Rikka

Não me recordo de quem começou, apenas lembro dos pequenos lábios se tocando aos meus, dos braços ao redor da minha cintura pretendendo-me a ele e dos meus braços se enroscando no seu pescoço. Mesmo naquele momento, o seu tamanho não me incomodou. Só quero aproveitar mais e mais disso tudo, desse sentimento, dele.

Nos afastamos lentamente, olhando um para o outro com os olhos entre abertos e para a minha felicidade, eles pedem por mais assim como desejo.

Calmamente aproximei meus lábios para selar aos dele novamente, para tê-lo de novo.

— My sweet heart!

O que é que...?

Não tive nem tempo para pensar ou tomar alguma outra posição. Ira me empurrou bruscamente e sumiu num teletransporte em maior desespero.

Em meio aos meus tropeços, voltei ao equilíbrio ganhando junto a total realidade do ocorrido a pouco que perdi mais cedo.

O que foi que fizemos!?

Pensei rapidamente buscando o culpado ou iniciador dessa troca de carícias, se você preferir chamar, mas não sei e não pode ser o foco da minha preocupação agora. Ainda não acredito que beijei o cara que tenho que odiar, aquele cheio de defeitos, sempre berrando e reclamando feito uma criança mimada. O pior de tudo é saber dos crimes que cometeu conosco e com a Makoto, principalmente. Como tive coragem? Como permiti deixar rolar? Agora já é tarde para pedir explicações como estas a mim mesma.

— Cure Diamond! Estou feliz que está bem!

Mana e as outras se aproximam correndo, com certeza, em busca de me ajudar. Me destransformei e elas fizeram o mesmo após perceber que Ira já não está a nossa companhia. Ambos sorriam como sempre, afinal, mais uma disputa vencida e tudo está ocorrendo bem.

Só espero que ninguém tenha visto nada. Não sei como explicar a elas sobre nós, se é que tenho realmente algo importante pra dizer além disso.

Suspirei. Só de lembrar que Raquel vai exigir mil e uma explicações já me deixa exausta.

— Está tudo bem, Rikka?

Olhei diretamente para Mana que foi a que me chamou, só que, observando melhor, as outras também encaram-me com certa preocupação.

— Algo está te incomodando?

— Não, não, Alice. Só...

— Se algo estiver te incomodando, é só nos falar!

Continuei a negar o máximo me sentindo a maior culpada por esconder este tipo de segredo. Não contar pode significar traição aos olhos delas, principalmente vindo de Aguri que age com total lealdade ao nome Precure. Se for contra ela, talvez, ainda terei consequências maiores como uma trabalhadora ou um animal desobedecendo seu superior/mestre. Não é como se importasse com seus mandamentos, mas prefiro manter minha segurança e meu precioso companheiro enquanto meu pecado foi "básico".

Aguri trocou olhares sérios comigo como a de alguém prestes a desafiar seus próximos. Desconfiada e astuta está, até demais para uma criança de sua idade. Suspirou a mesma.

— Espero que não esteja escondendo nada, Cure Diamond.

Após sua fala, Aguri se afastou para as árvores ao redor e sumiu, como normalmente acontece. E nós outras, resolvemos voltar para casa também. O mordomo com Alice, Makopi e Davi, e Mana retornou comigo.

A todo instante ela parecia querer falar, nem sei quantas vezes mudou de assunto, mas confesso que não consegui prestar atenção nem na metade deles, apenas a deixei seguir com seus mil e um de uma vez só.

Cure Diamond

A voz de Ira ecoou nos meus ouvidos, junto com a forma como sempre me chamou. Imaginei os seus toques junto a mim, um abraço como aquele que tivemos a pouco. Um pouco mais romântico talvez? Não sei mais o que pensar dessa situação além de que não devo continuar a produzir sentimentos como esse por um criminoso. Mas... Se é assim, por que me sinto tão triste com a decisão?

Me despedi de Mana logo quando chegamos a sua casa. Desci seguindo direta para a minha junto com Raquel, que agora tomou o lugar da mesma em jogar palavras ao meu ouvido. Das várias vezes que olhei para ele, vi em sua expressão o quão preocupado está e, para acabar, estamos chegando em casa. Lá vem suas perguntas em três... Dois... Um... Agora!

— Rikka, vai precisar de ajuda na casa?

Ah? O que errei? Isso é o que ele ia perguntar?

Confuso se tornou seu rosto, obviamente pela minha surpresa.

— Não, obrigada.

Abri a porta e entrei em uma velocidade como nunca tinha feito. Avisei-o do banho que ia tomar já chegando no mesmo e trancando a porta. Encostei na parede, descendo aos poucos e, como em uma cena dramática de filme, a culpa bateu mais forte com os pensamentos voltados a ele. Odeio isso! Odeio ele. Repeti a mim mesma como se Ira fosse escutar meus resmungos, se duvidar, ainda adoraria os ouvir.

Me recompus, tirando a roupa e dobrando-as no cesto de roupa suja. Liguei o chuveiro permitindo a água cair sobre meu corpo. Talvez assim possa esquecer um pouco do envolvente.

Após o banho, fui para o meu quarto botar o pijama e secar meu cabelo para me deitar.

Será que ele esta pensando em mim também? Não, Rikka! Não posso pensar nele, mas...

Desliguei o secador, abaixando o para o meu colo.

Será que isso significou nada pra ele? Será que ele já havia beijado outras antes de mim? Aquele foi meu primeiro beijo.

Toquei inconscientemente nos meus lábios relembrando novamente do seu toque. Meu rosto esquentou um pouco e com alguns níveis de preocupação, a memória sumiu como antes veio. Minha mente dessa vez buscou a entendê-lo, a saber os seus sentimentos nesse instante. Não que fosse mudar algo, muito pelo contrário, mas gostaria muito de saber se o cara com quem foi o meu primeiro, também sentiu algo significativo. Algo que simbolizasse mais do que um simples beijo como em uma noite de luxúrias.

Mirei meus olhares para cima, um pouco na diagonal, logo quando a presença estranha se aproxima de mim. Em questão de segundos, empurrada direto na minha cama fui com aquele que tanto estava e está na minha mente calando qualquer meio de fala. Tentei me debater após recuperar todos os sentidos e noções racionais, mas ele, já segurou meus punhos e em seguida, minhas mãos. Acabei cedendo, apertando suas mãos e o permiti me guiar no nosso novo momento.

— Rikka!?