Capítulo dois

Algumas horas de sono a mais, haviam lhe feito bem. Levantou-se, completamente desajeitado, tropeçando nos próprios passos, indo em direção ao banheiro.

Ao contrário do rotineiro, tomou um banho longo. Estendeu as peças que pretendia vestir sobre a cama. Quando finalmente estava fechando o último botão da camisa branca, e havia dado o nó na gravata preta, ouviu um estrondo.

Aproximou-se da varanda, receoso de que algo grave pudesse ter ocorrido e se esgueirou sobre a sacada, observando atentamente o quarto ao lado. O estrondo se repetiu, se assemelhava a um choque de um objeto de vidro contra algo.

Moveu-se em direção a porta, adentrando o quarto de Brendon sem anúnciar sua chegada.

Estilhaços de vidro sobre o tapete persa, as garrafas de bebida alcólica se multiplicando pelo quarto. Uma embalagem vazia de Tylenol estava sobre o tapete, foi o suficiente para Spencer arregalar os olhos. O cenário era repleto de caos, confusão, indecisões, frustração, arrependimento, fragilidade e insegurança, assim como dentro de seus pensamentos inquietos.

Pela terceira vez, jogou um dos copos de cristal que ainda continham um pouco de whisky contra a parede, seu corpo estava trêmulo e a face pálida. Seus joelhos cederam ao chão de madeira laminada, assim que sua visão ficou vetiginosa, e Brendon suspirou. Dirigiu o olhar á Spencer, os olhos marejados e vermelhos, suando em bicas, e estendeu a mão para que pudesse se levantar com auxílio do amigo.

- O que... - O envolveu, apertando, sem explicações. - Calma, cara. - Lhe afagou os cabelos, enquanto sentia as lágrimas molharem sua camisa.

Se não o conhecesse há anos, ou mesmo minutos, diria que Brendon havia encarado a separação de modo amigável, que tinha engolido a desculpa de Ryan sobre: "existir diferenças criativas" entre eles, e claro, acreditaria no quanto ele amava a noiva. Mas, ele era o garoto sentimental do qual Ross citava inúmeras vezes, que sempre foi equilibrado na superfície, e destruído por dentro.

- Destruí o que restava de mim, Spence... - Soluçou. - Machuquei você, o Jon... Ryan. E Sarah, eu não a mereço... Ela vive de ilusões, de juras falsas e palavras rudes. - Pausou. - Eu não a amo, como deveria.

Spencer afastou-se de Brendon, o suficiente para o fitar.

- Deite-se. - Disse, ajudando-o a se mover até a cama e desabar nos lençóis. - Quantos comprimidos você tomou?

- O suficiente para cortar a febre e a insônia. - Respondeu, indiferente. - Eu apenas quero dormir um pouco.

Retirou o telefone do gancho, discando o número do serviço de quarto.

- Por favor, vocês dispõem de um termômetro? É para o quarto trecentos e sete. Obrigado. - Desligou.

- Eu não estou com febre. - Brendon rebateu, assim que Spencer o fitou após o telefonema. Bufou, colocando o dorso de sua mão sobre a testa dele.

- Sim, você está.

- Não estou. - Tornou a repetiu, abrançando as cobertas em torno de si, trêmulo novamente. Mesmo que seu corpo estivesse em brasas, sentia a necessidade de cobrir-se. Suas pálpebras pessaram, mas se negou a dormir na presença de alguém.

Um bater na porta fez com Spencer a atendesse, e sorrise em agradecimento á camareira.

Brendon levantou a axila automaticamente assim que ele se aproximou com o termômetro. Mais segundos de silêncio constrangedor, e sua temperatura corporal tinha sido medida.

- Trinta e sete graus e meio. - Leu, preocupado. - Desde que horas você está febril?

- Desde duas e meia da manhã. Que horas são?

- Seis da manhã. - Disse fitando o relógio de pulso. - Temos um vôo para Salt Lake daqui há cinco horas.

Brendon bateu a mão na testa, tinha esquecido completamente sobre o show.- Droga, droga, droga! - Gritou, rouco. - Smith, que droga!