Capítulo um
Um ruído estridente fez com que seu corpo magro se movesse de maneira preguiçosa na cama king-size, enrolando-se ainda mais nos lençóis de seda. Sentou-se desconfortável em meio a escuridão, estirando seu braço á procura de seus óculos e os colocando em seguida.

Se arrastou até perto da porta de entrada do quarto com dificuldade, cerrando os olhos, e finalmente acendeu a luz.O ruído se estendeu acima do cômodo, observou o lustre balançar por alguns segundos e em seguida o som de uma porta se fechar. Seu quarto estava localizado exatamente abaixo da lavanderia, e a movimentação era constante.

Sequer suspeitava que horas eram, o fuso-horário havia lhe deixado confuso e agitado, talvez, as latas vazias de Red Bull que foram consumidas horas antes, justificariam sua insônia, mas óbviamente, não era seu motivo principal.

Voltou-se a o criado-mudo e pegou sua carteira de cigarros e seu isqueiro, se dirigindo a varanda.

Era uma noite de ar frio, com o céu livre de estrelas. Deixou o peso de seu corpo recair sobre a sacada e acendeu seu cigarro o trangando longamente, com os olhos fixos em um ponto qualquer.

Que diabos ele tinha feito?

Há exatamente cinco horas atrás, ele estava fitando o cardápio de um restaurante tão refinado que nem ao menos saberia pronunciar o nome se lhe perguntassem. Observou o garçom que estava ao seu lado, e sorriu o mais doce que podia.

- Cabernet sauvignon, safra de mil novecentos e setenta. - Decidiu.

- Ótima escolha, senhor. - Assentiu, e desapareceu por entre as mesas.

Sarah o fitou. Estava tentando não demonstrar o tédio e impaciência que a sufocava desde que havia entrado no local, colocou uma mecha atrás da orelha. Brendon marcou o jantar após um dos últimos shows da turnê. Pouco antes de Sarah retocar o batom vermelho pela segunda vez, a campainha tocou algumas horas a mais do que o combinado, mas, mesmo assim, o mais naturalmente que pôde o abraçou e murmurrou o quanto havia sentido a sua falta.

E Brendon? Urie estava encarando o próprio reflexo há minutos, tentando reconstruir a coragem que ultilizou ao colocar os pés na joalheria mais cara do país e pedir para que lhe mostrassem alguns modelos de anéis de brilhantes para noivado.

Voltou ao momento atual, bebericando a taça d'água. A caixinha de veludo dentro de seu bolso parecia ter o dobro do peso.

- Sarah, - Disse, pegando a caixa do bolso interno de seu paletó a a abrindo. - quer se casar comigo?

Atirou o que restava do cigarro varando a fora.

Murmurou palavras de baixo calão, passando a mãos entre seus cabelos.

Por Deus, no que ele tinha pensado naquele instante? Exato, nada. Apenas um nome ecoou em sua mente, e aquele não era o de Sarah.

Ryan. Ross. George Ryan Ross III.

Seu corpo entremeceu ao relembrar a última conversa que havia tido com ele.

- Alô? - Brendon disse, colocando as mãos em cima das cordas de seu violão, na tentativa de fazê-las pararem de vibrar.

- Urie? - Uma voz rouca perguntou, e ele quase pôde ver o sorriso estampado nos lábios de Ross.

- Ryan. - Respondeu, a voz turva e olhos lacrimejando.

Silêncio.

- Eu... Só liguei para te dar parabéns. - Justificou.

Lágrimas acompanhadas de um soluço baixinho, enquanto Brendon se afundava na cadeira, deixando seu instrumento e partituras de lado.

- ...Brenny?

- S-sim.

- Está chorando? - Perguntou em um tom baixinho.

Inspirou, e sorriu.

- É melhor eu desligar... - Ryan o desapontou. E por algum segundo Brendon pensou ter ouvido sua voz falhar. - Parabéns, Brenny Bear.

E agora, a mágoa era tanta, que escoria pelos olhos.