Capítulo 17- Você.

Após comer um lanche e comprar um biscoito para a viagem fui em direção a um banquinho perto do local onde os ônibus paravam para pegar seus passageiros. Encostei a cabeça na parede e olhei para o céu azul e doce como nos tempos da minha infância. É engraçado como tudo mudou como mágica e de repente me vi sem meu melhor amigo.
Lembranças de nossa discussão vieram à tona em minha mente como um véu macabro e pavoroso do meu passado.
“... Agora você tem que escolher ou ele ou EU!”
O modo rancoroso e magoado como Kurt falou aquele dia não saía de minha cabeça. Ele era um garoto muito desiludido com a separação dos pais, algo que não foi fácil para ele e acabei magoando-o de tal forma que eu podia ouvir seu choro desesperado. A culpa cresceu ainda mais naquele momento.
Apertei com força a única lembrança que me restara dele, uma corrente com um pingente com a letra K e outro com um coração que se abria e revelava uma foto de nós dois juntos. Respirei fundo tentando aliviar a dor. Olhei para a janela que mostrava Los Angeles deserta e calma o que significava uma viajem mais tranqüila.
O ônibus fez algumas paradas até a fronteira da Califórnia e seguimos direto para Seattle. O resto da viajem segui-se pelo barulho do escapamento do ônibus toda vez que o mesmo acelerava furiosamente. Foquei-me na música que passava na rádio, Without You do Mötley Crüe. Aquela música se encaixava perfeitamente com que eu sentia.
“Sem você, não há nenhuma mudança
Minhas noites e dias são cinzentos
Se eu alcancei e toquei a chuva
Há pouco não sentiria o mesmo”

Cantarolava baixinho enquanto olhava mais uma vez para a janela como se gritasse para todo mundo: “Kurt, espere por mim!”. Quando cheguei a Seattle fui até um orelhão tentando ligar para Dave. Após cinco tentativas ele atendeu.
- E aí Dave?
Disse animada.
- Hmmm... Oi.
Seu tom de voz estava diferente.
- Que voz é essa? Aconteceu alguma coisa?
Perguntei.
- Não aconteceu nada, mas porque ligou mesmo?
Ele disse.
- Para avisar que eu estou aqui em Seattle. Estava com saudades de você e de Kurt.
Ri e ouvi Dave engolir em seco.
- Nos ver? Err... Bom...
O moreno gaguejava.
- Vamos! Diga-me onde estão que eu irei para aí em um segundo!
- E-estou na casa de Kurt, é na esquina de minha casa.
Ele disse receoso, parecia preocupado com algo.
- Ok! Estou indo!
Desliguei o telefone contente e me pus a caminhar.