Pela estrada vinham três cavalos. Uma égua castanha à frente e seguida dela uma égua alazã e um cavalo baio da cor de mel. Montando a égua castanha estava uma mulher; cabelos castanhos escuros compridos presos numa trança que passava por cima do ombro terminando abaixo da clavícula, usando uma roupa em tons de cinza escuro, com botas pretas, era possível ver a bainha de uma espada em sua cintura, ela usava também uma capa preta com capuz que cobria seu rosto, mas o brilho dos olhos cinzas ainda era visível. Montando a égua alazã estava um garoto; ele tinha 13 anos, cabelos loiros escuros e olhos castanhos, vestia uma calça cinza e uma camisa marrom além de uma capa de viagem quase preta e trazia um arco nas costas e uma aljava pendurada à cela. O cavalo baio vinha montado por uma menina, ela tinha 6 anos e era uma réplica da mulher. Os mesmos olhos, o mesmo cabelo, apenas um pouco mais curtos, as mesmas roupas em tons de cinza, a mesma postura.

A mulher era Sarah Hawkey e as duas crianças eram seus filhos, Tommy e Aria. Eles seguiam para a Academia. Estavam numa estrada que levaria a Estrada Real quando ouvem sons de luta; gritos e o retinir do aço de espadas se chocando.

--Fiquem aqui – mandou Sarah olhando diretamente para a filha – Tommy, mantenha sua irmã longe de problemas.

--Mas mãe, eu... – tentou reclamar a menina.

--Mas nada, Aria. Você vai ficar longe dessa confusão e isso é uma ordem.

--Eu cuido dela – fala Tommy calmo.

Sarah assente com a cabeça e sai galopando em disparada.

--Você é um chato, sabia disso? – fala Aria emburrada.

--E você é uma bagunceira que adora uma briga – diz Tommy sorrindo divertido e ela mostra a língua ao irmão.

--Ah; o que é que custava a mãe deixar a gente ir ver o que tá acontecendo??? – reclama ela, agora um pouco irritada – E depois, se ficássemos mais longe você podia cuidar de nós dois com o seu arco.

--Qual o problema em esperar que tudo se resolva e seja seguro?

--Qual a graça de ver uma briga depois que ela acabou? – fala a garota rolando os olhos como se fosse algo óbvio.

--Certo, certo – fala ele escondendo um sorriso – E o que fazemos enquanto esperamos a mãe voltar?

--Não esperar a mãe voltar – ela falou com um enorme sorriso.

--Aria – fala Tommy desanimado – Por favor, só dessa vez não podemos obedecer??

--Eu quero ver, Tommy – pediu ela fazendo bico.

--A mãe vai me matar – murmura o garoto e Aria dá um enorme sorriso – Certo. Nós vamos, mas vamos ficar bem longe da briga, está bem?

--Sabe que eu te amo, né maninho – diz ela sorrindo e Tommy rola os olhos – Pode deixar que só quero ver a mãe dar uma surra em quem começou aquela briga.

--Sei. Agora me diz como pretende chegar lá sema a mãe te ver.

--Pelas arvore; por onde mais seria – ela fala sorrindo confiante.

Depois disso os dois guiam seus cavalos para dentro da floresta na direção dos sons. Ária guia seu animal até uma arvore maior com grandes e largos galhos. Ela para embaixo de um dos galhos e faz um carinho no pescoço do cavalo antes de soltar as rédeas e ficar em pé sobre a cela. Ela, então, salta e agarra o galho puxando-se para cima.

-- Eu e Milly vamos continuar mais paralelo à estrada – avisa Tommy se afastando.

--Certo – responde ela e depois se vira para o cavalo – Vai procurar as frutas silvestres que você gosta, Gold. Daqui a pouco eu te chamo.

O cavalo relincha como se tivesse ficado animado com a ordem e balança a cabeça pra cima e pra baixo entes de sair caminhando tranquilo. A garota então sobe ainda mais pelos galhos até que chega a uma altura em que as copas das arvores se misturam. A partir daí Aria segue passando de galho em galho de uma arvore à outra; sempre seguindo os sons de luta.

Aria nunca foi o que se pode chamar de garotinha comportada; o que significa que correr sobre galhos e pular de um para o outro era algo fácil e no qual ela tinha bastante pratica. O resultado disso é que não demorou cinco minutos e ela já estava nas arvores mais próximas da estrada.

Sarah e os filhos estavam a algumas centenas de metros do encontro com a Estrada Real e, algumas centenas de metros à esquerda, havia uma comitiva com vários cavaleiros, uma carroça e uma carruagem simples, mas aparentemente muito nova. A primeira coisa que Aria viu foi a mãe lutando com o grupo mais atrás da comitiva. Ela adorava ver a mãe lutar, mas naquele dia resolveu ir ver o que estava acontecendo mais pra frente. Pelas arvores ela foi seguindo e vendo dezenas de soldados em uniformes e armaduras que a lembravam as dos soldados do exército Real, mas as que ela via ali eram muito mais bonitas e adornadas do que as que ela estava acostumada a ver.

Mais adiante ela notou a carruagem; o condutor estava morto e caído no chão; os cavalos estavam relinchando assustados, mas permaneciam nos lugares presos pelas rédeas e pela carroça a frente deles. A quantidade de soldados em volta da carruagem chamou ainda mais a atenção de Aria. Ela passou por entre os galhos até estar quase sobre a beira da estrada e ficou vendo o que iria acontecer. Haviam pelo menos 10 homens em volta da carruagem com lanças, espadas e escudos em mãos. Aria olhou para a parte de trás da comitiva vendo a mãe lutar com três ou quatro bandidos de uma só vez. Depois olhou para a carruagem; haviam pelo menos 20 bandidos em volta dela e vários outros tentando se aproximar.

Alguns minutos de observação depois os guardas em torno da haviam se dispersado deixando a carruagem completamente indefesa. É quando Aria vê um dos bandidos; um homem enorme com mais de 1,90m de altura e muito forte também se aproximar da porta da carruagem que estava bem em frente ao galho de onde ela observava tudo. A garota pode ouvir o pequeno grito de susto, provavelmente vindo de uma mulher, quando o brutamontes acertou o punho com força contra a porta da carruagem. Aria soube com aquilo que, seja lá quem fosse ali dentro, o alvo dos bandidos era essa pessoa. Ou seja, não eram simples bandidos; estavam atrás de alguém ou algo que a pessoa dentro da carruagem carregava. O brutamontes continuava a esmurrar a porta cada vez com mais força. Aria começou a olhar para os lados ansiosa esperando que alguém aparecesse para ajudar os ocupantes do veículo, mas todos pareciam ocupados demais com seus oponentes para notarem o que acontecia ali e sua mãe estava longe demais para poder chegar a tempo. Aquela altura Sarah já estava lutando com seis bandidos sozinha.

O som de madeira se quebrando fez a menina voltar a olhar para a carruagem. O bandido havia acabado de conseguir abrir um buraco com o punho na grossa porta e agora a estava pondo abaixo. Aria viu ele colocar a cabeça pra dentro e mais um grito, agora de outra pessoa, mas por causa do barulho ela não pode distinguir a voz e o que ela tinha gritado.

Narração Aria

“O que eu faço agora???”, eu pensei. Minha cabeça parecia o Gold galopando por um campo aberto de tão rápido que passava de um pensamento para o outro. Mamãe estava longe demais para que eu pudesse chamar ela e os incompetentes que eram os caras vestidos de guardas nem pareciam notar que o que eles deveriam estar protegendo estava sendo atacado. Minha vontade era gritar: “HEY, seus inúteis. estão entrando na carruagem que vocês deveriam estar protegendo!!!!”. Mas é claro que não fiz isso; afinal, os idiotas eram eles.

O cara começou a subir os dois degraus e minha mente disse pra mim: “Pense rápido, Hawkey. Você não pode deixar ele entrar”. Certo, agora o que raios uma garota de seis anos e meio podia fazer contra um cara enorme de quase dois metros?????? Sinceramente eu não sei, mas quando vi um pedaço de um galho perto de mim soube o que uma Hawkey poderia fazer. Enquanto terminava de quebrar o galho eu pensava: “Mamãe vai me matar”, mas fazer o que? Eu não ia ficar só assistindo enquanto alguém se machucava, ou cois pior, sendo que eu podia fazer alguma coisa. Tá. É bem provável que o que eu ia tentar não ajudasse em nada, mas eu ainda ia tentar.

O grandalhão colocou o primeiro pé dentro da carruagem e eu não tive mais tempo para pensar. Corri pelo galho em que estava até onde ele acabava; o que significava que, no final, ele já estava dobrando com o meu peso. Eu estava a uns três metros de distancia do cara e há um pouco menos de um metro e meio de altura acima dele. Usei o impulso da corrida mais o do galho voltando pro lugar para me jogar em cima do cara. Acertei o galho um pouco em baixo da orelha dele, perto do pescoço, e os joelhos contra o meio das costas do bandido.

Não que eu seja pesada, mas, talvez pelo impulso que consegui com a altura, meu peso jogou o brutamontes para frente. Também não sei o que fez ele apagar; se foi a pancada do meu galho ou a cabeça dele acertando o assoalho da carruagem. De toda forma isso não importa realmente. O que importa é que caí de cima das costas dele de mau jeito, rolei pelo chão e acertei o ombro na parede oposta da carruagem. E aquilo doeu; doeu tanto que se a mamãe ouvisse tudo o que eu xinguei na hora eu levaria uma bela surra. Bem, é nisso que dá eu conviver com adultos nada corretos nas estalagens em que nós três parávamos na maioria das vezes.

Parei de pensar no que minha mãe faria se ouvisse tudo o que eu falei e olhei ao redor. Na parte traseira da carruagem estava uma mulher; cabelos loiros dourados; olhos verdes; num vestido elegante do tipo muito caro e com mais pano do que tinham todas as minhas roupas e as do Tommy juntas; ela me olhava com os olhos arregalados. Em frente a ela estava um garoto; uns 10 anos mais ou menos; cabelos vermelhos num corte um pouco comprido e o mesmo tipo de roupa elegante; seus cabelos eram um pouco encaracolados e bem cortados e ele estava com uma espada de uma lâmina de pouco mais de 40cm na mão direita. O que me fez pensar que eles eram mais ricos do que eu imaginei; já que para um moleque ter uma espada feita na medida de tamanho e peso pra idade dele os pais do garoto tinham mesmo que ter muito dinheiro sobrando.

Encarei o rosto dele que não parecia muito com a mulher, mas ele tinha os mesmos olhos verdes que, por causa do cabelo vermelho pareciam ainda mais verdes na minha opinião.