Narração Rendon

Estávamos sendo atacados e a coisa não parecia ir muito bem. Isso me deixava com raiva. Eu sou Rendon GrayWolf e numa situação de perigo não posso sequer proteger minha própria mãe. É nesses momentos que tenho a]raiva de mim mesmo. A carruagem era toda fechada, mas ainda haviam pequenas frestas, estreitas demais para uma flecha passar, mas ainda o suficiente para que eu pudesse enxergar o lado de fora. Vi um homem enorme se aproximando da porta. Não tive tempo de avisar minha mãe que, sentada no banco que ficava na parte traseira, solta um pequeno grito de susto quando o bandido bate contra a porta.

Elizabeth Dekrest GrayWolf poderia até ter se assustado e reagido como qualquer outra mulher, mas eu conhecia minha mãe bem o bastante para não me espantar com o pequeno punhal que apareceu em sua mão por causa do susto. O bandido continuou esmurrando a porta e eu me aproximei dela ficando a sua frente. Ela me puxou para mais perto, não por estar com medo, mas para que fosse mais fácil para ela me afastar de quem quer que fosse que entrasse. Não que eu pretendesse deixar que ela o fizesse, mas resolvi não falar nada na hora. Puxei minha espada porque, mesmo se fosse algo inútil contra o inimigo, eu ainda tentaria nos defender. Afinal, todas as aulas de esgrima que venho tendo desde os cinco anos tem que servir para alguma coisa. Vejo o punho do homem abrir um buraco na madeira; depois disso ele derrubar a porta não demorou muito. Quando a porta caiu pude ver a cara feia do bandido aparecer e rangi os dentes de raiva; era óbvio que eu não conseguiria lutar contra ele com uma lâmina de 38cm.

No instante em que ele colocou o primeiro pé dentro da carruagem, no entanto, algo estranho aconteceu. Alguma coisa bateu contra suas costas e o bandido caiu batendo a cabeça no chão. Pude ver uma garotinha rolar por cima da cabeça do homem e pelo chão até acertar a parede oposta a porta. Deve ter se machucado bastante visto a quantidade de palavras impróprias e de baixo calão que ela disse. Quando parou de xingar olhou para o nosso lado e pude ver bem ela. Deveria ter algo em torno dos 6 anos; rosto até bonito para uma menina daquela idade. Se não fossem os xingamentos que ouvi dela até diria que se parecia com uma princesa; cabelos castanhos escuros batendo em seus ombros presos por um pedaço de tecido azul que se misturava com os fios e um pedaço de madeira na mão. Ela nos analisou; primeiro minha mãe que deveria estar com uma expressão muito surpresa devido ao aparecimento e ao vocabulário dela; e depois a mim. Na hora em que nos encaramos me espantei com seus olhos. Não que fosse um olhar muito diferente, apesar de me parecer muito mais atento, curioso e inteligente do que alguém daquela idade teria. O que me espantou foi a cor dos olhos dela. Eram cinzas; não azuis acinzentados como eu já havia visto algumas vezes, mas realmente cinzas como nuvens de tempestade. E algo me dizia que essa não era a única semelhança dela com esse fenômeno da natureza capaz de destruir muita coisa.

Narração Narradora

As duas crianças se encararam por algum tempo. Olhos cinzas contra os verdes. Aria então se levanta comprovando que seu ombro não estava nada bom ao tentar apoiar a mão esquerda e não conseguir. Rendon a encarava curioso, afinal, não era todo dia que ele via uma menina vestindo camisas, calças e botas como se fosse um garoto.

Quando finalmente fica e pé Aria avança na direção do menino.

--Hey, não se mexa – diz ele fazendo-a parar – O que acha que esta fazendo? Quem é você?

--Se não me engano acabei de salvar vocês – ela fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

--E quem disse que precisávamos de ajuda? – Rendon retruca irritado.

--Ah, deixa eu ver....Com o cara enorme invadindo isso aqui ficou meio obvio isso, idiota – ela responde irritada também.

Aria avança na direção dele usando o pedaço de galho para desviar a ponta da espada do garoto e se aproxima até estar a centímetros de Rendon. Como ele era quase 10cm mais alto ela teve que olhar para cima para encará-lo. Os dois se analisaram até que ela olha para a espada e empurra o galho contra o peito dele tomando a lâmina das mãos do garoto.

--Isso vai ser mais útil comigo – ela fala dando as costas a ele – Não se preocupe, te devolvo quando isso tudo acabar.

--Tá doida, garota??? – pergunta ele puxando-a pelo ombro – O que acha que vai fazer com a minha espada???

--O que você não consegue – ela retruca afastando a mão dele – E escuta aqui, oh riquinho. Fica aqui dentro e acerta isso – ela apontou para o galho – Na cabeça de qualquer um que tentar entrar. Eu vou lá pra fora usar isso – ela ergue a espada – Para manter aqueles caras longe da porta.

--E como acha que vai conseguir fazer isso com esse seu tamanho?? – ele pergunta irritado.

Um chute acerta o quadril dele fazendo Rendon cambalear para o lado. Quando ele se levanta Aria está segurando a espada, apoiando a parte plana da lâmina no braço esquerdo, mantendo a ponta perto do rosto dele.

--Faço muito mais do que você e esse seu tamanho todo consegue. Então só fica quietinho aqui enquanto eu salvo a tua pele; feito? Quando acabar eu te devolvo a sua espada.

Dizendo isso ela se afastou até a porta e pulou pra fora da carruagem.

Narração Rendon

Que garota mais doida. Mas mesmo assim eu digo uma coisa: Ai. Esse chute doeu. Eu me viro e olho pra minha mãe depois que a maluca saiu (levando minha espada; o que era o pior). Minha querida mãe estava rindo de mim com uma mão cobrindo a boca para disfarçar. A encaro sério e um pouco irritado até, mas resolvi ignorar. Rolei os olhos e suspirei.

--Não posso deixar ela lá fora sozinha, mãe – digo encarando a porta e depois el que tinha parado de rir.

--Querido, sabe dos riscos. É você quem eles querem, não ela e...

--Ninguém vai imaginar que o príncipe esta fora de sua carruagem, mãe. Vou estar tão seguro lá fora quanto estou aqui dentro.

--Tem certeza disso, Rendon?

Olhei para a porta outra vez. Aquela garota tinha me insultado, praticamente me roubado e me ameaçado, além de me bater e insinuar que não sei me defender. A grande questão era: eu realmente quero ir até lá fora para ajudar justo ela??? A resposta: sim, eu queria. Por quê? Simples: ela tinha acabado de salvar a mim e a minha mãe. Então; é. Eu não ia deixar ela lutando sozinha lá fora e ainda mais com um ombro machucado (é; eu notei que o ombro esquerdo dela não estava em perfeitas condições). Bem, não sei se eu faria alguma diferença, mas não posso deixar ela lutar sozinha e ficar aqui a toa. Me virei para minha mãe.

--Não vou deixá-la lutar sozinha uma batalha que é por minha causa – digo sério e decidido – A senhora consegue se proteger com seu punhal? – pergunto preocupado.

--Não se preocupe, meu menino. Posso me virar. Mas, por favor, tome cuidado. Algo me diz que eles estão atrás de você e não de mim – ela me responde me dando um beijo no topo da cabeça.

Talvez ela tenha razão e o alvo seja mesmo eu, mas vou ter que torcer para todos serem tão burros quanto o que tentou entrar na carruagem parecia. Segurei firme o galho de arvore que a maluca tinha colocado na minha mão; por hora isso teria que servir. Respirei fundo e corri pra fora pulando os degraus da entrada com facilidade.

Não demorei para enxergá-la (a garota estava com a MINHA espada; é claro que eu acharia minha arma facilmente). Ela corria por entre os soldados e os bandidos usando a espada para cortas partes das armaduras e pernas e pés dos inimigos facilitando o trabalho dos soldados. Corri por entre eles também, sempre na direção dela. Foi quando eu estava quase a alcançando que eu vi dois bandidos a notarem e se prepararem para atacar a menina. Fiz a primeira coisa que me veio à cabeça.

--Hey – gritei pra eles que estava a uns 2 metros de mim e atirei o galho de arvore na cabeça de um acertando o meio de sua testa deixando-o um pouco tonto.

Os dois caras olharam pra mim, o que estava meio tonto quase caiu quando avançou, junto com o outro, na minha direção. Vi a garota usar a minha espada para cortar o tendão de uma das pernas do outro (o que eu não tinha acertado com o pedaço de madeira). Corri na direção do que ainda vinha pra cima de mim meio tonto e, antes que ele me pegasse, eu me joguei por baixo dos braços dele e para o chão e rolei pra perto da garota. Afinal, eu estava desarmado. Daquele jeito não podia enfrentar o homem.