(Em uma pequena taverna movimentada – 17:30 - Domingo)

— Apenas isso mesmo?

Perguntou Leo pela terceira vez achando a tarefa fácil demais para um preço tão alto.

— Sim.

A mulher respondeu com a impaciência estampada no tom de voz.

— Certo, mas depois não quero saber de favores a mais.

— Desde que chegue em minhas mãos e inteiro sem imperfeições poderá levar todo o ouro prometido.

— E porque um preço tão alto assim?

Não era o estilo de Leo fazer perguntas demais, mas nesse caso era quase inacreditável, uma missão tão simples, talvez comparada as suas missões comuns fosse um pouco mais complicada, mas não se dobrava o preço por algumas complicações.

— Se quer o ouro não pergunte muito, ou diminuirei a oferta.

Leo abriu um pequeno sorriso que costumava ser um tanto irritante.

— Não se preocupe madame. — Ele se curvou um pouco sem tirar seus olhos dela. — Me de um mês e sua encomenda será entregue.

— Está louco? Eu não tenho um mês, posso lhe dar uma semana, apenas.

— E como espera que eu entre em um castelo sem estuda—lo?

— Não estive procurando o senhor por tanto tempo esperando descobrir como faz seu trabalho. — Ela parecia desesperada. — Procurei você porque diziam que era o melhor em que fazia, agora decida, uma semana e o dinheiro é seu, caso não queria aceitar a oferta eu tenho pressa.

A cabeça de Leo tinha milhões de coisas a que se preocupar, mas muitas delas se resolveriam com dinheiro, era por isso que trabalhava, fazia o que ele sabia fazer, sempre se deu bem, mas por tentativas calculadas erradas quase acabara com tudo, aquele dinheiro adiantaria muito e não parecia ser falso, o tempo era o fator que o fizera se tornar tão valioso, mas por que? por que arriscar? Não era Leo que iria perder mais tempo correndo o risco de perder tudo que juntara em meses com alguns ladroes malditos.

Antes que a mulher saísse da taverna ele a chamou.

— Eu aceito, mas vou fazer isso hoje. — A mulher levantou o olhar surpresa. — Desde que você dobre o valor.

Ela abriu um sorriso sinistro debaixo do capuz mostrando os dentes perfeitamente alinhados.

— Se você conseguir, o dinheiro é seu.

E ela se foi deixando Leo completamente amedrontado, como iria entrar no castelo pela noite sem ao menos saber quantos guardas podem existir la dentro, era provável que todo o exército da coroa viesse atras dele em questão de minutos, como fugiria? como ao menos iria se acercar daquele castelo? Ele terminou a cerveja e foi em direção a grande fortaleza de pedra que ficava no final da bahia.

Leo não acreditava em Deus, mas desta vez era seu único companheiro.

(Castelo - 19:18 - Domingo)

— Talvez tenha sido por isso que mamãe fugiu.

As palavras cravaram um silêncio severo no cômodo.

— Nunca ouse falar sobre sua mãe assim. Você não sabe nada do que aconteceu.

O tom do homem era tão autoritário, mas não se tornava impedimento algum para Claire.

— Talvez porque você nunca teve a coragem de me contar.

Ela era como uma garota em chamas, não se contentava com respostas curtas qua abrangiam coisas demais, ela queria ter ao menos o controle de sua vida, mas já que isso o pai nunca a deixaria ter, ela buscava a verdade, pelo menos saber o correto a ajudasse a fazer escolhas mais adiante.

— Claire, vá já para seu quarto, não quero ouvir você falar nem mais uma palavra.

— E como sempre mais uma das fugas do Rei Arturo. — Ela falou com o maior tom de deboche que pode. — Não esperava mais de você.

A decepção na voz da princesa não era novidade para Arturo, porém sempre lhe deixava vazio, vazio por não ter a esposa o apoiando quando a filha lhe jogara verdades cruéis em sua cara, era difícil conviver assim sempre escondendo algo da filha que em pouco tempo descobriria.

"Porque fora gerar uma filha com uma mente tão brilhante?"

Ele se perguntava, mas era preciso, era preciso que ela se contentasse com o pouco que sabe, até que a hora certa chegasse.

Claire odiava quando seu pai a mandava para seu quarto, era como se quando ela estivesse mais próxima de finalmente conquistar a liberdade ele a prendesse mais forte, isso a estava deixando tão aflita que a raiva e ansiedade passavam a se transformar em rebeldia, não era um sentimento novo para ela, ainda mais ela que já conhecia todas as entradas e saídas secretas do castelo por passar seu tempo livre da infância procurando a mãe no jardim — uma missão que até hoje não fora cumprida. — Ela então se vestiu arrumou sua bolsa e se sentou, iria esperar pela noite, sairia pelo quarto menos vigiado do castelo escalaria a janela e depois era só se entrar no meio de alguns arbustos, pronto, missão comprida, estaria livre.

(Castelo - 21:54 - Domingo)

A espera já se tornara quase sufocante, ela olhou o relógio, apenas mais alguns minutos e o horário seria perfeito, deu uma espiada pela janela, o guarda estava saindo do lugar, era a hora.

Ela correu dando passos leves pelos corredores daquela grande fortaleza, a cada corredor que se atrevia virar era uma pequena espiada, na verdade, era tão natural que chegava a ser tranquilizador, era uma sensação que ela sempre sentia quando estava prestes a sair daquela prisão, nunca poderia usar esse termo na frente de outros, mas sempre foi isso que pensou, uma prisão enorme que te fazem qualquer tipo de mordomia para que não saia de lá, mas isso nunca chegou a impedi — lá de fugir, a verdade sempre a chamou mais alto, a liberdade, a vida que qualquer um poderia ter exceto ela, era egoísta pensar desse jeito? querer ter outra vida enquanto há tantos querendo ter a sua? Bom, que fosse o pensamento mais egocêntrico que tivesse em sua vida, ela não iria deixar de sonhar e desejar com todas as suas forças a vida mais comum que algum cidadão pudesse ter.

Ela se virou por uma ultima vez e entrou em uma sala da qual não era muito utilizada, havia uma joia muito bonita bem no centro do quarto em uma almofada vermelha rodeada por vidros, como se tivesse sido colocada la para ser exposta a quem quer que fosse entrar lá. Seu pai era o único que entrava nesse cômodo de todo o castelo além dela, ele as vezes se sentava lá dentro e impedia os planos de fuga de Claire, isso a chateava, mas sabia que quando seu pai ia lá ele não estava bem, ao que tudo indicava a joia pertencia a sua mãe, mas ela não sabia dizer, era um dos colares mais belos que já havia visto em toda sua vida, senão o mais belo.

Pensou ter escutado um barulho de fora do quarto então se apressou para descer pela janela, mais tarde seu pai estaria la dentro outra vez, o que a fazia se perguntar até quando ele estaria la, porque em algum momento ela precisaria voltar, mas isso não foi o que a deixou preocupada no momento, o verdadeiro problema foi quando saiu do castelo e pela primeira vez havia alguém a observando do lado de fora, felizmente não era um guarda e infelizmente não era um cidadão comum, afinal cidadãos comuns não utilizam mascaras, ela pensou em correr de volta para o castelo, mas o que faria? contaria que haviam descoberto sua passagem secreta que usava sempre que fugia do castelo? Não, abrir mão do pouco que podia ter da realidade era demais para ela. Ela o enfrentaria, mesmo que fosse seu último ato livre.

(Lado de fora do castelo - 22:12)

A encarava imóvel, já se passara quase 5 horas que procurava um meio de adentrar aquele castelo, mas todas as possíveis entradas naquela muralha estavam com no mínimo 6 guardas, e de repente aquela menina aparece saindo de um arbusto tão facilmente que chegava a xingar os métodos de Leo, o que ele não sabia é que era a própria princesa em pessoa fugindo daquilo que ela nomeava como prisão.

— Quem é você?

Ela perguntou com o máximo de coragem que pode reunir.

— Quem é você?

O olhar dela transmitia uma mistura de incredulidade com felicidade, era difícil saber o que passava pela cabeça dela.

— Ninguém que lhe interessa.

— Bom, então pode pensar o mesmo de mim.

Ele queria que as coisas fossem fáceis assim, mas era obvio que aquela garota não facilitaria o lado de Leo.

— O que você faz aqui envolta do castelo a essa hora da madrugada?

— Por que isso lhe interessa?

— Porque não é normal encontrar civis tão próximos daqui a não ser em dias festivos, o que eu concluo que não é o caso.

Foi quando a ficha caiu para Leo, ela não era uma civil qualquer, ela tinha classe apenas no modo de como arrumava seu cabelo, era tão bela, nunca vira uma menina na cidade assim com cabelos tão bem cuidados, roupas impecáveis, postura, ela era diferente. Ao que tudo indicava ela era uma princesa.

Era como se tivesse acabado de ganhar na loteria, precisava encontrar uma joia e acabou encontrando o mapa para consegui-la, tudo que precisava era que ela colaborasse, ou do jeito fácil ou do difícil.

Ele riu um pouco convencido.

— Então quer dizer que é comum encontrar garotas saindo de arbustos que ficam exatamente ali para tampar uma falha na muralha.

— E por que você acha que existe uma entrada ali? — Ela era bem fria e seca.

— Bom porque não tem como você ter estado escondida nesse arbusto por tanto tempo e sem motivo. — Ele já havia começado com o sarcasmo. — A não ser que estivesse fazendo algo que ninguém poderia fazer por você, mas do lado do castelo? Que falta de respeito com a família real.

O tom de desaprovação de Leo com certeza a deixou muito irritada.

— Olha aqui é melhor você se calar antes que eu te...

Ela parou um momento para pensar no que falar, não havia o que fazer, ele de fato era mais forte do que ela e o único poder que ela possuía no momento não estava mais em suas mãos e mesmo que ela pudesse utiliza-lo no momento, o que ele poderia fazer com ela caso descobrisse quem era? Ele riu, outra vez a deixara com os olhos em chamas, era tão fácil para ele que o fazia se sentir em um jogo.

— Não acredito que você esteja desse lado do muro por iniciativa do castelo, até porque, quem em sã consciência deixaria a princesa para fora de sua própria casa? — O modo como pronunciou princesa fez com que as pernas dela bambeassem. — O que foi? Estou errado em pensar que você é a famosa Claire Eliott?

— Por que acha que eu seria ela? — A quem ela tentava enganar? Leo que não era porque nem por um momento desconfiou de sua hipótese. — Eu não tenho nada a ver com ela.

E outra vez ele ria deixando com que o medo dela se misturasse em raiva.

— Olha Claire...

— Não me chame assim! Você não tem o direito... — A voz dela falhou, era seu fim.

— Ok, ok. — Ele levantou as mãos num gesto de paz. — Olha, Srta. Eliott, isso não precisa acabar mal. — Ele se acercou dela os tornando tão próximos que a respiração acelerada de Claire chegou nos ouvidos de Leo. — Se você me ajudar, podemos fazer um trato.

Ela o encarou. Faria qualquer coisa para sair dessa?

— Que tipo de trato?

Com certeza

— Um que você me diz onde conseguir uma coisa e como sem ser visto e eu não faço nada que poderia lhe machucar fisicamente ou... — Ele abaixou o volume e fechou a cara em uma expressão nada amigável. — Mentalmente.

Calafrios passaram por todo o corpo de Claire ao ouvir aquelas palavras em uma voz tão sombria, não queria descobrir do que ele estava falando.

— Está bem... — Ele logo abriu um sorriso de satisfação ao ouvir as palavras dela. — Mas que tipo de coisa você quer?

— Bom é fácil, uma joia, talvez você saiba onde a encontrar, ela se chama "Gufra".

Foi como um soco no estomago de Claire, esse era o nome do colar de sua mãe, o colar que seu pai olhava enquanto se lamentava por qualquer que fosse o problema, ela nunca entendera o porquê do sumiço de sua mãe, mas de certo modo aquele colar poderia conter alguma resposta, mas ele não estava nem um pouco disposto a desistir.

Ela o olhou bem profundamente em seus olhos, eles pareciam ter passado por coisas monstruosas, ela quase podia ver a angustia que emanava daquele olhar.

— Está bem, eu te ajudo, mas tem que me dizer porque a quer.

Ele a encarou um pouco desconfiado.

— Não preciso lhe dar explicações de nada.

— Então se contenha sem sua “Gufra”

Ele bufou, mas ela se manteve certa de sua decisão de enfrenta-lo.

— Esta bem, mas não vou lhe contar agora, apenas depois que ela estiver em minhas mãos.

— E como vou garantir que você não vai me enganar?

— Sou um homem de palavra.

— Você pode estar inventando isso também.

— Então apenas espere para ver, depois que eu sair desse castelo você e eu não seremos nem mesmo meros conhecidos, por que eu iria me preocupar em guardar um segredo de alguém que não terá a mínima relevância?

— Talvez porque isso iria atrapalhar seus futuros planos?

— Acredite, meus planos não se encaixam em me manter nessa cidade por muito mais tempo.

— E por que?

Ele hesitou por um momento, não gostava de lembrar o porquê que teria que ir embora.

— Acho que deveríamos procurar a joia.

Claire concordou sem protestar, ele era o tipo que você não consegue tirar a resposta a hora que quer, precisa respeitar o tempo dele, ela acreditava nisso e portanto apenas se abaixou entre os arbustos e espiou o local um pouco antes de sair, essa fora a primeira vez que passava tão pouco tempo fora do castelo, mas dessa vez não se sentia tão aprisionada, ela mal se sentia invadindo a própria casa.

— Você está bem?

Ele saiu do arbusto e seus olhos demonstravam uma alegria que fez ela jurar te-lo visto sorrindo por traz daquela mascara.

— Melhor impossível, vamos?

E Claire já havia sido levada pela rebeldia, por mais que ele fosse um ladrão, intruso, o que quer que fosse, ela estava disposta a fazer isso por ele, não por interesse, ou raiva do pai, apenas para sentir a sensação de não pertencer aquele lugar, apenas nessa noite ser alguém qualquer.