— Mas o quê? — Indaga Zoey, seu tom de voz saindo mais alto do que ela pretendia. Em questão de segundos, flashbacks de momentos vividos no passado começaram a rodear sua mente. Lembranças de seu pai, Manson Verger, as situações de quase morte e claro, o romance com Roman. — Vocês... Como assim? Roman estava desaparecido. — Foi tudo que ela conseguiu dizer.

Kennedy sorri antes de encarar a agente especial.

— Estava. Ele estava desaparecido. O encontramos e agora precisamos da colaboração dele. Infelizmente a única que pode fazê-lo pensar em nossa proposta é você, Agente Starling. Você vai ou não falar com ele?

Zoey engole em seco, estreitando os olhos enquanto encara a mulher.

— Proposta? — A jovem vira seu corpo, volvendo-se para Jack Craford. — Do que ela está falando? — Starling estava confusa, nervosa. Ela não podia se meter nisso, não podia reviver coisas que estavam acabadas ou ao menos era isso que a garota dizia a si mesma. Sem contar que Zoey não queria ajudar aquela mulher arrogante.

— Irene tem um plano. — Inicia o chefe. — Tal plano inclui usar Warner na captura de outros como ele, Zoey.

Ela volta-se para a mulher.

— Você quer usar Roman Warner em sua busca por assassinos psicopatas? Você quer o transformar em um agente do FBI ás avessas? — A jovem levanta seu dedo indicador, seu olhar ainda sobre a sua superior. — Eu não vou participar disso. É loucura. Isso é manipulação. Ele não pode ser contido ou tratado como seu brinquedo, senhorita Kennedy.

— Escolha com cuidado suas próximas palavras, Starling. — Começa Irene. Ela ainda estava séria e mantinha a postura. — Eu não sou a analista de perfis aqui, você é. Vale lembrar que também é uma subordinada. Sugiro que obedeça e pare de questionar sobre algo que não compreende. Se sinta lisonjeada pelo fato de que eu ainda estou perdendo meu tempo conversando com você. Agora entre na sala onde Roman Warner está e faça o que sabe fazer. Converse com aquele psicopata, o convença e estará livre por hoje.

Starling sente e segura sua raiva. Ir contra aquilo poderia custar seu emprego. Porém, aceitar tal coisa e o encarar novamente seriam decisões muito arriscadas. Ela não tinha controle sobre seus sentimentos. E se ele revelasse tudo? E se ele falasse algo comprometedor? E se ela tivesse uma recaída? Tantos “se”. Tantas questões. No entanto, apesar disso tudo, Zoey apenas diz um palavra:

— Hoje? — Sua voz em um tom mais baixo, quase um sussurro.

Craford toca em seu ombro direito.

— Apenas foque nisso, eu posso resolver a parte burocrática com ela.

— Eu devo ficar tranquila enquanto ela manda em nosso departamento, senhor?

— Não, claro que não. — Responde ele, olhando rapidamente para Irene. — Tudo que peço é que seja você mesma lá dentro Zoey. O convença de que aceitar tal ideia é uma coisa que ele precisa fazer.

— Por que acha que posso fazer isso? Eu não posso... Eu — Jack suspira antes de pronunciar suas próximas palavras.

— Você já fez isso antes. Escute, eu sei que tal coisa quase custou sua vida. Estar perto dele e ter esse tipo de aproximação, sei como é. Mas estaremos do lado de fora ouvindo tudo, será seguro.

Era isso que preocupava Starlng. Eles estariam ouvindo tudo. Não eram as situações onde quase morreu que a preocupava e sim olhar para ele e saber que ela ainda não o tinha superado, mesmo depois de quase dois anos.

No final das contas, Zoey já estava recebendo a papelada que deveria mostrar para Roman.

— Bom, acho que não tenho escolha, não é? — O sarcasmo é direcionado para Irene. A mulher por sua vez, permanece calada.

A garota dá uma breve olhada na sala antes de decidir entrar.

Roman permanecia sentado no interior da sala de interrogatório. Ele queria sair daquele lugar, uma tarefa que não seria possível, não naquele dia. A falta de controle sobre a situação o deixava inquieto. Warner mexe seus braços sobre a mesa, morde o lábio inferior e por fim fecha os olhos. A cadeira era desconfortável, tanto que suas costas já estavam doendo um pouco.

O rapaz permanece com seus olhos fechados até que o som da porta abrindo-se o tira daquele estado. Ao virar o rosto na direção da porta, um sorriso se faz presente em seus lábios. De pé, á frente da porta fechada, estava Zoey. A garota trajava shorts jeans e uma blusa rosa. Seu cabelo ainda estava longo, apesar do novo corte. A jovem segurava uma papelada, provavelmente era direcionada á ele. Zoey ainda permanecia parada, absorvendo a situação. As mudanças no visual dele também estavam sendo constatadas por ela.

Ás passos mais vagarosos, ela senta-se na cadeira á frente de Warner. A garota fica em silêncio enquanto tentava controlar sua respiração acelerada.

— Boa noite, senhorita Starling. — Por breves segundos ela fecha seus olhos. Odiava admitir, mas tinha sentido falta daquela voz.

Contudo, ciente de que deveria melhorar sua postura perante a situação, ela o encara de formar mais firme e dá um leve pigarro antes de prosseguir.

— Boa noite, senhor Warner.

Ele sorri.

— Roman. — Ela assente. — Desculpe a incomodar tão tarde da noite.

— O FBI disse que você tinha solicitado minha presença. Bom, aqui estou. — Zoey tentava tornar aquela conversa a mais formal possível, mas não estava dando muito certo. — Então... — Ela gesticula para que ele continuasse.

— Você é a única coisa interessante no FBI. Eu precisava vê-la.

— Roman... — Starling se pega pedindo com o olhar para que ele não continuasse. Warner desvia seus olhos dos dela após um momento. Ele lembra-se das câmeras. — Conheceu Irene. Ela fez uma proposta para você, disse que poderia pensar sobre ela se eu aparecesse aqui. Acho que deveria aceitar, existem muitos benefícios para você. — Diz ela mesmo que não estando por dentro de tudo e não concordando plenamente. — Então, o que me diz?

— Não é assim que funciona Zoey, lembra? Você me responde coisas e eu te respondo outras. Sem isso, nada feito.

A garota passa a observá-lo. O cabelo de Roman estava mais cheio e um pouco mais comprido. A barba estava pôr fazer e ele parecia ter ganhado mais massa muscular, um pouco, pelo menos. Ela percebe o que estava fazendo e volta para a realidade.

— O que foi agente especial?

— Você está diferente, só isso. — Responde ela, referindo-se á sua aparência. Com isso, Warner lhe lança um olhar malicioso.

— Gostou? — Starling pigarreia um pouco. — Você também está diferente. — A jovem olha para si. Será que ele não estava mais a achando tão bonita assim? Logo que esse pensamento vem á sua cabeça, a garota se sente uma boba. — Me refiro ao cabelo. Não se preocupe, eu gostei.

Mais uma vez Zoey fecha os olhos por alguns segundos antes de voltar sua atenção para os papéis na ficha.

— Não vim até aqui para falar sobre mim. Vim aqui á mando dos meus superiores. Eles ofereceram um meio para você permanecer no país sem que fique encarcerado. — Ela põe as mãos sobre a mesa, ainda tentando controlar suas emoções.

Roman passa a pensar um pouco. Ele queria tocar as mãos da garota, abraçá-la, ir embora com ela. Porém, o máximo que a situação permitia era o modo como estavam agora.

— O que não está escrito nestes papéis é que terei que estar disponível para a força policial vinte e quatro horas por dia. Isso não é liberdade, agente especial Starling.

Zoey passa a mão direita sobre sua testa. Ela sabia que Roman amava a liberdade e odiava se sentir preso.

— É tudo o que tem. O governo ou o FBI não permitiriam outro tipo de acordo. É impossível. Como eu disse, apenas estou sendo a informante de uma operação em andamento.

Warner ergue uma sobrancelha.

— Você não sabe do que se trata esse acordo, não é? — Ele dá um sorriso breve e depois mexe suas mãos sobre a mesa. — Você não está nele?

Zoey o encara, seus cenhos já um pouco franzidos. Ela nega com a cabeça.

— Não. Irene é a executora deste acordo. Meu trabalho não tem nada a ver com os novos planos dela. — Ela cruza os braços, ainda disfarçando seu estado interno. — Não ficarei a noite toda esperando por sua tomada de decisões e acho que já fiz a minha parte nisto tudo. Você solicitou minha presença e eu apareci. Mas não irei ler todos esses papéis para você.

Roman sorri, passando uma das mãos pelo queixo.

— Está fugindo de mim. — Diz ele em um sussurro. Ela o encara, forçando-se para não arregalar seus olhos mais do que já estavam. Ele estava certo, era exatamente isso que Zoey estava fazendo. — Mas acho que não sabe muita coisa. Irene é a superior de Jack Craford. Pense comigo, quem acha que será a equipe que participará dos planos de Irene?

— Está mentindo. Não tem como você saber disso.

— Estou deduzindo Zoey.

Starling olha para os papéis, direcionando o olhar para o vidro presente na sala, de alguma forma tentando encarar o chefe mesmo que não o pudesse ver. Roman não podia está certo.

— Você esperta. Sabe o quão influente um chefe pode ser. E ela é sua superior.

Warner para de falar e aguarda Zoey se pronunciar sobre tal coisa. Ela, por sua vez, tentava, durante todo tempo que estava ali, permanecer distante, recuar. Ele odiava isso. Roman queria conversar com Starling.

— Isso não é sobre mim. — Diz a garota, passando a morder um dos lábios.

A jovem aponta para os papéis. Warner se ajeita na cadeira, seu olhar sobre ela.

— Onde estava? — Ele gesticula, apontando para as roupas que ela usava. — Se divertindo? Espero que sozinha.

— Roman. — Ela o repreende. As coisas não podiam sair mais do controle. — Os papéis, neles estão escritos seus deveres e as obrigações do governo. Os benefícios que você receberá se assinar.

— Você estará incluída entre os benefícios? Você estará na equipe? Porque não quero passar minha semiliberdade sem sua companhia.

Starling entreabre a boca com a intenção de pedir para que ele parasse e também para dizer que tudo estava acabado. Que ele não tinha o direito de ir embora e depois do nada reaparecer em sua vida, a deixando confusa, nostálgica, nervosa e irritada. Porém, ela não faz tal coisa.

— Você é ótima no que faz, conseguiria encontrar e prender qualquer criminoso. Especialmente aqueles com características especiais. Ou será devo chamá-los de psicopatas homicidas?

Roman direciona o olhar para uma das câmeras.

— Está manipulando a situação. — Fala ela em um sussurro.

— Não. Estou lhe ajudando, senhorita Starling. É uma nova oportunidade e eu sei que estudou demais para isso. Você não diria não para novas oportunidades. Por que está rejeitando esta chance? Está recuando? Você não é disso. E por favor, não se sinta intimidada por minha presença.

Roman sorri e pisca o olho direito. Ele sabia que Irene poderia começar a falar sobre seus reais planos para Jack Craford a qualquer momento.

— Então essa é sua condição? Sou eu? Não posso acreditar que isso é tudo o que... — Ela para. A palavra quer naquela frase poderia não soar muito bem ali, no momento. — Não acredito em você.

Warner estica um pouco suas mãos, tentando pegar nas mãos da garota. Ele recua, lembrando-se das câmeras.

— Eu não minto para você. Não tenho motivos e não quero. Sabe disso. E claro que eu sei que existem coisas a mais para que eu me atente nesse acordo. Mas como eu disse antes, é uma oportunidade. Para nós dois, eu diria.

— Esqueci o quanto você consegue manipular as palavras ao seu favor.

— Nós dois conseguimos fazer isso. E nós dois também colocamos o assassino sugador de sangue na cadeia. Somos mentes brilhantes. Acha que algum deles poderia fazer igual? — Pergunta ele se referindo aos demais agentes. — Se existe alguma possibilidade dessa ideia passar a ser real é por sua causa, pelo que você fez há dois anos.

Zoey estreita um pouco seus olhos.

— Muitas coisas ocorreram há dois anos. Está exagerando, Roman.

— É. Você tem razão Zoey. Muitas coisas ocorreram há dois anos, mas eu entendo Irene melhor do que imagina. Ela é muito obcecada pelo o que ocorreu na Eichen House, incluindo nossas entrevistas. Mas devo dizer que tenho algumas exigências e espero que ela considere. Também espero isso de você, Starling.

— Isso é um sim vindo da sua parte? Então essa é a resposta?

— Meu sim depende do seu sim.

Ela ergue o seu dedo indicador direito, um modo de gesticular suas próximas palavras. Porém, um riso curto e sem humor vem primeiro. Zoey claramente estava nervosa, mas procurou manter sua postura.

— Não faça isso. — A garota balança a cabeça negativamente enquanto ele dá de ombros e morde o lábio.

— Eu já fiz.

Zoey sai da sala, dando de cara não somente com Irene e o chefe como também Malia e Theo. A agente alta e bronzeada tinha seus braços cruzados enquanto encarava a jovem. Raeken ao lado dela.

Starling se volta para Irene.

— Você já tinha montado o esquema? Não me diga que Roman Warner tem razão? O que tem em mente?

— Zoey, calma. Tente escutar, não ache que tudo que aquele maluco falou seja verdade. — Fala Theo tentando acalmá-la.

— Por mais que eu odeie ter que “trabalhar” com ele e o ache um babaca que deveria estar preso, ter ele ajudando a equipe nos traria vantagens. Isso inclui o aumento em nosso salário. — Fala Tate. — Embora eu ache muito assustador o fato de que toda essa operação se baseie em você.

Starling nega com a cabeça várias vezes, passando a mão pelo seu rosto. Ela queria sair dali. Queria não fazer parte daquilo. Mas o que ela diria? “Não posso participar da operação por que está perto de Roman Warner compromete minhas atitudes e meu profissionalismo?” Não poderia dizer tal coisa.

— Starling? — Craford ergue a sobrancelha enquanto a encarava e espera que a garota se acalme. Irene permanece calada. — Entendo que isso é um tanto pesado, mas o que Warner disse é fato. Você é boa. É nossa analista de perfis. Eu entendo que a ideia de estar ao lado de Warner não lhe agrada. De fato, não agrada nenhum de nós, sei que você passou por muita coisa, mas...

— Mas é uma ordem. — Fala Irene. — Craford me garantiu que vocês são os melhores no departamento. São confiáveis, seguem ordens. — Diz a mulher olhando para os três agentes ali. — É claro que nossa pequena rebelde também faz parte de um pedido especial de Roman como vimos na sala de interrogatório. Mais um motivo para que participe. — Ela leva seus olhos para a jovem. — Pensem em quantas pessoas poderá ajudar, em como ficará conhecida pelas suas habilidades, Starling. Você é a psicóloga da equipe, preciso acrescentar mais alguma coisa?

— Você quer mesmo que Roman faça parte disso? — Malia, Theo e Craford depositam sua atenção para Kennedy assim como Zoey tinha feito. — Você não pode o controlar. Ele é esperto e sugiro que não alimente qualquer tipo de ódio da parte dele. — Aquilo era um aviso. A agente o conhecia, melhor do que ninguém.

Irene apenas sorri. Um sorriso confiante.

— A minha forma de controle sobre Warner está bem aqui na minha frente. Um passarinho me contou que ele tem uma obsessão estranha por você.

— Como...

— Então, a partir de quando começaremos a nos encontrar? É oficial? Somos uma equipe?

Malia interrompe Starling ao ver um possível atrito maior.

—Tenho que organizar mais algumas coisas na papelada, acertar algumas coisas em relação à Warner. Mas sim, vocês estarão aqui amanhã cedo. Passarei o resto das informações necessárias para vocês. Enquanto isso, bom, acho que Roman precisará ser informado sobre quem estará na nova equipe. — Diz Kennedy se referindo a Zoey.

Starling cruza os braços e observa enquanto Irene se afasta á passos apressados, indo até uma sala mais próxima. O assistente da mulher logo se aproxima e Kennedy fala algo para ele. Enquanto isso, Zoey, ainda atordoada, se vira para Theo e Malia.

— Um passarinho? Vocês dois falaram de mim para ela? Me usaram, foi isso?

— Nós deduzimos tal coisa. Zoey... — Ela ergue a mão, pedindo que o agente Raeken parasse de falar.

— Obsessão. Quem usou essas palavras?

— Eu disse, está bem? — Fala Malia. — Todos nós sabemos como ele fica quando você está por perto. Ela só queria uma confirmação e...

Zoey nega com a cabeça várias vezes. Tate para de falar.

— Da próxima vez que forem fazer alguma propaganda sobre mim, pelo menos me avisem. — Diz Starling, sarcástica.

Ela encara Malia e Theo por mais alguns segundos e sai do local. Estava irritada. Como seu dia tinha se tornado uma enorme tempestade de uma hora para outra?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.