VRAINS - O Mundo Conectado.

Capítulo um, parte dois: A Falha Vampírica.


Toda a ambientação ao redor de K-lin estava completamente enegrecida. Era praticamente um limbo, antes de retornar à masmorra que estava. Na frente de seus olhos, um grande ecrã, com algumas mensagens, fornecidas pelo sistema.

"Sua classificação aumentou em 17 pontos.

Seu ranque atual é “Rookie 3”. Vença duelos ranqueados no coliseu para avançar ainda mais.

Subiu de nível! Seu nível virtual atual é 2.

+5 Tokens de Duelo pela vitória.

+15 Tokens de Duelo pelo avanço de nível.

Recompensa de nível 2: "Polimerização"."

Depois de confirmar todas as mensagens, tocando com o dedo em um botão que se materializava na frente do rapaz, ele era transportado novamente para a masmorra do evento que estava participando. No entanto, tudo estava bem diferente. Em vez de um cenário de masmorra, agora era uma floresta. K-lin começava a pensar que só tinha florestas no jogo. Em vez de pedras, umidade e escuridão, os corredores agora eram formados por árvores esguias, sem folhas e escuras. O chão, repleto de folhas caídas e mortas. Ao mais belo estilo de outono. Não era um ambiente mórbido, com aparência sombria. Era calmo, passava uma sensação de serenidade e um bom contato com a natureza. Caminhou um pouco, explorando o local, que na verdade era praticamente um corredor fechado, encontrou um outro altar. Então ele percebeu que havia “pulado” cinco andares e já estava no décimo.

— Peraí cadê os outros andares? Porra, perdi carta pra caralho assim... Se eu tivesse passado um por um teria ganhado mais bônus de acerto em sequência... Bem, que seja então, Konami... Se é assim que tu vai jogar comigo, então eu aceito. Viram que eu ganhei uma Poly? Mas foda-se, nem tenho monstro fusão, haha. — O jovem Carlos estava conversando com seu chat, enquanto reclamava de ter sido jogado cinco andares a frente do qual estava.

Naquele momento, recebia uma doação, referente ainda ao duelo anterior contra Ryan. Ela era no total de vinte e cinco reais. Ela dizia: “Deck criminoso contra deck criminoso. Yugioh clássico, bala bala, é assim que é”

Então a exploração do streamer foi progredindo, enquanto ele respondia mais perguntas. Agora a temática era diferente. Toda aquela ambientação de floresta tinha um motivo. As perguntas todas eram sobre monstros do tipo planta: Aromage, Predaplant, e outros arquétipos eram mencionados.

Ao olhar o altar, percebia os simples dizeres: “The Beast of The Roses”. Pra pessoas mais ávidas consumidoras dos arquétipos de planta, seria uma pergunta banal. Para K-lin, não, afinal ele era mais voltado pros monstros do tipo mago. Então, ele olhou o enigma. Ele sabia do que se tratava, mas não fazia ideia do nome daquele dragão. “Syncro maldito, lembro que na época que esse tipo de deck era meta, junto com Quasar Dragon, eu sofria na mão da Black Rose... Espera... É Black Rose? Eu... Na verdade não sei, o nome simplesmente me veio à cabeça.” Então, sendo um rapaz impulsivo e orgulhoso, não pediu ajuda pro chat dessa vez, apesar de não ter certeza. Simplesmente digitou, na interface do jogo: “Black Rose.”

O texto começava a piscar em vermelho. K-lin sabia o que isso significava. Se olhasse de canto de olho para o chat, perceberia um spam absurdo de “Black Rose Dragon”, ou, “Essa é clássica, Black Rose Dragon”, e diversas outras variantes. Quando o brilho se intensificava, no entanto, K-lin só conseguia ver um monte de “kkkkkkkkkkkkk”.

A floresta ao redor do rapaz começava a desaparecer, assim como nos cenários anteriores. Um ambiente bastante obscuro começava a se construir ao redor, assim como a música se alterava novamente.

K-lin surgia no centro de um esbelto tapete vermelho. As paredes do local eram feitas de pedra maciça, pareciam ter sido construídas no século dezesseis. O ambiente era noturno, com um fino véu luminoso do luar, entrando pelas grandiosas janelas. O ambiente estava escuro, mesmo com a luz da lua, mas dava pra não tropeçar nas coisas. O tapete se estendia até um trono. Nas laterais, diversos candelabros e estátuas de gárgulas ou cavaleiros.

Todas as velas se acendiam de uma só vez, revelando o que estava oculto na sala. No trono, um homem sentado. Imediatamente o streamer reconhecia-o. Afinal, era um de seus arquétipos favoritos. Era o “Lorde Vampiro”. No colo dele estava sentada a “Lady Vampira”. Do lado direito do trono, de pé, o “Feiticeiro Vampiro”. No esquerdo, também de pé, a “Vampira Vamp”. O Lorde dava um leve tapinha nas coxas da Lady, indicando que ele queria que ela se levantasse. Ela prontamente obedecia e se colocava ao lado do trono. Ele, por outro lado, dava passos à frente.

— Seja bem vindo, meu caro! — Fazia uma reverência. No fundo, K-lin escuta uma intensa trovoada: o tempo estava feio. A trovoada era sincronizada com o exato momento em que o Lorde terminava sua saudação. — Então és meu convidado de hoje?... Hoh, interessantíssimo. Parece que hoje não deve ser seu dia de sorte, rapaz. Hahahah! — Abria a capa. — Vamos jogar. Se me vencer, permito que saia daqui vivo. Entretanto, caso lhe vencer... — Lambia a própria boca, gesticulando. — Seu sangue é todo meu. O que acha? Ou prefere que eu lhe consuma... agora? Hahahah!

Um campo de duelo se formava. Não é como se K-lin tivesse escolha. Era parte da missão, ocasionada pelo erro do rapaz na pergunta sobre o Black Rose Dragon. Ele era obrigado a disputar o duelo. O chat ia a loucura com a interpretação do NPC do Lorde Vampiro.

“@jonas334: Ih, ala, vampirão quer te mamar kkkkkkkkkkkk

@nelsin12: outro duelo

@neogeofan: é o mamas ksksksksk”

Carlos estava empolgado. O Mundo Virtual traz uma sensação de realismo extrema. Então, o fato de ele poder interagir com uma carta icônica, mesmo sabendo que era apenas uma inteligência artificial, era bastante excitante. No topo da visão, aparecia uns dizeres, informando que o modo de interação com as personalidades de IA estava ativo. Isto significaria que o rapaz poderia falar com o Lorde Vampiro e este iria respondê-lo, até um certo ponto.

— Hah! Se fosse a Vampira Vamp eu até deixava, mas você eu passo, presidente. — Uma clara referência a um presidente interino do Brasil, que governou por um breve tempo há alguns anos. O chat estava sendo completamente inundado com várias risadas naquele momento. O que ninguém esperava era que a IA iria se comportar de uma forma tão natural.

— Hm… Docinho… Se quiser, eu realizo seu desejo… — Ninguém menos que a própria Vamp respondia o jovem. Ela lançava um olhar pro streamer que denotava puro desejo, como se ela quisesse possuí-lo, de corpo e alma. Um sorriso provocativo, um dedo nos lábios, completamente sedutora. — Eu vou te chupar bem gos—

— Sem gracinhas, Vamp. Fique no seu lugar. Eu darei conta do forasteiro. — O Lorde interferia. Era como se fosse um pai dando uma bronca em sua filha. — Oras, onde estão meus modos! Não me apresentei! — Arrumava seu baralho. Não utilizaria um disco de duelo, estranhamente. — Sou o Lorde Vampiro desse castelo. Comando uma legião de seres imortais capazes de conquistar esse mundo inteiro! E você? O que lhe traz à minha - nada humilde - residência?

— Bom, na verdade eu vim parar aqui porque eu esqueci o nome de uma carta... Mas isso não importa, Lorde Vampiro. Estou ansioso pelo nosso duelo.

— Lhe dou as honras de começar o duelo, forasteiro. Você precisará montar um bom campo para me vencer. Não será nada fácil! — O Lorde exalava confiança, com um sorriso presunçoso. A Lady apenas assistia, com uma expressão estóica mas, ao mesmo tempo, como se admirasse seu “marido”. O Feiticeiro estava completamente absorto, mal prestava atenção no duelo. Já a Vamp parecia ter ativado um “modo safada” e lançava cortejos para Carlos. Piscadelas, beijinhos e tudo mais. Um belo de um fanservice. Parabéns, Konami. Os fãs agradecem.

— Bem, agradeço pela cortesia de me deixar começar a partida. — Então, o duelo começava. Carlos era liberado pelo sistema para começar o seu turno. Era uma transição extremamente natural, como se tudo ali fosse algo vivo e não controlado por uma programação oculta. — Eu invoco, em modo de Ataque, a Coroada pelo Cálice Mundial! — Carlos pretendia começar fazendo um combo, mas acabou errando e fazendo besteira. Sua intenção era invocar um monstro Link de valor um. No entanto, esse monstro era “Clara & Rushka, O ventrilodueto”. Elas apenas podem ser invocadas durante a segunda fase principal e, como era K-lin que começava o duelo, não havia uma. Acabou que, sem mais opções, teve que continuar a jogada assim mesmo. A carta setada era um “Tufão”.

— Ahm... É... Fiz merda... Coloco uma carta virada pra baixo e encerro minha jogada. — Vendo que tinha cometido uma jogada bastante errada, decidiu apenas passar o turno e tentar compensar a falha nos turnos seguintes.

De maneira estilosa, movendo sua capa e sorrindo orgulhosamente, o vampiro saca uma carta. — Zero pontos de ataque? Você tem coragem. Vamos ver o que essa sua criatura pode fazer contra... — As cartas que ficariam na mão dele surgiam do além e possuíam trinta centímetros cada uma, enquanto flutuavam ao seu redor. O fundo das cartas era diferente, como se usasse imensas lápides para duelar. Quando invocava uma criatura, lançava uma pedra no chão para fazê-la, e o monstro surgia da pedra como se estivesse surgindo de uma tumba. — “Zumbino”!

— Agora, eu uso dos meus poderes para realizar um desejo. — O jogo tentava fazer como se o Lorde Vampiro estivesse usando seus próprios poderes para duelar e não usando cartas. Ele estava ativando a carta “Desejo do Vampiro”. Selecionou o próprio “Zumbino” e enviou um “Familiar Vampiro” para o cemitério, a partir de seu baralho.

— Eu sacrifico parte dos meus pontos de vida. Apenas um pequeno preço a se pagar para ter meu Familiar em campo! — O Lorde Vampiro utilizava o efeito de cemitério do “Familiar Vampiro”, pagando a exata quantia de quinhentos pontos de vida, além de enviar um “Barão Vermelho Vampiro” para o cemitério, para realizar uma invocação-especial e trazê-lo de volta do cemitério. Visualmente, surgiam alguns morcegos das janelas do castelo e se colocavam em posição no campo, em modo de defesa. O Lorde Vampiro havia aberto um corte em sua mão com as garras da outra mão, derramando um pouco de sangue, como o custo desse efeito.

— Batalha! Zombino, ataque a criatura do meu adversário! — No momento em que Zombino sacava seu machado e lançava em direção ao monstro, este, após destruí-lo, atingia K-lin diretamente. Uma sensação levemente agoniante e inexplicável atingia seu corpo por alguns momentos. Era, certamente, desagradável. Lhe fazia ficar com pena do seu último adversário, que havia sentido aquilo várias vezes. — Agora, eu encerro minha jogada. — O vampiro dizia.

— Argh... É só... Isso? Hahah. Entendo... Deve ser uma versão ruim... — Carlos estava um pouco afetado pelo golpe recebido mas conseguia analisar que aquele baralho do Lorde Vampiro não contava com todas as cartas fortes do arquétipo. No entanto, as coisas pareciam que não iriam melhorar. Carlos havia sofrido uma forte desatenção naquele momento e confundiu-se com suas cartas.

— Agora as coisas ficarão boas. Eu invoco: “Dragão Guarda Justicia”! Em modo de ataque! — Um dragão pequeno, com apenas duas patas e duas asas, feito basicamente de cristais reluzentes azuis, surgia em campo.

— Vamos para a fase de batalha. Mas, obviamente, não vou atacar. Apenas quero ir pra minha segunda fase principal! — Carlos pretendia realizar um outro combo, parecido com o duelo anterior, mas havia se esquecido de um detalhe crucial…

— Então, agora eu faço uma Invocação Link! Uso o meu monstro no campo como material, e agora... Venha, “Clara e Rushka, o Ventrilodueto”! — Duas garotinhas apareciam em campo, abraçadas, olhando para o campo do oponente com um ar que parecia ser de medo.

— Mas eu ainda não acabei! Ativo minha carta de magia! Quer dizer... Droga... Não dá... Esqueci disso... Eu passo! — O plano de K-lin era trazer seus dois monstros do cemitério para a mão com a carta “Coração do Legado Mundial”. No entanto, o que ele não havia percebido era que o Dragão Guarda Justicia não era considerado um monstro “Legado Mundial”, mesmo tendo uma descrição que mencione o arquétipo. Portanto, ele não conseguiu trazer nenhum monstro de volta e sua jogada ficou completamente travada, sendo então obrigado a passar o turno.

— Uma outra criatura com 0 pontos de ataque? Sua coragem me surpreende! — O Vampiro exclamava. — Mas, se continuar desse jeito... — Confiante, uma outra pedra surgia ao seu redor. — Seu sangue será todo drenado. Mas tudo bem. Vamos prosseguir. — Dava dois passos. Os morcegos, que rodeavam o Zombino, fugiam no momento em que o Lorde Vampiro se aproximava. — Eu me invoco! — Puxava a sua capa. Em seguida, suas mãos brilhavam em negro novamente. Uma rocha surgia. — Que as trevas conduzam a sua alma! Troco a alma de um aliado para trazer meu fiel cavalo para perto de mim! — Ele não dizia o nome das cartas, mas estava utilizando um “Reencarnação de Monstro”, descartando de sua mão um “Criado Vampiro”.

— Seus feitiços são novos para mim, mas me parecem inúteis contra meu absoluto poder! — O ar disparado pelo Lorde Vampiro era cortante o suficiente para subjugar a criatura de Carlos. O Zombino, então, lançava o machado em sua direção. O rapaz sentia aquela mesma sensação anterior duas vezes seguidas, o que era um tanto desagradável. — Hahahahaha!

— Eu seto isso tudo e passo! — Carlos não estava nada bem nesse duelo. Havia cometido erros grotescos e não tinha dado tanta sorte nas cartas seguintes, conforme os turnos iam se desenrolando. “Droga, duas missplays e um bad draw do caralho. Eu acho que vou perder essa missão…” ele pensava. Não tinha o que fazer. Ele apenas colocou umas magias e uma armadilha “Tufão” viradas pra baixo, sem esperanças. As magias não serviam pra nada, naquele contexto.

— Percebo que preparas vários feitiços. Mas se acreditas que algum deles irá me assustar, está completamente errado. Um imortal nunca foge à luta! — Uma nova pedra surgia ao seu redor. Em seguida... — Meu cavalo, surja! — Zombino desaparecia, e, de uma cova, um cavalo sem ninguém montado surgia do chão. O jogo havia transformado a carta do Barão Vermelho em um cavalo pessoal do duelista. Lorde Vampiro, com rápidos movimentos, montava na criatura. — Se prepare, meu caro. É bom que um de seus feitiços seja defensivo o suficiente! — Lorde vampiro, com uma lança em mãos, investia com o cavalo na direção do jovem. — Hahahahaha! — Ria loucamente.

Carlos recebia o derradeiro golpe final, sofrendo mais uma vez com o impacto dos golpes diretos do seu oponente, reduzindo os pontos de vida do jogador a zero. Era uma sensação de como se estivesse sendo empurrado. Não era exatamente dor, mas era bastante desconfortável. O mundo começava a desvanecer em branco, aquele cenário estava tendo o seu fim. Como um último suspiro, Carlos olhava para a Vampira Vamp, que lhe lançava um beijinho no ar. Ela dizia alguma coisa, mas não era possível ouvir.

“YOU LOST”.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.