Vapor

12. Batalha de sentimentos


CAPÍTULO 12

batalha de sentimentos

alissa fontes



cal hood [10:10 AM]

ei, eu e os meninos vamos organizar uma festa hoje

nós vamos tocar algumas músicas do nosso novo álbum para divulgação

você pode vir? eu gostaria de te ver na plateia

Alissa mordeu os lábios quando olhou para a mensagem pelo ecrã do celular.

A banda dos meninos era relativamente famosa no campus, eles tinham músicas muito boas e até mesmo uma fanbase formada por alunos da faculdade ou de pessoas que conheceram a banda durante o ensino médio. Estar no meio dessas pessoas era um pouco assustador, ainda mais quando Alissa era a inspiração de uma das músicas que eles tanto gostavam. De toda forma, ela não sabia dizer não para Calum Hood, e céus, ela amava ouvir a voz dele.

— Você anda muito festeira Srta. Fontes. — Marina sorriu maliciosa. A verdade era que ela estava adorando ver sua amiga sair de sua zona de conforto porque estava fazendo novas amizades e se envolvendo com pessoas novas. Era ótimo ver Alissa sem que a garota estivesse o tempo todo com o rosto enfiado em um livro.

A menina por sua vez, sorriu timidamente.

— Vamos por favor. Eu não quero ir sozinha.

— É a sua terceira festa em dois meses, eu devo dizer que estou orgulhosa e que jamais te deixaria sozinha em uma festa.

— Obrigada. — Alissa fez um sinal de agradecimento com as mãos.

Era uma manhã de sábado, elas não tinham aula e estava fazendo sol lá fora. O clima estava perfeito para um show no final da tarde com direito a uma cerveja. Já fazia quase duas semanas de que Calum tinha levado Alissa para o estúdio, e conforme o tempo passava parecia que os dois ficavam cada vez mais próximos. Hood se via procurando motivos para ficar mais próximo da garota, as vezes ele rondava perto do prédio de Psicologia, apenas para vê-la saindo da sala de aula. E Alissa adorava a sua companhia, conforme o tempo passava ela sentia mais falta dele quando se despediam.

Tinha que ouvir Marina e Ashton falarem que os dois eram um casal boa parte do tempo, mas depois de certo tempo aquilo não parecia mais lhe incomodar. Na verdade a ideia era de certa forma atraente…

A garota abanou a cabeça para despistar certos pensamentos e abriu seu guarda roupa, em busca de uma peça que se enquadrasse no tipo de vestimenta que ela gostaria de vestir naquele dia. Depois de passar bons minutos remexendo os cabides, Alissa acabou pegando um top branco rendado, uma minissaia prendada de couro, uma jaqueta jeans e um coturno preto.

— Vai ficar lindo. — Marina disse olhando para as roupas que a garota tinha separado em cima da cama — Só Deus sabe a sorte que Calum Hood tem.

— Marina! — a garota riu, tentando disfarçar a vergonha.



No final da tarde as duas estavam prontas, e quando Marina disse que Alissa estava deslumbrante, ela não estava mentindo. A garota realmente estava extremamente linda naquele dia. Marina por sua vez vestia uma regata preta que deixava seu umbigo a mostra, um mom jeans e All Star’s vermelho.

O local do show era o mesmo onde Alissa e Hood tinham se conhecido pela primeira vez. Aparentemente aquela era uma casa de um amigo de Luke, que a cedia para que os garotos realizassem as festas junto dos shows.

Como as duas tinham sido convidadas diretamente pelos meninos, acabaram chegando mais cedo do que as pessoas que iam para a festa normalmente chegariam.

— Ei, vocês vieram. — Michael as atendeu na porta.

— Oi, mudou a cor do cabelo? — Alissa sorriu para o Clifford enquanto Marina acenou amistosamente.

O garoto sorriu, da última vez que ela tinha o visto seus fios estavam platinados e agora o cabelo de Michael estava pintado de vermelho.

— A minha meta é colorir o meu cabelo de todas as cores do arco íris. — ele respondeu.

— Eu acredito que você consegue bater sua meta com facilidade.

Michael guiou as duas pelos corredores da casa e foram até a sala, onde os outros três meninos estavam sentados conversando com seus instrumentos apoiados perto da parede. Alissa e Marina os cumprimentaram um por um, e quando chegou na vez de Calum, Alissa foi surpreendida por um selinho. Ela sentia vontade suspirar toda vez que seus lábios se encontravam.

— Senta aqui. — Calum sussurrou e ela acenou com a cabeça concordando, sentando-se ao lado dele enquanto ele a envolvia, passando um braço ao redor do seu corpo.

Calum estava lindo naquele dia, mas Alissa achava que dizer que ele era lindo era um tipo de eufemismo. Hood vestia uma camiseta do Led Zeppelin, suas famosas calças skinny com rasgos no joelho e seus inseparáveis Vans.

Os dois se entreolharam por alguns momentos, tinha sido por pouco tempo, mas somente aquela troca de olhares fez com que o corpo de Alissa estremecesse. Ela adorava a forma como ele a olhava, como se não houvesse mais ninguém na sala e fosse beijá-la a qualquer momento. Era uma pena que eles estivessem em uma sala cheia de pessoas.

— Será que vocês poderiam parar de se comer com os olhos, por favor? — Luke pediu dando risada ao mesmo tempo.

Enquanto Alissa desviou o olhar com as orelhas ficando vermelhas, Calum apenas sorriu de leve. Ali estava uma coisa para se anotar sobre as percepções que ela tinha tido sobre Calum Hood, ele era terrivelmente sem vergonha.

Os seis ficaram quase uma hora apenas rindo e conversando enquanto tomavam cerveja. Depois de um certo tempo as pessoas começaram a chegar e os garotos começaram a recepcioná-las.

— Ali, — Marina chamou a amiga para a mesa de bebidas que ficava na cozinha — o que você quer beber?

— Não faço a mínima ideia. Estava pensando em ficar sóbria hoje.

— Tudo bem. — a Gonzales deu de ombros enquanto despejava uma porção de vodca em um copo vermelho. — Acho que hoje você vai me levar para casa.

Alissa deu risada.

— É para isso que os amigos servem mesmo. — piscou.

Já fazia um certo tempo que a festa tinha começado e Alissa não soube explicar quando aquilo de fato tinha acontecido, mas a casa ficou lotada de pessoas do nada. A garota estava de olho em sua amiga que bebia e dançava ao som de alguma música do The Weeknd que saía das caixas de som em um volume alto o suficiente para deixar um zumbido em seu ouvido por boas horas.

Alissa acompanhava a garota enquanto dançava até o momento em que uma mão encostou nela.

— Oi, nós podemos conversar?

A garota sentiu a cor fugir do seu rosto quando viu que a sua frente estava nada mais nada menos do que Aimee, a ex namorada de Calum.

A iluminação da sala era realizada por luzes vermelhas, então ela podia ver pouco do rosto de Aimee, contudo aquilo não a impedia de perceber o quão linda a garota era.

— C-Claro.

Depois de explicar para Marina que já voltaria, Alissa seguiu Aimee para um canto que deveria ser a parte de trás da casa. O mesmo lugar onde ela e Calum se beijaram pela primeira vez.

— Me desculpa por ter chegado em você meio que do nada. É que já fazia um tempo que eu queria conversar com você mas nunca consegui a oportunidade.

— Tudo bem. — Alissa respondeu meio que em estado de alerta, pois ela não sabia o que esperar daquela garota naquele momento.

Aimee sorriu.

— Não precisa ficar na defensiva, eu vim em paz. — disse levantando as suas mãos. — Eu só queria dizer que por mais que eu tenha discutido com o Calum naquela noite, não tenho absolutamente nada contra você. Na verdade eu acho que vocês se dão muito bem juntos e formariam um casal lindo. É mais fácil ver isso agora que eu dei um tempo nos meus sentimentos e arranjei a minha forma de superar.

“Pode ficar tranquila porque eu já falei com ele também. Calum não gosta muito de mim depois do que eu fiz, e eu entendo. Por isso que eu vim falar com você sem ele ver. Ele é um amor de pessoa, o sexo é maravilhoso, mas eu se eu pudesse te alertar sobre algo, é sobre a distância.”

— O quê? — Alissa sentiu a sua voz falhar.

Ela conseguia sentir que a garota estava ali nas melhores de suas intenções. Não havia nenhum ressentimento na voz de Aimee, ela apenas estava a alertando.

— Calum negou quando eu disse isso para ele. Mas a vida que ele escolheu para si pode distanciá-lo muito de você, ainda mais quando ele e os meninos saem para fazer shows.Eu sinto muito que essa tenha sido a forma que a gente se conheceu, você parece ser uma garota bem legal.

— Ah, obrigada. Vou manter o conselho em mente. — Alissa disse ainda com a voz fraca, sem conseguir acreditar que aquele momento tinha realmente acontecido.

Aimee sorriu para a menina, olhou alguns momentos para os lábios dela e então acenou.

— Te vejo por aí, Alissa. — piscou, virou-se e foi embora.

A Fontes parou alguns momentos ali, confusa com o que tinha acontecido e então suspirou deixando toda aquela tensão que ela tinha sentido se esvair do seu corpo. Não estava com muita vontade de voltar para a sala e dançar naquele momento, então apenas apoiou o seu corpo na parede e ficou olhando o horizonte, o pôr do sol estava lindo naquele dia.

— O que você está fazendo aqui fora? — a voz de Calum Hood soou como música para os seus ouvidos.

Alissa sorriu, inclinando-se na direção dele.

— Estava tomando um ar.

— Eu fiquei um bom tempo te procurando lá dentro. — ele murmurou se aproximando dela, conforme suas mãos encostavam no corpo dela uma série de arrepios vieram de brinde.

Ela por sua vez, não era boba. Sabia muito bem que Calum tinha chegado ali em um espaço de tempo tão curto que teria encontrado a ex no meio do caminho. E surpreendentemente, foi necessário apenas um arquear de sobrancelhas por parte dela para que Calum Hood suspirasse e começasse a falar.

— Aimee veio falar com você? — havia uma entonação de receio em sua voz, o moreno observava a garota ao seu lado com cautela.

— Sim, ela me disse para tomar cuidado com você. Por quê a pergunta?

Calum bufou.

— Ela também falou comigo antes. — era notável a forma em que ele relutava em dizer o que vinha em seguida — Disse para te tratar bem, que você era bonita e inteligente demais para alguém como eu.

Por um momento a garota dos cabelos encaracolados sentiu vontade rir. Era como se os papéis tivessem se invertido, visto que Calum era bonito, fazia parte de uma banda e tinha uma certa “popularidade”.

— Uau, ela parece se importar bastante comigo então.

— Tudo o que eu mais queria era a minha ex-namorada dando em cima de você. Acredite. — o garoto disse emburrado, como se reconhecesse que Aimee fosse bonita o suficiente para tirar Alissa dele.

Alissa tombou a cabeça para trás dando uma risada gostosa. Até então a relação dela com Calum era mais como uma amizade com direito a alguns amassos, todavia ela nunca tinha visto ele demonstrar ciúmes dela. Era óbvio que ela se sentia intimidada quando via ele com outras amigas, mas não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.

— Fique tranquilo, Hood. Eu não estou interessada. — Calum teve que se conter para não suspirar de alívio quando Alissa falou aquilo. A garota inclinou a cabeça, assumindo uma posição provocativa e então disse — Mas porquê você está com essa cara de bunda? Teria algum problema? É que eu meio que não entendi.

Ele quis fazer cara feia para ela - embora fosse muito difícil ficar bravo diante do sorriso meigo de Alissa. Calum já tinha tomado uma quantidade considerável e bebidas, o que de alguma forma o impedia de agir com mais razão do que emoção. Foi quase inevitável quando ele apertou a cintura da menina, trazendo-a para mais perto de si.

— Não gosto de ver você com outras pessoas, Fontes.

Alissa piscou surpresa, não imaginava que seria tão fácil arrancar uma informação dele. Sentiu seu coração se agitar em seu peito e então algo ficou óbvio em sua mente: ela também não queria ver Calum com mais alguém que não fosse ela.

“Droga, droga, droga. Isso não deveria estar acontecendo” uma voz racional gritava no fundo de sua cabeça. A mesma voz que achava que desde o princípio Calum Hood era o sinônimo de problema. Contudo, ela tinha se demonstrado excepcional em ignorar seu lado racional, visto que sempre que ela e Calum se encontravam embriagados algo novo acontecia.

— Calum… — ela murmurou, subitamente se sentindo culpada. Enquanto Calum estava bêbado falando coisas que talvez se arrependesse depois, ela estava sóbria. Não queria tirar informações de uma pessoa embriagada.

— E eu sei que você sente o mesmo sobre isso, Alissa. Você está sempre fechando os seus sentimentos, mas eu consigo te ler. Não sei o que aconteceu com você para ser tão cautelosa, tão fechada. Mas eu posso te prometer que não sou perigoso. Eu só… quero estar com você. — Calum tropeçava nas palavras, hora ou outra olhando para o horizonte como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.

Tudo o que ele dizia era sincero, e parecia atingir Alissa de uma forma que ela imaginou que ninguém nunca fosse atingi-la. No fundo, o seu peito queimava, mas era algo bom. Significava que depois de tanto tempo se fechando para os seus próprios sentimentos, fingindo que os mesmos não existiam… Agora estava sentindo algo que era maior que ela.

— Você está chorando? Eu falei algo que te magoou? — ele voltou-se para ela surpreso. Seus dedos longos logo trataram de deslizar pelo rosto da menina, buscando secar suas lágrimas com gentileza.

Alissa estremeceu, não tinha percebido que seus olhos estavam marejados, tinha se perdido nas palavras de Calum.

— Não, você não me magoou. Na verdade eu estou feliz.

Calum sorriu com aquelas palavras, a forma em que ele olhava para ela, enquanto moldava seu rosto com suas mãos era quente e confortável. Havia algo sobre ser embalada no abraço dele que lhe trazia um conforto e um carinho que Alissa nunca tinha sentido. Era estranho pensar que o abraço de alguém que ela tinha conhecido exatamente dois meses atrás, era como um lar.

Sem que ela tivesse percebido, Calum tinha se tornado um porto seguro e vice versa. O sorriso dele era um conforto, apenas o simples som da risada do garoto conseguia acalmar seus ânimos.

Tudo aquilo era muito bom, óbvio que era bom. Contudo a assustava, e muito. Ela nunca teve muitas oportunidades de ter um envolvimento profundo com alguém no que se referia ao quesito romântico, e bem, da última vez que Alissa tinha se permitido acreditar que alguém poderia gostar dela as coisas tinham ficado difíceis.

As palavras de Marina e Ashton vinham a sua cabeça naquele momento. Talvez… talvez ela devesse se abrir com Calum, talvez se ele tivesse uma breve noção das suas inseguranças ele pudesse compreendê-la melhor. Mas ao mesmo tempo também havia uma possibilidade de ele não a levar a sério, de não compreendê-la, e Alissa Fontes era quase sinônimo de mal compreendida.

Contudo, ao olhar para o garoto bêbado com o olhar perdido que abraçava a sua cintura, Alissa sentiu seu coração amolecer. A vida era feita de riscos, e talvez o risco que ela devesse tomar fosse se abrir para aquele garoto

— Cal, quando estiver sóbrio, a gente irá falar melhor sobre isso. Pode ser assim? — perguntou de forma suave, acariciando a mão do menino que moldava seu rosto.

Calum sorriu de forma suave.

— Alissa. Ali. Lissa. — ele murmurou, e de alguma forma o último apelido que ele lhe deu fez o coração de Alissa disparar — Você não tem noção do que está fazendo comigo.

— Eu gostei desse apelido. Lissa. — ela repetiu.

Calum aproveitou a proximidade entre os dois e começou a distribuir selinhos demorados nos lábios da garota, de forma que fosse torturante o suficiente para que ela começasse a ficar ansiosa para que ele a beijasse logo. Por fim, Calum finalmente realizou seu desejo e a beijou com força, e foi como se aquele beijo fosse o suficiente para transcrever de palavras para sentimentos e sensações sobre o como ele a queria, como ele a desejava e a estimava.

Foi questão de segundos para que o fogo que já existia entre os dois se alastrasse, e o casal começasse a se beijar furiosamente em um ambiente público. O casal estava tão envolvido em sua própria bolha que Luke Hemmings - que tinha saído pela casa em busca do amigo - se sentiu envergonhado por estar assistindo.

— Ahm, sinto muito atrapalhar essa demonstração de carinho. Mas, nós meio que vamos começar a tocar agora. — o loiro disse com um sorriso malicioso no rosto.

Alissa pensou em se desenvencilhar de Calum por pura vergonha, mas o garoto a abraçou pelo ombro, ainda deixando ela perto de si.

— Tudo bem, vamos Lissa? — o moreno voltou-se para ela, a chamando pelo novo apelido em uma forma bem sucedida de provocá-la.

A garota sorriu, tentando não ficar corada e de mãos dadas com Calum, eles entraram na casa. Ela poderia jurar que nunca se sentiu tão feliz ao ouvir End Up Here ao vivo, a forma em como Calum tinha trabalhado para colocar todas as suas emoções em uma música conseguia a abalar mais do que ela conseguiria imaginar. E mesmo assim, ela se viu sorrindo a toa a noite inteira. E quando menos esperasse, saberia cantar End Up Here de trás para frente.