Eu e Ridley voltamos à cena do crime em que Beatrice matou Al. Nem sinal de Lena.

— Ela foi por ali, eu acho.

— Então, vamos lá.

Eu e Ridley voltamos a correr. O cabelo de Ridley voando parecia uma beleza. Mas não era tempo de pensar nisso. Eu tentava me comunicar com Lena, mas ela não respondia. Provavelmente, ela estaria desmaiada, caída... Ou morta. Não devemos pensar nisso, é óbvio, por que vai que vira realidade.

Eu e Ridley acabamos numa rua deserta, onde os carros estavam amassados e virados para baixo, dentro deles muita gente morta e ensanguentada. Beatrice/Sarafine. Apertei os olhos para ver se encontrava Lena em um dos carros, mas nada. Ridley andava de um lado para outro procurando. Minutos gigantescos, e Ridley finalmente abriu a boca.

— Vou chamar o Larkins. — disse em um único fôlego.

— Larkins? Aquele primo da Lena?

— É, Ethan. Mas ele não está na Mansão Ravenwood. Nunca mais voltou pra lá desde a morte de Macon. Lá só ficam mamãe e Lena. Se bobear, o espírito do Macon.

Houve uma pausa.

— Então onde ele estaria? Você não sabe?

— Sei, mas deve ser meio improvável.

— Os arbustos na qual ficam o espírito de Ravenwood? — arrisquei.

— Ethan, Larkins está vivo. Mesmo que estivesse morto, não ficaria naqueles arbustos cheios de bichos e seiva.

— Então, tá.

— Pegue no meu braço. E SEM OBJEÇÕES! — acrescentou num berro.

Fui até esta, peguei no seu braço e aparecemos num bar abandonado e empoeirado. Larkins estava lá, debruçado no balcão, tomando alguma coisa de líquido vermelho.

— Larkins?

— Quê?! Ah, oi, Ridley. E oi, Sr. Ethan.

— Só Ethan, por favor.

— Larkins, quero que nos ajude.

— Em que? — perguntou distraído.

— Ajudar a achar Lena, é claro, seu burro.

— Não conte comigo.

— 'Não conte comigo'? 'NÃO CONTE COMIGO'? ENTÃO É ASSIM? VAI DEIXAR LENA SOFRER NAS MÃOS DE QUEM A PEGOU, LARKINS? SUA PRIMA DE CORAÇÃO? SEU MAU-CARÁTER! IDIOTA!

— NÃO BERRE COMIGO, RIDLEY! FAÇO O QUE BEM QUERO, VADIA!

Ridley deu um tapa na cara de Larkins.

— DOEU, SUA MÁQUINA MORTÍFERA!

— Era a única forma, Larkins. Agora vamos, se não quiser levar mais uns trocentos.

Larkins entrou no meio de Ridley e eu. Após alguns minutos de caminhada, passamos por cima de um bueiro. E ouvimos um grito que parecia dizer 'ME SOLTA DAQUI, VACA!'. Abri o bueiro na mesma hora. Estava escuro, só era iluminado bem lá no fundão. Pude observar Lena algemada no pescoço, nas pernas e nos braços, e uma senhorinha gorda de vestido magenta.

— Coma isto, Lena. Este veneno vai curar toda a sua insolência!

— ME SOLTA! ME SOLTA1 — resistia Lena. Eu tinha de fazer alguma coisa. Peguei um pedaço de madeira atrás de mim e joguei na mulher. Acertou um cheio. Caiu desmaiada no chão.

— Ethan? Ridley? Larkins? Muito obrigada!

— Foi obra deste Mortal aqui. — disse Ridley.

Por um instante, a velha desabada no chão pareceu mexer o seu dedo indicador. Imediatamente, observei quando ela levantou dando-me um chute no pênis.

— HÁ! HÁ! HÁ! — riu a velha aplaudindo — Ethan Wate, não? Um Mortal sem vida, segundo minha filha Tara.

— TARA BOLDMAN?! Você... Você... VOCÊ É RUTH BOLDMAN! — gritou Larkins.

— Em carne e osso, menino. Pensaram mesmo que três adolescentes impertinentes me impediriam de matar Lena Duchannes? EU RIO MAIS AINDA COM ISSO! Ninguém daqui pode superar um Sirena. E Mortal, sua babá, Amma, está ali.

Amma estava caída no chão com os olhos e a boca cheia de sangue.

— NÃO! AMMA! O que fez com ela, cadela? — perguntei ameaçador.

— Eu não fiz nada. Foi seu amigo Wesley Lincoln. Pergunte a ele.

— SUA SIRENA PUTA! DESGRAÇADA! CORNA! BISCATE!

— Xingar não adiantará nada, Mortal. NADA me impede.

— Nada mesmo, Ruth Boldman? — exclamou uma voz que já ouvi na vida, a mesma que fazia ecos. Beatrice Scotty.

— BEATRICE SCOTTY! ONDE ESTÁ SARAFINE?!

— Não acho que seja da sua conta, Ruth. Ela me possuiu de verdade, mas eu consegui expulsá-la. Ela está no pior lugar do mundo.

— Você não a matou, burra! Ela nunca morre! O elixir da vida que meu irmão Troy fez nunca acabada. Ela viverá pra sempre!

— De fato, Ruth, de fato. Mas o elixir da vida um dia chegará no fim e seu irmão não achará mais os ingredientes, pois ELES — disse Beatrice levantando um livro grosso azul com o título POÇÕES POTENTES PARA CONJURADORES DAS TREVAS.

— Você roubou um livro da sua própria família, Beatrice?

— Família? MINHA PRÓPRIA FAMÍLIA? Eu sou deserdada, segundo vocês! Somente minha avó minha amava! NENHUM BOLDMAN SE DEU O TRABALHO DE ME AMAR!

— Aplausos, aplausos! Quanta melancolia! Quanta idiotice! Beatrice, quem sempre te amou esteve sempre ao seu lado, querida. EU TE AMEI! EU SEMPRE TE AMEI!

— MENTIRA! Você nasceu bem depois de mim, sua cadela! Nunca soube que eu existia! Passava o seu dedo sujo pelo meu quadro várias vezes! Nunca se importou em descobrir quem Beatrice Scotty era! SEMPRE... SEMPRE JOGANDO PÓ NO MEU QUADRO, PÓ SUJO! NOJENTO! VOCÊ ME PAGARÁ CADA CENTAVO, SUA BRUXA!

Beatrice ergueu as mãos e começou a enforcar Ruth. Pude ver que o pescoço de Ruth estava ficando vermelho. Os olhos delas estavam ficando rosa. Os cabelos perdiam a cor ruiva para cinza. Até que Ruth, revidou em Beatrice um chute nos seios.

— Você — ofegou ela várias vezes — quase me matou! MATOU SUA DESCENDENTE!

— NÃO SOU DESCENDENTE DE SIRENAS! SOU DESCENDENTE DE MAIA FLYNN-MONTANA!

— Maia Flynn-Montana? Você... Você sabe?

— E muito bem, Ruth. Algum homem dos Boldman casou-se com Maia Flynn-Montana, um Conjurador da Luz. CHEGA DE OBJEÇÕES! DAQUI A ALGUNS ANOS, ME CONTE COMO É O INFERNO! — Beatrice apertou sem hesitação o pescoço de Ruth bem forte, e saíram massas acinzentadas da sua boca, voando diretamente para o corpo de Amma. Só limpou-se o sangue. Ele não deu sinal de vida.

— Ethan, meus pêsames... — disse Lena.

— Não, não foi culpa sua, Lena. Tara escapou. Só desta vez. SÓ!

TRÊS MESES DEPOIS

Eu dormia agora na casa de Link. Ele me ofereceu abrigo, e comecei a ser colega de quarto dele. Eu e Lena estávamos namorando, enquanto Ridley namorava outro homem, Terrence Gavins. Prometi me encontrar com Lena na porta da biblioteca. O fiz.

Chegando lá, fitei Lena por alguns segundos. Fui até ela.

— Oi, Lena. É... Seus olhos?

— O que... Tem meus olhos?

— Estão... Estão...