Void - Segunda Temporada - Hiatus

Capítulo 2 - Estratégias


Três dias atrás.

Florença.

Ricardo Pazzi estava sentado á mesa de um restaurante localizado no centro da cidade. O homem usava óculos escuros enquanto acompanhava a rotina de Roman Warner e bolava uma forma de adquirir amostras de DNA do mais novo. Pazzi precisava de confirmação por parte das autoridades que procuravam Warner se quisesse receber a recompensa. Há três dias o inspetor fazia suas observações, dentro desse período era notável o fato de que Warner era meticuloso no que fazia. Roman quase sempre usava óculos escuros, afastava-se de lugares com poucas pessoas e até tinha cuidado ao tomar uma simples taça de vinho, passando sempre um pedaço de tecido para apagar qualquer sinal de suas digitais. Ele estava fazendo um bom trabalho.

Roman sabia que estava sendo acompanhado pelo inspetor. Isso o incomodava, o deixava inquieto. Queria ficar em paz, sozinho. No entanto, havia insistência da parte de Pazzi e Warner só poderia concluir que o agente sabia quem de fato ele era. Mas o que fazer? Matá-lo estragaria tudo que ele construiu durante esses dois anos. Warner morde o lábio inferior brevemente, pensativo enquanto levanta-se da mesa, deixando o pagamento juntamente com a gorjeta sobre a mesa. Ele tinha que pensar em como se livrar desse problema, principalmente antes de sua apresentação que seria no dia seguinte.

Nova York.

Zoey estava em uma ligação. Allison falava sobre os ensaios do casamento e de como Starling precisava de um acompanhante já que seria uma das madrinhas que entraria na igreja durante a cerimônia.

Isso é besteira! Você poderia muito bem pedir que um padrinho do Issac entre comigo. Isso que está falando não é obrigatório Allison. — Diz Zoey enquanto come uma torrada, um café da manhã rápido antes do trabalho. — Está fazendo isso de propósito!

É claro que não. Todas as amigas têm um acompanhante, você bem que poderia arrumar um também. Aliás, isso foi culpa sua já que dispensou o Theo e agora ele está com a Malia. — A agente revira os olhos.

Por que você não chama qualquer um? Não é como seu eu fosse ficar com ele durante toda festa. Afinal, como você já disse, ele será meu acompanhante só até entrarmos na igreja Alli! — Diz a garota já com um pouco de impaciência na voz. Zoey olha para o relógio em sua parede. — Alli, eu estou um pouco atrasada...

Você sempre está. Pelo menos me escute e aceite o convite que recebeu. Vá para esse encontro. Se divirta, sorria... Essas coisas. Você sabe, coisas de pessoas normais. — Starling suspira.

Sabia que ás vezes eu me arrependo de contar sobre minha vida á você?

Eu sei. Vantagens e desvantagens de se ter uma melhor amiga. — Enquanto Allison falava, Zoey pega sua bolsa e suas chaves.

Engraçadinha. Agora vou indo. — A garota encerra a ligação, já saindo de casa e entrando no carro. Ela pensa a respeito do encontro que Spencer tinha mencionado. Talvez não fosse uma perda de tempo total.

Starling precisava parar de dar desculpas, já não tinha mais o que dizer. Ou seja, ela não tinha mais como evitar o encontro. Mas pensando positivamente, seria algo simples. Talvez passar umas duas horas conversando, seria o suficiente. Pensamentos como aqueles permaneceram em sua mente durante o caminho para o trabalho.

Atualmente.

Beacon Hills.

Allison aproveitava seu tempo livre para resolver algumas coisas do casamento. Agora, ela concentrava-se em fazer os convites com a ajuda da sua amiga ruiva Lydia Martin.

— Quantos convites vamos ter que escrever mesmo? — Indaga a outra.

— Eu tenho uma lista enorme! Vamos deixar de preguiça e continuar! — Allison diz, prendendo os cabelos e sorrindo ao ver a cara de preguiça da amiga. — Então, como está seu namoro com o Aiden?

— Estamos bem, mas não é nada tão sério como você e o doutor Issac Lahey. Como eu disse, está tudo bem entre nós. — Lydia para um pouco de escrever sobre o papel de um dos convites e encara a Argent mais velha. — Isso... Aonde você quer chegar com todo esse questionamento?

— Em lugar nenhum. — A garota tenta disfarçar, pegando a lista de convidados, passando a observá-la.

— Alli? — Lydia a chama, sabendo que sua resposta não era a verdadeira.

— Ok. Eu só queria que soubesse que Zoey tem um encontro hoje. Quem sabe não dê certo e ela finalmente tenha um acompanhante para o casamento.

— Já conversamos sobre isso Allison. Já decidimos que não iríamos nos intrometer na vida amorosa dela. Caramba! — A ruiva tinha uma expressão um tanto séria agora.

— Você e a Kira decidiram isso, eu não! Não vou deixar minha melhor amiga encalhada!

— Não é você que decide isso, é ela. — A Martin já estava um pouco impaciente. Allison apenas dá de ombros.

— Tudo que quero é vê-la feliz, me desculpe se eu exagero nas minhas metas e planos.

Lydia revira os olhos com a declaração.

— Só podemos apenas continuar a fazer esses convites? — Pede ela, cruzando os braços enquanto encarava a amiga, tentando evitar qualquer tipo de briga. Lydia odiava aquele tipo de coisa.

— Você tem razão. Vamos apenas continuar o que estávamos fazendo. — Allison lança seu olhar mais carinhoso para a ruiva, um modo de pedir desculpas.

— Ótimo.

Três dias antes.

Nova York.

Irene encarava a papelada em suas mãos, estava impaciente enquanto esperava mais notícias vindas da Itália. Ela sabia que talvez aquela fosse a oportunidade de capturar Warner. A mulher poderia pôr o plano e tudo que tinha pensado nos últimos meses em ação. Ela sabia que teria certo trabalho, a tarefa seria árdua e até arriscada, mas Irene confiava em seus instintos.

— Senhora? — Um funcionário a chama em particular, tirando a chefe de seus pensamentos.

— Sim? Por favor, me diga que me interrompeu por um bom motivo. — Ela cruza os braços enquanto esperava a resposta do rapaz.

— Ah claro, bom... O inspetor o que nos contatou, inspetor Pazzi. Ele disse que precisa de mais tempo.

Irene bufa.

— Recebemos as fotos, os relatórios, eu não preciso mais de amostras de DNA. E sim, eu sei que isso faz parte do protocolo, mas eu já estou certa de que é Roman Warner. Diga ao inspetor que mandaremos suporte assim que ele encurralar o Warner.

— Sim, senhora. Mais alguma coisa?

— Caso tenha mais novidades úteis sobre a captura de Roman Warner, pode ficar, se não, está dispensado. E não volte mais aqui. — Diz Irene vendo seu subordinado sair da sala. Ela volta ao seu trabalho.

Um dia antes.

Florença.

Roman havia se vestido adequadamente para a ocasião. Era o dia de sua apresentação, um momento importante para ele já que ser aprovado marcaria o início de sua nova vida. Warner endireita sua gravata enquanto as poucas pessoas que assistiriam sua apresentação se aproximam. O rapaz fica um tanto surpreso quando avista Ricardo Pazzi entrando no local. O psicopata dá um sorriso para o mais velho e caminha até o policial.

O fato de ser observado por Pazzi há dias já não era novidade para o mais novo, mas o que ele estava fazendo ali? Por acaso o prenderia sozinho? Roman duvidava muito disso.

— Boa noite, inspetor. — Ele estende sua mão a fim de cumprimentá-lo. Warner abre mais um sorriso, tentando ser o mais simpático possível com o investigador.

— Linda noite para uma apresentação, eu diria. — Pazzi aperta a mão de Roman. Ele estava um pouco tenso com a situação. Tinha lido sobre os assassinatos cometidos pelo homem a sua frente, assim como tinha visto fotos de suas vítimas.

No entanto, o inspetor procurou não transparecer sua tensão, pensando em como um rapaz de expressão tão doce poderia fazer tudo aquilo.

— Sim, linda noite. Devo dizer que estou lisonjeado com sua presença. Não sabia que se interessava pelo assunto. Terei que impressionar mais uma pessoa, eu diria. — Roman passa a olhá-lo de forma mais detalhada e o inspetor engole em seco.

Porém, ele contorna a situação, tentando não exteriorizar sua preocupação. No entanto, suas próximas palavras saem de forma um pouco entrecortada.

— Ah sim, digamos que eu sou um grande admirador das artes. Sem contar que você deixou todos nós curiosos sobre como vai ser seu desempenho em público, senhor Fell.

Warner aproximar-se mais um pouco do homem mais velho.

— Todos? Não sei inspetor, acho que o seu interesse é maior, estou certo?

Roman sorrir sem mostrar os dentes, encarando Pazzi que procurava controlar-se ali. Foi combinado que ele deveria alertar ao FBI, que aguardava do lado de fora, quando fosse o momento certo. Só de pensar nisso o nervosismo presente em seu corpo só aumentava. Porém, Ricardo Pazzi já fazia isso há anos. Prender assassinos, ladrões, esse era seu trabalho. Não era agora que ele iria desistir de seu plano.

— Oh não, senhor Fell. Como eu disse, todos nós estamos curiosos.

Warner passa mais um tempo encarando Pazzi quando outro homem o chama, sua apresentação começaria em breve. Roman volta-se para o mais velho, colocando as mãos em seus bolsos da calça.

— Com licença inspetor, precisarei ir agora. Tenho certeza que ficará á vontade para apreciar minha apresentação.

— Claro, hoje é sua noite. — Diz o homem vendo Roman se afastar para ir até o centro no local para iniciar sua apresentação.

Pazzi se senta para assistir a apresentação, pensando e ainda confiando no plano. Precisava confiar, caso o contrário as coisas poderiam sair de forma errada. Muito errada.

Atualmente.

Nova York.

Zoey sai de seu escritório, vestindo seu casaco apressadamente. Ela estava atrasada para seu encontro. Starling devia aquilo para Spencer e embora não estivesse com muita vontade, considerou a ideia de sair e se divertir com outra pessoa. Assim, a garota pega suas chaves, se despede de Theo, Malia e mais alguns colegas que ficariam até mais tarde no departamento e sai, indo até seu carro.

Starling dá uma olhada em seu visual. Ela morde o lábio inferior. Não estava nada legal para ir ao Angel’s, local do encontro. Zoey até ficou um pouco surpresa com o fato do seu acompanhante ter dito que ela poderia escolher o lugar. Isso a deixou mais otimista sobre o desenrolar do resto da noite. Com esse pensamento e dizendo a si mesma que tudo acabaria bem, a agente chega á sua casa para tomar um banho e trocar de roupa.

***

Passaram-se aproximadamente uns quarenta minutos antes que Starling entrasse no carro novamente. Verificou mais uma vez seu short, sua blusa rosa claro de alça e suas botinhas pretas, estava apresentável. A garota passa um pouco de batom e arruma sua franja, ela ainda estava desacostumada com seu cabelo novo. Após isso, Starling liga o veículo, dirigindo rumo ao endereço do local do encontro.

***

Alan olhava para o relógio enquanto esperava. Será que a garota que Spencer tinha lhe apresentado o deixaria na mão? O rapaz pediu mais uma bebida, esperou mais um pouco, pensou até em ligar, mas não queria ser invasivo. Afinal, era o primeiro encontro dos dois, não seria legal sair ligando assim para uma garota que mal conhecia. Alan balançava a cabeça ao som de uma música mais antiga quando avistou Zoey chegando. A garota conseguia ficar ainda mais bonita do que o habitual.

Ele acena para ela, esperando Starling se aproximar.

— Ah, oi. Desculpe o atraso, em dias como hoje eu sempre saio tarde do trabalho. — Fala ela, estendendo a mão para Alan como havia feito na primeira vez que o viu. Ele por sua vez a beija na bochecha.

— Está totalmente perdoada. Me diz, você prefere dançar ou beber alguma coisa? — Á princípio a garota não sabe muito que responder. Segundos depois ela abaixa sua mão que havia ficado no vácuo. Zoey põe uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Eu não danço muito, então acho que aceito a bebida. — Diz ela por fim. Alan logo aponta para a mesa onde ele a aguardava momentos antes.

— Obrigada. — A garota agradece após se sentar na cadeira que ele havia puxado para ela. Logo o rapaz se senta também, ficando de frente para Zoey.

— Disponha. Essa mesa fica mais próxima do palco, achei que você gostaria disso já que pelo visto você curte esse lugar. O sugeriu logo de cara.

— Não é isso. Quer dizer, eu gosto daqui sim, mas é que hoje é dia das músicas dos anos oitenta. Achei que poderia ser legal. Você gosta?

Alan dá de ombros.

— Não estou acostumado, mas posso me acostumar.

Alan sorrir para ela, a garota retribui o sorriso por educação. Zoey não gostou muito da resposta dada por ele. Foi tão vazia e sem ânimo. Starling decide pegar o cardápio, ela e Spencer já foram diversas vezes para aquele lugar e ela particularmente amava pedir as batatas fritas e um bom hambúrguer.

— Então, como é trabalhar no FBI? — Pergunta o rapaz, chamando a garçonete em seguida. — Esse lugar é um pouco apertado, não acha? — Indaga ele observando melhor o ambiente, voltando-se para ela em seguida.

— Trabalhar em um lugar como o FBI pode ser estressante, mas eu adoro fazer o que eu faço. E... Eu não acho esse lugar apertado. — Alan apenas dá de ombros e logo faz o seu pedido quando a garçonete finalmente chega.

— E a senhorita? O que vai querer? — Olhando para a garçonete, o pensamento de que não tinha sido uma boa ideia ter aceitado ir ao encontro já começava a surgir em sua cabeça. E talvez o pior fosse ter o chamado para ir a um dos seus lugares favoritos da cidade.

— Vou querer um hambúrguer grande junto com uma porção de batatas fritas, por favor. — Starling entrega o cardápio de volta para a garçonete já conhecida por ela.

Ao ouvir o pedido da garota, uma expressão de um pouco de supressa e dúvida surgem na face de Alan.

— Achei que fizesse dieta ou algo assim. Quer dizer, você é uma agente. Precisa estar preparada para perseguições, tiroteios, essas coisas.

— Eu não como esse tipo de comida todos os dias. — Diz Zoey, escondendo seu incômodo por está dando explicações sobre tal assunto. — Além do mais, meu trabalho é muito corrido. Conseguir comer direito quando estou trabalhando é um milagre. Sem contar que hoje é sexta-feira, acho que mereço isso.

Starling falava com delicadeza, tentando não ser rude por está dando justificativas sobre o que ela comia. Ela odiava conclusões precipitadas e procurava não demonstrar isso. Assim, a garota tenta uma nova abordagem para a conversa. Ela perguntaria sobre ele.

— E você? O que faz?

Antes de responder, Alan bebe mais um pouco de seu copo.

— Sou advogado. Acredite em mim quando digo que sei como é ter um trabalho estressante e que tira quase todo seu tempo. É preciso dedicação para focar em todos os casos e fazer o melhor. Você sabe como é, justiça em primeiro lugar. — Alan tinha certo orgulho na voz ao pronunciar tais palavras.

Zoey também havia detectado um ar esnobe na fala do rapaz. No entanto, ela disfarça seu desconforto mais uma vez, fazendo sua melhor cara.

— Claro. Eu consigo entender. — Diz a garota, ela com certeza mataria Spencer por ter lhe arranjado aquele encontro.

Um dia atrás.

Florença.

Após diversas palavras sobre o assunto, slides passados para ilustrar suas explicações, Roman concluiu falando sobre um monumento em especifico. Depois de encerrar sua apresentação, Warner recebe os aplausos de sua platéia, os conhecedores da arte. Era evidente que ele havia agradado o público e agora recebia elogios.

Pazzi foi um dos que haviam aplaudido. Ele esperou que pouco a pouco todos se retirassem dali. Ainda nervoso, ele se aproxima de Warner. O mais novo guardava o material que havia trazido para enriquecer a apresentação. Ricardo respira fundo e prossegue.

— Bela apresentação. — Fala ele. O inspetor tinha um celular em uma das mãos. Roman vira-se para encará-lo de frente. — Acho que o cargo é seu, afinal de contas.

— Fico feliz que tenha apreciado inspetor. — Roman mantém seus olhos sobre o rosto do mais velho, aguardando suas próximas palavras.

— Creio que um convite para tomar um bom vinho e conversar seja adequado para uma pequena e antecipada comemoração.

— Claro, por que não? Só preciso guardar mais algumas coisas que estão nesta mesa. — Warner aponta para a mesa atrás de si.

— Ah sim. Sim, claro. — Ricardo se afasta quando seu celular toca. — Com licença, minha esposa. — O inspetor aponta para o celular, atendendo em seguida.

Está sozinho com ele? Precisamos saber seu status agora. — Pazzi vira um pouco seu corpo, ficando um pouco de costas.

Sim querida, claro. Vou chegar um pouco tarde hoje, estou com o senhor Fell. Vou sair para tomar um drink em um restaurante aqui perto.

Warner ouvia tudo enquanto guardava o notebook usado na apresentação no compartimento adequado. Discretamente, Roman coloca uma faca em um dos bolsos da calça, ela estava ali desde o início. Ele vira-se, vendo o inspetor encerrar a ligação, guardando o celular em seguida.

— Minha esposa. — Pazzi sorri e Roman faz o mesmo, aproximando-se.

— Então, — Ele dá mais alguns passos até o mais velho. — sua esposa finalmente vai tentar me prender? — A expressão amigável presente no rosto do assassino aos poucos dá lugar á uma expressão séria e fria.

Pazzi engole em seco, mas não perde a postura.

— Estava fácil demais, eu deveria presumir que descobriria.

Warner dá de ombros.

— Você tem me observado e eu também tenho te observado. Fiz isso desde o dia que você começou tal coisa. Até cogitei eliminar você do meu caminho antes, mas era arriscado demais. Vamos, me diga. O que vai fazer com o dinheiro da recompensa?

Ricardo permanecia o encarando.

— Acho que algo muito mais produtivo do que você fará apodrecendo na cadeia.

Roman ri um pouco com a declaração.

— Admita inspetor, você está nervoso, com medo e assustado. E sinceramente vamos encarar os fatos: eu minto melhor que você e agora você está preocupado sobre a possibilidade de que eu posso ir trás de sua esposa.

Pazzi estreita um pouco seus olhos ao ouvir a última parte.

— Sim, eu sei quem ela é.

— Se encostar um dedo se quer nela...

— Ela não é meu alvo. Sinceramente, estou chocado. Está me confundindo com os imundos que já prendeu senhor Pazzi. — Ele faz uma pausa. — Estou tentando propor um acordo.

— Eu não faço acordo com assassinos. — Roman deixa um sorriso cínico brotar em seus lábios. Ricardo precisava colocar as mãos em sua arma, mas Warner estava muito próximo. — Eu sei quem você é. Um psicopata que pensa que ama uma mulher.

Roman estreita os olhos, seu sorriso sumindo.

— Saia e mande o FBI para longe ou eu juro que você não sai daqui, não vivo.

— Tarde demais, eles cercaram o local, você não tem saída. — O inspetor para de falar, analisando a face do assassino. — O que foi Roman Warner? — Pazzi aproveita quando o mais novo se afasta um pouco e tira a arma de seu coldre, apontando para ele. — Toquei em seu ponto fraco? Não achei que tivesse um.

— Está me pressionando e eu odeio isso. Eu odeio inspetor. — Warner leva uma de suas mãos até o bolso, tirando a faca dali.

— Eu não sou uma das suas vítimas assustadas, não sou aquela bela agente que tem pena de você. Como é mesmo o nome dela? Ah sim, Zoey Starling.

— Cale a boca! — Diz Roman, já nervoso, alterando-se.

Mas Ricardo prossegue.

— Ou o quê? Admita que está cercado e não tem como você sair dessa. Não tem como aquela linda moça que, aliás, é uma graça, surgir aqui e ter ajudar por ter pena do desgraçado que você é. — Diz Pazzi provocativo.

— Não fale dela desse jeito. Se atreva mais uma vez...

— E o quê? — O inspetor percebe quando Roman segura o cabo da faca com mais força em sua mão direita. Ricardo ainda apontava a arma para ele. — O quê fará Roman? — Pazzi estava se arriscando muito ao provocá-lo. Talvez o excesso de confiança, resultado de muitos anos em sua profissão, tenha provocado tal coisa. — Apenas estou falando a verdade. Pelo visto incomoda-se quando falo da bela mulher que é a agente Starling. De fato, ela realmente é linda...

Warner não se importou com o fato de ter uma arma apontada para ele, avançou contra Pazzi. O inspetor atira contra o assassino, Roman teria sido atingido se não estivesse segurando o braço do mais velho, o posicionando para cima. O som do tiro ecoou pelo local, fazendo o FBI se alarmar do lado de fora enquanto Ricardo tentava impedir que a faca atingisse seu pescoço, segurando o braço direito do psicopata.

Roman depositava uma força excessiva nas duas mãos enquanto encarava o mais velho com raiva. O psicopata sabia que poderia tentar fugir, mas ouvir o policial falar dela, falar de Zoey daquele jeito, aquilo era demais para ele.

Pazzi tentou revidar, tomar o controle, mas Warner acabou sendo mais forte que ele ao desarmar Ricardo, apertando com mais força o braço da mão que carregava a arma. Com um chute rápido, Roman afasta a arma, focando agora na faca. O inspetor ainda tentava resistir, usando todas suas forças para salvar-se. Com a raiva ainda crescendo dentro de si, Warner aumenta a pressão exercida na mão direita e por fim, Pazzi não aguentou.

O sangue espirrou no rosto de Roman quando a faca perfurou a garganta do policial. O psicopata a tirou do pescoço do mais velho em um único movimento, dando-lhe um soco em seguida, o fazendo cair. Pazzi até tentou se levantar, mas é impedido quando Warner usa a faca para cravar um golpe em seu estômago. Ele o golpeou uma, duas, três, várias vezes, descontando sua raiva. Vendo o sangue escorrer pelo chão e sujar seu terno novo. Quando Roman caiu em si, percebeu que estava sobre o corpo agora sem vida do italiano. Com a respiração ofegante, Warner pôde escutar os passos dos agentes do FBI e o som de armas sendo destravadas e apontadas para ele.

— Parado, FBI! Largue a faca agora!

Roman Warner estava encurralado. O assassino larga a faca, virando seu torso para encarar todos os agentes que o cercavam.

Atualmente.

Nova York.

Irene caminha vitoriosa. O som de seus saltos altos tocando o chão ecoavam pelo local a cada passo dado. Ela estava ciente de que a captura de Roman tinha sido concluída com êxito, embora o inspetor não tivesse tido um final feliz durante a operação. Mas a mulher não se importava, tal fatalidade foi um mal necessário. Ela tinha alertado Ricardo Pazzi sobre as possíveis consequências de enfrentar Roman cara a cara. Com esses pensamentos Irene passa a observar o psicopata agora preso na sala de interrogatórios. Warner tinha suas mãos algemadas e presas sobre a mesa, seus pés também cercados pelas algemas. A mulher dá mais uma olhada na ficha médica do assassino presente em suas mãos.

— A senhora tem certeza disso? Todos estão se perguntando... Senhora, essa ideia não me parece ser...

Irene olha para seu secretário.

— Não preciso das suas avaliações ou seu senso do que é certo ou errado. Temos em nossas mãos uma arma. Só precisamos usá-la ao nosso favor. — Diz ela, encarando o funcionário por mais um breve momento antes de andar um pouco e entrar na sala.

Ela se senta de frente para Roman. Warner por sua vez, revira seus olhos ao encará-la.

— Sou Irene Kennedy, possuo um cargo mais elevado no FBI.

— Eu sei quem você é. — Diz ele de maneira simples e direta. O terapeuta que passou pela sala para conversar com ele tinha mencionado o nome dela.

O barulho das algemas era bastante audível já que Roman movimentava suas mãos várias vezes desde que estava ali. Kennedy passa um tempo o encarando até levar seu olhar para a foto antiga presente na ficha do psicopata.

— Mudou de aparência. Gostei do visual. — Roman dá um simples sorriso, dando de ombros, não dizendo nada. Ele estava ali contra sua vontade e tudo que mais queria era se livrar daquelas algemas presas em seu corpo. — Sabe quanto tempo está aqui? Quase três dias. Acredito que esse período foi suficiente para você pensar e descobrir coisas novas, eu diria.

— Claro. Eu descobri muito sobre o meu eu. Foi um período de grande reflexão, acho que tenho que lhe agradecer por isso. — Diz ele sendo irônico.

— Pobre Pazzi, eu o avisei que não seria interessante bancar o esperto. Mas ele não me ouviu. — Fala Irene, ignorando as palavras antes ditas por Warner. Ela permanece o encarando seriamente. — O pessoal daqui não sabe o que fazer com você Roman. Eles... Eles não gostam de você, de sua postura, do seu jeito...

— Aonde você quer chegar? — Roman estreita um pouco seus olhos enquanto a observa. Ele não escondia sua impaciência e seu desdém. — Achei que a Eichen se pronunciaria numa hora dessas.

— Digamos que a instituição Eichen House não é mais a mesma desde que a agente Zoey Starling revelou as verdadeiras condições das pessoas que viviam ali. Também podemos dizer que ela está passando por problemas financeiros.

Irene para um pouco quando percebe que ao tocar no nome dela Roman esboçou certa reação. Warner ergue um pouco mais seu queixo, demonstrando mais interesse. Ela prossegue.

— Ela é uma garota esperta, eu diria. Mas voltando ao assunto, a verdade é que eu sei o que fazer com você, Warner.

— Ah sabe? — Pergunta ele sarcástico. — Vamos, me fale sobre isso.

— A cadeira elétrica está esperando por você, mas se considerarmos o seu quadro mental, temos a Eichen House, o que seria uma péssima opção para você. Sinceramente, acho que você mofaria preso naquele lugar. Mas uma coisa eu posso garantir, não tem como você escapar mais dessa, escapar desse lugar, do FBI.

Roman morde o lábio inferior, olha ao redor e volta a encará-la. Ele conhecia aquele tipo de jogo. Por isso, preferiu ficar calado.

— Bom, eu posso colocar tudo isso em outras palavras. Posso pôr dessa forma: você poderá ter o direito de sair, ter sua liberdade, com supervisão, claro. Mas será livre, de certa forma.

— E em troca? — Pergunta Warner. — O que está escondendo? Tem medo que eu diga não?

Irene suspira.

— E em troca quero que trabalhe para o FBI. — Ele bufa e solta uma risada em seguida. — Na verdade, quero que trabalhe para uma unidade especial. Quero que cace assassinos como você, assassinos tão perigosos quanto.

— Isso é... Como posso colocar em palavras? — Roman se remexe na cadeira, endireitando sua postura. — Absurdo. O que todos do FBI vão pensar quando souberem que sua superior está recrutando assassinos para fazer o trabalho sujo dela?

Warner sorri sem mostrar os dentes, divertindo-se ao notar certa reação da parte de Irene.

— Você terá somente essa chance. — Fala a mulher, tomando sua pose de volta.

— Por que eu confiaria em você? — Questiona o rapaz. — Pessoas como você só querem me pôr atrás das grades. Pessoas como você só conseguem entender uma parte de toda uma imagem.

— Porque sou tudo o que você tem. A única forma de você conseguir liberdade é por esse caminho Roman. Você está encurralado.

O assassino respira fundo e expira em seguida, mexendo um pouco suas mãos enquanto Irene abre um sorrisinho de canto ainda o encarando. Ele volta a falar.

— Bom, só há uma única forma de fazer com que eu considere sua proposta ou ao menos fique tentado a considerá-la, senhorita Kennedy.

Roman a encara. A mulher demonstra certo interesse em suas palavras.

— E que forma seria essa? Está propondo um acordo, Warner?

O rapaz olha para suas mãos e depois para ela.

— A partir de agora eu somente falo com a agente especial Zoey Starling. Sem mais nem menos. Esse é o acordo que ofereço ao FBI. Sem isso, nada feito. — Diz Roman, uma face um tanto cínica surgindo após ele piscar o olho direito para Irene.

***

Zoey olha para o relógio em seu celular enquanto ouvia Alan. O advogado falava sobre sua carreira, os casos que ele tinha que resolver e os que ele já tinha resolvido. Ele falava sem parar e a garota torcia para que tudo aquilo acabasse logo e ela pudesse ir para casa. Starling balançava a cabeça e sorria, fingindo prestar atenção. Ela lamentou quando a comida acabou. Com o quê se distrairia agora?

— Tem certeza que não quer dançar? Achei que curtisse as músicas. — Alan fala ainda animado. Nada tiraria sua confiança, nem aquela conversa. Ou Starling deveria dizer monólogo?

— Hum? — Pergunta ela saindo de seus devaneios. — O que disse?

Zoey ainda estava perdida naquilo tudo quando avista três agentes caminhando até onde ela e Alan estavam. Ela enruga um pouco sua testa. O que estavam fazendo ali? Eles param próximos a garota.

— Agente especial Starling? — Alan entreabre a boca, preparando-se para questionar tudo aquilo, mas não chega a fazer tal coisa. A garota fala na sua frente.

— Sim, sou eu. — Responde Zoey, já um pouco mais preocupada.

— Você está sendo chamada pela nossa superior, Irene Kennedy. Se puder nos acompanhar, por favor, é algo urgente.

Starling assente. Ela volta-se para Alan.

— Sinto muito por isso, mas eu tenho que ir. — A garota abre sua bolsa e sua carteira, depositando sobre a mesa uma quantia de dinheiro que seria sua parte na conta. A agente se levanta e é acompanhada pelos outros até o lado de fora do local. Ela entra no carro com eles.

— Algum de vocês poderia me dizer o que está acontecendo? O que é tão importante para me levarem para o departamento uma hora dessas? E o meu carro?

Silêncio.

— Eu quero respostas! — Diz ela em tom firme, mas todos permanecem calados, a deixando mais confusa.

***

No departamento, Jack Craford encarava Irene. Ele cruza os braços e espera qualquer tipo de explicação.

— Sabia que cedo ou tarde isso aconteceria, Craford. Não finja que está surpreso pelo que estou fazendo.

— Envolver uma das minhas agentes? De onde tirou isso? Desde quando pessoas como ele podem fazer exigências?

— Não é uma ordem Jack. Estamos jogando e logo ele poderá fazer o que queremos. É só uma questão de tempo e interesse.

— A que custo Irene? — Questiona Craford momentos antes de Zoey entrar na sala em que os dois estavam.

Starling olha para Irene e seu chefe.

— Senhor, o que está havendo? — Questiona a garota, seus cenhos franzidos.

— Boa noite, agente Starling. — Kennedy se pronuncia. — Desculpe incomodar seu dia, huh... — Irene olha para as roupas nada apropriadas de Zoey. — Seu dia de festa. Mas isso é um assunto que não podemos esperar para solucionar posteriormente.

— Que tipo de assunto não poderia ser deixado de lado pelo menos até amanhã de manhã? — Zoey cruza os braços, vendo que Craford e Irene a encaravam seriamente. Isso a deixa mais apreensiva. — O que esta havendo?

— Para dizer resumidamente Starling, — Irene a olha nos olhos antes de prosseguir. — Roman Warner solicita sua presença.