Unfinished Business

At every occasion I'll be ready for a funeral


"É muito mais difícil matar um fantasma do que uma realidade."

Virginia Woolf



Cleveland, Ohio

2008

–Weston, como você pode ter certeza disso? - censurou Hotch.

Um mês se passara desde a morte de Ryan. Tudo o que ocorrera na sala de J.J consta em um documento oficial como legítima defesa e, por um momento, me convenci de que aquilo estava certo.

Não estava.

Podia sentir os olhares fixos em mim toda vez que chegava no trabalho e entendi que, assim como eu, as outras pessoas não compravam aquela história. Aliás, era a morte de um oficial. Policiais fizeram o cortejo usual no enterro, atiraram para o céu e cobriram a lápide com uma bandeira estadunidense. O funeral fora acompanhando do sofrimento silencioso de uma família ao qual eu era estranha, os colegas de trabalho de Ryan pareciam mais afetados que seus familiares, mas aquilo era esperado. Eu e meu marido tínhamos cometidos um erro, ambos sacrificamos os que se importavam conosco em troca de uma carreira. Não passávamos o Dia de Ação de Graças ou Natal na casa de parentes e anos se passaram desde a última vez que fizemos uma ligação aos nossos pais. Não era frieza ou raiva, mas sim indiferença. Crescer é complicado. Dar aquele passo fora da sua zona de conforto é assustador, porém assim que o fazemos, muitos de nós esquecem daqueles que nos estenderam a mão quando não tínhamos noção do que nos aguardava mundo afora.

J.J e William passaram a cerimônia ao meu lado, assim como a equipe da BAU.

–Sinto muito, Agnes.

–Obrigada, Emily.

Reid, Morgan e Rossi me abraçaram, Hotchner fez menção para que eu o seguisse a um lugar mais tranquilo onde pudéssemos conversar longe de olhares alheios.

–Já disse para você que não precisa comparecer ao trabalho essa semana e, para falar a verdade, acho melhor que tire o mês de folga.

–Aaron, eu não preciso de um mês inteiro para…

–Sim, Agnes, precisa. Fique longe de tudo isso por um tempo, vai te fazer bem - insistiu.

–Agradeço pela preocupação, de verdade - pousei uma mão em seu ombro - Mas, por um acaso, você consegue imaginar como ficar em um apartamento vazio possa ser o melhor para mim? Como isso vai me fazer bem, Aaron? Eu preciso da BAU mais do que nunca.

–Está certa disso? - questionou com o semblante franzido habitual. Assenti e o abracei.

–Sim, Aaron.

E, um mês depois, Aaron me fazia uma pergunta semelhante. E, como da última vez, recebera uma resposta afirmativa. Eu tinha certeza do que estava falando.

–Aaron, esse cara não é um suicida, ele não quer morrer! Isso é um blefe - argumentei.

–Ele pode entrar em desespero - apontou Morgan.

–Você mesmo disse que o que ele tem dentro desse banco é uma bomba caseira. Pelo amor de deus, é só um garoto de 17 anos que está morrendo de medo! Ele vai se render - contestei.

–Mesmo assim, o que nos garante que o outro não vai matar os reféns? Aliás, ele é dominante da situação e não parece tão aterrorizado quanto o garoto. - ponderou Prentiss.

–Porque eles são a única garantia que os dois têm de conseguir algum acordo! Em uma situação dessa, eu não mataria meus reféns. O que eu teria para dar em troca se os matasse?

–Não podemos arriscar - concluiu Reid.

Fiz um muxoxo de impaciência e esfreguei os olhos. Estava exausta daquele jogo sem sentido. Negociávamos há quase duas horas com uma dupla de assaltantes desesperada e ninguém, além de mim, parecia notar que tudo aquilo era supérfluo.

Carl Adams e John Markson precisavam de um assalto perfeito para a inicialização em uma gangue do crime organizado, segundo as pesquisas de Garcia. A presença da bomba era somente uma precaução, caso houvesse um impasse com a polícia. Rosnavam, mas não morderiam, eram os peões e, acima de tudo, novatos. Não morreriam pelos chefões.

O celular que usávamos para manter contato com a dupla tocou e Hotch pôs no viva-voz.

–Estamos esperando, agente. Cadê o carro que vai nos levar ao aeroporto? - exigiu em uma voz ofegante.

Estamos nos deixando assustar por crianças, pensei. Eles já tinham libertado cinco reféns, dentre eles dois funcionários e três crianças, restavam oito. Haviam escolhido um horário perfeito, com pouco movimento.

–Primeiro liberte mais alguns reféns, como um sinal de boa fé, digamos assim - insistiu Rossi.

–Não, não! Nós queremos o carro agora! E um dos reféns vai nos acompanhar até o aeroporto, só para garantir que vocês não queiram nos enganar. Você tem 10 minutos, agente, ou então juro que isso aqui vai pelos ares - esbravejou - Ei! O que essa vadia está fazendo?

Somente entreouvi aquele insulto, já estava distante demais para ouvir o resto da conversa com clareza. Abri caminho entre o esquadrão anti-bomba somente afirmando que era da BAU. Em momentos como aquele, outras equipes confiavam cegamente na nossa. Acreditavam que tínhamos algum truque mágico para lidar com os criminosos.

Pela porta de vidro, pude ver o garoto sacudindo a arma em minha direção e berrando ao telefone. Morgan correra para me alcançar e gritara meu nome.

–Que diabos você está fazendo, Weston? Sai daí! - vociferou.

Tirei a arma do coldre lentamente e pousei no chão, de forma que quem quer que estivesse lá dentro pudesse ver. Dei mais alguns passos e estiquei o braço para a porta no mesmo instante em que o rapaz ao telefone encerrava a ligação e caminhava para um local fora do meu campo de vista. Senti um puxão forte em meu braço que não estava estendido para a porta e, por um momento, fui sufocada por vários corpos pesados que sobrepujavam o meu.

De início, não entendi o que estava acontecendo. Lembro do calor insuportável e o cheiro pungente de fumaça. Tudo estava silencioso, por mais que seja óbvio que não fora assim.

Houve uma explosão, os gritos de diversos oficiais e repórteres. Várias pessoas corriam e o caos se estabeleceu naquela manhã nublada em Cleveland. Os agentes do esquadrão anti-bomba, que estavam mais próximos a mim, foram os que me arrancaram do chão, salvando minha vida.

10 mortos, no total.

Por uma atitude que uma agente da Unidade de Análise Comportamental não pôde prever.



Quântico, Virgínia

2014

–Hotch, por que nós não podemos pegar o caso? - indaguei, enquanto sacudia as fichas das duas vítimas. Tinha chegado cedo ao trabalho e solicitado que Garcia imprimisse os arquivos. Me sentia um lixo, abrir os olhos era um desafio doloroso e estremecia com qualquer barulho repetitivo como, por exemplo, os passos ritmados dos agentes ao meu redor, quando chegara a BAU. Tudo me remetia ao meu apartamento e aquele barulho incessante em minha cabeça.

Bum. Bum. Bum.

Acobertei os hematomas com camadas de maquiagem e desejei fervorosamente que ninguém os notasse.

–Porque não é da nossa jurisdição! NYPD pode cuidar disso, aliás, nós já temos um caso de extrema urgência. Vamos para a sala de conferência - levantou-se e foi saindo da sala, porém deteve-se à porta quando percebeu que eu não o seguia. - Não vem?

–Vou sim, só preciso fazer uma ligação antes - expliquei e fiz um gesto de dispensa, indicando que ele podia seguir na frente. Um silêncio agradável caiu sobre o escritório de Hotchner e quase fui impelida a permanecer lá. Talvez eu não estivesse pronta para aquilo naquele momento. Talvez não fosse estar pronta nunca.

Disquei o número do qual recebi uma chamada na noite anterior e aguardei que alguém o atendesse.

–Hotch não aceitou o caso. Sim, eu sei! Desculpa, vou continuar tentando, mas nós temos outro caso agora. Prometo falar com ele assim que estivermos de volta. Desculpa, eu sei que você está sem tempo, mas não há nada que eu possa fazer agora. Ele disse que não era da jurisdição da BAU e que a polícia de Nova York podia cuidar disso. Eu entendo, me desculpe.

Desliguei e fui em direção a sala de conferência. Todos já estavam lá, fiz um cumprimento com a cabeça não dirigido a ninguém em especial e, quando tinha a atenção de todos, Penelope deu início ao caso.

–Então, Vingadores, hoje vocês vão ficar aqui mesmo, porque a polícia pediu nossa ajuda em uma série de sequestros. Primeira vítima, Olivia White, 9 anos. Foi encontrada ontem durante a coleta de lixo em uma praça de um bairro nobre da cidade. Karyn Daves despejada em um lixão a céu aberto e também foi encontrada ontem por moradores de rua. A causa da morte de ambas foi asfixia. O sujeito, aparentemente, usou um saco plástico para sufocar as meninas - falou enquanto passava as fotos das meninas vivas e saudáveis e, em seguida, como foram encontradas.

–Estão mortas há quanto tempo? - perguntou Reid.

–Não temos o horário exato, porém não há muito tempo - esclareceu Garcia.

–Duas mortes em um dia, não acho que ele vá parar - apontou Morgan.

–E você está certo, meu sábio pedaço de chocolate. Melinda Carter desapareceu do pátio da escola nessa manhã e, graças ao sequestros anteriores, a polícia ficou desesperada e, obviamente, pediu o apoio da BAU.

–Mas por que não nos comunicaram antes? - questionou Hotch - Nós precisamos ser avisados imediatamente de crimes envolvendo sequestro de crianças!

–Falha na comunicação? - sugeriu Garcia, mas sem muita fé no argumento.

–Isso é inadmissível! - exclamou, com raiva evidente em seu tom.

–Melinda está desaparecida há quantas horas? - perguntei.

–O horário do recreio na escola dela foi às 9h, então - checou o relógio de pulso - Uma hora.

–Em casos normais, teríamos 24h, no máximo. Porém esse cara matou duas crianças nesse intervalo. Só será possível calcular quanto tempo temos para achar a terceira vítima quando estivermos com o horário exato da morte das outras ou então… - Reid não concluiu a frase, mas seu final estava claro para nós. Saberíamos quanto tempo o unsub passava com suas vítimas quando encontrássemos o corpo de Melinda Carter.

–Desculpa interromper o gênio, mas acho que já sabemos por quanto tempo ele as mantém.

–Recebeu um memorando dos legistas? - J.J perguntou, tentando ser otimista em relação às duas opções que tínhamos.

–Não. Melinda Carter foi encontrada em um parque próximo a escola. Asfixiada - ao completar a frase, sua voz era somente um fio oscilante. Garcia mostrou-nos a foto que recebera do departamento policial de Quântico.

–Menos de uma hora e se livrou do corpo próximo ao local do sequestro. Provavelmente ele já está procurando a próxima vítima. Precisamos de um perfil geográfico agora - solicitou Hotch.

–Mas todos os três pontos, o lixão, o bairro e a escola, são distantes um do outro. Ou seja, ele sequestra as crianças e provavelmente dirige até um local não tão distante e as asfixia no próprio carro - J.J cogitou.

–Reid, fique aqui para trabalhar na conexão entre os locais. J.J e Morgan, vão até a escola de Melinda e vejam se alguma criança viu o suspeito. Weston, vá até o bairro onde Olivia White foi encontrada, pergunte se alguém viu algum carro desconhecido pela vizinhança e Rossi, ao lixão. Preciso fazer uma parada na delegacia. É inaceitável que eles não tenham nos passado o caso ontem!

Enquanto cada um seguia suas devidas incumbências, fui até o local onde Olivia fora despejada na companhia dos policiais que já estavam no caso antes da BAU.

–Encontraram alguma coisa? - perguntei ao chegar em um área verde salpicada de curiosos, jornalistas que exigiam saber o que estávamos fazendo para capturar o assassino e pais alarmados pela presença de um maníaco.

–A criança estava aqui, de bruços, segurava um urso de pelúcia. Falamos com a família e eles disseram que não pertencia a ela - respondeu o oficial mais próximo a mim.

–Vocês já investigaram aquelas marcas? - apontei para o local onde o asfalto era manchado por marcas escurecidas de pneus.

–Acha que pode ser o veículo do suspeito? - o policial questionou e eu soube que eles nem haviam considerado analisar aquele trecho. Liguei para Reid.

–Preciso de uma consultoria com meu gênio particular - disse. - Spence, você consegue identificar o modelo de um carro pela marca que os pneus deixam no asfalto? Ahn, ok, mando as fotos em um instante. As marcas estão mais fortes nesses lugares, porque ele fez esse caminho duas vezes. Ida e volta - divaguei. - Largou Olivia em uma praça bastante frequentada pelos moradores da vizinhança… É confiante ou talvez desleixado. Deixou um bichinho de pelúcia com a menina porque se sentiu culpado pelo o que fez… - apertei os olhos, tentando forçar a linha de raciocínio a seguir um rumo lógico - Ok, é só isso que eu tenho. O que descobriu com o perfil geográfico?

–Que J.J estava certa. Os horários da morte das duas primeiras vítimas são bem próximos e os locais de despejos, distantes. Olivia foi vista pela última vez no supermercado com a mãe e Karyn estava em um parque que fica no caminho entre o supermercado e a praça. Então, assim que escolhe a criança, a sufoca o mais rápido possível e, no trajeto para se livrar de uma, encontra a próxima - falou desenfreadamente.

–Ok, então… - aguardei enquanto digeria as informações - a próxima criança vai estar entre a escola de Melinda e o parque. É uma distância muito pequena.

–Sim e eu já mandei o Hotch colocar patrulhas nessa área - afirmou - Na verdade, ele pediu que fôssemos para lá. Em quanto tempo você chega?

–15 minutos, eu acho.

–Tempo demais. Venha depressa.

No exato momento em que desliguei, meu celular tocou novamente.

–Weston, onde você está? - nem ao menos tive tempo de responder antes que ele continuasse a falar. - Nós temos outra criança desaparecida. A casa da família é próxima da escola de Melinda Carter.

–Sim, eu sei, já falei com o Reid - disse enquanto andava até o carro, evitando a concentração de repórteres.

–Não sabemos qual vai ser o próximo local que ele vai usar para se livrar do corpo, então precisamos de patrulhas em todas as direções. Venha agora, estou lhe enviando o endereço.

Olhei para as coordenadas na tela do celular e me apressei, porém antes mesmo de chegar ao carro, fui interceptada por uma horda de câmeras e microfones.

–O que a polícia está fazendo…

–Esses crimes podem ser obras de um serial killer…

–Vocês já estão perto de encontrar o assassino…

Não conseguia ouvir as terminações de nenhuma das perguntas e fui momentaneamente cegada pelos flashes. Desejei que J.J estivesse comigo, era ela quem sabia lidar com os jornalistas, eu não possuía a mínima destreza para aplacar os nervos daquelas pessoas que prejudicavam mais do que ajudavam.

–Estamos fazendo o melhor que podemos e garanto que não vamos parar até encontrarmos... - tentei explicar.

–E quantas famílias precisarão ser destruídas até que vocês finalmente encontrem…

–A polícia não deveria ter transmitido um sinal de alerta…

–Por que a presença da BAU não foi solicitada antes que…

Pensei em afirmar que não havia motivo para pânico, contudo estaria mentindo, pois, se eu fosse mãe, estaria trancada a quatro chaves com minhas crianças. Contudo não podia alimentar o caos e a preocupação na cidade. Consegui vencer a multidão e dirigi até endereço que me fora indicado. Avistei diversos policiais e, em meio a eles, a equipe da BAU, assim que cheguei.

–Acabei de ser atacada por milhões de repórteres - me queixei.

–Milhões?

–Modo de falar, Reid. É só um modo de falar, não precisa me corrigir.

–Alguma informação nova? - indagou Rossi.

–Só aquilo que já disse para o Reid. Falando nisso, como anda a análise das marcas de pneus?

–É difícil saber, mas meu melhor palpite é que o unsub dirige uma caminhonete - informou.

–Não é exatamente o tipo de carro que não chama atenção - J.J mencionou - e ninguém afirma ter visto algo do tipo próximo a escola de Melinda.

–Ele é autoconfiante. Mata próximo ao local onde pega as vítimas - comentou Hotch, mais para si do que para nós.

–Isso quer dizer que ele está próximo de onde estamos, certo? - instigou Morgan.

–Provavelmente.

A partir desse momento, sem nenhuma informação além das que já tínhamos, formamos duplas de patrulha e seguimos em direções distintas. Hotch franzia a testa no banco do passageiro, estávamos cercados de um silêncio taciturno, repleto de perguntas sem respostas. Quando concluí uma rota, automaticamente iniciei outra, seguindo as ordens comandadas por Aaron.

–Nada fora do normal, Hotch. Ele não está aqui.

–Está sim. Tem que estar - murmurou.

–O unsub deixa um urso de pelúcia junto as vítimas, não violou nenhuma delas… - falei, depois de um tempo, mais divagando do que solucionando o problema.

Aquele não era o tipo de caso onde nós nos apresentávamos em frente a delegacia local e explicávamos o perfil psicológico do unsub. Estávamos desesperado e tínhamos menos de 1h para encontrar uma criança viva.

–Ursinho de pelúcia?

–Sim, foi encontrado com Olivia e a família afirmou que não pertencia a ela. Eu imaginei que Rossi tivera mencionado isso, ele não foi ver o local onde Karyn foi encontrada?

–Foi, mas Karyn não estava com nenhum ursinho de pelúcia!

Encarei-o, perplexa. Talvez tivéssemos encontrado o furo que tanto necessitávamos.

–Qual a diferença entre a primeira vítimas e as demais? - falou, enquanto analisava as fichas que continham fotos das meninas.

–Olivia era morena, Karyn, ruiva. Melinda, morena. Não cheguei a ver nada sobre a última criança - falei.

–Era uma garota loira. Emily Russel, 8 anos.

Ficamos em silêncio mais uma vez, enquanto tentávamos encontrar alguma solução naquela nova abertura.

–Hotch, parece meio sem sentido, mas… Quem falou com os pais da Olivia?

–A polícia local, nós estávamos sem tempo para interrogá-los de novo. Por quê?

–Eu estava pensando que… Ahn, talvez isso possar soar meio louco, mas eu acho que a asfixia foi acidental. Algum parente ou amigo da família…

–Realmente não faz sentido, Weston. Se foi um acidente, por que ele mataria as outras?

–Talvez ele tenha se desesperado. Quer dizer, se for alguém que tenha contato com ela, a morte poderia ser facilmente relacionada a ele, mas com o corpo de mais outras crianças sem nenhuma relação entre si… Não sei, só estou dizendo que é uma possibilidade - dei de ombros e iniciei outra rota pelo perímetro - Reid disse que Olivia foi vista pela última vez no supermercado com a mãe. Havia mais alguém com elas? O pai, talvez?

Hotchner ligou para quem quer que estivesse chefiando aquela investigação na polícia, alguém desconhecido a mim, e fez a mesma pergunta. Obteve sua resposta e contatou Garcia, em seguida, arqueou uma sobrancelha em minha direção e mandou que eu dirigisse até a casa da família White.

–Josh White, irmão de Olivia, estava com as duas. A mãe disse que Josh acompanhou Olivia até o carro porque a garota estava muito cansada. O irmão disse que deixou a menina no veículo, trancou tudo, ligou o ar-condicionado e voltou ao supermercado.

–E quanto às câmeras de vigilância?

–Nenhuma no estacionamento, porém pedi para Garcia checar quanto tempo ele demorou para acomodar a irmã de acordo com as câmeras na entrada do mercado e… 40 minutos. Parece muito tempo, não?

–O suficiente para matar Olivia, pegar Karyn e despejar ambas? Não, Hotch. Ele não é o nosso cara - suspirei de frustração. - Talvez ele só estivesse falando com uma garota… Não sei, mas não acho que tenha sido ele.

–x-

Voltamos para nossa rota infrutífera e continuamos patrulhando boa parte daqueles arredores. Duas horas depois encontramos o corpo de Emily Russel e ampliamos nossa zona de patrulha. A noite caiu e nenhuma ligação sobre outro sequestro foi feita. Nosso assassino havia, misteriosamente, parado com suas atividades, entretanto nenhum de nós se sentia impelido a voltar para casa. Amanhecemos o dia dirigindo pela cidade e tentando encontrar uma nova pista, porém o esforço foi em vão. Estávamos desgastados física e mentalmente. Hotch exigiu que, ao menos, fôssemos para a base da BAU e continuássemos os trabalhos e especulações lá. Assim o fizemos.

E lá estava ela, nos aguardando, em frente ao edifício da Unidade de Análise Comportamental, uma de nossas ex-agentes. Tinha uma ficha nas mãos e correu na direção de Aaron quando o avistou.

–Isso é o suficiente para você aceitar o caso? - falou enquanto atirava o documento para o agente.

–O que diabos você está fazendo aqui?

–Droga, Elle! Eu disse para você esperar minha ligação! - esbravejei.

Elle Greenaway sustentou o olhar hostil de Aaron Hotchner com sua típica expressão de insolência.

"Cada um tem o seu passado fechado em si - tal como um livro que se conhece de cor - livro ao qual os amigos apenas levam o título."

Virginia Woolf.