We are blue
Capítulo 10
Ira
Voltei para o esconderijo, pensando no que o bicho tinha dito a ela.
Reunião, em?
Elas tinham o costume de sair em alguns dias para melhorar as habilidades, treinar e mais algumas conversas, mas isso foi muito imediato. Lembro que Rikka me avisa sempre com antecedência. O que aconteceu?
Droga! Por que tô ansioso? Idiota!
Me joguei no sofá, tentando tirar a imagem de Rikka sorrindo pra mim, que persistiu em ficar na mente.
— Ah, Ira, me deixa ver o seu colar.
Mammo se aproximou de mim em uma leve sombra que bateu no meu rosto. Respondi com um curto e grosso não que não foi empecilho pra ela começar a me tocar buscando a corrente a todo custo.
Em impulso, segurei seus pulsos e a olhei firmemente.
— Me larga, velha pedófila!
— Velha pedófila é a sua mãe.
Seu rosto mudou rápido como a de quem está prestes a cometer um assassinato. Pensei que fosse meus últimos segundos de vida, já comecei a me lamentar mentalmente por tê-la chamado como a chamei, até Mammo me soltar e se jogar no sofá ao meu lado. Ela cruzou as pernas e ficou a me encarar, apoiando seu cotovelo na coxa e a cabeça nas mãos.
— A sua namorada é aquela azulada, não é?
Estremeci e me sentei em um pulo.
— Cala a boca! Quem disse que era ela?
Mammo começou a rir.
Idiota!
— Faz algum tempo que você não fala dela e também, seu rosto está vermelho.
Droga de corpo!
Me ajeitei no sofá evitando olhá-la. É verdade, estava acostumado a reclamar dela sempre que a via. Odiava ela a todo custo por estar me atrapalhando e por ser quem era, ou parecia ser. Pensando bem, ficava assim por ela antes. Ansioso para encontrá-la de novo, para observar enquanto luta e escutar sua voz. Muitas vezes atacava só para ter um descanso e parar de pensar um pouco nela, como se algo em mim insistisse para estar perto dela.
Droga... O que ela faz pra me deixar assim?
— Ei, pare de pensar nessas coisas enquanto tô aqui, seu virjão.
— Falou a prostituta!
— Ah, vai me dizer que você também não quer dar umas pegas naquela gostosa?
Me levantei, aproximei-me da pista e joguei a bola de boliche que nem chegou perto de acertar Mammo.
Droga! Essa vadia vai me pagar!
— Ara, ficou bravinho é, cachorrinho?
— Vá a merda!
Me afastei pisando forte. Prefiro ficar na casa de Rikka com a possibilidade de alguém chegar do que ter que aguentar essa velha.
— Ah, manda um beijo pra sua namorada.
— Ela não é minha namorada, porra!
Saí com meu rosto queimando.
Que merda!
Entrei direto em seu quarto observando aos arredores ouvindo a palavra "Namorada" ecoar no meu ouvido. Sempre parei para pensar no que seriamos e o que deveríamos ser, se estou apressando as coisas ou indo devagar demais, principalmente não conseguindo me declarar a ela. Só de pensar, meu rosto queima com a ideia. Nem sei o que ela quer também e duvido muito que ela considere a possibilidade pelo maldito do Leva.
— Ah! Pô!
Me joguei na cama jogando meus sapatos pelo alto. Puxei seu travesseiro para perto e escondi meu rosto nele.
Esse cheiro...
Abri meus olhos percebendo o escuro da noite. Todo coberto com a coberta, que antes, estava deitado em cima e com a minha jaqueta pendurada na cadeira de estudos de Rikka.
Então ela chegou...
Vários sentimentos se misturou. Ansiedade, nervosismo, timidez e curiosidade. O que acontecer agora, vai ser o resultado da reunião.
Levantei e comecei a procurá-la com certo receio. Entrei no outro quarto, bati na porta do banheiro, fui para a sala e, por fim, na cozinha. O único com quem me encontrei foi com o aquele troço azul voador que não me deu muita atenção de primeira.
— Ei, cadê a Rikka?
— Foi comprar algo para a janta-kero.
Hum... Que mentira mal contada.
Olhei para o local onde normalmente fica quando está cozinhando e me lembrei das vezes que me fez o jantar. Nenhuma delas, ou quase nenhuma comprou algo para a janta e mesmo quando já tivesse comprado, comprava sempre antes. Não teria motivo para deixar esse enfeite aqui na casa, ainda mais para cuidar.
Que merda aconteceu lá?
Senti o azulado se aproximar de mim e parar em um instante em sua forma humana. Me virei para ele e encarei-o.
— Algum problema?
Respondi, ríspido e grosso.
— Seja sincero... O que você sente pela Rikka?
Em um instante, meu corpo endurece e a droga do meu rosto também ferve. Pensei na possibilidade de dizer que simplesmente gosto dela e perguntar o que ele queria com isso, mas não consegui. A única coisa que consegui foi um alto "Não é da sua conta!" que foi retrucado rápido.
— Eu estou apaixonado pela Rikka! Se não sente nada por ela, suma logo daqui!
— A casa nem é sua.
— Dor! Eu moro aqui, idiota!
— E?
— E eu... Não importa! Você gosta dela ou não? Responde logo!
Em meio aos berros e prestes a admitir, ouvi a porta sendo aberta o que nos causou o silêncio. A pontada que senti antes no peito e a raiva foi preenchida com indiferença. Se antes ela não estivesse brava, agora com certeza a deixamos.
Rikka entrou na casa nos encarando.
Ferrou.
— O que está acontecendo aqui? Dá pra ouvir os gritos lá de fora.
— Seu namorado que é idiota. Nem consegue te assumir.
Fiquei prestes a começar outra briga quando vi de relance dos seus olhos lacrimejando enquanto passou por mim para ir a cozinha. Não consegui me segurar, a puxei pela cintura no mesmo momento que percebi com meu coração a mil. De novo sobre namoro e assumir. Isso a machuca tanto? O que tem de tão especial em assumir um namoro?
Foda-se o pedido!
Apoiei a cabeça em seu ombro e me escondi no mundaréu de cabelos, evitando quaisquer trocas de olhares possíveis.
— Esquece a comida e fica comigo.
— Mas eu preciso fazer!
— Como vai fazer se eu não vou te soltar?
Peguei todos os fios de cabelos e joguei para seu outro lado. Encostei meus lábios em seu pescoço e a vi endurecer um pouco. Sorri e comecei a beija-la. Tirando o cheiro de morango que vêm das roupas, mas em seu pescoço não como uma maldição estranha me confundiu. Apenas ignorei, aproveitando as respiradas ofegantes que Rikka começou a dar.
— Você gosta?
Rikka começou a negar, segurou minhas mãos e tentou se soltar para fugir. A puxei ainda mais contra meu corpo e continuei. Sua imagem nua veio em minha mente e a curiosidade de descobrir seu corpo aumentou, ainda mais por suas reações.
Fomos caindo. No chão, ela finalmente soltou as sacolas, mas para o meu azar, se virou e afastou meu rosto do meu divertimento.
— Chega, Ira! Estamos na porta entre a sala e a cozinha! Não dá pra se comportar um pouco?
Ouvi o bufo vindo atrás de nós, o que me fez aproveitar e responder um "Não" alto suficiente para que ele pudesse escutar. Aproveitei e também roube-lhe um beijo.
Me encheu o saco, mas no final quem está agarrado a ela sou eu.
Pensar isso, me deu um certo prazer. Uma vingança talvez? Sei lá, só ganhei.
— Ei! O que aconteceu com vocês dois hoje? Resolveram criar uma guerra aqui?
— Esquece ele. Eu tô aqui, porra! Pensa em mim.
Rikka deu uma leve risada, o que me fez corar. Ela percebeu minha insegurança com ele ou pelo menos, desconfia de algo. Esqueço que ela não é tão ingênua.
— Você é tão fofo.
— Ah, cala a boca!
— Calo sim.
Ela se aproximou e me beijou. Não pude evitar o sorriso por ter recebido um diretamente por iniciativa dela, não sei se acabei a beijando ou apenas sorrindo. E ela calma e plena na minha frente, tornou tudo ainda mais difícil de relaxar.
Voltei a pôr minha cabeça no seu ombro para esconder-me. Não vou deixar ela me ver assim.
— Ira.
Sua voz, tão doce.
— Hum?
— Estou apaixonada por você. Namora comigo?
Em instantes, meu rosto queimou e a olhei.
Namoro? Ela e eu?
Meu coração disparou e falei qualquer merda que veio na cabeça. Voltei para seu ombro, um pouco mais calmo, mas ainda nervoso.
— Tanto faz.
— Isso é um sim?
— Pode ser.
Uma de suas mãos foram para os meus cabelos em um pequeno cafuné misturado com um abraço.
Droga! Se eles não acabarem comigo, ela vai!
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