Estar em Hogwarts novamente me trazia várias sensações diferentes. Analisei as mesas do salão principal enquanto tentava me agarrar apenas as boas lembranças. Harry me deu um leve encostão, e ao olhar em seus olhos compreendi que ele passava pelo mesmo dilema que eu.

As portas se abriram e os primeiranistas entraram, para serem selecionados para qual casa iria entrar. Enquanto a seleção acontecia me peguei analisando a mesa da sonserina. Eles não estavam comemorando festivamente a cada aluno que era escolhido pela casa, e precisei de apenas alguns segundos para perceber o motivo. Os primeiranistas que eram escolhidos para a sonserina mostravam um semblante decepcionado assim que tinham de caminhar ao encontro daquela mesa.

Conseguia entendê-los. Após a guerra, a sonserina foi a casa que mais saiu desacreditada, pois vários dos alunos e ex-alunos dali eram parte dos seguidores de Voldemort, ou concordavam com seu ideal de Puro Sangue. Suspirei desanimada, eu não era fã da Sonserina, e ainda várias cicatrizes em mim por causa de alunos daquela casa, mas não achava justo colocar todas as pessoas dali na mesma caixinha de rótulos. Não havia lutado em uma guerra com preconceito pra iniciar outra.

Voltei a mim mesma quando percebi que um garoto me olhava com o cenho franzido, sem entender porque eu olhava fixamente para aquela mesa. Se eu não me engano aquele era Blaise Zabini, amigo de Parkinson e Malfoy. Com meus pensamentos sobre preconceito ainda frescos na mente, suavizei meu rosto e lhe dei um aceno com a cabeça. Ele ergueu uma sobrancelha, parecendo cético quanto ao meu gesto, mas acenou de volta, e se virou cochichando algo para a Parkinson.

Como sabia que eu provavelmente era o tema da conversa me virei para frente para prestar atenção no discurso de Mcgonagall, atual diretora de Hogwarts.

—Boa Noite alunos, sejam muito bem-vindos a mais um ano em Hogwarts. Mais um ano letivo se inicia, um ano que será igual e ao mesmo tempo diferente de todos que já tivemos. Ao termos passado por tantos horrores em uma guerra tão recente acredito que agora, mais do que nunca, nossas ações devem ser de respeito e empatia ao próximo, para que possamos evitar que algo parecido aconteça no futuro.- Mcgonagall parou um instante ao perceber que alguns olhos de soslaio eram lançados rumo a sonserina. talvez por isso tenha acrescentado - Quero que se lembrem que cada casa de Hogwarts tem suas virtudes e defeitos, e que nenhuma é melhor que outra. Com isso em vista, e esperando tornar mais fácil a aproximação de todos, gostaria de avisar que todas as aulas agora serão divididas por alunos das quatro casa. - Houve um murmurinho baixo no salão, logo silenciado por um olhar cortante da diretora. - Panelinhas não serão mais incentivadas. E decidimos também escolher os monitores de cada casa depois do primeiro mês de aula, para darmos oportunidades a todos provarem se são mesmo merecedores desse título. Bem-vindos novamente, e bom jantar- Sorri com todo o discurso da diretora. Apesar de achar que as novas ideias trariam algumas dores de cabeça todas eram, inovadoras e inclusivas. Senti ainda mais orgulho da minha antiga professora, ela sempre foi uma mulher revolucionária.


Pansy

Me peguei quase sorrindo com o discurso da Diretora, talvez não fosse ser tão difícil assim voltar. Lancei um olhar para Draco, tendo certeza que ele se esforçaria tanto quanto eu para continuar sendo monitor. Blas estava com a mesma cara de tédio de sempre, mas notei um pouco de irritação em seus olhos ao olhar para os primeiranistas. Suspirei, entendendo os dois lados da questão ali.

Ninguém estava muito empolgado em entrar na sonserina no momento, e deixavam isso bem claro em seus rostos, o que destoava completamente do restante da nossa mesa, que mantinha as expressões sérias e vez ou outra um sorriso de lado. O orgulho era uma das características principais da nossa casa, e não sei se seria tão fácil fazer com que aquelas crianças entendessem a responsabilidade que eles tinham dali pra frente.

Corri os olhos pelo salão e observei que a Granger ainda estava sorrindo depois do discurso. Segui em frente com os olhos até a mesa principal, ainda não entendendo muito bem aquela garota. Blas me cochichou durante a seleção que ela o cumprimentou discretamente com a cabeça, e mais cedo ela tinha sido educada comigo no trem. Parecia que aquela nascida-trouxa seria uma aliada as novas regras de inclusão da escola, e eu não sabia muito bem como me sentir sobre isso.

Eu sempre impliquei com a Granger, tendo sido bem criativa para apelidos que a ofendesse no passado. Por mais que eu estivesse descobrindo partes melhores de em mim, não conseguia acreditar que alguém que passou por tudo aquilo na guerra conseguisse perdoar os sonserinos tão facilmente. Lógico que por ser uma das “salvadoras do mundo bruxo” e integrante do trio de ouro seria interessante, e muito bom para a imagem da sonserina, se conseguíssemos ter uma boa relação.

Mantendo minha expressão neutra continuei meu jantar, ainda tecendo teoria sobre o futuro da Sonserina e já traçando alguns planos para alcançá-los. Draco me lançou um olhar de soslaio, conhecendo bem minha cara de quem está tramando algum. Abri um sorriso irônico pra ele, sabendo como seria difícil fazê-lo me ajudar. Claro que tudo dependeria da Granger. Vamos ver se ela é uma mulher tão revolucionária como todos dizem.

Luna

Andava distraída pelo castelo, saboreando meu pedaço de pudim que pedi para os elfos me trazerem. Ainda não entendia porque só serviam eles no almoço e na janta, pudim era algo maravilhoso demais para se comer apenas duas vezes ao dia. Passei por um menino cabisbaixo, com o uniforme da sonserina. Tinha quase certeza que ele era um dos que acabou de chegar, nenhum dos sonserinos mais velhos andaria com uma expressão tão abertamente triste pelo corredores.

—Quer um pedaço de pudim? - Ofereci, sabendo que meu doce favorito poderia salvar meu ânimo na maioria dos dias. Ele levantou a cabeça e vi seus olhos olharem um pouco surpresos para o símbolo do meu uniforme. Claro que os primeiranistas, e até a maioria dos outros sonserinos, estavam esperando que as outra casas os isolassem e até mesmo os atacassem. Suspirei com esse pensamento e chamei o mesmo elfo que tinha me encontrado mais cedo.

— Senhor, poderia me trazer mais um pedaço de pudim? - O elfo fez uma reverência, estendendo sua mãozinhas onde apareceu mais um prato com a sobremesa. Agradeci e ofereci para o menininho, que continuava sem dizer uma palavra sequer. Sorri, adorando um desafio e já aceitando que chegaria ao meu primeiro horário atrasada.

—Meu nome é Luna, sou da corvinal. Sempre gosto de começar meu dia com um pedaço de Pudim, pois me lembra de casa, e me traz uma sensação de segurança - fui dizendo enquanto me encostava na parede e escorregava até me sentar ali no meio do corredor. Ele olhou para os lados, parecendo pesar se me acompanhava ou não, mas por fim sentando ao meu lado.

—Muito obrigado. Meu nome é Gabriel.- continuei comendo meu pudim, dando liberdade para ele se acostumar ali comigo, e sentindo minha cabeça já seguindo vários caminhos diferentes e tecendo teorias sobre ele, mas não o pressionaria enchendo de perguntas, essa seria uma atitude da Hermione.

Soltei uma risadinha, imaginando o que minha amiga pensaria sobre eu achar que muitas vezes suas conversas se pareciam com um interrogatório. Gabriel me olhou de soslaio mais não disse nada quando dei de ombros, terminando minha parte.

—Eu vou indo agora, já estou um pouco atrasada para aula - disse me levantando, e percebi ele abrir a boca como se fosse dizer algo, mas logo encolhendo os ombros. Como eu achava engraçado o orgulho das pessoas, dei dois passos antes de continuar. - Se quiser posso te levar até sua sala e te ajudar a entrar. - Seus olhos se levantaram até os meus e vi eles brilharem um pouco, e ele logo tratou de me alcançar. Mantive meus passos tranquilos e senti que ele me observava, então comecei a falar sobre a história dos quadros por onde passavamos, cumprimentando uma ou outra pintura, e consegui até arrancar um sorrisinho dele, me sentindo muito feliz com isso.

Ao chegarmos a sua sala percebi que era com a prof. Mcgonagall, e não me surpreendi por alguns alunos riram ao eu me verem explicando para ela que Gabriel estava atrasado pois tentou me ajudar a acabar com o pudim que eu estava comendo. Ela me olhou de maneira atravessada, e pediu que ele se sentasse na cadeira vaga ao lado de uma corvina. Só então percebi que todos os alunos estavam sentados de maneira mista pela sala, e isso só fez com que meu sorriso aumenta-se.

Ao dar as costas ao lugar, agora curiosa para chegar a sua aula, Luna não percebeu que recebia dois olhares em sua direção, em deles de Gabriel, que já a achava tão extraordinária quanto ela gostava de Pudim , e outro de McGonagall, que quase sorriu pensando em como aquela corvina podia ser tão extraordinária quanto excêntrica.