Isso não é uma história de amor. Talvez um dia tenha sido. Mas não consigo vê-la como tal agora que tudo terminou. Acabou por ser uma batalha de egos de que todos saíram feridos. Eu conheci a Nina quando eu tinha 16 anos e ela 15. Eu tinha acabado de me mudar pra Londres sozinho para seguir o sonho maluco (que se tornou realidade) de viver de música. Eu estava sozinho em uma cidade gigante. E, de certa forma, Nina sempre esteve sozinha. Ela nunca foi uma garota comum e isso que me cativou.

Nos conhecemos em um metrô enquanto eu ia de uma gravação independente para uma aula de loop. Ela estava lendo Charlies Dickens no último vagão. Não sei se você sabe, mas, antes de ser Ed Sheeran, eu era só o Edward, um cantor que tentava sobreviver cantando em bares e dormindo em metrôs. De preferência, no último vagão, já que era mais vazio. E, naquele dia ensolarado de primavera, talvez um dos únicos que tivemos que Londres nos últimos cinco meses, eu a vi. Com seu cabelo loiro tão loiro que era quase branco, seu rosto pequeno e seus olhos azuis. Foi ali que tudo começou.

— Você está no meu banco - eu disse só para puxar assunto

— Não vejo o seu nome nele - ela respondeu com o tom seco que eu aprenderia a amar e odiar em tão pouco tempo.

— É que eu durmo aqui. Tipo, todo dia

— Dorme? Mas você mora na rua?

— Não. Bom, um pouco. Eu não tenho uma casa, mas prefiro não dormir na rua em si.

— Por quê? - Nina e sua curiosidade insaciável por histórias

— Eu sou cantor. Quer dizer, estou tentando ser. Sou de uma cidadezinha no interior que não me dava chance nenhuma, então, me mudei pra cá.

— Só com a cara e a coragem?

— E um violão velho.

E essa foi a primeira vez que eu ouvia sua risada. Desde então, esse tinha virado meu som preferido no mundo.

— Então, canta alguma coisa pra mim

— Ah, não é tão fácil assim

— Por que não? Eu estou vendo que você está com o violão aí e, claramente, não está sem voz.

— Ah, mas eu nem sei que música cantar

— Qualquer uma. Você sabe Yesterday, dos Beatles?

— É claro que eu sei Yesterday dos Beatles.

— Então, pronto. Canta pra mim.

Essa seria a frase que eu mais ouviria pelos próximos 10 anos de muitas bocas diferentes. Mas aquela sempre seria minha favorita.

Então, no meio de “why did she had to go, I don’t know, she wouldn’t say”, ela começou a chorar. Mas não aquele choro controlado e contido que normalmente fazemos em público. Um choro histérico. Um choro com soluços.

Depois de tantas idas e vindas com a Nina, eu descobri que ela tem alguns tipos de choros: o histérico, com soluços que é de quando algo a machuca muito; o contido para algum filme ou livro; o falso de quando ela queria alguma coisa e o construído, que ia desde a decepção até o aumento da intensidade e que, por muito tempo, era reservado para mim.

Quando a música acabou e ela limpou os olhos, eu quis perguntar a razão de tudo aquilo mas me contive é simplesmente acenei com a cabeça agradecendo seu elogio.

— Eu também canto, sabia? - nesse momento eu descobriria uma das melhores parceiras de dueto

— Ah, é? Então, agora é sua vez. - provoquei.

— Não, não, não. Não estou com estrutura emocional para isso agora.

— E quando você estará? Será que amanhã à noite lá pelas 20?

— Isso é um convite?

— Se você quiser que seja

— Então tá. Amanhã às 20 nesse mesmo vagão.

— Combinado. Eu trago a tequila.

— Eu trago batata frita e minha inigualável companhia.