Ira

— Rikka!?

Me afastei dos lábios dela e olhei para trás, encontrando com aquele bicho de pelúcia que sempre está junto. Senti a aproximação da mesma em um levantar de olhares por cima dos meus ombros.

Está perto.

Óbvio que não falei isso! Não admitiria pra ela uma coisa dessa! Minhas bochechas voltaram a queimar assim como aconteceu a minutos atrás.

— Raquel, não é nada disso do que está pensando!

Em um impulso, olhei para ela de canto de olho brigando por berrar nos meus ouvidos. Mereço, além de um coelho maldito nos atrapalhar, ainda preciso escutar suas explicações a ele. Que saco!

Nem de tempo dela agir, o bicho veio em minha direção como aquelas desgraças menores que bola de boliche que vem latindo com o medo nas alturas.

Como ele se atreve!?

Peguei-o por uma das pernas e olhei firmemente para ele.

— O que, desgraça, está fazendo?

— Deixe a Rikka em paz, se não eu vou...

Cure Diamond o segurou firme em um abraço, voltando a deitar na cama enquanto olha para mim sem graça.

— Sinto muito, Ira.

— Tsu.

Desviei o olhar, ainda enfurecido.

Idiota!

Me distanciei dela no ar, respirei fundo antes de cuspir minhas últimas palavras e me teletransportar.

— Vou dar um fora daqui.

O vou dar um fora daqui foi em relação a dentro da casa. Dessa vez fui para uma parede onde ela não pudesse me ver por lá e nem eu a ela.

Ela deve estar com aquele, grr!

Podia ter sido eu a ser pego por ela, mas não, tinha que ser o sem noção. Só pude ficar com ela agora depois de alguns minutos que estava sozinha. Devia ter entrado assim que entrou em seu quarto.

De novo essa sensação de algo me pedindo pra voltar, dar um beijo e ficarmos juntos. Esse nervosismo de quando estou ou não com ela, do meu peito batendo a mil, do meu rosto esquentando e algo dizendo não vá ou vai se foder. O que está acontecendo?

Encostei a parede com todos os sentimentos à tona para me abalar. Respirei fundo várias vezes na tentativa de me acalmar ou, pelo menos, esquecê-la por um tempo para voltar ao esconderijo sem demonstrar muitas alterações. Ainda consigo sentir o calor dos lábios dela pressionado aos meus. Me lembro do rosto que fez após se afastar de mim naquele dia da luta, aquele rosto de desejos que nunca vi antes.

Que fofa

Balancei a cabeça.

ficando louco? Ela não tem nada de fofa!

Teletransportei para o esconderijo e me joguei no sofá mais próximo. Não posso me deixar levar por alguém como ela! Não sei como pude ter a beijado de novo! Tô ferrado se alguém descobrir isso.

— Ah! Cala a boca!

Briguei comigo mesmo, me esperneando ainda mais do que antes.

Esquece! Esquece! Esquece, caralho!

— O que houve dessa vez, Ira?

Pensei em contar, comentar sobre o assunto, mas com certeza ela só pioraria minha situação. Ainda mais com esses dois idiotas invadindo nosso local o tempo todo.

Me sentei para respondê-la

— É um saco ficar aqui.

Ótima desculpa. Devia ter pensado em algo antes de ter vindo, pessoa idiota!

Nem prestei atenção nas ultimas palavras de Mammo, só voltei a deitar.

Preciso lidar com isso sozinho, antes que piore tudo.

Me forcei a dormir várias vezes. Acordei, levantei, joguei boliche e o tempo não passou. Já está prestes a amanhecer no mundo dos humanos e eu aqui, perdendo o sono por causa dela!

Tsu, foda-se. Vou dar uma passadinha de novo!

Em um passe de teletransporte, fui direto para o seu quarto, dessa vez sendo vigiado por seu mascote. Ele me puxou, fazendo maiores escândalos por minha presença. Peguei seu rabo como da última vez e ele se transformou em humano me forçando a ir para o chão.

— Desde quando você...?

Totalmente confuso com a situação, comecei a observa-lo ainda mais. Uma pontada no peito senti após imaginar uma relação mais afetiva que ele deve ter com ela.

— Não vou deixar que toque um dedo na Rikka!

Segurei sua mão após tentar me atingir com um soco.

Como ele é capaz!?

Revidei com outro soco em seu estômago, que por sinal, foi uma falha. Diamond acabou por me empurrar aos berros, e diferente da outra vez, brigou com seu mascote como em um sermão. Percebi o quanto desatenta está naquele momento ou melhor, o quanto focada apenas nele.

Ainda tô aqui, idiota!

Peguei sua mão e a puxei para minha direção. Com a mão livre, a fiz colar no meu corpo e com essa, que antes segurou sua mão, peguei o seu rosto utilizando o queixo como domínio meu. Sem esperar muito, quebrei o espaço entre nossos lábios.

Assim como das outras vezes, ela congelou por alguns segundos e logo se entregou. Afastou-se sem olhar nos meus olhos, permitindo somente as nossas bocas sem toque algum.

— Ira... Não podemos continuar.

Ah... Quê?

— Como assim?

Ela respirou fundo antes de repetir sua frase, falada de outra forma, novamente.

Me afastei, incrédulo. Como ela pode dizer isso depois das vezes que vim até aqui? Não significou nada? Dessa vez, admito, minha mente girou e girou. Várias criticas fiz a mim mesmo só no pouco tempo que tive para racionar. Não quero que acabe! Não quero isso!

— É isso agora!? Que tipo de idiota você é brincando desse jeito?

— Idiota é você! Somos inimigos. Não tem como continuar e ainda por cima, senhor sabe tudo, estamos perdidos se alguém descobre!

— Foda-se eles! Que se exploda! Eu tô aqui pra ficar com você e não com eles!

— Óbvio que pra você não é importante. Nunca é! Você só pensa em si mesmo e no seu bem estar; como posso ser burra em achar que você entenderia alguma coisa!?

— E você entende merda nenhuma sobre mim!

A vi respirar fundo e me olhar como se fosse o maior idiota da fase da Terra.

— Ok, mas também não quero ficar beijando qualquer um.

— E eu sou qualquer um pra você?

Juro, nesse momento quis que todas as respostas dessem negativo; que ela não chegasse ao ponto de me considerar apenas um cara a mais na sua vida; que me visse acima do que apenas alguém que veio na sua casa para partir pra cima e fosse embora. Droga de nervosismo!

— Eu... Não sei. Sinto muito, mas não sei o que pensar... Nós dois, isso me dá medo.

A abracei, impulsivo. Não sei ela, mas sei que eles tentarão de todas as formas para ferra-la se descobrissem sobre nós. Aproveitarão disso só pra acabar com as Precures e não restar mais nenhuma a quem lutar ou nos atrapalhar. Como sou idiota... Lógico que ela também está preocupada. Como não pensei que tivéssemos a mesma insegurança?

— Foi mal.

Ouvi-la dizer meu nome com tanta fraqueza me fez querer protege-la, pelo menos deles. Deitei meu rosto em seu ombro querendo esconder qualquer indicio emocional que posso demonstrar.

— O que eu posso fazer pra você me aceitar?

— Não sei, mas tenho que admitir. Te beijar é tão bom

Senti meu rosto esquentar. A ansiedade me fez querer esconder tudo exposto que deixei, todas as formas que ela pode notar que seu comentário me abalou de alguma forma.

— I-isso... Não é o suficiente?

— Pra mim não.

— E o que é suficiente?

Ela tirou uma das mãos que estavam em minhas costas e levantou meu rosto, depositando-a em minha bochecha. Forçou-me a olhar pra ela e, antes de começar, respirou fundo.

— Quero algo seguro. Algo que pudesse me fazer sentir-me confortável perto de você, algo que não me deixasse insegura ou ansiosa quando pensasse no assunto. É isso o que eu quero.

— Se eu te desse isso, você continuaria comigo?

— Sim.