Underwater

Um minimo tempo de paz


O tempo parecia ter parado para Clara, a mesma se lembrava claramente das palavras de Rebecca no dia anterior quando perguntou o que sirenas eram.

Seus olhos se arregalaram de maneira estranha e ela engasgou com o suco que tomava, ela passou a mão nos cabelos incerta, como explicaria para Clara? Ela não sabia direito como eles eram, mas sabia que eles eram perigosos e ela tinha que deixar isso bem claro para Clara.

-Fique longe,só isso, fique longe. Eles são perigosos.- Rebecca respondeu séria assustando Clara, nesse tempo em que ela é Rebecca se falaram, em momento algum ela foi séria.

-Mas como eles são?- Perguntou a garota de cabelos negros. Não dava para se esconder de algo que você não sabia como era.

-Fica longe tá legal!- Rebecca respondeu e ponto.

Clara lembrava-se o quanto ela parecia preocupada com o fato de que ela tinha de ser afastar dos sirenas o mais rápido possível. E por algum maldito motivo tinha um bem na sua frente.

Ela estava em apuros.

Não.

Ela estava fudida.

-Pra que tanta surpresa?- Jefferson perguntou para a sereia que estava encolhida no canto da piscina.- Eu sou só um Sirena.

-M-minha amiga disse que você é perigoso.- Ela murmurou, era óbvio que se sentirá estúpida por estar com medo dele, o ser que outrora estava lambuzado de sorvete.

-Eu já disse, você deu sorte que eu não sou um dos assassinos do rei, minha missão é cuidar da pedra somente isso.- Ele disse sem olhar para a garota, estava frustrado se a garota dissesse logo o que sabia tudo seria mais fácil, da última vez que foi atingido por ela quando ela apenas tinha sete anos ele pode provar do quão forte ela era, mas ele não podia acreditar que uma pirralha como aquela tinha um poder como aquele, aquilo fez ele ligar um pouco os pontos e perceber que era provável que ela estivesse em posse da pedra. Mesmo ele nunca tendo a visto com a mesma, por algum motivo ele colava fé que aquela garota era portadora da pedra.

Clara revirou os olhos e bufou, seu medo tinha se esvaído em menos de um minuto, ela pareceu estar mais confortável na presença do homem.

-Uma vez.- Ela começou.- Quando estava em meu quarto vi a silhueta de um homem com asas, era você?- Ela perguntou atraindo-lhe a atenção.

-Não.- Ele negou.- Eu não sei onde você mora.

Aquilo a impressionou, o cara parecia saber até o número do seu sapato, mas também a assustou, se não foi ele quem seria? Outro sirena? Aquilo a amedrontou. Seus problemas pareciam só aumentar e a soluções não queriam vir.

-Droga!- Murmurou ela.- Eu to mais atolada na merda que...que… sei lá. Mas tô atoladissima na merda.- Ela grunhiu passando a mão molhada pelo rosto.

-Isso não é problema meu.- Jefferson disse se levantando.- Pelo que vejo está melhor. Minha presença não é mais necessário.- Ele deu impulso e voou.

-Espera!- Clara gritou, porém o sirena a ignorou.- Credo, eu queria agradecer. Cara chato.- Ela bufou.

O sol se punha quando Rebecca terminou seu trabalho e até o momento ela não tinha visto Clara em lugar nenhum.-Onde ela está? Será que aconteceu algo?— a loira mordeu o lábio inferior arrancando uma pelinha e largando a vassoura de qualquer jeito em qualquer canto, talvez a garota estivesse na salinha dos funcionários, Rebecca correu até lá e se aliviou ao ver porta entreaberta e uma música animada tocando lá dentro.

-Meu Deus Clara! Não some dessa je- Ela olhou para os lados não vendo nada nem ninguém, se assustou.- Clara!- Ela gritou pela amiga, ela estava com um mal pressentimento.-Clara eu não gosto desse tipo de brincadeira! Aparece.- A loira pisou em algo, abaixou-se para pegar o caderninho que Clara usava, virou-se para o lado seguindo a música que não parava. Achou o celular de Clara que vibrava e tocava sem parar, no visor do mesmo estava “Cremosa”, ela atendeu.

-Clara? Onde você tá? Pelo amor de Deus mulher, você e eu íamos começar a por o plano em prática hoje!— Tereza gritou do outro lado da linha.

-Tereza?- Rebecca perguntou reconhecendo a voz da morena.

—Rebecca? O que você está fazendo com o celular da Clara? Onde ela está?

-Eu não sei.- Rebecca respondeu uma das perguntas de Clara.- A Clara sumiu e só deixou o celular.

Rebecca cogitou o fato dela ter fugido de novo, mas porque ela o faria? Também cogitou o fato de algo ter acontecido e se desesperou.

-Tereza olha eu vou procura-la na praia e você procura pela cidade.

-Como assim criatura? Porque eu fico com a parte mais difícil?- Tereza reclamou.

-É sério isso criatura? A Clara tá sumida e você quer discutir por ter ficado com a parte mais difícil? Larga a mão de ser preguiçosa porra.- Ela gritou para a morena.

-Desculpe.-Ela murmurou.- Eu irei me encontrar com você na frente da escola suave?

-Suave. Qualquer coisa me liga. Até.

-Até.

Ela desligou e Rebecca suspirou, ela tinha um palpite de onde a garota poderia estar, correu até onde sua tia se encontrava em chamou-a de canto.

-Tia me desculpa, eu tenho que dar uma saída, uma passadinha rápida em Micaal é urgente!- Ela disse baixinho.

Loise levantou as sobrancelhas e cruzou os braços.

- Que nem ontem? E anteontem? E antes de anteontem?- Ela perguntou com um sorriso brincalhão.

-Olha...Eu...É. Aí tia! É uma emergência de verdade! Eu juro!

A mulher revirou os olhos e suspirou.

-Vai. E volta antes do turno noturno começar, você prometeu me ajudar.

Rebecca assentiu beijou a bochecha da tia e correu para fora do estabelecimento. Já no mar,nadando por todos os lados, ela parou perto de uma rocha da ilha de Micaal ofegante, tinha percorrido grande parte dos mares das praias de Dovii na velocidade da luz.

-Onde você está?- Ela se perguntou e inconscientemente olhou para Micaal.- Sua lesada.- Se xingou dando um tapa na testa.- É tão óbvio.

Pulou no mar nadando para o fundo procurou por uma brecha por entre as pedras, aquela abertura que levava para a Lagoa Azul, sorriu ao ver a cauda dourada balançando de um lado e para o outro lentamente, nadou até cima silenciosamente no intuito de assustar a amiga.

-Buu!- Clara disse quando Rebecca apareceu na superfície.

Rebecca bufou e cruzou os braços brava.

-Eu não tô acreditando que você estragou a brincadeira.- Ela disse se sentando do lado da Clara na borda da lagoa.

Um silêncio caiu sobre elas e ninguém precisaria ser um gênio para descobrir que Rebecca estava querendo muito saber o porque do sumiço de Clara, o porquê dela ter deixado o celular para trás e o porque dela estar em Micaal. Clara percebeu a curiosidade estampada no rosto da loira e começou:

-Eu passei mal.- Ela disse e levantou a mão em um pedido de silêncio, ela sabia que Rebecca iria começar um questionário.- Pelo que parece eu passei muito tempo longe da água do mar e olha que engraçado, eu não posso fazer isso porque eu sou tipo uma sereia.- Ela mordeu os lábios, ela sabia que em parte o fato dela ter passado mal era por ter ficado longe demais do mar, mas também sabia que ao ver James e Luana juntos, isso acabou completamente com o pouco de força vital que ela carregava.

-Desembucha que eu sei que não é só isso. Nós compartilhamos do mesmo segredo, não se acanhe em contar algo para mim.- Ela segurou as mãos de Clara com força.- Eu sou confiavel, acredite em mim.

Sim, ela sabia, ela até poderia contar sobre o que ocorreu no “Sereia”, mas o que estava ocorrendo em sua casa? Ela definitivamente não contaria, mesmo Rebecca dizendo que era confiável, como Clara poderia acreditar? O que ela tinha feito para provar tal coisa? Clara sentia-se mal, mas ainda não confiava o suficiente em Rebecca para contar sobre os ocorridos em sua casa, que ela sabia que também a estavam “sugando”, mas não contaria era pessoal demais.

-Eu acabei de ter a resposta do universo.- A garota passou a mão sobre os cabelos longos e negros jogando-os para trás.- O garoto que eu gosto está afim, ou até mesmo namorando, com a Luana.

Rebecca olhou para baixo, ela não sabia como reagir a isso, começou a estralar os dedos e levantou o olhar para Clara, o mesmo que carregava compaixão.

-Eu sinto mu- Ela foi calada por Clara que negou.

-Não, eu… Isso é meio que minha culpa, eu perdi o tempo que eu tive e acredite, eu tive muito. Ninguém além de mim e a Tereza sabiam sobre minha queda por ele. Eu poderia ter contado, mas eu sentia medo da rejeição dele, mas agora, nem isso eu vou ter.- Clara suspirou.- Por outro lado eu também tinha medo dele me querer, mas me querer como objeto entende? Todos os garotos ultimamente estão assim, não, quase todo ser humano está assim, materialista, sem pensar nos outros, ou nos sentimentos dos outros, usam e abusam, e depois largam, traem, enganam.- Ela passou a mão na bochecha limpando a lagrima que escorreu.

Rebecca, puxou-a e a acolheu em seus braços, no intuito de deixá-la mais confortável em chorar, mas ela não o fez, apenas focou seus olhos no azul da lagoa e não soltou um só ruído, foi neste instante que Rebecca percebeu que estava mais que na hora de mudar de assunto.

-Sabe…- Ela começou deslizando os dedos pelos cabelos negros de Clara.- Eu gosto de como seu cabelo fica quando você se transforma, ele fica maior, fica bonito.- Ela sorriu e a sereia ao seu lado saiu do abraço.

-Para ser sincera, eu não estou muito a vontade sabe.- Ela deu de ombros.- Sempre tive cabelo curto e do nada.Pá! Eu fico com o cabelo comprido toda vez que me transformo, é um pouco chato, ora está leve, ora está pesado.- Ela cruzou os braços e fez uma careta engraçada, Rebecca riu.- Mas eu gosto, ele combina com meu estilo sereia.

-É..- Concordou sorridente, mas ela sabia que seu sorriso era falso, assim como o de Clara, Ela estava preocupada e Clara estava tentando colocar uma máscara para encobrir suas verdadeiras feições, mas não importava como, Rebecca iria fazer tirar aquela máscara, pelo menos com ela.


Ambas nadavam em uma velocidade absurda pelos mares das praias de Dovii, talvez era a primeira vez que Clara se recusava a parar um pouco para apreciar os peixes e corais, estavam disputando uma corrida e pelo que parecia Rebecca iria ganhar, Clara viu de longe um cais e nadou a toda velocidade- Não mais que Rebecca- até lá. Era mais que óbvio que Rebecca chegou primeiro, era uma vida inteira como sereia contra duas semanas.

-Ganhei. -Rebecca disse se arrastando pela areia por baixo do píer, a outra apenas bufou e se arrastou ao seu lado.

-Me dá um desconto! Eu sou sereia menos de um mês. Tu nasceu assim não é?- Clara perguntou e Rebecca assentiu.- Pronto então é tecnicamente uma trapaça, Experiente contra amador é sacanagem.- Clara inflou as bochechas.

-Assume a derrota logo!- Rebecca deu um leve tapinha em seu braço rindo.

- Nunca!- Ela devolveu o tapa.- Sabe... É até estranho Tereza não estar louca atrás de mim. -Clara comentou pensativa.

Rebecca esbugalhou os olhos e começou a se secar com seus poderes.

-Se seca logo!- Ela ordenou para Clara, que lhe lançou um olhar interrogativo.- Ela tá esperando a gente na frente da escola. Ele deve estar desesperada!- Rebecca gritou.

Clara riu e preguiçosamente esticou a mão sobre a cauda e começou a se secar. Olhou para o lado assustada quando pareceu ouvir algo como um “click”, olhou para todos os cantos preocupada, será que era algo da sua cabeça?

-Você ouviu algo? -Clara perguntou.

-Não! Se seca rápido! Anda! Velocidade!- Rebecca ordenou já seca.

Clara suspirou, com certeza tinha sido algo da sua cabeça, ela apenas ignorou e continuou se secando.

-Corre caralho!- Rebecca gritou para Clara que estava um pouco longe de si.

-Tô correndo desgraça.- Clara gritou de volta aumentando a velocidade, definitivamente, correr na terra não é legal, ela preferia o mar.

No meio da escuridão ela observou as duas sumirem no caminho que levava para a escola, assim que ela teve certeza que elas não a veriam ela saiu de seus esconderijo, ela não tinha saído para caçar, mas ora ora, tinha pego dois coelhos em uma só armadilha, sorriu abertamente ao ver as fotos em seu celular extremamente caro, passou a mão colocando uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto e a pôs atrás da orelha.

-Ah minha querida Clara. Você mal sabe o que lhe aguarda.- Ela riu com desdém.- Você vai aprender que com o que é meu, não se mexe.- Ela sorriu e entrou em suas listas de contatos.- Alô? Wesley venha me buscar, estou no cais perto da escola, não pergunte, apenas me busque. Minha vida não lhe diz respeito, apenas faça seu trabalho.- Ela desligou.- Imbecil.- Fechou a cara, mas logo voltou a sorrir.- Clara, Clara, Clara, aproveite sua calmaria, porque logo a tempestade virá e você não poderá conter.

Rebecca e Clara ainda se desculpavam por ter deixado Tereza, preocupada -e brava- plantada na frente da escola, elas não mencionaram o fato de Clara ter levado um fora, nem delas estarem nadado por aí na velocidade similar à da luz dentro d’água. Tereza decidiu que as perdoaria, depois de vários insultos de sua parte, ela tinha esquecido do assunto, sua total atenção agora era as explicações de Clara. As três estavam sentadas na calçada perto da praia, Clara encostada em uma mureta, Rebecca em uma palmeira e Tereza olhava fixamente para a amiga como se pudesse desvendá-la e de certa forma podia.

-Tem haver com o James não é? -Tereza perguntou séria, assim como Clara mataria quem for que magoasse Tereza, Tereza faria o mesmo por Clara e ela sabia mais do que ninguém tudo o que Clara já passou.

-Eu sinto que minha parte eu fiz.- Rebecca disse se levantando, deu duas batidas na no short azul claro tirando a areia dele.- Converse vocês duas.- Ela disse virando de costas e partindo, mas antes ela parou e se virou para Clara.- Não minta pra ela, nem esconda nada. Okay?- A loira sorriu e seguiu seu caminho em direção ao “Sereia”, ainda tinha que ajudar sua tia.

Tereza olhou para sua amiga que olhava atentamente Rebecca se afastar, ela estava esperando o momento certo a morena sabia, mas ela precisava liberar aquilo ou viraria uma bola de neve.

-Ela já foi, não precisa mais segurar.- Tereza disse e olhou para ela.- Ele te rejeitou?

-Não, ele e a Luana… Eles...Ela…- Clara não conseguia terminar a frase, sua voz embargou e as lágrimas escaparam, Tereza conhecia bem a amiga e sabia que ela tinha engolido o choro desde que chegara junto de Rebecca.

-Eu entendi.- A morena acolheu a amiga em um abraço permitindo que ela desabasse em lágrimas.

-Dói. Eu perdi a oportunidade.-Clara se encolheu contra a amiga chorando mais.- Eu sou tão estúpida.

-É mesmo. -Tereza disse. - Você é estúpida. Não percebe que o jogo não acabou, a batalha pode ter sido ganha, mas a guerra ainda não. Luana e ele podem estar apenas ficando e se eles estiverem apenas ficando, conquiste-o.- Ela sorriu para a amiga que retribuiu.

Depois disso o silêncio se apoderou do lugar, mas elas não se importaram, mesmo que entre ela nenhuma palavra tenha sido trocada, era como se elas conversassem pelo silêncio, o barulho das ondas quebrando ao longe era bom.

-Onde você estava?- Tereza perguntou enroscando seu braço com o de Clara, a mesma fez uma careta.

Como explicaria essas coisas para Tereza? Ela nem tinha contado sobre seus poderes ainda e ela o tinha de fazer, mas estava com medo e com muitas coisas para pensar.

-Eu passei mal, mas já melhorei.- Ela disse olhando-a.- E decidi andar, achei um cais e deitei em baixo dele, estava tão confortável que eu dormi.

-Rebecca te achou primeiro que eu.- Tereza bufou com um pouco de ciúmes e Clara riu.

-Fica assim não sou só sua.- Clara disse passando a mão em seu rosto.

-Me respeita eu sou comprometida. - Ela empinou o nariz.

-Sou sua amante xuxu.- Clara sorriu sugestiva e a morena entrou na brincadeira também.

-Ui adoro. - Terê puxou-a mais pra perto fazendo Clara rir.- Vamos pra casa minha amante.

As duas chegaram na casa de Clara e se depararam com uma Lucia completamente furiosa, nenhuma das duas tinha avisado que sairiam, ou que ficariam até mais tarde, levariam um sermão porém era Lucia ali, não Fernando.

-De castigo vocês vão por a mesa, tirar, lavar e guardar a louça.- Lucia disse olhando para as garotas que resmungaram.

-Desde quando a gente põe mesa?- Clara perguntou colocando os pratos arrumados.- A gente mora no Brasil! Brasileiro come no sofá, assistindo TV.

Tereza riu e colocou os copos e a jarra na mesa.

-Pior é quando junta a família e todo mundo assiste Domingo Legal.- Tereza disse.

- Eu odeio Domingo Legal.- Clara fez careta.

A morena parou o que estava fazendo para olhar para a amiga do lado fingindo indignação.

-Eu não acredito nisso!- Ela colocou as mãos na cintura.- Eu também.- Tereza fez uma careta engraçada e Clara riu.

Mas parou ao ouvir a voz de Danyelle, ela se virou para Tereza que sustentava uma cara não muito agradável, Lucia e Danyelle entraram conversando animadamente sobre assuntos banais e rindo da vida, Clara trincou os dentes quando a piranha sorriu para si, engoliu todo o ódio para mais tarde e deu seu melhor sorriso falso.

-Vocês não vão comer conosco?- Danyelle perguntou com sua voz doce porém venosa, Clara sabia que teria de tomar cuidado com essa mulher, ela com certeza não era flor que se cheire, não por ser amante do Fernando, mas por sua aura carregar algo pesado.

-Não.- Clara disse apenas antes de subir as escadas com os dois pratos, o dela e o de Tereza, que estava ocupada preparando o suco -Clara tinha se recusado a encostar em qualquer coisa que continha água- e logo subiria.

Danyelle olhou para Lucia que sorriu sem graça, por breves momentos ela pode jurar que aquela garota sabia sobre tudo, desde o fato dela ser amante do Fernando, até pela sua procura pela pedra. Entretanto, aquilo era impossível, ela não falava sobre a pedra com Fernando em caso nenhum que não fosse a sós e pessoalmente, ela tinha de tomar cuidado com essa garota, se Clara souber mesmo ela terá de tomar medidas drásticas.

Já passava das dez quando Danyelle partiu, nesse tempo em que ela esteve lá nenhuma das duas se atreveu a sair do quarto nem para levar os pratos sujos, apenas os deixaram de canto. Tereza pode perceber que Clara estava meio pra baixo, ela estava preocupada com a amiga, quando Clara finalmente conseguiu se livrar de um problema outros dez caíram de paraquedas em sua vida, era demais para uma garota suportar, por isso teve uma idéia que julgou ser genial. Ela levantou do colchão sem fazer barulho algum e andou nas pontas dos pés até a janela, a qual estava aberta por conta do calor, pegou seu celular e desconectou do carregador, foi até a sua lista de contatos e apertou em um específico.

-Oi. Eu te acordei? Não! Que bom.- Ela sussurrou.- Eu preciso da sua ajuda com algo…

Clara tinha sido acordada- extremamente cedo- por uma Tereza totalmente eufórica, mais que o normal, já arrumada e bem disposta.

-Vai tomar banho anda.- Tereza arrastou Clara, que mais parecia um morto vivo, até o banheiro, jogou-a la junto de um conjunto de roupas e fechou a porta.- Tu tem quinze minutos pra sair daí cheirosa e arrumada.

-Pra que isso Tereza? É sábado!- Clara resmungou se despindo.

-Não questione, faça!

Clara revirou os olhos e ligou o chuveiro, começou a se banhar preguiçosamente mas antes que pudesse continuar seu preguiçoso banho, suas pernas bambearam e ela arregalou os olhos quando um brilho envolveu seu corpo, transformando suas pernas em cauda, sua ficha só caiu quando ela bateu o queixo na parede e escorregou até bater o queixo de novo só que no chão.

-Ai porra!- Ela gritou esfregando a mão no queixo.

-Olha a boca desgraça!- Sua mãe gritou do outro lado da porta e Clara mostrou a língua.

Ela abraçou a cauda contra o corpo e encostou a cabeça nela, deixou seu cabelo, recém crescido, cair sobre seus ombros e costas, sem mexer um músculo, não queria sair dali, mas Rebecca havia lhe dado quinze minutos apenas, acelerou o processo do seu banho desligou o chuveiro e se arrastou para fora do box, jogou a cauda para o lado e começou a se secar com seus poderes.

A roupa que Rebecca escolheu não era do gosto de Clara, uma saia de galáxia, uma blusa azul bebê e uma sapatilha preta, Clara nem sabia da existência dessas peças de roupa, talvez porque ela alternava entre biquíni e moletom, moletom e biquíni.

Depois de tomar café com uma Tereza e uma Lucia completamente misteriosas com risinhos e olhares suspeitos, Clara foi vendada e obrigada a entrar no carro, o engraçado era que até o Lucas estava estranho. O carro finalmente parou e Clara foi arrastada até fora dele.

-Eu busco vocês mais tarde, okay?- Lucia fez um okay com a mão e Tereza assentiu puxando Clara.

-Tchau!-Lucas gritou do carro.

-Onde a gente tá Tereza?- Ela perguntou pela trigésima vez para a amiga que ainda a puxava.

- Surpresa!- Ela cantarolou e Clara revirou os olhos por debaixo da venda.

Enquanto Clara era guiada ela acabou por trombar em algo duro, grunhiu brava e ouviu risos, merda, estavam em lugar público.

-Desculpa miga.- Tereza arrancou a venda.- Than-ram.- Ela gritou mostrando a loja de roupas para a amiga.

Clara olhou-a e depois pra loja, pra ela de novo, depois pra loja e assim ficou até finalmente parar e levantar uma das sobrancelhas e cruzar os braços.

-Você ta de brincadeira com a minha cara né?- Clara falou brava.- Nem dinheiro pra comprar alguma coisa eu tenho!

-Se acalme piranha. Não ligue para os gastos, eu dei meu jeito.- Ela sorriu travessa e ambas entraram na loja.- Mas o que importa de verdade é a transformação que farei em tu.

-Transformação? Como assim Tereza?- Perguntou Clara para para a amiga que olhava algumas peças de roupa, até que aceitáveis.

-Fica de boa, a transformação vai ser do seu agrado, prometo que só 15% vai ter um toque Tereza.- Clara elevou uma das sobrancelhas.- Eu to falando sério!

Clara sorriu e revirou os olhos, que mal tinha uma tarde de compras com sua melhor amiga? Não mataria ninguém.

Depois de algumas horas, até que divertidas, as duas carregavam sacolas e casquinha, a pobre Clara fazia o impossível para comer sua casquinha sem deixar um pingo tocar sua pele, era super arriscado e difícil, mas por sorte estava quase terminando o sorvete. Tereza pegou o celular e discou o número de Lucia e pediu para que ela as buscassem, elas decidiram esperar perto de uma praça.

-Partiu não ir de uniforme segunda?- Tereza perguntou para a amiga.

-Eu não. Pensa se a diretora pega a gente.

Tereza revirou os olhos.

-Minha filha, nem as tias da limpeza estão indo de uniforme que dirá nós. Se elas que estão sendo pagas não estão usando, porque eu usaria?- Tereza argumentou.- E também eu quero experimentar aquelas jóias lindas que você trouxe, esfregar na cara das inimigas, chegar na escola ao som de Ludimila.- Ela comentou animada.- “Cheguei..”- Ela começou a cantar e fazer uma dancinha engraçada, Clara começou a gargalhar.

Bastou alguns minutos para que o carro aparecesse junto de uma Lucia sorridente, o mesmo sorriso suspeito de mais cedo, aquelas duas estavam tramando alguma, ela sabia, conhecia as duas como a palma da mão. Tereza nem esperou para entrar no carro e ligou o som, plugou o fio em seu celular logo Shape of you do Ed Sheraan começou a tocar e nem mesmo Clara se conteve quando o refrão chegou.

-A mi lóvi ov xapi avi u ( I'm in love with the shape of you). -Todos os quatro cantaram juntos, no seu inglês que mais parecia marciano. - u bu puxi magneti tu (We push and pull like a magnet do).- Tereza gritou sozinha já que a maioria esquecia essa parte.- Ma rorti is folin tuo (Although my heart is falling too).- Eles continuaram a cantar juntos e alegres, de relance Tereza pode ver que a amiga estava melhor e soltou um suspiro aliviado continuando a cantar.

A música que tocava era Team da Iggy Azalea, Tereza cantarolava baixinho, Lucas dormia de boca aberta e Clara estava quase se juntando a ele, mas estava oculpada demais olhando a praia que achava, naquele dia ela nem tinha tirado o tempo para entrar na água, percebeu que o carro parou na calçada que não era perto da sua casa, elevou o olhar e percebeu que estava na praia do lado leste, a mesma que sempre ficava vazia, ela tombou a cabeça pro lado e olhou para as duas figuras suspeitas, as mesma s sorriam de lado.

-O que diabos está acontecendo aqui?- Perguntou Clara cruzando os braços.

Tereza apenas virou para o lado e vendou a amiga novamente, que reclamou e cruzou os braços sendo guiada novamente por Tereza.

-Não me faz ser atropelada pelo amor de Deus Tereza.

-Ai menina que horror!- Tereza exclamou ofendida.- Jamais, tu consegue se atropelar sozinha. - Foi a vez de Clara ficar ofendida.

-Ridicula.- Ela murmurou.

-A gente vai chegar quando?- Clara perguntou sentindo seus pés afundarem na areia, ela estava com medo de trombar em alguma coisa que tivesse água.

-Aquiete o cú.- Tereza respondeu.- Já estamos quase lá.- Ela parou e Clara também.- Chegamos!- Ela gritou, único som era da Tereza e das ondas se quebrando ao longe, Clara se aliviou a perceber que o mar estava em uma distância segura.

Sem aviso prévio a morena arrancou a venda dos olhos de Clara e todos ali presentes gritaram um alto e sonoro:

-Surpresa!