Abri meus olhos, quase soltando um resmungo por não estar conseguindo dormir. Amanhã iria voltar para Hogwarts, e não conseguia deixar de pensar no que aconteceu depois que retornei para a Toca aquele dia com Luna.

Durante o café da manhã, Ron deixou bem claro que não tinha nenhuma intenção de voltar para o castelo. Não vou dizer que uma parte de mim não esperava por isso, mas mesmo assim foi um choque saber que meu amigo não estaria lá comigo em mais um ano.

A senhora Weasley ainda tentou argumentar com ele, mas muito calmamente ele rebateu todos os argumentos e fechou sua defesa com a cartada final de que iria ajudar Jorge na loja de logros. Dizer que todos, tendo apenas Luna como exceção, ficaram chocados, sendo que Jorge fechou o semblante quase que imediatamente, sendo cutucado por Luna, que tinha um sorriso convencido, como se já esperasse por isso. revirei os olhos ao perceber tudo isso, e suavizei minha expressão. depois de tudo que passamos o mínimo seria apoiar Ron, e tentar ajudá-lo o máximo possível. Por isso, logo que acabamos o café chamei ele e Harry para darmos uma volta pelo jardim.

Nós três ainda éramos muito apegados, então ninguém se importava quando tirávamos um tempo para ficarmos apenas os três juntos, mas joguei uma olhada para Luna, e agradeci ao vê-la chamando Gina para conversar com ela e Jorge. Gina era minha amiga, mas ainda havia coisas que preferia conversar apenas com aqueles dois, e ás vezes tinha medo dela se sentir excluída.

Me sentei na grama embaixo da mesma árvore que estava mais cedo. Ali tinha se tornado meu lugar de reflexão enquanto estava na Toca, os meninos se sentaram de maneira que formamos um círculo. Parecia que tínhamos muita coisas e nada a falar ao mesmo tempo, então apenas ficamos nos olhando por algum tempo, sentindo um peso por sabermos que dali um tempo não teríamos tantas oportunidades de apenas estarmos juntos assim.

—Ron, você tem certeza? - Não consegui evitar de perguntar, pois meu amigo ás vezes era bem impulsivo. Ele olhou nos meus olhos por um tempo e suspirou.

—Mione, você sabe melhor que ninguém que não sou uma pessoa muito inteligente. - Abri a boca para discordar mas Ron fez um sinal para que eu deixar que ele termina-se - Não estou dizendo que sou burro, mas nunca gostei de estudar como você. Depois que a guerra acabou vi que não queria mais ser Auror, que estou cansado de duelos na vida. Quero estar perto da minha família, compartilhar meus dias com ele, e se possível trazer um pouco de alegria para cada um. Para mim ir trabalhar com Jorge é um caminho que nunca imaginei, e sei que não será fácil, mas é o que meu coração realmente deseja no momento.

Pisquei os olhos diante do discurso de Ron, mas sentindo meu coração bem mais leve. Segurei sua mão entre as minhas, e sorri de forma doce. - Ron, você sempre teve um dos corações mais bondosos que conheço, e eu vou sempre estar do seu lado.- Disse calmamente, mas vi Ron ficar vermelho e Harry se mexer um pouco incomodado.

—Mione, você sabe que sempre será minha melhor amiga não é? - Ron me perguntou com a voz mansa, ainda olhando em meus olhos. Balancei a cabeça, não entendendo onde ele queria chegar com essa pergunta. - Então vocês deve saber que eu te amo muito, mas não estou apaixonado por você. - Exalei todo o ar que estava prendendo e senti um peso sair de meus ombros.

—Você também sempre será meu melhor amigo Ron. Confesso que estava com um pouco de medo de como as coisas ficariam entre nós. - Disse já com lágrimas nos olhos. Me aproximei dele o abraçando e me senti muito bem. Me virei e Harry estava sorrindo para nós dois. E então percebi que ele e Ron deviam ter conversado sobre isso antes, e que eles estavam preocupados com a minha reação.

— É tão estranho eu ser o mais maduro do trio. - E com isso nós três rimos, pois Ron ser quem toma a iniciativa para uma conversa sobre sentimentos é no mínimo irônico mesmo.

A guerra verdadeiramente nos mudou, mas aqueles dois sempre seriam uma constante na minha vida, e eu era muito grata por isso.


Pansy

Acordei sobressaltada, com meu coração aos pulos. Tinha tido mais um pesadelo sobre a guerra. Apesar de não ter participado ativamente nesta, eu jamais esquecerei como foi sair das masmorras e encontrar o castelo destruído, e os corpos deitados no salão principal. Tanta dor, tanta morte.

Lembro de me aproximar dos Malfoys, que estavam em um canto, abraçar Draco e chorar copiosamente. Nunca entendi muito bem porque meu choro saiu tão sofrido, mas ver tanto sofrimento junto me abalou muito mais do que eu queria. Lembro de ainda com os olhos cheios de lágrimas varrer o local e ver o trio de ouro junto, chorando por um dos weasley que estava morto. Meus olhos e da Granger se encontraram por um segundo, e ali eu vi apenas devastação. Virei meu rosto para o ombro de Draco e permaneci ali, na bolha dos Malfoys até meus pais chegarem para me buscar.

Espantei as lembranças da minha cabeça e me levantei. Hoje era o dia. O grande dia. Estremeci com esse pensamento. Hoje iria voltar para Hogwarts. Comecei a me arrumar olhando as horas. Meus pais não iriam comigo a estação, pois já tinha tirado minha licença para aparatar, e combinei com os meus amigos de nós encontrarmos na estação, pois não conseguimos nos ver durante toda as férias, nem para comprarmos os materiais juntos.

Não demorei muito e desci para tomar meu café. Meus pais estavam sentados a mesa já, e me cumprimentaram. O café se passou com conversas amenas, e quando me levantei os dois me desejaram boa sorte no novo ano. Sorri agradecida para os dois, e me despedi.

Peguei meu malão e a gaiola da Hecáte (ela era filha da minha gata anterior, e possuía um pelo preto lustroso e olhos amarelos que reluziam), que me fuzilou com os olhos, odiando ser colocada ali dentro. - Calma querida, quando chegarmos no trem te deixo sair.- Ela ainda resmungou um pouco mas se espichou e deitou no chão da gaiola. Percebendo que seria perdoada mais tarde, aparatei com ela e meu malão.

Ao aparecer na estação de King Cross fui acertada por uma miríade de sons. Foi como levar um tapa no rosto. Havia me acostumado com o silêncio da mansão, e só tive contato com meus pais durante todo o tempo que passei por lá. Arrumei minha postura e escondi o susto, não iria começar a fraquejar ali. Puxei meu malão entre a multidão, a procura dos meus amigos. Muito desnorteada para conseguir reconhecer alguém em meio a tantos rostos, decidi entrar no Trem.

Percebi que achar um lugar vago seria um problema, pois as pessoas começaram a me reconhecer, e pude perceber muitas caras fechadas. Empinei um pouco o nariz e segui pelos vagões procurando um lugar para me sentar, não seria a primeira vez que tinha este tipo de recepção. Ao chegar ao fim do trem reconheci a cabine que já havia me sentado com meus amigos, e com um pontinho de esperança no peito abri a porta.

Qual não foi minha surpresa ao ser encarada por ninguém menos que Hermione Granger. Travei na minha postura, não sabendo o que dizer, e a cara dela adotou um semblante neutro, enquanto eu escutei um miado distinto. Olhei para o banco e havia um gato ruivo, muito bonito, me encarando.

—Se quiser pode entrar Parkinson, mas acho que seus amigos estão na cabine ao lado.- Quase abri a boca com o convite, mas apenas assenti com a cabeça e me retirei. Jamais imaginei que a Granger iria ser educada comigo. Abri a porta da cabine ao lado e abri um sorrisinho de canto.

Draco estava sentado com a postura impecável perto da janela, e parecia um pouco atormentado, já Blas estava esparramado no banco em frente parecendo levemente entediado.

—É bom saber que algumas coisas não mudam. - Disse enquanto acabava de entrar e fechava a porta. Os dois me olharam e pude perceber que estavam felizes por me ver. Dei um pequeno beijo na bochecha de cada um e me sentei abrindo a gaiola.

Hecate soltou pra fora com uma elegância nata, se espichou e analisou os dois integrantes da cabine. Ao tomar sua decisão se deitou no colo de Draco e começou a ronronar. Ele arqueou a sobrancelha pra mim, e só pude dar de ombros. Hécate era a gata mais inteligente que conhecia, e se sentia dona de tudo e todos ao seu redor. Blaise soltou uma risadinha e o encaramos duvidosos.

—Parece que você ainda leva jeito com as mulheres Malfoy- Não resisti e soltei uma risada, vendo aliviada um sorriso curvar os lábios de Draco. É, talvez tudo fosse ficar bem, contando que aqueles dois estivessem comigo.