Rikka

— Vocês não acharam isso estranho? Eles simplesmente nos atacaram mas não lutaram contra.

Aguri observou esse detalhe depois de ouvir nossa história do ataque repentino de Gula e Leva. E claro, concordamos com ela. O que aconteceu não foi normal e esse é o maior problema disso tudo. Não falamos sobre Ira e o ataque repentino contra ele, não podemos falar por enquanto.

O que mais me machuca em lembrar do Ira é que estamos sendo testados, ou melhor, ele está sendo testado o que piora tudo daqui por em diante.

Começamos a discutir mais sobre o assunto. Alice questionando o mesmo que Aguri, o fator da observação criando até teorias de que eles estivessem nos testando ou analisando para seus próximos ataques. Makoto tentando entender Ira que agora "está" de volta a lutar contra nós e se questionando por seu sumiço. Mana e eu ficamos apenas em silencio, tentando acompanhar cada raciocínio, ou espero que ela esteja fazendo isso...

Estremeço assim quando o nome do meu namorado é mencionado. O medo me corroí junto com a sensação de estar traindo-as sempre que as vejo.

Isso está sendo mais difícil do que pensava...

— Algum problema, Rikka?

Dei um pulo na cadeira quando meu nome foi mencionado, ainda mais por uma voz autoritária e infantil que Aguri possuí. Olhei para todas ao meu redor, principalmente Mana que expressa a sua preocupação com o olhar e entendo o que está realmente acontecendo. Me distraí totalmente, o que não é de se acontecer. Mais do que culpa agora, quero pedir perdão a Mana por não acreditar sempre na sua principal frase de consolo "Você está seguindo o seu coração. Não está nos traindo" e cometer um erro desses por pura insegurança.

— Só estou preocupada com tudo isso. Poderíamos ter morrido em uma dessas e pra acabar, pode existir uma próxima.

A tensão logo piorou. Deixei escapar um dos piores detalhes e mais importantes da situação e isso, com certeza, não é nada fácil para elas quererem pensar agora. Ficamos alguns segundos em silêncio até Aguri finalizar a reunião dizendo:

— Não se preocupem, vamos fazer dar tudo certo, apenas não abaixem a guarda. Não sabemos o que eles podem fazer, então tomem cuidado.

Parei um pouco de fazer os exercícios de ciências, enquanto lembro da reunião que aconteceu alguns dias atrás. Gostaria de saber o que vai acontecer agora. Se vamos nos perder no meio do caminho ou se vamos continuar vencendo todas. É preocupante!

Fui interrompida dos meus devaneios por Ira que continua a brigar comigo por atenção e se jogando, literalmente, em mim para evitar que ignore sua presença. Já faz duas horas desde o momento em que comecei a estudar e ele começou a ficar impaciente a cada minuto que passou.

— Depois, Ira! As provas estão chegando. Eu preciso estudar!

— Só uns minutos, porra!

Só uns minutos que acabam virando uma hora.

Suspirei e segurei seu rosto contra o meu, na intenção de prender, de forma amorosa, sua cabeça junto a minha.

— Você consegue ser irritante, sabia?

Senti dar-lhes um sorriso com meu comentário.

— Continuo sendo do Trio Egoísta, esqueceu?

Me imitou, como todas as vezes que queria me irritar. Ele sempre copia todas as minhas falas recentes do dia e começa a dize-las para que o note e consequentemente, consegue minha fúria.

Respirei fundo.

— Sim, esqueci. Não tem como um garoto tão fofo ser de um trio do mal.

— Já te disse que detesto quando me chama de fofo!

Sorri, orgulhosa de ter conquistado a vingança. Ira detesta quando o chamo de fofo, sempre me dizendo que o faz se sentir como uma garota, como se fosse tão ruim assim. Vai entender a mente desse garoto em alguns momentos.

— E daí? Você é fofo mesmo e ninguém pode negar isso.

Provoquei-o mais uma vez.

— Morre!

Ira se afastou, revoltado. Apenas direcionei minha atenção para ele, ainda me mantendo convencida.

— Se eu morrer, te levo junto comigo.

Brinquei.

Não demorou muito para rirmos e nos divertir com nossa conversa "irritante". Esse comportamento me lembra muito quando comecei a ser Precure. Ira, sempre que lutava, discutia comigo por qualquer coisa enquanto eu tentava repreende-lo tentando faze-lo entender o quanto suas atitudes erradas teriam consequências. E como teve! Sua punição é me aguentar nos melhores e piores momentos! E a minha recompensa é poder ver seu lindo sorriso todos os dias sem ser com o ar de bad boy.

Algumas vezes me pergunto se não estou apaixonada cegamente por esse garoto mesmo tendo 90% de certeza que não estou cega. Ouço que quando você está na paixão intensa por alguém, não consegue enxergar os defeitos e nem os erros do outro e ainda fica na esperança de que ele mude tudo o que você desgosta por sua causa. Sei lá, sei que Ira tem seus defeitos e que ainda não conheci a todos, mas não deixo de acha-lo interessante a cada dia que passa. É quase um escape de diferenças onde ambos estamos sabendo lidar e adquiri-las.

A campainha toca o que me fez ir em impulsos para a janela verificar quem é. Ira silenciou-se e se abaixou para não ter nenhuma possibilidade de ser visto. E para a minha surpresa, minha visita é a Makoto e Davi.

Saí da janela, logo avisando a Ira que se despediu de mim com um beijo rápido. Corri para a porta que Raquel já tinha atendido. Makoto ainda está entrando em minha casa quando chego, a cumprimento e a convido para entrar sabendo que Raquel já o fez no meu lugar.

Raquel me olhou com angustia, como se perguntasse por Ira. Ignorei totalmente para não dar mais desconfianças do que posso ter dado na reunião e convidei Makoto a se sentar no sofá.

— Sinto muito aparecer essas horas, mas tem algo que fiquei pensando ultimamente.

Ela descobriu...

Minha mente se transformou em uma montanha russa de negatividade. Ela deve estar me odiando ou se odiando por ter descoberto. Quase pedi desculpas em impulso quando a ouvi continuar o que tem a dizer.

— Você anda escondendo alguma coisa da gente?

— Eu? Escondendo? Do que está falando?

— Não é nada disso que está pensando-Kero!

Meus sentimentos foram mais à tona e já me culpei por ter mentido de forma tão ruim. Para o meu alivio ou desanimo, Raquel foi o pior. Se ela já tinha não acreditou comigo, com Raquel ela teve total certeza da verdade.

— Vocês são péssimos mentirosos

— Sim.

Concluiu ambas.

Tentei tirar um pouco meu nervosismo mexendo no meu cabelo, mas admito que não ajudou muito. Segui para meu plano B, respirar fundo e contar uma meio-verdade. Contar mais não contar tudo. Estou sendo sincera, só ocultando algumas coisas que não precisam saber, certo? Que belo engano que estou tentando me convencer...

Respirei fundo.

— É que estou namorando -.

Interrompida por sua surpresa e perguntas empolgadas para saber mais sobre minha vida amorosa. Dei um sorriso, constrangida.

— Me desculpa, Makopi, mas ainda não me sinto confortável em falar dele.

Conversamos mais um pouco sobre o assunto de forma vaga. Nisso, percebi que faz em torno de um mês que estou me envolvendo com Ira, e para a minha surpresa, é a primeira vez que tentaram nos "separar". É algo bom até, pois conseguimos nos conhecer melhor e desenvolver um laço mais forte. Só que também tem o lado ruim do assunto. Nessa conversa foi que minha ficha caiu em questão ao que estou fazendo com Makoto e o quanto posso destruir a confiança que tem em mim e até mesmo nossa amizade por simplesmente um garoto. Ira foi quem acabou com sua vida trazendo o reino ao que ele é hoje, acabando com todas as suas lembranças e, é claro, Makopi possuí um ódio profundo por Ira, assim como a todos os outros do Trio Egoísta. A única que tolerou por entender que não fazia sentido guardar ressentimentos foi por Regina por não ter feito parte desse plano. Mesmo que Mana me diga que estou seguindo meu rumo sem me envolver com seu passado, ainda assim, não paro de pensar quando a vejo que isso pode chateá-la. Tenho certeza que se decepcionará comigo.

Quando foi embora, olhei para Raquel que me esperou bastante ansioso.

— Temos que tomar mais cuidado.

Ele apenas concordou, um pouco mais aliviado após me ver sorrir. Aproveitei para contar meio por cima dos meus sentimentos e pensamentos relacionados a Makopi e Raquel fez o mesmo. Pela primeira vez, depois de nossa briga, conseguimos manter uma conversa mais longa e sentimental. Me deixou feliz e confiante.

— Não se preocupe. Vamos fazer tudo ficar bem, assim como a Mana fez com a Regina.

Raquel me olhou, confuso.

— Está falando em mudar Ira?

Respirei fundo antes de responder.

— Isso eu não posso fazer, mas fazer a minha relação dar certo e nos proteger é algo possível, não acha?

Raquel sorriu, concordando.

Vamos todos juntos conseguir a vitória.