Underwater

Um tempo com os amigos


Eu não tinha palavras para descrever o que eu sentia ali, Tereza e Rebecca tinham chamado alguns amigos, vulgo David, Fernanda, Claudio, Renata, Stephanie, Jonas, Demetra, Viljami e uma garota super parecida com ele, eu não sabia o que elas planejavam, mas pude ver cabanas montadas por todos os lados, algumas luzes que estavam apagadas já que era dia e uma grande toalha onde uma grande quantidade de potes, vasilhas, garrafas e sacolas estavam e encostado em uma árvore estava um violão, abri a boca ao perceber do que aquilo se tratava.

-Um acampamento?- Gritei eufórica e as meninas sorriram.

-Nós pensamos que isso poderia fazer você esquecer sobre…- Tereza disse deixando a frase no ar para que eu completasse mentalmente.- Você gostou?- Ela perguntou preocupada, alternei o olhar entre ela e Rebecca, a mesma que parecia esperar ansiosa uma resposta.

Fechei os olhos e suspirei, eu adorava fazer esses suspenses, quando abri os olhos Tereza olhava-me intensamente. Soltei uma risada exclamei:

-Eu adorei!- as abracei com força.- Eu amo vocês duas, suas retardadas.- Ela me abraçaram de volta e riram juntas saudades minha euforia, mas para ser sincera sempre quis acampar com meus amigos, tudo bem que eu estava ainda na minha cidade, mas não importava eu estava feliz pelo presente que eu tinha ganhado das minhas amigas.- O que a gente tá fazendo aqui?- Perguntei.- Boa curtir isso daqui!

-Assim que se fala!- Tereza me largou e ergueu um punho pro alto.

-Bora!- Rebecca gritou.

Nossa tarde foi resumida em muita bagunça, muita mesmo. Demetra e Valterra, a garota que descobri ser irmã gêmea de Viljami, tinham se mostrado ótimas cozinheiras, elas tinham feito grande parte da comida e eu estava quase as sequestrando para cozinhar para mim, Renata, Fernanda e Setephanie entraram no mar e não saíram nem pro almoço, eu, Rebecca e Tereza estávamos sentadas perto da árvore onde o violão estava encostado, Tereza estava com a cabeça em minhas coxas e eu estava com a cabeça encostada no ombro de Rebecca, estávamos conversando sobre coisas aleatórias quando o assunto se tornou sobre família.

- Minha tia e minha mãe vivem juntas.- Rebecca comentou.

-E seu pai?- Tereza perguntou.

-Ele está no hospital.- Opa assunto delicado.- Ele tem estado fraco ultimamente, não sei o que ele tem, ninguém quer me contar.- Ela abaixou a cabeça com um olhar tristonho, mas logo depois se recompôs.- E você Clara?

Engasguei com minha saliva, Tereza me lançou um olhar que indagava “mudo de assunto?”, neguei levemente para que Rebecca não percebesse.

-Minha mamis trabalha na Mary Kay e meu pai é biólogo marinho, ele vive viajando a trabalho .- E traindo minha mãe, completei mentalmente.- Eu tenho um irmão mais novo adotado que se chama Lucas.

-Sua mãe trabalha na Mary Kay?- Rebecca perguntou e eu assenti.- Nem avisa, eu tava precisando de umas bases.- Ela fez bico e nós rimos.

-Gente!- Tereza gritou do nada nos assustando. Metralhei-a com o olhar, odeio quando ela faz isso.- Desculpe.- Ela disse sorrindo sem graça.- Eu quero sorvete.- Ela disse manhosa.- Vamos lá comprar comigo?

Revirei os olhos, eu não sabia quem era a mais esfomeada de entre nós duas, mas tenho que admitir que em certas ocasiões Tereza ganha de mim.

-Okay.- Me levantei fazendo, sem querer, que ela batesse a cabeça na areia, olhei-a e segurei riso Rebecca que permanecia sentada fazia o mesmo.

Ela se levantou lentamente.

Aí Jesus!

Todo seu cabelo estava cheio de areia, com certeza demoraria um século pra limpar, Tereza pareceu chegar a mesma conclusão que eu já que me lançou um olhar mortal, mordi os lábios, contendo o riso, porém deixando escapar um grunhido, Tereza me metralhou novamente pelo olhar por poucos segundos antes de levantar na velocidade da luz e avançar na minha direção. Gritei e corri para longe dela rindo, Rebecca começou a rir e se levantou indo atrás de nós duas, olhei para trás para ter certeza que a leoa estaria atrás de mim e ela estava, estava muito rápida, muito mesmo. Aumentei o ritmo porém trombei com alguém é caí pra trás na areia.

Mas que droga.

Meio de longe ouvi o riso de Tereza, mas parou tão rápido que achei que tinham roubado sua voz, olhei para ela e ela estava parada olhando estática para a pessoa a minha frente a mesma que eu tinha trombada, será que eu tava brava? Eu nem pedi desculpas!

Um pouco atrás de nós estava Rebecca em completo silêncio e com olhos arregalados, engoli em seco e olhei para cima.

Abri a boca, mas não foi para dizer nada eu simplesmente estava surpresa, as meninas tinham o chamado, olhei-as, não, definitivamente não foi elas, suas feições eram bem claras. Tentei me desculpar mas minha voz ia e vinha nem uma palavra sequer saia dos meus lábios, ele sorriu e estendeu a mão e eu recusei. Levantei e dei duas batidas na minha roupa limpando areia.

-Desculpe.- Disse somente desviando de Benjamin e Luana, que agarrava seu braço como se a qualquer momento ela fosse sumir. Me senti enjoada, uma tontura me atingiu e eu pus a mão no rosto, automaticamente olhei para a água e senti ela me chamar, sacudi a cabeça voltando a terra firme.- Meninas, vamos perguntar pra galera qual sabores eles querem!- Gritei para elas, que demoraram um pouco a sacar e correram na minha direção ignorando Benjamin e Luana.

-Você tá bem?- Tereza perguntou e eu a olhei nos olhos.

- Sinceramente? Não.- Respondi suspirando.

Eu precisava mais que tudo dar um pulo na água do mar, porém a quantidade de pessoas ali presentes não cooperava.

Me senti um tanto invejosa, eu queria muito saber: de onde aqueles embustes tiravam tanto dinheiro? Tínhamos comprado cinco potes de um litro de sorvete, total de cinco litros. Estou abismada, eu não tenho dinheiro nem pra comprar blusinhas por nove e noventa e nove na promoção.

Esse negócio de ser sereia é maravilhoso, porém é também um porre, eu e Rebecca fizemos o impossível para não nos molharmos com o “suor” dos potes, eu estava segurando as sacolas literalmente na ponta dos dedos, Rebecca segurava normalmente entretanto fazia milagres pra sacola não encostar em sua perna.

Chegamos onde nossos amigos, e Benjamin, estavam sentados em uma toalha grande cobertos por três grandes guarda-sóis, Tereza chegou saltitante, Rebecca a acompanhou e eu cheguei lá que nem uma morta viva, todos gritaram e bateram palma ao ver o sorvete.

-Aleluia.- Cláudio fez graça.- Pensei que vocês tinham indo na fábrica, fazer os sorvetes.- Ele brincou.

-Que nada. Elas foram fazer a fábrica.- David entrou na brincadeira.

-Eu já acho que elas foram fazer o tijolo.- Renata disse mostrando a língua.

Rebecca fez uma falsa cara feia.

-Se vocês quiserem eu volto lá e devolvo.- Rebecca cruzou os braços brava.

Eu ri sentando na areia com eles, peguei uma colher abri o sorvete de morango, Demetra deu e ombros e fez o mesmo que eu sendo seguida por Valterra.

-Oh! Espera todo mundo.- Viljami gritou saindo da...Da porra da água!

Olhei alarmada para Rebecca que devolveu o olhar, me afastei discretamente dele quando ele sentou na areia perto de mim, Rebecca deu uma desculpa qualquer e me puxou para longe dele e de todo mundo.

Olhei para ela confusa, tudo bem ele estava molhado mas não era para tanto.

-Pra que isso mulher?- Perguntei olhando-a.

-Querem te jogar água.- Ela avisou em um falso tom risonho.- Finge que eu não te falei isso, corre pro banheiro e eu vou dizer que tu foi cagar.- Ela disse com uma cara engraçada.

-Miga seja mais delicada, o crush tá perto.- Pedi e ela revirou os olhos.

-Se tu não entrar naquele banheiro agora eu vou quebrar seu nariz com um tapa.- Ela ameaçou coçando a temporada.

Levantei as mãos em rendição e corri para o banheiro que tinha ali perto, me tranquei em uma cabine. Ouvi algumas risadas do lado de fora e barulho de água.

-Clara.- Ouvi a voz de Demetra. - Me ajuda com o biquíni aqui rápidinho.

-Eu to cagando.- Gritei e elas riram.- Pede pras meninas.

-Elas estão ocupadas. Me ajuda.- Ela pediu manhosa.

-Não!- Gritei.- Se vire.

Ouvi passos e a porta do banheiro se fechando com força. Suspirei aliviada e abri uma frestinha, espiei e não vi nenhuma delas por perto, coloquei uma perna, depois outra, suspirei outra vez, o banheiro estava completamente vazio. A porta estava fechada e as chances delas estarem lá fora me esperando eram grandes, porém o mal de protagonista atacou novamente, abri a porta levemente olhei para o lado e lá estavam elas, com um balde nas mãos.

Oh merda!

Eu fui completamente encharcada não só eu como também a pessoa atrás de mim, pouco me importei com ela corri para o banheiro, me esqueci de fechá-la, porém antes que eu voltasse ouvi a porta bater e alguém cair, não caiu sozinha eu caí junto.

E lá estava eu, no banheiro da praia em forma de sereia com alguém junto comigo que provavelmente deve ter visto minha cauda. Eu não tinha coragem de levantar o rosto, não mesmo.

-Clara?- Sua voz soou.

Droga, ela me conhecia.

Mas pera eu também a conhecia! Aquele sotaque era inconfundível, Aquele voz também, mas seu tom de voz assustado me era estranho, sua voz era sempre autoritária e forte.

Virei-me lentamente e me deparei com sua cabeleira loira solta, tais quais reluziam sob a luz do sol que entrava pelas janelas minúsculas do banheiro, seus olhos azuis estavam assustados e sua boca estava entreaberta, assim como eu ela estava surpresa, me arriscava a dizer que ela estava assustada. Eu também estava, minha professora ser uma sereia era algo surreal, não pude ver por completo sua cauda mas podia apostar que era laranja com tons marrons assim como o top que cobria seus seios.

Eu não sabia que dizer e ela também não, abrimos e fechamos a boca diversas vezes, frases não se formavam em minha mente nem em meus lábios, ela suspirou e fez força para se sentar, ela se virou para trás e estendeu o braço para a porta, sua mãos estava ereta como se ela fizesse um sinal de pare, a maçaneta fora de pouco a pouco por uma camada transparente parecida com gelo, a velocidade na qual essa camada aumentava era impressionante, abri a boca surpresa e a vi virar para a frente satisfeita.

-Ninguém vai entrar aqui até que a porta descongele.- Ela congelou a porta?!- Então Clara, creio que tem uma história muito interessante para me contar.- Ela sorriu de lado e apoiou os cotovelos na cauda e o rosto nas mãos.

Não era necessário ser inteligente para perceber que ela queria que eu dissesse sobre “como eu virei um peixe”, mordi o lábio, não faria mal faria? Ela também é uma sereia, posso confiar nela, eu espero.

-Bom…-Comecei incerta, engoli em seco e continuei.- Tudo começou na minha ultima semana de férias…

Quanto tempo eu tinha passado ali naquele banheiro com a professora Emma? Eu não sabia, mas com certeza foram momentos ótimos, professora Emma contou um pouco sobre si e eu sobre mim, descobri que ela é casada com Ash Dove, um treinador de equitação muito gato, segundo ela, tem apenas uma filha de dois anos e meio chamada Constantine, seu sonho era ser nadadora profissional, tinha duas melhores amigas também sereias Cleo Sertori, uma grande médica e única a qual ainda mantém contato e Rikki Chadwick, uma “nadadora” profissional e escritora, veio para no Brasil por recomendação de Cleo que mora por aqui e trabalha em um hospital no litoral. Enquanto ela falava sobre as aventuras que viveu quando adolescente seu tom de voz carregava nostalgia, sorri ouvindo cada uma das histórias contadas.

-Não acredito que você só me contou sobre esse poder de aquecer as coisa depois de quase uma hora e meia, meu marido e filha devem estar hiper preocupados.- Ela disse enquanto esperava eu descongelar a porta.

Sorri meio sem graça.

-Desculpe é que você perguntou sobre minha história ai eu perdi o foco!- Me defendi abrindo a porta e me deparando com um homem de cabelos pretos e curtos, com uma pele de cor clara levemente avermelhada e olhos semicerrados por conta do sol, ele carregava uma feição preocupada que se suavizou quando a porta foi aberta em seus braços uma garotinha com uma chapéu de praia e um vestidinho lilas, seu cabelo escuro e liso estava preso em duas marias chiquinhas e seus olhos azuis me fitavam com curiosidade, ela chupava uma chupeta e a largou assim que viu a professora Emma.

-Mommy!- Ela gritou e estendeu os bracinhos para a mãe que a recebeu com um grande sorriso.

-Hey my sweetie.- A loira beijou a testa da filha que riu divertida.-É mamãe, meu amor.- Ela disse docemente para a filha.

-Mámãí.- Ela disse com um pouco de dificuldade.

-Isso!- Ela riu e a filha bateu palmas alegremente.

Sorri diante da fofíssima cena a minha frente, mas senti que eu estava sobrando lá, lancei um sorriso para eles e me virei para me distanciar e voltar para meus amigos, não consegui dar nem meio passo, Senhora Emma me chamou, girei os calcanhares e lê lancei um olhar questionador, para mim ela me faria fazer um juramento de lealdade e coisas do tipo.

-Pode me mostrar uma praia deserta?- Pô essa eu não esperava.

-Claro.- Sorri para ela e para o marido que até então não tinha aberto a boca para nada.

Caminhamos lado a lados, professora Emma ainda carregava Costantine em seus braços, a mesma que estava quase adormecendo com o rosto afundado no pescoço da mãe, eu a entendia, talvez a melhor essência é a de uma mãe, a da minha é particularmente maravilhoso, uma mistura de mar e rosas.

Chegamos no cais abandonado local onde Marcos me atacou e Viljami me salvou, ele parecia menos assustador de dia e por incrível que parecesse mais acolhedor.

-Não é uma praia mas…- comecei sem graça.- ...É deserta.

Ela sorriu e colocou a filha no cais, a pequena Constantine nem mesmo tinha tocado os pés na madeira e disparou em passos desengonçados para a borda e lá pulou.

Me desesperei, mas ela e Ash apenas sorriram vendo a filha, gente eu estava perdendo algo?

-Ela é uma sereia Clara.- Abri a boca, mas me toquei em qual besta eu estava sendo, ela era filha da professora Emma, uma sereia era óbvio que ela também seria uma sereia.

Ash fechou a cara para a esposa que nem mesmo se importou, ele agarrou seu braço e ela olhou para ele interrogativa, claramente queria se juntar a filha que nadava melhor que eu.

Senti-me humilhada.

-Você tem idéia do que falou para ela?- Ele perguntou tentando soar como um sussurro, mas seu tom bravo fazia sua voz elevar.

Emma olhou pra mim e percebeu o que disse.

-Oh!- Ela exclamou.- Desculpe amor é que..- Ela se virou para mim.- Posso?

-Hum… Claro.- Respondi.

-Ela também é uma sereia.- Ele abriu a boca e revezou o olhar entre eu e a mulher.

-Todo mundo é sereia nesse país?- Ele perguntou alterado e Emma riu.

Sorri para eles e me despedi voltando para meu povo, minha gangue, minha trupe, ok já deu.

O sol estava se pondo, todos tínhamos concordado que uma fogueira era uma ótima opção, estavam todos fazendo algo, desde arrumar em qual barraca cada um iria ficar até pegar galhos ou qualquer merda pra fazer a fogueira, eu e as meninas, Tereza, Demetra e a Val, estávamos arrumando a comida, tínhamos que guardar para comer no dia seguinte, porque se depender do pessoal, incluindo eu, a comida acabaria em menos de dois minutos.

- Eu cheguei anteontem na cidade, irei estudar na escola de vocês.- Val disse enquanto tirava um pacote de marshmallows da bolsa, sorri ao ver o alimento.- Espero poder estudar na mesma sala que vocês, vocês são tão legais!- Ela exclamou levando um a boca.

-Deus me livre estudar na mesma sala que você.- Viljami provocou a irmã e se sentou ao meu lado roubando um pedaço do meu sanduíche, ele me lançou um sorriso brincalhão e eu o fuzilei, quem ele pensa que é pra roubar minha comida?

-Ele estuda com vocês?- Ela perguntou triste e eu assenti.- Ah, mas que saco!

Eu ri e logo depois dei um tapa na mão de Viljami, privando-o de roubar meu sanduíche, mas mesmo assim ele roubou um pedaço novamente.

- Você quer perder essa sua mão né?- Murmurei o fuzilando.- Para de roubar meu sanduíche pega um pra ti!

-Ta muito longe.

Arqueei as sobrancelhas e olhei pra cara daquele preguiçoso, a linda cara- puta que pariu gisele ele é lindo demais.- Me espantei com meu pensamento, dei quase um grito quando ele deitou a cabeça no meu colo, olha a audácia desse folgado gostoso pra porra.— Se controla Clara, ele só é um boyzinho bonito, tu realmente gosta é do James. Mas o James nem vai olha pra mim agora que está pegando a Luana, eu já to cansada de viver.-Fui tirada da minha coletânea de paranóias e pensamentos sem sentido por Viljami que pegou minha mão e pôs sobre seu cabelo.

- O que você está fazendo?- Perguntei e ele fez uma carinha que era pra ser fofa, mas que a apenas me fez rir.

-Faz cafuné em mim?- Ele pediu fazendo biquinho.

Algumas vez eu já mencionei que ele é folgado?

Revirei os olhos e afundei minha mão em seus cabelos macios, seu perfume invadiu minhas narinas e me senti extasiada, suspirei e olhei em seus olhos e ele olhou nos meus, senti um contato estranho entre nós dois, uma energia diferente e envolvente, eu o queria perto de mim.

Pera!

Mas que safadeza é essa?

Levantei o olhar e continuei fazendo cafuné em seu cabelo platinado, eu foquei meu olhar nas ondas que se quebravam ao longe, elas me chamavam, eu precisava nadar. Minha conexão com o mar está cada vez mais forte, mesmo eu não podendo atender sempre aos seus chamados, eu os ouvia.

-Clara.- Val gritou meu nome, tomei um susto e percebi que todos me olhavam, menos Rebecca que estava comendo um sanduíche com patê.- Você quer ou não?

- Que? Como assim?- Eu realmente tinha viajado olhando para o mar.

Ela bufou e Teresa revirou os olhos.

-Verdade é desafio. Você quer jogar ou não?- Demetra perguntou pacientemente.

-Ah!- Exclamei entendendo. Jogar ou não jogar? Eis a questão, eu nunca fui muito chegada em jogos como esse, até porque eu perdi o meu Bv e Bvl nessa merda, foi horrível. Mas eu tinha prometido a mim mesma que eu iria me libertar um pouco, aquelas dores não me atormentam mais então qual o problema de um simples joguinho.

- Eu tô dentro.- Sorri ao ver a cara de espanto da Tereza, até eu estava espantada, mas não faz mal,certo?

Todos nos levantamos e saímos um pouco de perto da fogueira, colocamos uma garrafa no centro e Tereza começou a ditar as regras:

-Cada um tem direito a três verdades, e desafios não tem limites, sem bebidas alcoólicas, sem coisas obscenas, sem extrapolar os limites do bom senso.- Mas que ironia ela pedindo pra não extrapolar os limites do bom senso, logo ela que nem tem.- Os comprometidos tem direito de pular desafios “íntimos”, o que se falou ou o que se fez aqui, fica aqui. Entendidos?- Ela perguntou séria e todos assentiram.

Ela girou a garrafa e caiu Luana perguntando para David.

-Verdade ou Desafio?

- Desafio.- Ele sorriu de lado, não era segredo entre todos nós David era o tipo aventureiro, ele não podia ver um desafio que já queria resolver, ou pelo menos quebrar algum osso tentado, eu tinha muito que aprender com ele.

Aquela resposta pareceu não agradar Luana, ela era boa demais com certeza seus desafios seriam fracos, ela ficou um bom tempo pensando, pensando, pensando, até que sorriu minimamente e com sua leve e doce voz pronunciou:

-Coma duas mãos de areia.- Ela sorriu diabolicamente e eu me assustei, cruz credo.

Ele deu de ombros e encheu as duas mãos, direita e esquerda, de areia e colocou a primeira, mastigou, mastigou, mastigou e engoliu, fiz uma careta, areia era horrível, tinha um gosto horrível, não que eu tenha comido de boa vontade, mas nada que uma belo tombo na areia para te fazer engolir meio quilo de areia. David terminou de comer as duas mãos e fez um toca aqui com Claudio.

-Anota no caderno de coisas que eu queria fazer faz tempo, marca lá que mais uma eu já fiz.- Ele berrou pro Jonas que fez um toca aqui com ele também.

Revirei os olhos. - Garotos.

As outras rodadas foram tranquilas, Rebecca perguntando para Renata, que escolheu pergunta, Rebecca perguntou para ela se já tinha perdido a virgindade ela respondeu: “ A única coisa virgem aqui é meu cabelo”, eu tô chocada, mas não surpresa. Os próximos foram Jonas perguntando para Claudio, ele que escolheu desafio, ele foi desafiado a rebolar até o chão, dito e feito, e com vigor, com toda certeza posso afirmar, ele rebola melhor que eu, logo depois foi Valterra para Tereza, ela escolheu desafio Val desafiou Tereza a fazer um lap dance em alguém, adivinha quem foi a escolhida? Exatamente eu, todos gritaram e aplaudiram, essa menina é muito safada, e finalmente a garrafa caiu em mim, mas infelizmente eu não perguntava eu respondia, para minha sorte quem perguntava era a Fernanda, mas sua pergunta me pegou de um jeito assustador:

-Quem é seu crush?- Eu paralisei, eu nunca devia ter entrado nesse jogo, nunca devia ter escolhido verdade, nunca.

Encolhi em seco, respirei fundo e olhei em volta, todos sem exceção me olhavam com curiosidade, mas o pior era, meu crush estava ali com a crush dele e não duvido nada que se seu falasse: “James é meu crush” eu perderia ele e Luana.

Tereza fez um sinal com a cabeça para que eu falasse, engoli em seco e abri as boca, mas as palavras se recusavam às sair.

-E-eu.. na não… tenho… crush em ninguém.- Eu gaguejei entre lufadas desesperadas de ar, eu estava completamente nervosa, constrangida e o que eu mais queria era pular no mar, esconder lá.

-Me.Ti.Ra!- Stephenie gritou e eu a fuzilei, alguém mata essa desgraçada?

-Como você sabe?- Perguntei e agradeci pela minha voz ter saído firme.

-Sua voz é sempre confiante, se não gostasse de ninguém, sua revelação teria saído confiante, afinal não seria nada demais.- Fuzilei-a de novo, eu vou jogar ela na fogueira.

-Se você não responder, vai levar chuveirinho.- Fernanda sorriu maléfica e todos pareceram ficar animados com a idéia, começaram a fazer uma contagem regressiva.

-10…- Gritaram.

Eu entrei em pânico, eu não queria morrer, aquele povo era agressivo.

-9…

Olhei para James que também participava contagem.

-8…

Eu deveria contar? Me questionei, levar um monte de tapas não faria mal. Faria?

-7…

Engoli em seco, eu mentirei de novo, direi quem gosto de outra pessoa.

-6…

Olhei para todos os garotos que contavam animadamente,até Jonas que mastigava um marshmellow de boca aberta, ele não.

-5…

Cláudio sustentava um olhar de uma criança de um ano em meio, completamente desprovida de qualquer inteligência. Ele também não.

-4…

David me olhava maldosamente, aposto que espancar uma garota estava em sua lista do que gostaria de um dia fazer, aquele garoto me assusta. Não ele jamais.

-3…

Meu olhar caiu sobre Viljami, só tinha sobrado ele, abri e fechei a boca respirando rápido e gritei:

-Viljami!- Todos param, alguns surpresos, outros sem entender, ignorei os olhares alheios e me importei em só dois.

Do Viljami e do James.

James me olhava boquiaberto, como se a fofoca do ano estivesse chegado em seus ouvidos, ele me olhou profundamente tentando entender se aquilo era realmente verdade, já Viljami me olhava com uma interrogação cravada na sua testa com tinta néon, ele não tinha entendido nada.

Me segurei para não revirar os olhos, além de preguiçoso, é um lerdo.

Respirei fundo e entrei na mentira, a partir de agora eu não gosto mais de James, agora eu “gosto” de Viljami.

-Eu gosto do Viljami.- Disse em apenas um fio de voz.