Vizinhos

Estrada Maldita


P.O.V Do Beck

— Será que você não pode dar um jeito nessa lata-velha? - Minha namorada apontou a lanterna para mim.

— Olha como fala do trailer do meu tio, hein? Era você que estava dirigindo! - Tirei mais lanternas da caixa e distribuí para o pessoal.

— O que quer dizer com isso? Que eu sou a culpada dessa porcaria estancar? - Indagou com cara de poucos amigos.

— Não, eu só...

— Cala a boca, Oliver! Nem queira me ver estressada! - Avisou, séria.

— Affs! Eu não posso dizer nada? Eu, hein? - Resmunguei indo até a porta.

— O que disse? Para onde você vai? - Perguntou quase gritando.

— Estou indo tirar água do joelho. - Murmurei.

Sam e Freddie ainda estavam no banheiro fazendo só Deus sabe o quê... A estrada estava mal iluminada, tinha poucos postes de luz. Olhei de um lado para o outro, a plantação de milho se estendia por quilômetros.

Era bem sinistro.

Me afastei do trailer e fui dar uma aliviada perto de um poste, a luz amarelada estava piscando.

Coloquei a fina lanterna na boca, segurando-a com os dentes. Desabotoei minha calça de pressa, abaixei junto com a cueca e segurei meu membro, mirei na direção do poste...

— BUUUUUUUUU! - O grito bem alto e o empurrão nas minhas costas quase me fizeram borrar as calças.

Entortei a mira e acabei me sujando de urina.

— PORRA, JADE! - Gritei nervoso.

Ela caiu na gargalhada. Terminei de fazer xixi, ajeitei minha calça e limpei as mãos no jeans. Virei para a morena que ainda ria descontrolada.

— Caramba! Você me deu um sustão! - Eu estava indignado.

— Ow, tadinho dele. Não pensei que fosse tão medroso! - Sorriu debochada.

— Nunca mais faça isso, entendeu? - A encarei, sério.

— Nossa! Foi só uma brincadeira! - Revirou os olhos.

— Eu me assustei. E se eu fosse cardíaco? Não foi nada engraçado! - Avisei.

— Que dramático... Cagão! - Resmungou me dando as costas, apesar de ter murmurado a última palavra, eu entendi muito bem.

— EU NÃO SOU MEDROSO! - Gritei me sentindo ofendido.

[...]

P.O.V Do Freddie

— Hey, olha o irmão gêmeo do Robbie! - Minha loira apontou para um espantalho colocado no milharal para espantar os corvos.

— Ha, ha muito engraçado, Sam... - O Shapiro a fuzilou.

— Bate uma foto minha? - Me cutucou.

— Claro. - Concordei.

Ela correu até o espantalho que ficava perto do meio-fio e se posicionou. Me aproximei sacando o celular, acionei a câmera e ativei o flash, Sam colocou a língua pra fora e fez uma careta engraçada.

Bati a foto. Ela fez outras caretas e tirei mais fotos.

— Agora abraça ele. - A instruí.

Ela abraçou o espantalho e eu bati mais fotos.

Minha namorada se afastou e abriu os braços, deu um sorrisão fechando os olhos. O vento noturno esvoaçou seus cachos, o milharal atrás dela era perfeito para a foto como paisagem de fundo.

Quando eu já ia bater mais uma foto, alguém pulou nas costas da Sam agarrando-a por trás. A minha loira perdeu o equilíbrio e desabou no chão com a... Trina?

— Merda! - Eu já estava prevendo no que aquilo ia dar.

— Ainnnn... - A Vega choramingou.

— PORRA! ISSO DOEU! - Sam berrou.

Guardei o celular no bolso e corri até elas, empurrei a Trina para o lado e ajudei a minha loira se levantar.

Nossos amigos se aproximaram rindo.

— Você filmou isso? - Perguntou Jade.

Balancei a cabeça negando.

— Você perdeu amor à vida? - Sam tentou avançar na Vega.

Fui mais rápido e a segurei.

— Relaxa, foi só um sustinho. - Disse Trina se preparando para correr.

— Meu pau! Tu enlouqueceu, foi? Vou...

— Deixa pra lá, Sam! Ela vai pedir desculpas, né Trina? - Olhei para a morena.

— É, desculpa, Puckett. - Sorriu amarelo.

— Pega essa 'desculpa' e enfia no seu...

— Dá para aceitar a desculpa dela? - Interrompi minha loirinha boca-suja. - Caramba, Sam! Não complique as coisas! - Pedi.

— Não foi você que caiu e se machucou. - Me olhou raivosa. - Agora me solta, porra! - Se desvencilhou.

Olhei para as pernas dela e vi que seu joelho direito estava ralado e sangrando. Ah, droga!

Sam estava de shortinho jeans com uma blusa preta de moletom com uma caveira estampada.

Ela foi em direção ao trailer mancando um pouco.

— Eu não fiz por mal, gente! - Trina disse olhando diretamente para mim.

— Não importa, vê se da próxima vez não dá uma de louca e sai pulando nas costas do outros! - Avisei.

[...]

P.O.V Da Sam

Quando eu pegar a Trina, ela vai ver só com quantos paus se faz uma canoa. Não vou deixar isso barato. Aposto que foi de propósito, aquela vaca vai me pagar...

— Deixa que eu cuido disso. - Freddie se aproximou.

— Não sou aleijada, sei muito bem limpar uma ferida e fazer uma droga de curativo! - Bati na mão dele que estava na maleta de primeiros-socorros.

— Por quê está com raiva de mim? - Focou a lanterna no meu joelho machucado.

— Ainda pergunta? Você não me deixou quebrar a cara daquela sirigaita! - Eu estava fula da vida.

— Mas, Sam, violência não resolve nada! - Pegou um pacote de algodão. - Segura a lanterna. Me deixe cuidar de você. - Disse com a voz suave tentando me acalmar.

Bufei e assenti, frustrada.

— Isso vai arder. - Falei quando ele molhou o algodão.

— Talvez um pouquinho... Vou ser cuidadoso. - Prometeu.

— Ai! - Reclamei quando ele começou a limpar a ferida. - Está ardendo! - Tapei a boca, agoniada.

— Oh, meu amor, já vai passar, já vai passar... - Soprou o local e aplicou aquele maldito remédio em spray.

— Porra! - Gruni abafado.

— Não seja dramática. Você é muito mole, hein? - Deu uma risadinha enquanto colocava o band-aid. - Prontinho. Nem doeu muito, né? - Perguntou.

— Diz isso porque não foi com você... - Murmurei.

— Quer beijinho? - Fez bico.

— Quero. - Só ele me fazia amolecer... Droga!

Larguei a lanterna no acolchoado do banco e fui para o colo dele, sentando com cuidado para não bater meu joelho dolorido.

Freddie me beijou, as mãos másculas agarraram minha cintura. Aprofundamos o beijo. Rebolei no colo dele, o provocando.

Começamos a ouvir gritos e interrompemos o beijo.

Era a Cat berrando apavorada.

[...]

P.O.V Da Jade

— Essa estrada é conhecida como a Estrada Maldita, onde ocorre muitos acidentes fatais, e as vítimas costumam assombrar o local, estão vendo aquelas cruzes? - André apontou para um trecho de terra onde tinha uma fileira de cruzes de madeira fincadas.

— Que horror! - Tori fez o sinal da cruz.

— Isso é história para boi dormir... - Cochichei para o Beck.

— Eu que não duvido, pode ser verdade... - Fala sério! Ele estava acreditando?

— Almas penadas e espíritos malígnos assombram aqui. Já ouvi vários relatos do meu tio que é caminhoneiro! - O Harris queria mesmo tocar o terror?

Meu namorado praticamente grudou em mim.

— Sério? Existe mesmo fantasmas? - Robbie tremia que nem vara-verde.

— Eu não acredito nessas coisas. - Trina roeu mais uma unha.

– O meu avô costumava me contar esse tipo de história, dizia que tinha uma estrada assombrada, rota 66... Ele sempre dizia que uma mulher toda machucada aparecia gritando por ajuda, ela carregava um bebê morto. Bem sinistro! - Sinjin contou nos olhando que aqueles olhões arregalados.

— Isso é papo furado. Não vem me dizer que vocês acreditam nisso! - Cruzei os braços, indignada.

— Olha essa placa... - Tori apontou para a placa verde. - Rota 66! - Ela correu para trás do Harris e grudou nele feito carrapato.

— Foi o que falei, pessoal! Rota 66. Estrada Maldita... - Ele disse um pouco amendrontado.

— Eu quero a minha mãe. - Cat estava abraçando um bicho de pelúcia. Uma girafinha roxa.

Eu nunca tinha visto aquele bicho de pelúcia antes.

— Nossa! Estou morrendo de medo! - Ironizei e chequei as horas no celular. - Agora são 23h:59min. Vai dar meia-noite, gente! E até agora não vi nada de...

— Que porra é essa? - Oliver me puxou.

Sairam 3 cachorros do milharal, um deles era preto e parecia o mais raivoso. Eram cachorros de grande porte e raça desconhecida por mim.

— Não se mexam! - Paralisei.

Eles estavam rosnando e babando, deviam ser cães de guarda ou seria de caça?... Eu não tinha certeza. Nos encaravam como se a gente fosse grandes bifes suculentos.

— Cachorrinhos... Oi, Totózinhos! Cachorrinhos... Cãezinhos bonitinhos... - Robbie estava quase tendo um treco de tanto medo.

O cachorro de pêlos negros e olhos amarelados latiu e avançou. Os outros dois fizeram o mesmo.

Cat deu um berrou e saiu correndo. É, fudeu...

[...]

P.O.V Do Freddie

— Eles estão tentando nos assustar, aposto que é ideia da Jade! - Sam me impediu de abrir a porta.

— Sei não e se estiverem em perigo? - Duvidei.

— SOCORRO! - Era o Beck.

— ABRE ESSA, PORRA! - Berrou Jade e começaram a bater na porta.

Pareciam desesperados.

— SOCORRO! SOCORRO! SOCORRO! - Dessa vez era o Robbie.

— ELES VÃO NOS MATAR! - Sinjin gritou apavorado.

Eles? Eles quêm? Olhei para a Sam preocupado e ela se afastou da porta.

Começamos a ouvir choro das irmãs Vega e vários latidos... Latidos?

— A CAT ENTROU NO MILHARAL! - Era o Robbie chorando aos berros.

Me apressei a abri a porta do trailer, meus amigos entraram numa correria e acabaram me derrubando. Sam bateu na porta que acabou atingindo um cachorro, tudo aconteceu tão rápido... Ouvimos o bicho ganindo e arranhando a lataria.

— São lobisomens? - Minha loira perguntou com um certo brilho no olhar.

— Não... São cachorros raivosos. - Respondeu Beck.

— Que atacam e com certeza devoram pessoas. Tadinha da Cat tcs tcs. - Jade sorriu maldosa.

Meu amigo sentou no banco de motorista e tentou ligar o trailer. Depois de várias tentativas, o automóvel pegou e as luzes acenderam... Uh! Sinistro!

— Vamos cair fora daqui! - André disse louco para escapar dos cães diabólicos. Palavras da minha doce namorada.

— Toc Toc Toc! - Ouvimos aquela voz melosa da ruivinha.

— É você, demônio? - Sam encostou a orelha na porta.

— Sou eu. Hi, hi, hi, sou eu, a Cat! - A Valentine confirmou.

— E os cachorros? Não te atacaram? - Perguntei confuso.

— Não, bobinho. Eles são bonzinhos. - Disse nos surpreendendo.

Ainda receoso, o André abriu a porta, olhamos para a baixinha que sorria e dava carinho no enorme cachorro de pêlos caramelados. Os outros se aproximaram e lamberam as mãos dela. Cat riu.

— Isso faz cócegas. - Falou. - Podemos levá-los pra L.A? - Perguntou inocente.

— Não! Entra logo antes que a gente mude de ideia e te abandone aqui! - Jade disse carrancuda.

— Oh... Okay! - A ruiva fez cara de criança triste. - Tchau, Totózinhos! - Ainda com a girafinha de pelúcia no colo, ela acenou com uma mão e entrou no trailer.

Onde ela arranjou aquela girafa de pelúcia?

Nos sentamos em nossos devidos lugares e a Sam deitou a cabeça no meu ombro.

— Essa viagem foi irada, não? - O Harris parecia ter se divertido à beça.

— Concordo! - Robbie era outro maluco.

— Os cachorrinhos só queriam comida. - A Valentine lamentou.

— Cachorrinhos? Eles eram enormes! - Sam tinha razão.

— Verdade... Pensando em tudo que o Harris contou, até que isso foi sinistro. Rota 66. Cachorros que parecem raivosos. Cruzes na beira da estrada... A tal Estrada Maldita. Que madrugada maluca! - Relatou a West.

É, foi uma madrugada e tanto. Cheia de sustos.