Narração Aria

–-O que é que você está fazendo aqui??? – perguntei irritada; era para ele estar na carruagem.

–-De nada; salvo seu pescoço sempre que quiser – ele me falou com um sorriso falso e depois ficou sério – Eu não podia te deixar lutar sozinha, né.

–-Heim???? – eu falei encarando ele confusa, mas na minha cabeça eu estava gritando: VOCÊ TEM PROBLEMAS GAROTO!!!!! Mas tudo o que disse foi – Volta prá lá agora seu idiota. Eu não preciso de ajuda; então volta pra maldita carruagem.

–-Não adianta – ele falou sério – Eu não vou voltar e não há nada que você possa dizer para me convencer do contrario.

Mas que garoto estúpido!!! Por que ninguém nunca faz o que eu mando fazer?!?!?! O que custava o infeliz ter ficado quietinho lá dentro?!?!?! Meu rosto já deveria estar levemente vermelho de raiva; meus olhos estavam estreitos e eu encarava aquele imbecil com vontade de matá-lo. Acho até que teria feito exatamente isso se outro dos bandidos não tivesse nos notado e partido pra cima da gente.

Desviei com a espada o cabo da lança que o homem tentou acertar no IdiotaDeCabeloVermelho. O bandido pareceu surpreso me dando tempo de fincar a espada até a metade da sua panturrilha. Ele gritou de dor e jogou a lança contra mim antes de eu conseguir puxar a espada.

O IdiotaDeCabeloVermelho; como não sei o nome dele vou chamá-lo assim mesmo; apareceu com um galho desviando a lança que ia me acertar. Era um galho um pouco maior do que o que eu tinha deixado com ele, deve ter achado em algum lugar no chão. Consegui puxar a espada e cortei o joelho do bandido que caiu pra trás gritando de dor. Fui puxada para trás até a beira da estrada. Eu e ele paramos um ao lado do outro nos escondendo perto de uma arvore.

–-Viu porque você tinha que ter voltado?? – falei olhando em volta com atenção – Pode se machucar aqui fora, seu idiota.

–-Vi que se eu não tivesse vindo você já estava com alguns belos ferimentos, isso sim – ele retruca me encarando sem expressão.

–-Ora seu...

Quando eu ia dizer alguma coisa outros bandidos nos viram e vieram atrás de nós dois que saímos correndo. Acertamos mais dois bandidos enquanto nos aproximávamos de novo da carruagem.

–-Cuidado!! – ele gritou me puxando para o lado e me tirando da frente de um cavalo que passava correndo descontrolado sem ninguém a montá-lo.

Depois disso decidi que continuar no meio daquela bagunça era loucura. Puxei ele pela mão até a beira da estrada e nos escondemos atrás de uma arvore.

–-Você não devia estar aqui – falei encarando-o séria; mesmo que ele tenha, tecnicamente, me ajudado, eu ainda não aceitei ele ter saído da carruagem que era o lugar onde ele deveria estar.

As roupas dele já estavam sujas e cheias de poeira e ele parecia não ligar; o que não era normal pelo que conheço sobre a nobreza.

–-Diga o que quiser – ele falou serio e calmo – Não vou simplesmente ficar quieto sabendo que você está no meio dessa confusão sozinha.

Essa frase me fez encará-lo de uma forma diferente. Talvez ele não seja só mais um nobrezinho idiota no fim das contas.

Narração Narradora

Os dois não tiveram tempo para mais conversa. Um dos bandidos os atacou com uma lança. Aria segurou a espada com as duas mãos e golpeou a lança antes que a mesma atingisse o garoto. Ele puxou a menina para trás quando viu que ela estava sentindo dor no ombro e acertou o pedaço de galho no joelho do homem. Aria se recuperou; trocou o a mão de apoio da espada e acertou com a espada o mesmo joelho que o garoto havia acertado com a madeira fazendo o homem cair.

Eles não esperaram outros aparecerem; saíram correndo de volta para a confusão das lutas. Um homem enorme para em frente a eles impedindo-os de continuar. Quando o bandido vai atacá-los uma flecha atinge-o no ombro. Aria ri e puxa o garoto ela mão para longe do bandido.

–-Parece que meu irmão achou uma boa posição – ela comenta sorriso; o garoto a olha confuso, ela rola os olhos e os leva para debaixo da carruagem; os dois se escondem atrás de uma das rodas – Ali – ela aponta – É minha mãe. E não vai demorar muito para ela afastar esses bandidos.

O sorriso da menina aumenta ao ver os olhos do menino se arregalarem ao verem sua mãe lutando. Ela adorava ver a expressão de surpresa das pessoas que viam sua mãe lutar. Os dois iam continuar a observar a luta quando Aria vê um dos bandidos se aproximando da carruagem. Rendon também viu e os dois saíram de seus lugares ao mesmo tempo surpreendendo o homem. Rendon golpeou a barriga do bandido com o galho enquanto Aria usava a espada para desviar a espada do inimigo. O garoto bateu com o pedaço de madeira na mão do bandido fazendo-o soltar a arma e Aria o derrubou cortando a parte de trás da perna dele.

As flechas de Tommy começaram a acertar qualquer um que se aproximasse dos dois. Aria e Rendon, quando viram que já estavam atrapalhando, correram para fora da estrada. Os bandidos começaram a recuar quando Sarah conseguiu reunir e organizar alguns guardas junto a ela.

–-Sua mãe é incrível – comenta o garoto olhando para a mulher que lutava com vários bandidos.

–-É, eu sei – responde a menina com os olhos brilhando ao ver o que a mãe podia fazer e se imaginando no mesmo lugar fazendo as mesmas coisas.

Os poucos bandidos restantes estavam se afastando; o garoto encara a menina com um olhar sério e suspira fazendo-a desviar o olhar da mãe para ele.

–-Acho que lhe devo desculpas pela forma que falei com você lá na carruagem – ele falou deixando de prestar atenção ao que acontecia em volta já que não haviam bandidos por perto.

–-É – ela fala um tanto desconfortável – Acho que eu também não fui muito gentil.

Ele riu e ela acabou sorrindo um pouco.

–-Nenhum de nós foi gentil – ele disse sorrindo – Bom, porque não começamos por nos apresentar doo jeito certo? Sou Rendon – ele completa estendendo a mão.

–-Aria – ela responde segurando a mão estendida dele.

Os dois soltam as mãos e ela estende de volta a espada dele.

–-Aqui; disse que te devolvia quando isso acabasse – ela fala sorrindo e Rendon pega a espada guardando-a na bainha que estava em sua cintura.

–-É um prazer conhecer você; Aria – ele fala meio desconcertado e coça a nuca antes de continuar – E obrigada pelo que fez àquela hora na carruagem. Você realmente nos salvou.

Ela riu um pouco antes de responder.

–-Acho que só agi por impulso; Tommy sempre diz que sou mais irresponsável do que deveria.

–-Acho que foi muito corajosa – responde Rendon com um sorriso agradecido, ele realmente não sabia o que teria acontecido a ele e a mãe se ela não aparecesse.

Naquela hora os bandidos estavam fugindo dos guardas que tinham recuperado sua formação. Aria viu a mãe andando em direção a ela enquanto guardava a espada e suspirou; sabia que levaria uma bela bronca. A menina se posicionou a frente do garoto que olhou curioso da mãe para a filha notando o quanto as duas eram parecidas. Quando Sarah estava a poucos metros eles ouvem Tommy gritar. Havia um bandido apontando uma flecha para Aria; Sarah tenta correr para a filha quando nota o que estava para acontecer; Tommy mira e dispara sua própria flecha em direção ao homem; nenhum dos dois é rápido o bastante. Sarah estava muito longe e a flecha de Tommy acerta a mão do bandido tarde demais. A flecha sai do arco em direção à garota que demorou tempo demais para notar o que estava acontecendo. Mas Rendon notou. Ele a puxa para trás, apesar de tudo, não sabia em qual dos dois o homem tinha mirado, então, por precaução, se coloca a frente de Aria protegendo-a com seu corpo. A flecha passa por ele acertando seu braço de raspão. Os dois se desequilibram e caem, Rendon ao lado dela com um braço em volta da cintura da menina.

Aria se levanta rápido e olha em volta procurando a origem da flecha. Sua mãe acabava de chegar ao lado dela e olha para a garota preocupada. Aria nota que não está ferida e vê Rendon levantando com uma mancha de sangue no braço direito. Sarah nota o olhar da filha e se vira para o garoto puxando-o para encará-la.

–-Você está bem? – pergunta a Hawkey mais velha notando que era só um cote superficial.

–-Estou – ele responde e Aria também faz uma expressão aliviada – Não é nada sério – ele completa olhando para o próprio braço vendo um pouco de sangue apenas.

–-Obrigada – fala Aria pra ele.

–-Não foi nada – Rendon responde calmo.

Sarah se vira para a filha.

–-Como você está? – ela pergunta e Aria tenta dar de ombros, mas seu ombro esquerdo ainda doía – Parece que não muito bem – fala Sarah rolando os olhos controlando o inicio de um sorriso pela teimosia da filha – Venha cá.

Dizendo isso a Hawkey segurou o ombro da filha analisando e depois o recolocou no lugar num único movimento sem avisá-la.

–-AAAAIIIIIAIIAI – choramingou Aria na hora, mas logo parou – Podia ter avisado, mãe – ela resmunga.

–-E a senhorita podia ter me obedecido – retrucou Sarah séria – Mas não obedeceu, então estamos quites.

Enquanto mãe e filha conversavam Rendon se afastou aos poucos discretamente indo em direção à carruagem onde os guardas tentavam manter a mãe dele até terem certeza de que tudo estava seguro. Elizabeth não foi contida por muito tempo e logo estava descendo da carruagem. Quando viu a mãe por o primeiro pé no chão Rendon sentiu um mal estar e uma tontura muito forte. Cambaleou para o lado e para à frente, tropeçou nos próprios pés e caiu no chão.

–-RENDON!!!!! – gritou Elizabeth desesperada correndo para o filho e se ajoelhando ao lado do menino.

Sarah e Aria ouviram o grito e logo correram para perto. Alguns guardas tentaram impedir a aproximação das duas e de Tommy que tinha desmontado e se aproximava da mãe e da irmã.

–-Saiam da minha frente – mandou Sarah num tom ameaçador – O garoto precisa de ajuda e vocês não vão ajudar me mantendo longe. Saiam logo.

Como eles não quiseram sair Sarah agarrou a armadura de um e puxou para perto para que ele pudesse ver seus olhos cinzas frios e ameaçadores. O homem vacilou com isso e ela passou por ele se ajoelhando ao lado da mulher sem prestar atenção em quem era, apenas no garoto que estava ficando muito pálido. Aria se aproximou também e se ajoelhou perto da mãe.

–-Pode ajudá-lo? – perguntou a mãe do menino preocupada e desesperada.

–-Posso tentar – respondeu Sarah puxando o garoto para mais perto dela de modo que pudesse olhar melhor o ferimento no braço do menino.

Sarah analisou o corte, rasgou a manga da camisa para olhar melhor, pressionou fazendo um pouco de sangue sair. Foi nessa hora que seus olhos se arregalaram preocupados porque junto com o sangue vaio uma substancia que tinha uma cor arroxeada. Prestando mais atenção Sarah notou resíduos dessa mesma substancia nas bordas da ferida.

–-Aria, me traga aquela flecha agora!! – ordenou Sarah e a menina saiu correndo o mais rápido que pode trazendo a flecha logo depois e entregando a mãe que olhou a ponta e depois cheirou – Droga – murmurou ela e só então encarou a mulher – É veneno; a flecha estava envenenada.

–-Não – murmurou a mulher com um olhar ainda mais desesperado.

–-Aria, mande seu irmão trazer meu livro – falou Sarah e a menina logo se afastou; Sarah então voltou a encarar a mulher – Talvez; e eu digo talvez; eu possa ajudá-lo – esperança apareceu no olhar de Elizabeth – Mas temos que sair dessa estrada primeiro. Mande seus homens pegarem todos os cavalos, suprimentos, e o que mais puderem e for fácil de carregar. Temos que entrar na floresta e achar um bom lugar para montar um acampamento.

–-Não podemos confiar numa estranha, majestade – murmurou um dos guardas se aproximando da mulher para dizer isso.

Aria que havia acabado de voltar se espantou ouvindo o homem chamar a mulher de majestade. Sarah não pareceu se surpreender.

–-Eu acabei de ajudar seus homens a escaparem de uma emboscada; não que isso possa dizer muita coisa, mas acho que um voto de confiança eu mereço. Além do mais, a senhora já deve ter ouvido falar de mim, Rainha Elizabeth – falou Sarah como se sempre soubesse quem era a mulher – Sou Sarah Hawkey, e se quiser que eu tente salvar seu filho vai precisar confiar em mim.

–-Façam tudo o que ela mandar, Lorde Branfor. Absolutamente tudo. Sigam cada palavra das ordens dela e isso é uma ordem minha, Comandante da Guarda Real – falou Elizabeth com uma expressão séria que não permitiria queixas.