a face do sobrinho. — Tão azuis e tão vivos. — O tom de sua voz era saudoso. Olhar para Chase ás vezes a fazia lembrar-se de sua irmã mais velha.

— Pelo visto isso é uma herança de família. — Comenta o garoto com certo tom cínico a referir-se aos olhos igualmente azuis e vivos da mulher á sua frente.

Agatha sorri fechado, abaixando a mão em seguida.

— Mas a personalidade é parecida com a do seu pai.

— Faz sentido. Tenho Collins em meu nome por alguma razão. — Ele sorri sem mostrar os dentes enquanto se acomodava melhor no sofá.

A tia sabia que Chase não gostava de conversar sobre os pais. Ele sempre soltava um comentário sarcástico ou cínico em relação ao assunto.

Agatha olha para um ponto aleatório por alguns segundos antes de volver seu olhar para o sobrinho. O jovem ainda a olhava, esperando mais de suas palavras. Ele sabia que sua tia tinha mais coisas para dizer.

— Chase, meu bem... — Ela passa seus dedos da mão direita por alguns fios dos cabelos curtos dele. — Sei que é determinado e admiro isso em você. Mas também precisa tomar cuidado.

Collins suspira, não escondendo o fato de não estar gostando do rumo da conversa.

— Agatha...

— Só me deixe terminar. — Diz ela levantando um pouco uma das mãos apenas para gesticular. — Sei que com Violet aqui, vocês poderão experimentar um poder ainda maior. Também sei que está ansioso para tal coisa, mas lembre-se que muito poder pode ser perigoso se você não tiver controle sobre ele.

— Eu terei controle. Eu sempre procurei ter. — Diz Chase já um tanto incomodado. Ele já estava saturado. Saturado de receber tantas ressalvas. No entanto, Collins respeitava sua tia e não tinha dúvidas sobre os sentimentos dela em relação á ele. Tal coisa o faz procurar mudar de atitude. — Desde pequeno ouço você e os outros falando sobre a união do círculo. O quanto nos tornamos mais poderosos e capazes de realizar feitiços mais fortes. Todos repetem o quanto precisamos estar juntos para cuidar dessa cidade. Ouço isso desde criança. — Collins pausa por breves segundos. — Eu só quero sentir tudo isso. Você me ensinou bem, Agatha. Está na hora de colocar em prática.

— E você fará isso, meu amor. Só peço que tome cuidado. Não quero que algo ruim aconteça á você.

Chase leva seus olhos até a TV e permanece assim por pouco tempo.

— Ficará satisfeita de eu disser que serei cauteloso? — Ele sorri de canto.

Collins sabia que Ipsiwich não poderia ser mais tranquila do que já era. Nada de perigoso acontecia ali, não mais. Porém, o garoto entendia a preocupação da tia. Assim, procurou tranquiza-la

Agatha imita seu gesto e também sorri de canto.

— Já é alguma coisa. — Piscando o olho direito para ele, a mulher levanta-se, indo até o sofá vago. — Então, — Ela inicia, pegando o controle remoto que estava sobre o móvel. — O que quer assistir?

~ ◊ ~

O frescor da brisa suave da tarde de domingo era sentido por Violet. Seus olhos percorriam os contornos da rosa presente em suas mãos. A Green a carregava consigo desde que Garwin a havia entregado para ela.

Ali, observando o fruto do feitiço legal, como Reid tinha dito, a jovem vivia um misto de sentimentos. Se por um lado a confusão e a dúvida martelavam em sua cabeça, por outro a sensação de familiaridade aos poucos se fazia presente. Será que tal sentimento se dava ao fato de que já pertencia á tudo aquilo mesmo sem saber anteriormente?

— Querida? — Violet direciona o olhar para a dona da voz.

— Vó.

A senhora Green se aproxima da neta. Assim como ela, a mais velha apóia os antebraços sobre o parapeito da varanda. Calma e silenciosa, como sempre procurava ser, Amelie aprecia a vista que tinha á sua disposição agora. O relógio marcava um pouco mais de três horas da tarde, a rua estava quieta e proporcionava um momento tranquilo.

Violet alternava seu olhar entre a rosa, a rua, o céu azul com poucas nuvens e sua avó. A menina até pensou que deveria dizer alguma coisa para quebrar o silêncio, mas sua vó foi mais rápida.

— Desejei por muito tempo que você soubesse.

Sentindo os olhos verdes da mais velha sobre seu rosto, a adolescente fixa seu olhar em Amelie.

— E por que só agora?

A vó da menina vira seu corpo para o lado, na direção da neta.

— Eu sinto muito, querida. Mas eu tinha que respeitar a vontade de sua mãe. — A Green mais nova franze um pouco seus cenhos perante a resposta. Ela imita a posição de sua avó. Agora as duas encaravam-se de frente. — Olívia queria que você tivesse uma vida normal. Uma vida longe de Ipswich, longe da bruxaria.

— Mas por quê? — A voz da mais nova tinha certo tom de urgência. Ela gostaria de receber algumas respostas de certos porquês que insistiam vagar por sua jovem mente.

Violet deixa que seus olhos percorram a face de Amelie. As linhas de expressão presentes no rosto mais velho demonstravam o quanto ela preocupava-se com a neta.

A menina suspira. Não queria afligir sua vó mais ainda com aqueles seus questionamentos. Ela teria tempo para isso, mas não faria agora. Lembrando-se do contentamento que tinha sentido ao ouvir as últimas palavras de Reid e do que tinha pensado sobre como passaria por tudo aquilo, Violet dá dois passos á frente.

— Vó, eu tenho muitas perguntas. Estou confusa e até já fiquei assustada. — Não era do feitio de Violet ser aberta quanto ás suas emoções, mas ela não estava conversando com qualquer um, Amelie era sua avó. E agora, com tudo aquilo acontecendo, ela precisava se apoiar em alguém. — Quando cheguei aqui eu era uma garota normal e agora existem todas essas... Coisas acontecendo comigo e eu não consigo controlá-las. — A Green mais nova pega na mão de sua vó. —Mas eu quero que saiba que eu confio na senhora, sei que pode me ajudar com tudo isso e... — Uma pausa. — E quero aprender a lidar com o que está acontecendo comigo.

O sorriso singelo e verdadeiro da senhora Green faz Violet sorrir também. Ela queria que sua vó soubesse que apesar de todas aquelas revelações repentinas, apesar de todo aquele segredo, a adolescente não estava com raiva ou ressentida com a mais velha. Violet até achava um tanto difícil ter tais sentimentos em relação á sua avó.

A menina fecha os olhos, sentindo o abraço amoroso e acolhedor dado por Amelie.

O momento foi aproveitado por alguns minutos antes que o celular da garota vibrasse.

As duas saem do abraço e Violet verifica o aparelho.

— É a Kate. Eu preciso atender.

— Claro, querida. Estarei na sala. — Amelie inclina seu rosto um pouco para frente, depositando um beijo sobre a testa da neta antes de sair.

Agora encarando o visor do celular e o nome da sua colega nele, Violet precisava pensar no que diria para Kate. Afinal, ela tinha saído ás pressas do evento sem ter dado nenhuma satisfação para a garota. A Green suspira antes de atender a ligação.

— Oi Kate.

~ ◊ ~

Os olhos castanhos percorriam o conteúdo presente nas páginas brancas em suas mãos. Uma expressão de satisfação pela ótima leitura que estava fazendo surge na face de Vincent.

— Parabéns Nicholas. Está muito bom. — Ele entrega o documento para o amigo que sorria satisfeito.

— Obrigado Vincent. Eu estou tão empolgado. Sinto como se pudesse escrever milhões de teses de doutorado como esta.

Vincent sorri fechado perante a animação do outro. Era bom o ver daquele jeito após tantos problemas que ele havia passado.

— Não duvido Nicholas. Não duvido. Mas isto ainda é apenas uma parte de sua tese, sabe que tem muito mais para escrever. — Gesticula ele, apontando para o material.

Os dois homens estavam na padaria mais visitada por Vincent, a mesma que tinha ido com Violet dias antes. Nicholas havia pedido uma hora com o amigo, ele precisava mostrar sua melhora.

— Sim, eu sei. Mas isso não será problema, não mais. Acredito que posso terminar esta noite.

— Vá com calma, amigo. Descanso também é necessário. E você precisa acordar cedo para me ajudar com alguns artefatos amanhã. — Diz ele, observando enquanto Nicholas guardava a tese dentro de sua mochila.

— E eu estarei lá. Não se preocupe. Estou tão animado com tudo isso que acho que posso fazer qualquer coisa. — Nicholas se levanta. Sua mão direita segurando um copo de café e a outra envolta da alça de sua mochila.

— Entendo sua empolgação. — O rapaz negro dá um sorriso fechado e rápido. Ele estava contente com o ânimo renovado do outro rapaz.

O outro sorri com mais ânimo e toma um gole do líquido dentro do copo.

— O prefeito mudou de ideia em relação á verba liberada? — Nicholas leva seus olhos para a rua por alguns segundos antes de volver seu olhar para o homem sentado á sua frente.

Com uma expressão um tanto desgostosa, Vincent responde:

— Não. Sabe que prefeito não possui interesse nessas coisas, mesmo que elas envolvam melhorias do lugar que guarda peças importantes do passado de nossa cidade.

Nicholas torce um pouco o rosto. Seu amigo tinha razão.

— É. Você está certo. — O rapaz toma mais um gole de seu café. — Preciso que ir, tenho trabalho para fazer.

— Nos vemos amanhã, Nicholas.

— Sem falta.

O homem acena brevemente antes de sair do estabelecimento, deixando Vincent sentado á mesa, sozinho. As preocupações envolvendo a reforma do local onde abrigava as antiguidades de Ipswich tomavam grande parte de seus pensamentos. Talvez ele devesse falar com Amelie, pedir ajuda. Sua amiga entendia o quanto aquilo era importante para ele, entendia bem mais que o prefeito Jonathan, sem dúvida.

Com aquela ideia em sua mente, Vincent levanta-se da mesa e segue para fora da padaria.