Essa seria a primeira noite desde que me mudei para Londres em que eu não dormiria. Primeira de muitas. Bom, dormir mesmo, 8 horas por noite, como pessoas normais, nunca tinha acontecido. Mas, pelo menos, eu conseguia cochilar umas duas horas até o guarda do metrô me expulsar.

Nunca tinha estado tão nervoso. Parecia que tudo daria errado e Nina nunca mais olharia no meu rosto. De manhã, fui para o estúdio tentar gravar alguma coisa, mas nada saiu. De tarde, fui para minha aula de canto, do outro lado da cidade, mas também não deu muito certo. Desafinei várias vezes e a professora teve que chamar minha atenção várias vezes por não prestar atenção. Tudo o que passava na minha cabeça era Nina.

Eu ainda não acreditava que aquela menina maravilhosa tinha aceitado sair comigo, um sem-teto dormindo no metrô. Faltavam duas horas para nos encontrarmos e eu passei na floricultura, mas todas as flores eram mais caras do que eu poderia comprar, ainda mais que eu tinha comprado a tequila com muita dificuldade, já que era menor de idade. Então, continuei andando até a estação e me deparei com um jardim de rosas. Aí que me ocorreu o que pareceu ser uma ótima ideia, mas seria o fim de nossa noite. Resolvi pegar uma para dar a Nina. Ninguém perceberia, afinal, era só uma flor.

Porém, assim que ele arrancou a rosa, uma senhora, provavelmente dona do jardim, o interpelou:

- O que está fazendo, menino? Aqui é propriedade privada! Isso é roubo.

Por medo de ela chamar a polícia, eu saí correndo e só parei quando entrei no vagão. Tínhamos marcado às 20 e eram 19:30. Eu ainda tinha algumas estações antes de Nina chegar. Eu tinha arrumado meu cabelo, colocado uma camisa nova e ensaiado uma música nova no violão. Nada podia dar errado.

Depois de uma pequena espera, Nina entrou no nosso vagão pontualmente. Ela usava um vestido preto com abertura nos ombros, meia calça preta e um coturno da mesma cor. Tudo isso fazia com que seus olhos azuis realçassem cada vez mais.

- Olha, você veio! – disse ela um pouco surpresa.

- Claro! Eu moro aqui – rimos juntos, o que afugentou uma senhora para fora do trem – e nem perguntei seu nome.

- Nina. Nina Nesbitt. Pronto para o melhor encontro da sua vida? – ela mostrou aquele sorriso de canto de boca – Batata frita, aqui. Tequila, aqui.

- Sua inigualável companhia, aqui – eu a interrompi, fazendo com que ela corasse – A propósito, meu nome é Edward Sheeran. Mas pode me chamar de Ed. Ah, e trouxe isto para você.

Depois de entregar a rosa a ela desajeitadamente, eu disse:

- Ensaiei uma música para você... Não está pronta ainda, mas

- Você fez uma música para mim?

- Ah, são só alguns versos, nada demais.

- Claro que é demais! Nos conhecemos ontem e você já conseguiu fazer uma música para mim! Vou te contar um segredo – ela abaixou a voz – meu maior sonho sempre foi servir de inspiração para uma música.

- Então, parece que está se realizando.

Peguei o violão, esbocei os primeiros acordes e finalmente tive confiança para começar a cantar:

“Settle down with me
Cover me up
Cuddle me in

Lie down with me
And hold me in your arms

And your heart's against my chest
Your lips pressed in my neck
I'm falling for your eyes
But they don't know me yet
And with a feeling I'll forget
I'm in love now

Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love”

Quando eu terminei, assim como na noite anterior, Nina tinha lágrimas nos olhos.

— Gostou? – perguntei timidamente.

E, como resposta, recebi um beijo. O primeiro de muitos. Meio apaixonado, meio gentil. Naquele momento, o mundo parou e só existíamos nós dois e aquele metrô. Nada mais importava. Nem o fato de eu dormir naquele mesmo vagão e minha carreira musical estar indo de mal a pior. Só aquele beijo importava. Mas ele acabou cedo demais.

— Senhor! O senhor será levado para a delegacia – ouvi atrás de mim.

O dono da voz, um policial de quase dois metros, me encarava com um par de algemas nas mãos.

— Ed, o que é isso? O que aconteceu? – perguntou Nina assustada.

— Esse delinquente roubou essa flor do meu jardim – gritou exasperada a senhora que havia o repreendido alguns minutos atrás.

Nina e eu nos olhamos rapidamente e começamos a rir. Até hoje não sei se de nervoso pela presença do policial ou por eu estar sendo levado para a delegacia por roubar uma flor. Mas o momento do riso não durou mais do que cinco segundos. O policial me algemou e me levou para longe do melhor primeiro encontro que eu poderia ter tido.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.